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História A Pura - Codinome


Escrita por: FireboltViolet0

Capítulo 35 - Codinome






Sê bom. Mas ao coração, prudência e cautela ajuntam. Quem todo de mel se unta, os ursos o lamberão”


Mario Quintana




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Estávamos todos reunidos no refeitório, finalmente partilhando de uma agradável ceia, após a conversa de Marcos com Miguel.

Agora, meus três irmãos sabiam de tudo que havia acontecido comigo nos últimos sete anos – incluindo o que tinha se passado dentro da Fortaleza.

Para minha surpresa, todos reagiram de maneira inesperadamente compreensiva – até mesmo levando em conta o terrível incidente com Gilberto na casa de Miguel – e, a despeito do que eu havia esperado, pareciam extremamente gratos a ele por ter cuidado de mim.

Obviamente, a angústia e a compaixão haviam sido mais fortes. Então, passaram-se horas, até que finalmente secássemos todas as lágrimas que derramamos naquela tarde, e pudéssemos voltar a nos reunir com os demais rebeldes da base.

Todos estavam se divertindo com as histórias que Aline estava contando naquele momento. Aquilo me lembrou dos poucos momentos alegres que eu e Maria havíamos passado ao seu lado no Palácio Rubi - o que, por algum tempo, pareceu acalmar meu coração conturbado.

- Eu lembro de uma história que a Shirley me contou sobre um dos clientes dela – sacudiu a cabeça veementemente – a garota não batia bem da cabeça. E o cara se deu muito mal com Gilberto depois. “Clientela fraca no dia”, segundo o que ela disse. Viu um Tenebri idoso na rua e tentou animá-lo, imaginando se conseguiria arrancar algumas bases dele. Mesmo quando disse que não podia mais, a Shirley insistiu… e acabou que o velhinho entrou com ela no bordel.

- Sério? - Juliano parecia conter o riso – e o que aconteceu?

- O que aconteceu? - Aline repetiu, gracejando – aconteceu que o cara era uma máquina de trepa, mesmo com aquela idade – até Marcos estava refreando um sorriso humorado naquele momento – e a Shirley, depois de quase três rodadas: “e você ainda diz que não dá mais conta?” - vi Aline contrair o rosto, perdendo quase toda a compostura que se esperaria de uma líder rebelde – e o velhinho “dar conta de transar eu dou, doçura. Só não dou mais conta é de pagar.”

A mesa explodiu em gargalhadas. Até mesmo Miguel - que havia lutado até então para não demonstrar que achava graça – começou a se retorcer de tanto rir, tendo que ser amparado por Brenda para não cair da cadeira.

- Com licença, Comandante Prisma….

As risadas morreram lentamente, assim que um dos soldados de Aline – um rapaz troncudo e louro - se aproximou da mesa do refeitório.

Marcos ergueu o único olho que havia lhe restado, fitando, curioso o recém-chegado do quartel-general.

- Claro, Carcaju – disse Aline, encarando o homem – o que se passa?

O homem sorriu.

- Consegui o que pediu… - espantei-me ao reconhecer os pequenos aparelhos que Carcaju colocou sobre a mesa – intercomunicadores hackeados, configurados para fazer conexão com residências pré-programadas da Fortaleza.

Miguel ofegou.

- Quer dizer… que podemos nos comunicar internamente com pessoas de lá?

- Sim – Aline lhe entregou um dos intercomunicadores – porém, cada intercomunicador só poderá se ligar a uma conexão de residência. Traduzindo… só podem ser usados para pontos e pessoas específicas. Depois de programado, não aceitará outras conexões… e tampouco poderá ser rastreado ou grampeado pelo sistema de comunicação do Núcleo.

- E por isso – Carcaju acrescentou, sério – deve-se escolher sabiamente os locais com os quais iremos nos conectar. O destinatário deve ser alguém de confiança… ou nossa localização será facilmente identificada.

Segurei um deles, espantada.

- Então… iremos nos comunicar com simpatizantes da Força Rebelde? - encarei Miguel - poderemos contatar Maria e Paola!

- Excelente ideia, Lua! - Aline aprovou, sorridente – com certeza ficarão aliviadas de saberem que vocês estão bem – observei-a afixar o intercomunicador auricular ao lado do rosto, configurando os dados no pequeno painel de acesso sobre a mesa – melhor testarmos…

Enquanto Carcaju deixava a mesa, todos se entreolharam, curiosos, imaginando quem Aline contataria. Duvidava que fosse Maria e Paola, já que certamente ia querer que eu fizesse isso.

