-Você sente isso?- apertou levemente dois dedos em meu joelho.
-Não.
- E isso?- repetiu o mesmo ato no joelho esquerdo.
-N-não. – minha voz saiu falha.
-Não chora querida, isso é demorado.- disse Ane.
- Sente algo? – passou as mãos na minha canela. Neguei. – E agora? – neguei novamente. – Sente? – passou uma bolinha no meu pé esquerdo.
- Passa de novo.- pedi e ele repetiu. Consegui sentir o objeto ser passado em meu pé. – Eu senti. Eu senti! – comecei com a voz baixa e no final aumentei o tom.
-E agora? – Dr. Oliveira perguntou animado.
-Sim, mas sinto mais fraquinho. – disse sorrindo.
Depois de mais de um mês finalmente obtive resultado das fisioterapias.
-Logo conseguirá ficar em pé, depois dar os primeiros passos e trocar a cadeira pelas muletas.- falou feliz.
-Precisamos contar pro Gabriel.- tia Ane falou.
Saímos do consultório e fomos até a rua.
- Eu to tão feliz.- disse emocionada.
- Eu sei meu amor, isso merece uma comemoração.- Abriu a porta do carro. -Sorvete. – falamos juntas e acabamos rindo.
Fomos até uma sorveteria próximas, escolhi uma casquinha e coloquei dentro sorvete de morango, bastante chocolate e creme.
Ane quis tirar uma foto nossa antes, mas acabou virando um book.
-Agora vamos comer porque vai derreter.- rimos
-Sorvete é vida. – falei de boca cheia.
-Quando é seu aniversário? – perguntou curiosa.
- 10 de Janeiro.
-Falta menos de quatro meses. – sorriu.
[...]
-Quer que eu te ajude a subir? – estávamos na sala de casa.
-Não precisa, a vovó daqui a pouco chega do mercado.- sorriu. -Vou ficar olhando televisão.
- Ok, Boa tarde. – nos despedimos.
Coloquei em um canal onde passava um filme de corrida. Puro tédio.
-Oi mamãe.- falei assim que ela entrou.- Hoje tive progresso, consegui sentir meus pés. – falei feliz.
Eu realmente sou uma trouxa mas não consigo odiá-los.
- Por mim você nem voltava a andar, sua aberração.- falou com desdém.
Suas palavras fizeram o sorriso em meu rosto desaparecer.
- Eu não entendo.- falei alto.- Por que vocês não gostam de mim, o que e fiz? – minha voz ficou falha.
- O que você fez?- debochou.- Já está na hora de você saber.- gritou histérica.
-Saber o que?- minha expressão era de confusa.
- Eu e seu pai sempre sonhamos em ter um casal. Durante anos tentei engravidar à muito custo consegui.- as lágrimas rolavam por seu rosto.- Joe era um lindo menino, loiro dos olhos azuis, igual a você. – disse a última parte com certo desprezo.
- Joe? Por que eu nunca soube dele? Cadê ele?- a enchi de perguntas.
-Ele nasceu com uma doença rara, no começo faziam vários tratamentos de diferentes tipos. Eu engravidei facilmente da Luana algum tempo depois.
Eu não podia acreditar, eu tenho um irmão e não o conheci!
-Quando finalmente foi descoberto o que ele tinha, disseram que precisavam de algum doador compatível mas a Luana não era, sabe porque? – neguei.- Por que ela não é filha do seu pai. – riu.- Com o Joe no hospital, nosso casamento teve uma breve crise e eu o traí.
Arregalei os olhos, ela está falando isso mesmo!?
-como assim? – disse incrédula.
-Isso mesmo.- riu amargurada.- O médico sugeriu que eu engravidasse e assim o bebê poderia ajudar o meu menino. Fiquei alguns meses tentando, ele piorava a cada mês que passava. Quando você nasceu teve complicações e um problema no coração, nem pra salvar a vida do seu irmão, você serviu. -jogou na minha cara. - Durante os dezesseis anos que passou desde então.. fui obrigada a ver você crescer e se tornar igual a ele, o sorriso, cor dos olhos, a meiguice, ingenuidade e o coração bom. Eu odeio você porque você é a cópia fiel dele. -vocifrou.
Ela me deixou sozinha. Meus pensamentos estavam a mil. Eu tinha um irmão. E ele morreu por minha culpa.
-Lucy, querida... O que aconteceu? – Chegou perto de mim.
- Por que nunca me disseram sobre o Joe? – meus olhos marejaram.- Ele morreu por minha culpa, não foi? -solucei.
-Não foi sua culpa.- secou meu rosto.- Vem, vamos conversar.
[...]
Estávamos no túmulo do meu irmão, viemos pra cá por insistência minha.
-Quando você nasceu... – começou a explicar os fatos detalhadamente.
Olhei para o túmulo dele e realmente se parecíamos muito quando era pequena.
- Por que nunca me falaram?
-Seus pais ainda sentem a morte dele, é difícil perder um filho. Prometi que não me meteria nesse assunto mas agora foi inevitável.
[...]
-Venho te buscar para levarmos a sua avó pro aeroporto. – Gabriel me beijou.
-Ta bom.- sorri.- Amo você.- o selei.
-Também amo você.
-Quanto grude, meu Deus.- reclamou Nanna.
-Boba. – dei a língua.
- Eu também te amo, chata.- beijou a bochecha dela.
-Agora vamos porque estamos mais do que atrasadas.
Gi me ajudou a entrar no Colégio e depois eu mesma fui empurrando a cadeira.
-Nos temos geografia agora.- disse olhando o horário novo.
-Isso significa que a prova é hoje.- suspirei.- Só tive tempo de estudar um pouco.
-Eu também. Acho que vou me ferrar nessa.
-Relaxa que ainda tem mais outra final do mês.- ri.
Adentramos e fomos aos nossos lugares, a Marins sentava na classe ao lado da minha.
-Bom dia, alunos. – disse a professora.
-bom dia.- respondemos.
-Espero que tenham estudado pra prova de hoje, não quero mais aquele fiasco da prova anterior. -falou seria.
-Graças a Deus, estamos no final do ano. – Gi sussurrou.
- Todos virados para frente, sem bonés, somente caneta azul ou preta e sem rasuras.. – nos entregou a folha.
Era quinze questões, todas eram foram fácil de responder, em 25 minutos respondi todas. O período tinha 45 minutos, o que me dá 20 minutos livres.
-Pode sair da sala se quiser.- falou a professora.
Empurrei a mesa pro frente e virei a cadeira para poder sair, estava meio desajeitada então ela me ajudou.
-Obrigada.- sorri.
Fui até o bebedouro, aproximei minha boca assim que apertei o botão para sair água.
- O que significa isso?- alguém me puxou, consequentemente acabei cortando minha boca. Jogou um papel em mim.
-O que voc..
-Você me denunciou, sua cadela.- apertou meus braços.
-V-você..- eu estava sem fala pelo susto.
-Eu vou matar você, escreve o que eu to dizendo.- me ameaçou.- Quando você menos esperar, vou te pegar e te matar, mas não antes de aproveitar você.
-M-me solta.- falei com medo.
-Fica esperta.- piscou.
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