Teria sido um dia normal, se aquele não tivesse sido o começo da minha ruína.
Ainda teria esperança de entrar no céu, se eu não tivesse despertado interesse no demônio.
Ele não se importaria de tirar tudo de mim contando que ele tivesse o que queria.
Talvez meu maior erro tenha sido ter dito não quando ele esperava apenas mais um sim.
Meus pés doíam, também pudera, estava há quase seis horas em cima de um salto 9 centímetros, peça obrigatória em meu uniforme de trabalho; Definitivamente nosso chefe Adam sabia nos torturar: anotar pedidos, entrega-los em suas mesas e ainda limpar a lanchonete calçando aquele sapato era mais doloroso do que se ele nos batesse todos os dias no final do expediente por não termos feito o trabalho com perfeição.
Aproveitei os dez minutos que os funcionários tinham direito para fumar e me sentei na beira da calçada para tirar o salto, suspirei aliviada, pelo menos para isso esses minutos seriam úteis já que eu não fumava. Me perguntei pela milésima vez na vida por que ainda trabalhava naquela espelunca e novamente a mesma resposta me veio a cabeça: Sierra, minha irmãzinha caçula. Desde que nasceu somos somente, eu, ela e nosso pai, pois nossa mãe morreu em seu parto. Eu a criei praticamente sozinha, pois Chad Clarke, nosso pai, se tornou apenas um bêbado culpado em nos deixar passar fome graças as suas dívidas de jogo.
Meu tour mental pela miserável vida de Olívia Clarke, vulgo eu, acabou no momento que uma moto quase atropelou meu odiado, porem necessário, par de sapatos ao estacionar perto de mim; Levantei o olhar e me mantive séria encarando o homem próximo a mim. O mesmo tirou o capacete se revelando loiro e muito bonito, mas no momento que ele baixou seu olhar escuro para mim, senti vontade de me encolher até sumir, ele não parecia muito amigável.
- Trabalha aqui? - perguntou.
- Não, desmaiei a garçonete verdadeira e roubei seu uniforme porque achei que combinava com os meus olhos - respondi automaticamente, meu sarcasmo era conectado ao meu nervosismo, era inevitável - o que acha?
- Que deveria me levar até o seu chefe antes que eu perca a paciência com você - rebateu sem me olhar.
- Sou garçonete, não secretária - quis morder minha língua quando ele me olhou, seu olhar percorreu meu corpo preguiçosamente e ele sorriu malicioso parando sua atenção na plaquinha do meu uniforme.
- Liv - leu e subiu seu olhar para o meu - pode ser bonita, mas suponho que não seja blindada - me mostrou o vislumbre de uma arma em sua cintura e arregalei os olhos - então seja mais educada.
Calcei os sapatos novamente e me levantei, que se dane o meu chefe, eu não levaria um tiro por ele. Entramos na lanchonete e eu logo indiquei a sala da gerência, o loiro parou próximo a mim e sorriu tocando em meu queixo para me fazer olhar para ele: - Espero que saiba manter essa boquinha fechada - avisou com a voz calma e o olhar firme no meu, apesar do sorriso em seus lábios, eu sabia que ele não estava para brincadeira e assenti - ótimo.
Apertei minhas mãos trêmulas enquanto o observava se afastar em direção a sala da gerência, queria ser uma mosquinha para saber qual era o assunto do loiro com o meu chefe Adam. Foram 45 minutos dividindo minha atenção entre os clientes e aquela porta. Silêncio era bom ou mau sinal? Quase suspirei aliviada quando vi o loiro sair da sala de Adam, ele me encarou e sorriu; Por um momento pensei que ele iria embora, mas ele se espalhou na cadeira de uma mesa vazia e me chamou;
- Posso ajuda-lo? - me aproximei determinada a não ter medo de sua arma.
- Com certeza - sorriu malicioso novamente e eu o ignorei.
- O que vai querer? - continuei.
- Você nua na minha cama - respondeu sem se importar com as pessoas em volta.
- Isso não será possível - rebati educadamente.
- O que você recebe no mês não paga nem a metade da hora no motel que te levaria - observou - você teria o que o quisesse contanto que me eu também tivesse o que quero. Não é tão difícil. Diria que é um acordo justo.
- E eu diria que está perdendo seu tempo, cara que não sei o nome, nem me interessa...
- Thomas - me interrompeu - meu nome é Thomas. Quanto você quer por uma noite?
- Não sou prostituta - me alterei e ao perceber as pessoas olhando me controlei.
- Uma pena. Com esse corpo iria faturar muito - comentou - tudo bem, eu deixo você pensar...
- A resposta é não - completei e me virei irritada.
Sonya que atendia no balcão sorriu quando me aproximei: - Ele nunca senta para pedir nada - comentou.
- O quê? - a olhei confusa e ela indicou Thomas com um aceno de cabeça - bom, antes não tivesse sentado.
- O assunto dele é sempre só com o Adam, nunca, nada prendeu a atenção dele aqui.
- Ele vem aqui há muito tempo? - deixei a curiosidade falar mais alto.
- Desde que assumiu os negócios do pai, Adam era conselheiro dele - bateu no balcão - chega de conversa, o que ele pediu?
- Cerveja.
A ruiva providenciou a cerveja e eu a levei até a mesa do loiro, ele sorriu ao pegar seu pedido e eu lhe dei as costas, mas sua voz me parou novamente: - Sente-se comigo.
- Eu estou trabalhando - o lembrei calmamente.
- Amanhã não estará mais se não se sentar aqui comigo.
Olhei de relance para Sonya que sorria se divertindo e me sentei junto ao loirode cara fechada. Ele sorriu vitorioso: - Há quanto tempo trabalha aqui? - puxou assunto.
- Quase dois meses - respondi de mau humor.
- Ta explicado - comentou como se falasse consigo próprio.
- O quê?
- Como nunca te vi por aqui - explicou - eu teria notado. Você é bonita demais para esse lugar.
- Olha... - o olhei confusa - qual seu nome mesmo?
- Thomas Sangster.
- Olha, Sr. Sangster, eu preciso trabalhar.
- Então me dê uma resposta - insistiu - quanto você quer?
- A resposta sempre será não - afirmei - não estou à venda.
Ele assentiu tirando uma nota de 100 dólares do bolso e colocando na mesa: - Isso é para você, a cerveja é por conta do Adam - ele se levantou e fez a volta na mesa para ficar próximo a mim, ele se inclinou e sussurrou em meu ouvido: - Todo mundo tem um preço e eu vou descobrir o seu.
Quando Thomas se afastou, eu peguei a nota de cem e vi seu número anotado ali. Revirei os olhos e guardei a nota, ela seria útil no super mercado.
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