As férias trouxeram paz e sossego ao palácio, já que poucos alunos permaneceram na escola. Nada de corredores congestionados, nem discussões sobre quadribol, nem aulas e nem trabalhos escolares. Aquelas duas semanas de férias eram uma bênção, na opinião de todos (inclusive dos professores). Muitos do sexto e sétimo ano disseram que iriam pirar, se esse recesso não tivesse chegado.
Na tarde daquela segunda, Hanna falou com Stars e sugeriu que as duas fossem para casa, pois estava ansiosa para rever os pais. Stars concordou, dizendo que também estava com saudades deles e que iria aproveitar para escrever as matérias da próxima edição da Gazeta Voadora quando estivessem lá. As duas aprontaram suas bagagens e partiram à noite; mais cedo, Gaelick Lane, o pai adotivo de Snow, apareceu na escola para levá-lo para casa; Oliver e Elizabeth também deixaram Beauxbatons naquela noite; o garoto disse que, assim que fosse possível, ele iria visitá-la, para conhecer os pais dela e que também iria levá-la para conhecer a família dele. A garota ficou muito feliz com a ideia e seu cabelo ficou rosa-choque.
Outros, como Lian e Bella, partiram no dia seguinte; o mesmo fizeram Anelô, Hugo Sangster, Tainá e Catarinha. Eles saíram logo após a primeira refeição, carregando seus malões e animais de estimação. No entanto, assim como muitos quiseram passar as férias em casa, houve quem preferisse ficar na escola. Não era o caso de Luke, Liliana, Michael e John, que se despediram de Tiago Severo e dos alunos de Hogwarts no Saguão de Entrada, durante a tarde.
Tiago decidira permanecer na escola e Liliana quis ficar também, mesmo sentindo saudades dos pais, porém seu irmão a convenceu de que devia ir para casa.
– Tem certeza de que não vem com a gente? – a garota perguntou uma última vez ao irmão.
– É, cara – Michael também se manifestou. – Eu gosto da escola, mas esses dias de férias vão ser demais! Vou aproveitar para dar uma passada na Gemialidades! Não quer vir mesmo?
– Não, vou ficar – Tiago Severo respondeu, sorrindo. – Podem ir na boa. Nos vemos daqui a duas semanas – ele apertou as mãos dos amigos, se despedindo.
Luke, Michael e John se viraram e saíram do Saguão, arrastando os pesados malões. Liliana ficou parada.
– Mike, traga umas coisinhas das Gemialidades, quando voltar! – os dois Tiagos exclamaram em uníssono.
– Ei, Sirius! – Liliana berrou, fingindo irritação – Só quem pode falar a mesma coisa, ao mesmo tempo com o Sev sou eu!
Todos riram. Tiago Sirius deu de ombros, também rindo. Depois de desejarem a garota que fizesse boa viagem, os alunos de Hogwarts se afastaram, deixando os irmãos a sós.
– Promete que vai se cuidar – ela pediu, num tom de clara preocupação.
– Ora, Lili, não há motivo para preocupação – ele disse, displicente. – Estou na escola, não vai acontecer nada demais...
– Tudo bem – ela falou, tentando relaxar. – Acho que enquanto a diretora Malfoy estiver aqui, nada de ruim vai acontecer mesmo...
– Manda um abraço para o papai, para a mamãe, para o Lorenz e para a Melinda, certo?
– Vamos juntos e você mesmo vai poder abraçá-los! – a garota insistiu.
– Vou ficar com a Tábata, para ajudar – o rapaz retrucou, olhando firme nos olhos da irmã. – Você sabe que ela sempre fica sozinha nesse período de férias...
– Ela tem o Dragoni! – Liliana exclamou, incisiva.
– Tá, você me pegou nessa – Tiago abriu um sorriso travesso – Mas não faz mal, se eu ficar também! E eu quero ajudá-la com o feitiço do patrono!
– Está certo – a garota se deu por vencida – Mas toma cuidado com o Dragoni!
– Não se preocupa, eu sei me cuidar...
Os dois se abraçaram.
– Você vem ou não, Lili? – Michael reaparecera, chamando a prima.
– Já estou indo, Mike! – ela gritou, impaciente.
Os irmãos desfizeram o abraço e Liliana passou pelas grandes portas e seguiu com Michael pelos jardins.
– Você queria mesmo ficar, não é? – Michael questionou, notando que a prima estava tensa.
– Queria que o Ti viesse com a gente, mas ele quis ficar, então eu ia ficar também – ela explicou.
– Por que você anda tão preocupada com o Sev ultimamente? – o moreno perguntou repentinamente. – É por causa do Dragoni?
– Nem tanto – ela confessou, a caminho dos portões da escola. – É que eu tive aquele pesadelo novamente e dessa vez o Ti aparecia nele.
– Você contou para ele? – o primo continuou perguntando.
– Sim – ela respondeu.
– E o que ele falou?
– Disse que era só preocupação, por causa da profecia. Ele acha que eu fiquei perturbada com aquilo.
