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História A Redenção do Tordo (Após a Rebelião) - Vamos fazer isso direito


Escrita por: IsabelaMellark

Capítulo 33 - Vamos fazer isso direito


Fanfic / Fanfiction A Redenção do Tordo (Após a Rebelião) - Vamos fazer isso direito

Por Katniss

Fecho a porta de casa atrás de mim. A jaqueta de caça está apoiada em meu braço, pois os dias de verão têm sido muito quentes, mesmo pela manhã. Só vou vesti-la quando estiver na floresta.

Eu e Gale combinamos uma caçada em dupla, aproveitando que ele vem ao Distrito 12 com a missão de supervisionar o treinamento da nossa Guarda Distrital, já que a Presidente Paylor passará alguns dias aqui em breve, no fim da Turnê Presidencial.

Effie também foi convocada a reassumir sua função de escolta da Presidente e retornará à Capital no aerodeslizador com Gale.

Estou me aproximando da cerca que separa o Distrito da floresta, mas meus pensamentos estão na estação de trem e em quem está para chegar lá daqui a poucas horas.

— Hey, Catnip! Você já conseguiu tirar esse ar de felicidade do rosto desde que terminou a entrevista do Peeta? – Gale me surpreende com a pergunta, quando ainda estou a alguns metros dele.

Distraída, ainda não o havia visto e, de fato, eu estava sorrindo.

— Nem tentei. – Amplio ainda mais o meu sorriso, mas não para provocá-lo. — Peeta chega hoje à noite, Gale.

Uma vez reunidos ao lado da cerca, nós nos abraçamos brevemente e ingressamos na floresta. Gale traz um arco e sua aljava de flechas presos ao corpo, bem como facas e uma mochila.

— Devo reconhecer que Peeta sabe o que fazer na frente das câmeras – comenta.

— Ainda assim, prefiro que ele fique longe delas. Por mais que eu tenha gostado do resultado da entrevista. – Abaixo os olhos para não focalizar a expressão marota de Gale.

— Já vi que você não apoiará um dos projetos de Cressida de transformar o Peeta num astro de TV.

— Não mesmo! – retruco.

— Mas não há nada de errado nisso!

Nosso breve diálogo me lembra daquele longo tempo em que, depois que nos conhecemos, eu e Gale ainda não confiávamos um no outro e discutíamos sobre qualquer coisa. No entanto, esse período passou e começamos a nos ajudar mutuamente. A tragédia e a dor de nossas famílias nos uniram e nos fizeram amigos. Felizmente, pois companheiros que são também bons caçadores eram e continuam sendo difíceis de encontrar.

— O que você quer fazer? – pergunto. — Temos as opções de sempre: caçar, pescar, colher…

— Podemos fazer de tudo um pouco.

— Você é quem sabe. Que horas é o seu compromisso, senhor Chefe da Guarda Nacional? – brinco e Gale dá de ombros.

— Acho que dá tempo. Estou pensando em deixar nossas varas de pesca no lago para colhermos frutas na floresta. No caminho até lá, podemos conseguir uma boa caça – opina.

É uma ótima sugestão. No verão, os predadores não representam uma verdadeira ameaça, pois têm à sua disposição uma grande variedade de presas. Então, fica mais fácil nossa exploração em dupla na floresta, mesmo na vegetação mais densa. De qualquer modo, eu e Gale caminhamos com nossos arcos em punho, protegendo as costas um do outro.

As chuvas de verão deixam as plantas úmidas, construindo um tapete macio de folhas sob os nossos pés. Gale parece não tocar no solo, de tão silencioso que é.

Nós caçamos em total sintonia, como nos velhos tempos. Com movimentos quase sincronizados, não precisamos de palavras para nos entendermos perfeitamente, porque aqui na floresta nos locomovemos como duas partes de um único ser, antecipando com precisão o modo como o outro vai agir.

Até chegarmos ao lago, abatemos alguns coelhos, esquilos e perus. Concordamos que já é o suficiente para as nossas provisões de carne e desistimos de pescar.

Quando Gale se oferece para buscar algumas frutas para comermos aqui mesmo, eu não me oponho. Apenas refresco o rosto na água cristalina, antes de vê-lo adentrar novamente na floresta.

Retiro minhas botas e me sento numa rocha onde posso manter meus pés imersos no lago, enquanto o sol da manhã esquenta minha pele. Gale não demora a retornar com uma sacola de morangos e amoras e se senta numa pedra mais abaixo.

— Agora podemos conversar – propõe, estendendo a mão com um punhado de frutas vermelhas.