Depois de alguns segundos, o alto-falante conectado ao intercomunicador chiou.

Bom dia. Residência de Edgar Gorete Dali, Núcleo Autônomo de Inteligência Artificial, denominada como Nadia, ao seu dispor.

Vi o lábio inferior de Aline tremer.

- Gostaria de falar com o Sr. Edgar Dali, por gentileza.

- Só um segundo – a voz afável respondeu - como se chama, senhorita?

- Aline – ofegou minha amiga, repentinamente demonstrando uma crua hesitação, me lançando um olhar desesperado.

- Contatarei o Sr. Edgar imediatamente, senhorita. Aguarde um momento.

A mesa manteve-se num silêncio ansioso por mais algum tempo.

Edgar Gorete.

Ouvir a voz de Edgar causou um baque em quase todos os presentes – mas nenhum deles pareceu mais impactado do que Aline.

Vi os olhos dela ficarem úmidos por um momento.

- Olá, Edgar.

Houve uma pausa.

Um longo arquejo.

E, quando Edgar voltou a falar, sua voz estava embargada, trêmula e incrédula.

Aline...?

Aline também resfolegou. Alguns aparentaram uma genuína surpresa, ao ver o como a comandante estava emocionalmente vulnerável naquele momento.

- Sim… sou eu… - minha amiga riu, nitidamente tão eufórica quanto ele – há quanto tempo…

Miguel afagou minhas costas, sorrindo. Estava tão emocionado quanto eu, observando a reação maravilhada de Edgar à ligação de Aline,

Aline… - Edgar deu uma risada perplexa, ainda soluçando – será... que você pode me dizer o como…?

- Sim… - ela o interrompeu – vou te explicar tudo… eu prometo – perpassou o olhar em cada um dos presentes à mesa – mas preciso que faça algo por mim primeiro… diga para Maria que Lua e Miguel estão bem… em segurança. Por favor.

O que? - agora ele estava realmente esganiçado – que diabos, Aline… aquele ataque à delegacia… como eles…? - o rapaz foi esperto o bastante para interpretar o silêncio de Aline como uma confirmação – foi obra de rebeldes Tenebris?

- Na verdade… - vi-a hesitar, soltando uma risadinha culpada – foi meio que… obra da minha equipe de neutralização.

Daquele ponto em diante, não foi difícil notar que nosso amigo compreendeu o que tudo aquilo significava.

A frase seguinte de Edgar pareceu resumir perfeitamente toda a situação geral até então.

Puta merda, Aline.

Achei graça quando a maioria recuou contra as cadeiras, como se jamais tivessem esperado um Luxe da Fortaleza emitir um linguajar tão chulo – ainda mais numa conversa com um a líder da Força Rebelde.

- É – concordou Aline, sacudindo a cabeça – põe merda nisso, Edgar – suspirou – eu vou te colocar a par de tudo… assim que terminarmos de contatar todos os partidários da Fortaleza, está bem?

Edgar inspirou profundamente. Sabia que estava assentindo do outro lado da linha.

Senti a sua falta.

Foi a vez de Aline soluçar.

- Também senti saudades, Edgar…

Por alguma razão, pareceu-me que eles realmente teriam aquela conversa mais tarde – e bem longe dos olhares curiosos dos demais integrantes da Força Rebelde.

Vou ficar no aguardo então… iria te atualizar sobre o que está acontecendo por aqui… mas acho melhor Miguel perguntar diretamente para Paola e Maria…

Ergui a cabeça, assustada. O que estava havendo do outro lado da muralha?

- Certo. Irei te retornar em breve com mais detalhes, Edgar – Aline concluiu – até mais.

Até.

Assim que desligou o intercomunicador, Aline baixou a cabeça, como quem estava até agora se segurando para não desmaiar.

- Meu Deus…

Juliano e Marcos se entreolharam, fungando baixo, ambos evidentemente segurando a risada.

- Então… - Marcos coçou a barba – quando é o casamento, Prisma?

- Ahh… enfia esse teu rifle no rabo, Cobra! - guinchou Aline, enquanto todos voltavam a rir.

- Por falar em enfiar rifles onde não se deve… - brincou Juliano – acho que nossa irmãzinha e o namorado precisam de um nome código. Afinal, se o garoto for ficar aqui por mais um tempo… e mesmo que não fique… é melhor que tenham um nome seguro, aos quais nós possamos nos referir sem riscos de interceptação.

Miguel assentiu.

- Sim… ele tem razão – segurou-me a mão – o que me diz, Lua?

Estreitei o olhar.