– Nem me fale – Michael ficou pensativo. – Mas acho que ele tem razão. É tanta coisa acontecendo, que nos deixa realmente perturbados. O melhor é tentar relaxar.
– Eu sei, mas tá difícil...
– Como vocês demoraram! – John reclamou com os dois, assim que eles alcançaram os portões – Desse jeito, vamos perder as carruagens!
– Calma, Joe – Luke abraçou Liliana. – Nem é para tanto...
– Ok, talvez eu esteja exagerando um pouco – John admitiu – mas vamos nos apressar ou realmente perderemos a carona!
Rafael, assim como Tiago, tinha ficado em Beauxbatons. Desde que descobrira, no terceiro ano, que Sorcha era a única da turma que não voltava para casa nas férias de abril, ele optava por permanecer no palácio e lhe fazer companhia. A garota insistiu várias vezes, dizendo que ele não precisava fazer aquilo e que deveria voltar para casa; porém, diante da insistência do garoto, ela aceitou que ele lhe fizesse companhia. Desde então, Rafael só retornava para casa nas férias de setembro.
Eles passaram a tarde juntos, deitados no gramado, conversando sobre assuntos banais. Algumas horas se passaram e Sorcha se despediu do amigo:
– É melhor eu ir andando – ela falou calmamente. – Tenho que encontrar com Potter mais tarde, você sabe, e é bom que eu apresse o passo.
– Você sabe que pode contar comigo, não é? – o rapaz inquiriu, controlando uma irritação que surgiu e crescia dentro de si – Sabe que não precisa do Potter, eu poderia te ajudar nisso...
– Eu sei – a garota replicou – mas ele já se ofereceu para me ajudar com isso. Não posso simplesmente dispensá-lo.
– Se você tivesse me contado antes, eu teria ajudado...
– Ah, mas eu nem achava isso tão importante – Sorcha disse com displicência. – Até que tive de enfrentar os dementadores lá em Maguille e você já sabe o resto...
– Mais uma que ficamos devendo ao grande Potter, não? – Rafael não conseguiu disfarçar o ressentimento.
– Bem, se não fosse por ele, eu não estaria aqui – a moça comentou. – Mas me deixa ir agora, mais tarde a gente conversa mais.
Rafael assentiu e Sorcha retornou ao palácio.
A noite já se aproximava quando Sorcha decidiu ir ao Salão Principal, para o jantar. Ao sair do dormitório feminino, viu Rafael passando rapidamente pela porta da sala comunal. Ela o chamou, porém ele não escutou. Então saiu da sala comunal e foi atrás dele, para chamá-lo outra vez.
– Raf... – ela parou instantaneamente.
A garota notou que o amigo estava agindo de modo estranho: estava apressado, parecia descer dois degraus por vez e olhava para os lados quase que constantemente, nervoso. Achando que o comportamento dele era suspeito, ela o seguiu sem que ele percebesse.
Rafael logo chegou ao Saguão de Entrada e passou pelas portas que davam acesso aos jardins. Sorcha esperou escondida por trás de uma coluna, até que o garoto fechasse a porta. Vendo que já podia segui-lo sem risco de ser notada, ela também passou pelas portas e avançou pelo jardim.
Agora já era noite. A garota seguiu Rafael até uma parte mais afastada onde, ainda escondida, o viu parar e procurar por algo no bolso da calça. O garoto puxou a varinha e iluminou sua ponta, espalhando uma luz fraca ao redor; depois, puxou uma coisa pequena e de brilho metálico, que reluzia sob a fraca luz que emanava da ponta da varinha. Ele olhou com desprezo para o objeto que pendia em seus dedos e o atirou no chão, com raiva.
– Incêndio! – ele murmurou, apontando a varinha para o chão e disparando uma chama forte no objeto jogado.
– Rafa! – a garota saiu de seu esconderijo e se aproximou, olhando para o objeto em chamas.
– Tábata, o que está fazendo aqui?! – o amigo perguntou, surpreso. – Como me achou?
– Vi quando você saiu da sala comunal – ela esclareceu. – Te chamei, mas você não ouviu, então resolvi te seguir.
O rapaz passou a contemplar o objeto derretendo no fogo.
– Essa era a medalha de segundo lugar no Campeonato de quadribol, não era? – Sorcha indagou, fitando as chamas.
– Hum hum – Rafael confirmou.
– Por que você a destruiu? – ela o encarou, franzindo levemente a testa.
– Essas besteiras de medalhas não me interessam – ele afirmou, convicto. – Além disso, era uma lembrança de que fracassei em meu objetivo de desmoralizar Potter.
A expressão dela tornou-se serena.
– Qual é a razão dessa implicância com Potter agora? – ela quis saber.
– Só... Não gosto de gente exibida, como ele – ele respondeu.
Sorcha não achou a resposta convincente, contudo não discutiu.
– Eu vou nessa, nos vemos mais tarde – ela falou e saiu, deixando Rafael contemplando a medalha derretida.
– Faz tempo que você chegou? – Sorcha perguntou a Tiago, quando chegou ao seu esconderijo, na parte mais distante do jardim e viu que ele já estava lá.
