Sofia aprontou-se rapidamente naquela manhã de quinta-feira, como se pudesse adiantar as horas e terminar logo o que havia começado. Na verdade, ela podia: possuía um poderoso artefato mágico que permitia fazê-lo, o vira-tempo. Mesmo assim, por mais ansiosa que ela fosse e um tanto impulsiva, tinha consciência de que essa não era a melhor maneira de atingir seu objetivo. Ela suportara razoavelmente bem (na opinião dela) o período de preparação do feitiço de imortalidade, a única e melhor vantagem que teria ao enfrentar um dos bruxos mais habilidosos e perigosos que já existiu.
Desceu para o Salão Principal, acompanhada por Scorpius, Alvo, Melanie e, inevitavelmente, Miguel. A opinião dela em relação ao garoto não mudou, apesar do que aconteceu na segunda-feira passada, mas outras preocupações ocupavam sua cabeça no momento, então não teve tanto tempo para provocá-lo como gostaria. Isso, no entanto, não significa que ela o deixou em paz; Na tarde da terça, ao se cruzarem no corredor que levava à biblioteca, a loira disparou:
– Minha raiva não passou. Acho que seria interessante ter sua cabeça, como um troféu em minha estante...
– A ideia de eu ir lá foi sua – Miguel retorquiu, encarando-a com desprezo. – Quase morri!
– Que pena, não? – ela retrucou, seca. – Seria um alívio para todos...
– Você é louca, garota! – Miguel falou, perdendo a paciência – Fui lá, seguindo sua ideia biruta, para me redimir, quase fui morto e você me diz isso, com essa cara de tacho! Sinceramente, não consigo te entender!
– Você pode até se redimir com a escola e com o mundo bruxo, mas o meu perdão você não vai conseguir tão fácil – ela explicou, desdenhosa. – São coisas muito diferentes. E eu acho que a Mel deveria pensar da mesma forma...
– Não se meta entre Melanie e eu! – ele vociferou, profundamente irritado – Eu a amo e ela me ama também!
– Sei, acredito... Mas eu só te digo uma coisa. Se magoar a Mel, eu vou acabar com você e não vai ter Lana que te salve!
Eles se encararam por alguns segundos, com um ressentimento que parecia imensurável. Então Miguel deu as costas e saiu, balbuciando xingamentos indistinguíveis.
Como Lana Malfoy havia dito, nada em Beauxbatons permanecia em segredo por tanto tempo e o resgate de Miguel se tornou o assunto mais comentado na escola. Melanie e ele eram, no momento, o casal mais famoso na escola, graças aos acontecimentos recentes. Estavam na capa da Gazeta Voadora daquela semana e o jornaleco vendeu como água no deserto. Todos os alunos que participaram do resgate deram depoimentos e entrevistas e todo mundo queria saber o que realmente tinha acontecido. A popularidade de Miguel parecia voltar aos poucos, porém ainda haviam olhares tortos e desconfiados e muitos cochichos por onde quer que passasse.
Quando o café da manhã terminou, as corujas sobrevoaram as mesas, entregando as correspondências. Como de costume, todos os alunos do Clube de duelos correram para a mesa da Justé e os alunos de Hogwarts se juntaram a eles.
– Sinto muito por ter que decepcionar vocês, mas não tem notícia hoje – Stars avisou, folheando o jornal, entediada.
– Então quer dizer que não saiu nada novamente? – Catarinha perguntou, desanimada.
– É óbvio que não vai sair nada – Miguel disse, com uma expressão de cansaço no rosto.
Todos olharam para ele, mas Rose completou:
– Se o Ministério está sob controle dos Comensais, obviamente não permitiriam que uma derrota humilhante fosse exposta.
– O lado bom dessa história é que existe a Gazeta Voadora – Michael comentou, satisfeito. – Então todos poderão saber o que houve, com todos os detalhes!
– Mas também seria bom saber o que aconteceu depois que vocês saíram de lá! – Hugo Sangster esclareceu – Saber o que houve com os Comensais, ter uma pista do que planejam agora, entende?
– Só que, como não saiu nada no jornal, fica difícil saber... – Lian emendou.
