A porta do bar se abriu mais uma vez. Um homem alto e esguio, de cabelos louros e pele clara entrou, acompanhado por outro loiro, mais baixo e corpulento. Escolheram a mesa vaga, perto da porta e, puxando as cadeiras, sentaram-se. O dono do bar veio caminhando até eles e perguntou com a voz grave, enquanto enxugava um copo de vidro:
– O que vão querer?
– Qualquer bebida quente que você tiver aí – respondeu o mais alto, olhando para a prateleira repleta de garrafas atrás do balcão.
– Eu vou querer um Kvass – disse o outro, olhando fixamente para frente.
– O Kvass acabou – informou o dono do bar. – Só teremos mais amanhã.
– Hum... Então traz uma vodka mesmo – o mais baixo refez o pedido.
– Certo, trago num minuto – o dono do bar se virou e voltou para detrás do balcão.
– Amanhã... – o homem baixo e corpulento murmurou, com um brilho estranho nos olhos.
– Kvass? – sussurrou o alto, observando o movimento no local.
– É uma boa bebida... Já estive por essas bandas antes – o baixo explicou quando o mais alto fez cara de quem não entendera como conhecia a tal bebida.
– Sei...
– Está demorando – o homem baixo comentou, ligeiramente irritado.
– Fica frio – o alto grunhiu. – Temos que esperar a hora certa. Nós já não combinamos tudo?
O loiro mais baixo fez um barulho de impaciência com a boca.
– É melhor que ela não demore muito – ele murmurou. – Faz tempo que não faço um exercício...
– Pelo jeito, só os dementadores andam se divertindo ultimamente – comentou o loiro alto, com um sorriso cínico.
Todas as mesas estavam ocupadas agora: na mesa mais próxima estavam três homens, tomando algum tipo de sopa; na mesa seguinte, cinco rapazes bebiam e conversavam distraidamente; mais adiante, um homem com cabelos grisalhos e com aparência desleixada ocupava a quarta mesa, solitário e amargurado, bebericando uma bebida escura; na última mesa, sete homens jogavam conversa fora, alegres e claramente embriagados.
No balcão, dois dos cinco banquinhos estavam ocupados. Seus ocupantes tinham os olhos vidrados, discutindo sobre alguma coisa que passava no televisor, que estava sobre a ponta direita do balcão.
O dono do bar retornou trazendo os pedidos.
– Pode deixar a garrafa – o mais alto falou.
O dono do bar arqueou uma sobrancelha, mas assentiu e regressou ao balcão.
– Sério, ela sabe que não deve demorar ou o efeito vai passar – o baixinho tornou a reclamar.
– Calma, homem – o loiro mais alto aconselhou. – Temos mais ou menos uma hora antes que efeito acabe...
Ele nem tinha acabado de falar ainda quando a porta do bar voltou a se abrir. Uma mulher alta e loira, com belos olhos azuis, entrou e caminhou até o balcão, sentando em um dos banquinhos disponíveis. Ninguém pareceu ter notado sua chegada, exceto o dono do bar e os dois homens na mesa junto à porta. Todos os outros estavam concentrados em suas conversas ou em seus copos. O dono do bar logo lhe serviu um copo da melhor bebida que tinha no estoque.
– Por conta da casa – ele disse para ela, com um leve sorriso.
– Obrigada – ela agradeceu, com uma voz suave e melodiosa, tomando um bom gole da bebida esverdeada.
– Desculpe a falta de educação, mas eu estou curioso – o dono do bar puxou conversa. – O que uma moça tão bonita faz num lugar como esse?
– Eu estudo lendas e gosto de visitar os lugares de onde elas vêm – a loira respondeu e bebeu o conteúdo que restava em seu copo.
– Lendas... – o dono do bar olhou para ela, intrigado.
– Dizem que nessa região há uma lenda antiga e talvez você possa me ajudar – a mulher falou, seus olhos brilharam. – Você conhece essa lenda?
O dono do bar refletiu por alguns segundos, antes de começar a falar:
– É realmente uma lenda muito antiga – ele disse, pensativo. – Somente as pessoas mais velhas do vilarejo a conhecem.
– Pode me contar o que sabe sobre ela? – a loira pediu.
– A lenda diz que nas florestas dessa região mora uma bruxa – ele começou. – Uma mulher muito velha e má, que enfeitiça e devora as pessoas que se arriscam a entrar em seu território.
A mulher ouvia cada palavra com bastante atenção, quase não piscava.
– Alguns dizem que ela tem preferência por crianças, mas que pode atacar qualquer um que topar com ela.
– Entendi – a loira sibilou, ficando pensativa. – E o que dizem sobre os poderes dela? Tem algum jeito de derrotá-la?
– Hum, existem muitas versões sobre a fonte dos poderes dela – o dono do bar continuou. – Alguns dizem que vêm das poções mágicas que ela faz com o sangue das vítimas. Outros afirmam que seus poderes vêm de um bastão mágico que ela carrega.
– Existe outra versão? – ela não escondeu a curiosidade.
– Tem sim – ele confirmou. – Existe uma terceira versão que diz que os poderes dela vêm de um antigo e poderoso amuleto.
– Amuleto? – um estranho brilho surgiu nos olhos da loira.
– Ô, do balcão! – gritou um dos sete homens na mesa ao fundo – Traz mais uma rodada aí!
Os sete perceberam a presença da mulher e se puseram a cochichar, lançando olhares maliciosos na direção dela.
– Volto num instante – o dono do bar disse e saiu para servir os homens.
– Onde foi que eu parei? – o dono do bar retomou a conversa com a mulher, servindo-lhe mais um copo.