– Não, cheguei quase agora – ele respondeu, sorridente. – Fiquei jogando bexigas com o pessoal de Hogwarts e nem vi o tempo passar.
– Hum, entendi.
– O Alvo joga muito bem, é difícil ganhar dele... – o rapaz comentou, pensativo. – Bom, vamos começar, né?
Depois de algumas tentativas, Sorcha se viu exausta, de joelhos sobre o gramado.
– Você quase conseguiu dessa vez – Tiago falou, animado, estendendo um pedaço de chocolate para ela. – Quase tomou forma...
A garota deu uma boa dentada no pedaço de chocolate.
– Eu não consigo entender... – Tiago murmurou, reflexivo.
– O que não consegue entender? – Sorcha olhou para ele, curiosa.
– Você é uma feiticeira com grandes poderes, mas travou nesse feitiço...
– Obrigada pelo "feiticeira com grandes poderes", mas fica bem complicado, quando não se tem uma droga de lembrança feliz!
– Ora, Tábata! – o garoto exclamou, impaciente – Vai deixar que isso te impeça?! Vamos, descansa um pouco e tentaremos só mais uma vez.
Ele segurou na mão dela e a encarou, com determinação.
– Eu acredito que você consegue.
– Vamos tentar outra vez – a garota se pôs de pé, contagiada pelo entusiasmo de Tiago.
Ela olhou para ele e depois olhou para o brilhante palácio.
– Tem uma coisa que eu ainda não tentei – falou, ainda olhando para a escola. – Beauxbatons é o lugar onde encontrei amigos. Amigos de verdade.
Tiago colocou a mão sobre seu ombro, em sinal de apoio.
– Beauxbatons vai ser minha melhor lembrança – ela completou. – Expecto Patronum!
Uma raposa prateada e de brilho intenso irrompeu da varinha dela e correu em torno deles, antes de desaparecer.
Sorcha, muito exausta, quase desabou, mas Tiago a amparou. Os olhos castanhos dele encontraram os cinzentos dela. Eles se encararam por um tempo, antes que os lábios se encontrassem e se colassem, num rápido beijo.
– Você está se aproveitando de mim, Potter – ela disse, quando se separaram.
– Hum, você não se opôs, nem ofereceu resistência – ele argumentou, maroto.
– É claro, eu estou sem forças para me defender – a garota contrapôs, com um leve sorriso.
Ele lhe entregou mais um pedaço de chocolate, depois de ajudá-la a se sentar na grama baixa.
– Descansa um pouco – o garoto falou, sorrindo. – Quando estiver se sentindo melhor, nós voltamos para a escola.
Sorcha concordou.
– Eu sabia que você ia conseguir! – Tiago exclamou, contente.
Minutos depois, Sorcha sentiu-se forte o bastante para fazer o caminho de volta ao palácio. Ela e Tiago conversavam animados, enquanto passavam pelas portas do Saguão.
– Não fiquei surpreso em ver que... – o garoto congelou, sua voz foi sumindo, os olhos arregalados, como se tivesse sido atingido por um feitiço paralisante.
A garota não compreendeu aquela atitude, até que olhou na direção que o rapaz olhava fixamente. Ela prendeu a respiração ao ver Lana Malfoy parada no meio do Saguão.
– Eu estava esperando por vocês – a diretora deu um sorriso enigmático, seus olhos brilhando intensamente.
– Olha, professora Malfoy, a gente pode explicar... – Tiago falou, rouco – Era só um passeio no jardim...
– Creio que não vai convencer ninguém assim, Sr. Potter – a diretora replicou gentilmente. – Eu sei o que estavam fazendo lá fora.
Tiago ficou muito pálido, sentindo que seu estômago dava saltos mortais dentro dele; No entanto, Sorcha franziu a testa, encarando a diretora, concentrada. A diretora olhou para ela e disse calmamente:
– Recomendo que guarde suas energias, Srta. Tábata, porque não vai conseguir penetrar na minha mente.
Sorcha enrubesceu e desviou o olhar.
– Peço que me acompanhem até a minha sala – a diretora fez sinal para que os dois a seguissem.
Sem alternativa, eles a acompanharam.
– Muito bem – a diretora começou – vou ser direta com vocês. Eu sei o que vocês são.
– C-como assim? – Tiago tentou fingir que não tinha entendido.
Sorcha estava apreensiva e tentava esconder o nervosismo.
– Vamos ser francos, Sr. Potter – a diretora sorriu. – Vocês são animagos ilegais.
Houve um momento de silêncio, onde os três se entreolharam. Tiago ia tentar dar alguma desculpa, mas Sorcha pegou em sua mão e falou com a voz cansada:
– Não adianta, Potter. Ela já nos descobriu.
O garoto olhou para ela, conformando-se.
– Vai nos denunciar para o Ministério? Vai nos expulsar? – a garota perguntou, encarando a diretora com um olhar insolente.
– Na verdade, não – a diretora respondeu lentamente.
– Não?! – os dois exclamaram simultaneamente, com expressões de surpresa nos rostos.
– Não – repetiu a diretora. – Tenho um pedido especial e acredito que vocês podem me ajudar...
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