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História A Quinta Porta - O Sequestro


Escrita por: Dexterfarias

Capítulo 6 - O Sequestro


O som da chuva fina o acordou. Tique, tique, tique, um ritmo lento e constante. Muito tempo disso deveria ser nauseante. Alan Abriu os olhos vagarosamente. A cabeça doía muito; sentiu o sabor do próprio sangue na boca. Levara uma bela pancada na cabeça.

Ainda tonto, tentou situar-se. Estava em um veículo ou coisa assim; a penumbra da madrugada e a dor de cabeça não o deixavam pensar direito. O sangue que escorrera direto para o olho também não ajudava. Tentou mexer as mãos, mas estavam atadas às costas. Finalmente entendeu onde estava; Era uma espécie de carroça, puxada por bois. Olhou para os lados: nem sinal de Marjorie. Sentiu-se o maior dos idiotas. Só tinha uma tarefa, e falhara. Nunca se perdoaria se Jo estivesse machucada. Como não conseguira nem vigiar? E pensava que poderia ser um herói. Era um inútil, isso sim.

A corda apertava seus pulsos como se quisesse rasgá-los. Felizmente seus pés estavam livres; poderia correr se precisasse. Agora tinha que encontrar Jo, e dar um jeito de se livrar dos captores.

Levantou momentaneamente a cabeça, de modo a poder ver o que se passava ao redor da carroça. Viu dois homens apenas; um guiando os bois da sua carroça e outro, guiando outra mais à frente. Junto ao conteúdo desta outra conseguiu distinguir a forma distinta de uma pessoa – Marjorie!

Voltou a deitar a cabeça, quieto. Precisava pensar em um modo seguro de escapar. Talvez Jo estivesse sem condições de correr, ainda desacordada; os inimigos eram dois e Alan ainda estava com as mãos atadas. Situação difícil.

Pense, o que poderia cortar essas cordas? E então ele se lembrou. O canivete! Remexeu os bolsos, mas nada encontrou. Tateou a camisa, as calças, mas não estava lá. Havia perdido, ou provavelmente os raptores o haviam tomado.

Sentiu-se desamparado. Pensou desesperadamente em outra forma de se soltar, mas nada lhe ocorria. Quem sabe, se ele soubesse deslocar o polegar, como nos filmes... Mas não podia. E provavelmente doeria horrores, e se ele fizesse o menor barulho que fosse, naquela silenciosa madrugada, seria descoberto.

Já cogitava a hipótese de se levantar com as mãos amarradas mesmo, e tentar lutar com os captores aos chutes. Felizmente não foi necessário; Ele ouviu um barulho forte, um gemido, e levantou a cabeça.

Marjorie estava de pé, uma expressão feroz no rosto, imobilizando para trás o braço do homem que antes conduzia sua carroça, pressionando um canivete contra o pescoço dele – o canivete de Alan. O homem parecia aterrorizado. O condutor da carroça de Alan puxou do cinto um pequeno machado, balançando-o nervosamente, mas sem coragem de atacar e correr o risco de ter o companheiro morto.

- LIBERTE MEU AMIGO – ela gritou – OU MATO ELE! – e pressionou um pouco mais o canivete na garganta do homem, de onde desceu um filete de sangue.

Durante uns três segundos que pareceram séculos ninguém se moveu. Alan chegou a pensar: será que eles entendem nossa língua? Mas a confirmação a essa pergunta veio logo em seguida. O homem com o machado parecia tenso, mas pensou rápido. Moveu-se, mas não para atacar a garota; Veio em direção a Alan, e ele de súbito percebeu o que o homem queria: ameaçá-lo como Marjorie fazia com o outro. Não podia deixar isso acontecer, ele sabia; Marjorie estava blefando demais com aquele canivete. Não teria coragem de matar o homem de verdade. Mas ele tinha um plano. Fingiu ainda estar desacordado, e quando o homem surgiu por detrás da carroça, meteu-lhe um chute no estômago, derrubando-o. Em seguida, levantou-se o mais rápido que pôde, com as mãos atadas. Pulou da carroça e correu em direção à amiga.

- Jo! Estou chegando!

Enquanto ele se aproximava, pôde ver a expressão no rosto dela. Estava muito assustada enquanto olhava para ele. Não entendeu o porquê, até que percebeu que ela não estava realmente olhando para ele, e sim para o captor que ele derrubara e que agora disparava na direção deles, brandindo o machado.

- Alan! Corra! – ela gritou.

Era o que ele justamente tentava fazer, mas era difícil correr com as mãos nas costas; não havia como ter um equilíbrio bom. Tentou acelerar, mas tropeçou em uma pedra e caiu meio de lado, com um baque surdo. Cortou o lábio, sentindo novamente na boca o gosto do próprio sangue. Nesse momento várias coisas aconteceram.