– Eu preciso conversar com você, Ri – Sofia sussurrou para o namorado.
– Pessoal, a gente vai indo nessa – Rick comunicou, abraçando Sofia pelos ombros. – Até mais tarde!
Após se despedirem do grupo, os dois saíram do Salão e seguiram em direção à biblioteca. Quando lá chegaram, escolheram uma das mesas vagas e sentaram-se.
– Sobre o quê você quer falar, So? – Rick perguntou muito baixinho, quase cochichando.
Ela respondeu da mesma forma.
– É sobre o feitiço. Tem certeza de que está fazendo tudo certinho?
– Claro que sim – ele confirmou. – Tudo nos conformes! Hoje é o último dia, não é?
– É, é sim – Sofia respondeu, ligeiramente distraída.
– E a Weasley, já devolveu o livro com o encantamento e a receita da poção?
– Sim, já tem uns dias que ela me devolveu. Disse que já leu o livro inteiro...
Ele percebeu que a garota estava ansiosa e um pouco nervosa até.
– Não fica assim, So – ele tentou tranquilizá-la. – Vai dar tudo certo! Com as informações que Potter nos deu, não tem como dar errado!
Ele segurou a mão dela e a loira viu que o olhar do garoto transmitia bastante confiança. Isso fez com que a garota ficasse mais calma.
– Hum, é melhor a gente se apressar ou vamos chegar atrasados na aula de Herbologia!
Graças aos N.I.E.Ms, os professores estavam passando uma quantidade absurda de conteúdos e aplicando testes surpresa, o que rapidamente deixou os alunos do sétimo ano exaustos e estressados. Quando chegavam ao Salão Principal, para almoçar, já não tinham o mesmo entusiasmo que demonstravam ter durante o café da manhã.
Já estava perto de anoitecer, quando a aula de Poções acabou. Os alunos da Noble e da Perséverer deixaram a sala de aula contentes por terem sobrevivido a mais um dia de estudo intenso. Ao sair, Miguel se virou para a namorada e perguntou:
– Mel, eu tenho que passar lá na biblioteca. Você vai comigo?
– Desculpe, amor, mas não posso – ela falou, segurando as mãos dele. – Preciso tomar um bom banho e descansar um pouco, antes do jantar...
– Tudo bem, docinho – ele beijou as mãos dela. – Descemos para o Salão juntos?
– Ok, te encontro na sala comunal, mais tarde – ela assentiu, sorridente. Eles trocaram beijos rápidos, se despediram e seguiram em direções opostas.
Depois de certo tempo caminhando pelos corredores, ele notou que alguém o seguia. Então, se virou e esperou que a pessoa se revelasse. Era Adeline Clermont.
– Oi, Miguel – ela se aproximou dele.
– Ah, Adeline – ele a encarou, intrigado.
– Fiquei feliz em saber que você tinha voltado para a escola – a garota falou, enquanto recomeçavam a caminhar.
– Ah, obrigado – ele agradeceu, sem jeito. – Acho que você é uma das poucas pessoas que se alegraram com isso...
Eles caminharam em silencio, por alguns instantes, até que ele voltou a falar, repentinamente:
– Adeline, eu queria te dizer uma coisa, mas desde que voltei não tive a oportunidade. Então, eu quero falar agora.
– Diga – ela o encarou, seus olhos verdes brilhando intensamente.
– Eu quero me desculpar com você – ele começou, amargurado. – Eu cometi um erro e fiz você se arriscar demais. Me desculpa, por favor.
– Ah, isso não foi nada, seu bobo! – ela abriu um largo sorriso – Amigos são para essas coisas! Mas conta aí, você e a Malfoy estão namorando mesmo? – perguntou, tentando disfarçar o desapontamento.
– Sim – ele confirmou, cauteloso. Sabia que a garota ao seu lado também era apaixonada por ele.
– É, eu vi que vocês estavam na capa do Gazeta – ela comentou, segurando a decepção o máximo que podia.
– Pois é... – naquele momento, ele não soube como continuar a conversa.
– Bom, eu vou para o Salão – ela falou, em tom de despedida.
– Então, até mais tarde! – Miguel se despediu, simpático.