- Isso é mesmo necessário? - disse, num tom de diversão – o meu nome já é bem incomum, não acham?

- Então precisamos de algo ainda mais incomum! – Brenda socou a mesa com o punho, assustando Heitor, que fez metade de sua barba se encharcar de cerveja – votação!

- Não começa, Brenda – Aline revirou o olhar, massageando as têmporas.

- “Não começa” é minha rola – até Heitor recomeçou a rir com o desbocamento de Brenda – você mesmo sempre disse que os codinomes são uma excelente forma de proteger os integrantes da Força Rebelde!

- Sim – grunhiu minha amiga – integrantes da Força Rebelde, Brenda. Lua e Miguel são hóspedes… - ela ergueu um olhar triste em minha direção, pegando-me de surpresa – e… imagino que logo retornarão à Fortaleza.

Todos olharam para nós, espantados.

- Não… decidimos isso ainda – Miguel estava nervoso em demasia, e estava contendo cada palavra que deixava escapar de sua boca o máximo de tempo possível – nós… ainda pensaremos nisso… depois.

Pigarrei, exasperada.

- Não importa – contestei – ainda podemos definir os codinomes, independente do que vá acontecer – meu entusiasmo repentino esmaeceu – mas quais…?

- Então… é como eu disse – Marcos comentou – costumamos usar codinomes que refletem a personalidade ou as características mais marcantes da pessoa.

- Tipo o Carcaju, que é o cara mais agressivo…. e o que vive dando patada nos outros? - sugeriu Brenda.

- Sim – Aline riu – exatamente como isso, Brenda – ela deu de ombros – não precisamos decidir isso agora. Tirem algum tempo para escolherem seus codinomes. Sem pressão, está bem?

- Mas Prisma…

Aline ergueu um olhar ameaçador na direção de Marcos. Eu só conseguia pensar que ela sabia como intimidar os outros telepaticamente, por que não havia outro motivo para um homem parrudo como meu irmão recuar diante de sua simples expressão aborrecida.

- Mais tarde – enfatizou.

- Sim, senhora.

Acotovelei Marcos, que obviamente se refreava para não gracejar.

- Você continua engraçadinho – falei, mordendo o lábio numa tentativa de não sorrir.

Ele me abraçou, beijando ternamente meus cabelos - aproximando-se o suficiente para que eu pudesse observar, penalizada, a longa linha da cicatriz em seu rosto.

- E você continua a mesma garotinha doce e gentil, maninha – afagou meu rosto de maneira carinhosa.

A conversa se estendeu por mais alguns minutos, voltada principalmente para todas as dúvidas que os rebeldes tinham sobre a vida na Fortaleza.

Miguel respondeu todas as questões com um ânimo contagiante – era impossível não botar o quanto estava feliz em poder compartilhar seu conhecimento e ajudar os integrantes da Força Rebelde.

O que começou a me incomodar, de uma maneira realmente muito estranha...




Depois de mais algum tempo, todos começaram a se retirar da mesa, começando a retomarem suas respectivas tarefas. Enfim, Miguel e eu ficamos a sós no local, finalmente mais à vontade para usar o intercomunicador.

- Quer fazer as honras, madame? - ele disse, humorado, oferecendo-me o painel e o intercomunicador auricular de maneira falsamente solene.

- Miguel… - balancei a cabeça, risonha, acoplando o aparelho em minha orelha.

Já acostumada a usar os painéis digitais na residência, tive facilidade em manobrar o pequeno painel de acesso, digitando o código da residência de Paola. Logo em seguida, aguardei a chamada ser efetuada, tamborilando os dedos na mesa de ansiedade.

Paola Canais Torfone.

Saltei o olhar.

A chamada nem havia passado por sua matriz secretária. Que estranho.

- Paola…? - ofeguei - sou eu. Lua.

Ela soltou uma exclamação atônita, cujo chiado quase me ensurdeceu. Miguel arqueou as costas para trás, piscando de maneira cômica.

Ai, meu Deus! Lua! Você está viva…. Está bem! - tagarelou a garota – céus… como..?

- Você fala primeiro, Paola – Miguel sussurrou em meu intercomunicador, fazendo cócegas em minha orelha  - prioridades… o que está havendo aí? Já estão sabendo do sequestro?

Paola resfolegou alto do outro lado da linha.

Miguel… vocês precisam voltar agora – e acrescentou, fazendo com que nós dois nos retraíssemos de imediato – as coisas não vão nada bem.

- O que houve? - exclamei.

Sua voz tornou-se sombria.

É o Palácio do Conselho, Miguel… ele acabou de ser atacado.








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