Primeiro pôde ouvir nitidamente um urro às suas costas: virou-se, e viu que era o homem que derrubara, correndo em sua direção com o machado erguido, uma fúria assassina nos olhos. Alan sabia que ele o partiria ao meio com o machado. Ficou tão aterrorizado que não conseguiu se mexer. Nesse momento ouviu outro baque, e se virou: Marjorie derrubara o segundo homem de lado e correra para ajudá-lo; Foi um erro. O homem com o machado parecia saber que ela faria aquilo; No momento em que ela soltou seu companheiro, ele desviou o foco do ataque de Alan para Marjorie. Ela parou, momentaneamente aterrorizada também; afinal, só tinha um canivete, e ele tinha um machado.

Ele ergueu o machado mais alto, ainda correndo, pronto a enterrá-lo na garota. Mas quando passou por Alan, que ainda estava caído no chão, levou uma rasteira; Alan lançou as pernas contra ele para impedi-lo de atingir Marjorie. Ele caiu, mas antes jogou o machado contra ela; a lâmina raspou na perna esquerda da garota, rasgando sua calça na altura da batata. Ela gritou de dor e desabou sobre o joelho. Alan viu quando o sangue muito vermelho jorrou do corte. Tentou se levantar, nervoso, mas levou um chute nas costelas. O homem ainda caído chutara-lhe, e agora se levantava.

Gemendo de dor, Alan forçou-se a abrir os olhos, marejados de lágrimas e sangue seco. O seu captor estava sobre ele, a fúria ainda brilhando nos olhos. Pela visão periférica Alan viu que o outro captor também se levantara e pegara o canivete caído ao lado de Marjorie, que ainda sangrava no chão. Desesperado, sangrando, Alan só pensava nela. Foram os erros dele que os trouxeram ali, e não poderia deixar que ela morresse por isso. Não ia deixá-la morrer.

E uma espécie de fúria cresceu dentro dele. Marjorie não morreria. Ele não ia deixar. Sentiu uma carga de adrenalina percorrer seu corpo. Iria lutar até o fim por ela.

O captor puxou-o pela camisa, pondo-o de pé. Alan aproveitou o impulso e pulou, jogando os dois pés no peito do homem. O impacto foi tremendo; O homem foi lançado a pelo menos vinte metros de distância, antes de se chocar contra uma árvore e cair no chão, inerte.

Por um segundo Alan não entendeu o que acontecera. Parecia que uma espécie de jato de força havia emanado dele no momento do golpe. E então se deu conta de que não retornara ao chão. Estava flutuando.

Antes de pensar em como estava fazendo aquilo, preocupou-se com Marjorie. Ela ainda estava caída e muito sangue empapava sua perna cortada. Ainda assim olhava para ele, com os olhos entreabertos de dor. O segundo captor, que ainda segurava o canivete, olhava embasbacado para ele. Alan pensou em aproximar-se deles, e algo como uma brisa suave o levou. Nesse momento o homem, aterrorizado, largou o canivete e desatou a correr. Alan pensou: mais rápido! E acelerou o voo. Passou voando por Marjorie, e quando se aproximou do homem, virou o corpo e deu-lhe um chute com as duas pernas, como fizera com o outro. Não foi tão forte quanto o primeiro, mas ainda assim o homem foi jogado dentro da floresta, com um gemido.

Alan voltou voando – literalmente – para onde Marjorie estava. Pensou em descer, e desceu. Pegou no chão o canivete e cortou as cordas que amarravam seus pulsos. Em seguida, ajoelhou-se ao lado de Marjorie, que não parecia nada bem. O sangramento em sua perna não estancava.

- Você voa muito desajeitado – ela disse, fraca. – mas acho que serve, pra uma... segunda vez.

Alan não conseguiu sorrir. O corte era mais profundo do que imaginara. Rasgou o pedaço da calça que fora cortado e amarrou na perna da garota, esperando estancar o sangramento. Mas ele não parava.

- Alan...  – ela começou a dizer.

- Não fale – ele implorou. – você está perdendo muito sangue, não sei como fazer parar. Por favor, não se mexa. Vou te levar até a carroça e vamos procurar ajuda.

Ela assentiu, mas desmaiou. Alan entrou em pânico. Antes que conseguisse levantá-la, ouviu muitos passos. A toda voltas deles, vindas da floresta, várias pessoas empunhando espadas e arcos surgiram e os cercaram. Alan levantou-se de um pulo e puxou o canivete, pronto para se defender. Mas uma voz extremamente conhecida gritou:

- PAREM! PAREM! ELE É DOS NOSSOS! ABAIXEM AS ARMAS!

Relutantemente as pessoas abaixaram as armas. Dentre elas surgiu um garoto, de cabelos negros e olhos azuis, magro, porém sorridente. Ele olhou Alan nos olhos, radiante.

- Alan. – A voz era a mesma, o jeito, tudo; ali estava seu melhor amigo, em carne e osso.

- LEO?



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