Eles se separaram e cada um seguiu seu caminho. Entretanto, na cabeça de Adeline só havia um pensamento.
"Tenho que encontrar algum jeito de separá-los..."
O jantar daquela noite não teve grandes emoções, nem novidades.
Vendo que todos já dormiam profundamente, Sofia desceu à sala comunal mais uma vez, para realizar o processo que repetira várias vezes na última semana. Pela sétima e última vez, ela traçou o círculo luminoso à sua volta, entoando o encantamento. Assim que terminou, subiu as escadas que levavam ao dormitório feminino, pensando que agora só restava um último passo: beber a poção. Estava tão ansiosa, que talvez nem conseguisse dormir, porém o cansaço a venceu e a garota foi adormecendo, sem nem se dar conta.
No dia seguinte, depois do banho, Sofia se vestiu rapidamente e desceu para o Salão, trazendo o vira-tempo e o frasco de poção nos bolsos. Como sempre, Melanie, Scorpius e Alvo a acompanhavam. Assim que chegou ao Salão, localizou Rick rapidamente, ao olhar para a mesa da Sage. Engoliu a comida, apressada, enquanto ouvia as conversas dos amigos e colegas. Quando o café da manhã acabou, ela saiu do Salão, seguida por Rick.
– Está na hora de ir – ela falou, olhando nos olhos do namorado, parados no meio do Saguão de Entrada.
De repente, as portas do Salão se abriram e os alunos de Hogwarts surgiram, acompanhados por Tiago e Liliana.
– E aí, pessoal – Hugo Weasley cumprimentou o casal.
– Vocês não acharam que iam partir sem se despedir, não é? – Tiago Sirius indagou, maroto.
– Viemos desejar boa sorte para vocês – Victoire exclamou, sinceramente. – Tomara que tudo dê certo!
– Obrigado, gente – Rick acenou com a cabeça.
– Bom, está na hora de tomar a poção, hein! – Tiago Severo alertou. – É melhor que tenham seguido todos os passos direito...
– Seguimos, Potter! – Rick replicou, impaciente.
Sofia tirou o frasco do bolso e o ergueu, observando o seu conteúdo. Olhou para os amigos e novamente para o frasco. Logo em seguida, o abriu e tomou um gole. Depois o entregou a Rick, que também bebeu. Os amigos assistiam a cena apreensivos.
Era uma sensação estranha, intrigante. Uma euforia fora do normal foi se espalhando pelo corpo...
– E então? – Alvo perguntou, curioso. – Como estão se sentindo?
– Ótimo – Rick respondeu, contente.
– Pelo jeito, deu certo – Liliana comentou.
– Bem, a gente tem que ir andando, porque não podemos usar o vira-tempo aqui. – Sofia avisou.
Eles se despediram dos amigos e depois de alguns abraços e apertos de mãos, saíram para os jardins.
– Accio vassoura! – falaram, com as varinhas erguidas. Não demorou muito para que elas aparecessem, voando ao encontro de seus donos. Depois de cruzarem os portões, cada um montou em sua vassoura e levantaram voo.
Eles voaram por algum tempo e, assim que acharam um lugar seguro, decidiram pousar. Era uma estrada rural, parecia que ninguém a usava há séculos.
– De acordo com Potter, – Rick começou – Riddle gostava de fazer sozinho as coisas que considerava importantes. Não confiava nos outros. E é assim que vamos pegá-lo!
– E o melhor meio de fazer isso – Sofia complementou – é surpreendê-lo no Beco Diagonal, quando for comprar os materiais escolares para o seu quinto ano em Hogwarts! Então vamos nos apressar e usar logo o vira-tempo!
Ela tirou o objeto do bolso, atirou a correntinha sobre os dois e deu algumas voltas na pequena ampulheta, concentrada.
– Pronto – ela falou, olhando em volta.
Então a estrada sumiu e eles flutuaram pela imensidão de borrões, vultos e cores, com um barulho insuportável invadindo os ouvidos. Uma sensação nauseante se apoderou deles e então, do nada, parou.
– É isso, deu certo! – a garota exclamou, alegre – Agora temos que chegar à Londres. O Beco Diagonal nos espera!
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