– O amuleto – ela o lembrou, risonha.
– Ah, sim – ele recomeçou. – Existem estórias sobre esse amuleto.
– Quais estórias? – ela se mostrava cada vez mais curiosa.
– Os mais velhos contavam que um mago havia selado um poder sombrio num diamante – ele prosseguiu. – Quando ele morreu, esse diamante sumiu e ficou desaparecido por anos. Mas dizem que esse tal diamante está com essa bruxa e que a torna invencível.
"Tem quem diga que, certa vez, um poderoso bruxo entrou na floresta, para enfrentá-la e roubar o diamante enfeitiçado. Nunca mais foi visto".
– E esse diamante está em um anel, colar, coroa? – a mulher indagou.
– A lenda fala que a pedra mágica foi transformada em um colar, que ela não tira nunca do pescoço – ele esclareceu.
Um dos sete que estavam na última mesa, se levantou, caminhou até o balcão e se sentou ao lado da mulher. O cheiro forte de álcool se espalhou. A mulher o ignorou e continuou a conversar com o dono do bar.
– E essa floresta onde ela vive fica...? – a loira inquiriu.
– Fica a 84 km, para o norte – o dono do bar respondeu. – Mas eu aconselho que você não vá lá.
– Por que não? – ela questionou, sorrindo – Acredita na lenda?
– Não – o dono do bar respondeu novamente. – Porém, mesmo que não tenha uma bruxa maligna por lá, a floresta é perigosa demais e você pode acabar se perdendo.
– E aí, gata – o homem sentado ao lado dela se manifestou, o cheiro de álcool ficou mais forte. – Tá querendo ir à floresta? Eu posso te levar lá...
A loira continuou ignorando a presença dele.
– Não se preocupe – ela falou para o dono do bar e bebeu mais um copo. – Já estive em lugares bem piores...
– Vem comigo, gata, que eu te levo aonde você quiser ir – o bêbado persistiu, passando a mão na coxa dela.
– Ei, cara, melhor voltar para sua mesa! – o dono do bar exclamou, apontando para a mesa.
– Se você não tirar essa mão daí, você vai ficar sem ela – a loira sibilou e sua voz deixara de ser suave.
– Sua vaca, eu sei que você gosta disso! – o bêbado berrou, chamando a atenção de todos.
Ele agarrou o braço dela e tentou puxá-la para si; o dono do bar pensou em avançar no bêbado, mas não teve tempo: a loira se livrou das mãos do homem tão rápido que ele não teve reação. Ela já estava com a varinha apontada para o peito dele; um jorro de luz verde e o bêbado desabou no chão.
Os amigos do morto se levantaram de um salto, os olhares indo do amigo estirado no chão para a loira, que tinha uma expressão de imenso prazer no rosto; os cinco rapazes da terceira mesa paralisaram; um dos três homens da segunda mesa caiu da cadeira; os dois homens na primeira mesa também se levantaram. No entanto, suas expressões eram tranquilas, pareciam se divertir com a cena; tinham as varinhas em mãos.
– O que tá acontecendo aqui?! – o dono do bar se perguntou.
– Acontece que algumas lendas são reais, querido – a loira disse, ainda olhando para o corpo inerte com satisfação.
– V-v-você é... É uma bruxa?! – o dono do bar mal conseguia falar.
– Sabe, você foi um amorzinho, me contando o que eu precisava saber e os drinques – ela começou. – Eu poderia te poupar, mas você sabe demais. Que pena...
Mais um gesto com a varinha e o dono do bar também tombou, sem vida.
O pânico tomou conta do local.
– Silêncio! – a loira berrou e todos ficaram mudos. – Eu gostaria muito de passar mais tempo com vocês e brincar um pouquinho, mas eu tô com pressa, então... – a loira se virou para sair. – Ah, já ia me esquecendo...
Ela estalou os dedos e os clientes do bar recuperaram a voz.
– Não tem graça matá-los sem ouvir os gritos – ela deu um sorriso e se virou.
Os dois homens que estavam na primeira mesa se encontravam parados na entrada do bar. A aparência deles havia mudado: um era alto e gorducho, com cabelos castanhos, pele clara e olhos azuis; o outro era um pouco mais baixo, era magro e sua pele era escura; seus cabelos eram platinados.
– Se divirtam, rapazes – a loira falou para os dois, passando por eles. – Mas não demorem muito.
– Eles são só três! – berrou um dos homens na última mesa – Estamos em maior número! Vamos para cima deles!
Todos pareceram se encher de coragem, exceto o homem da quarta mesa, que não se moveu desde que chegou ao bar. Eles partiram em direção ao trio junto à porta, com cadeiras e garrafas nas mãos. Contudo, não conseguiram avançar um metro sequer; o gorducho sacudiu a varinha e um dos homens que investiam foi arremessado violentamente contra a parede oposta, apagando imediatamente. A coragem deles evaporou no mesmo instante e todos se encolheram.
– Vejo vocês por aí! – a loira jogou um beijo. – Ou não...
Ela ficou esperando do lado de fora, ouvindo os gritos e o barulho das pancadas.
Minutos depois, o gorducho e o homem de pele escura saíram do bar, com sorrisos largos.
– Até que deu pro gasto – o gorducho comentou, guardando a varinha.
– Menos o velho – reclamou o homem de pele escura. – Nem reagiu... Não teve nem graça matar aquele verme!
– Calma, rapazes – a mulher fez sinal para que eles a seguissem. – Ainda teremos muito tempo para nos divertir. Só que antes eu tenho que achar esse amuleto. Ele é a única coisa que pode me ajudar a derrotar a maldita Malfoy.
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