— Você tem alguma notícia sobre o meu pedido de revogação da ordem de restrição? – indago. — Não me sinto à vontade de ficar sempre perguntando para o Dr. Aurelius.

— Eu disse a você que acompanharia o seu caso. Sem problemas. A última notícia que tive é a de que está para ser marcada uma sessão no Tribunal para deliberarem a respeito.

— Imaginei que demoraria um pouco mesmo – confesso.

— Talvez seja mais rápido do que você pensa – fala Gale, com uma certeza que me surpreende.

— Você está sabendo de alguma coisa?

— Não me contaram nada diretamente, mas pesquei umas informações aqui e ali. Tenho a impressão de que tudo vai dar certo e, logo, logo, você não estará mais confinada no Distrito 12. – Ele sorri confiante. — Já pensou no pedido que eu fiz?

— O que está acontecendo de tão grave em Panem para você estar precisando da minha ajuda? – pergunto diretamente.

— As antigas classes dominantes não eram dominantes por acaso, Katniss. Snow não governava sozinho. Ele era um ditador, mas tinha apoiadores, que estão agindo para derrubar o que foi conquistado pelos rebeldes.

— Pensei que os principais líderes houvessem sido presos e julgados.

— E foram. Mas há também uma parcela da população que está insatisfeita, principalmente nos distritos mais ricos, que não aceitam algumas consequências da rebelião. Durante a guerra, todos sofreram para conseguir itens básicos como água tratada e comida. Depois da rebelião, foi simplesmente eliminado o acesso dessas pessoas aos itens mais supérfluos, mas que sempre lhes foram garantidos pela politicagem de Snow.

— Entendi. O lugar que um dia ofereceu certos luxos para essas pessoas, ainda que à custa da exploração e da morte de inocentes, foi destruído pela guerra e, de repente, tornou-se um lugar pior para se viver. – Consigo visualizar as situações que Gale está me explicando. — Realmente, não há como comparar essas pessoas com quem sempre viveu no Distrito 12, passando necessidades. Para nós, não há dúvidas de que nossa situação está melhor que antes.

— Mas isso não significa que não enfrentamos dificuldades também em relação aos distritos mais pobres. É difícil mudar a mentalidade da população acostumada à brutalidade e à deslealdade dos Pacificadores. Muitos simplesmente não confiam na eficiência de uma Guarda com uma atitude mais branda, sem violência gratuita, sem exigência de regalias, sem trocas de favores…

Engulo em seco ao me lembrar de Cray, o antigo Pacificador chefe do Distrito 12, que tinha o hábito de atrair mulheres famintas até sua cama em troca de dinheiro. Recordar da mera possibilidade de eu estar entre elas, se eu fosse mais velha quando meu pai morreu e se não tivesse aprendido a caçar, causa-me ânsia de vômito.

— O Distrito 12 era praticamente um universo paralelo, com um prefeito honesto e amigável e com Pacificadores fazendo vista grossa ao desrespeito às antigas leis. – Gale continua sua explanação. — Nós tivemos um pequeno vislumbre da realidade em outros Distritos por aquele curto período em que Thread assumiu a chefia. No entanto, como você disse, nada se compara.

— Não consigo entender como as pessoas não acreditam em mudanças para melhor, ainda que com alguns sacrifícios – lamento.

— Felizmente, não são todos. Porém, o que estamos vivendo é uma realidade totalmente desconhecida para a maioria da população de Panem. Por isso, é preciso um grande esforço para esclarecer, informar e convencer… Você pode ser boa nisso.

— Acho que não – discordo, balançando a cabeça em negativa.

— Você pode tentar, se pensar que, quando usamos palavras e exemplos, evitamos o recurso às armas e armadilhas. As palavras, em geral, não custam a vida das pessoas. – Ele não desvia os olhos dos meus e a dor que se espalha neles apenas confirma que Gale está se referindo implicitamente ao que aconteceu com Prim.

Seu arrependimento é evidente. Sua obsessão pelas oportunidades surgidas com a guerra e sua cega convicção de que os fins justificavam os meios lhe custaram muito também. O modo como ele fala e o seu olhar de súplica me assustam.

— Vocês estão se preparando para uma nova guerra, Gale? Eu não suportaria…

— Não chega a tanto, pois esses focos de resistência estão muito desmantelados. Mas é preciso agir desde logo.

— Peeta se sairia melhor do que eu. Não me acho nada inspiradora e eu sequer sei me expressar direito.

— Você era assim, até encontrar uma causa pela qual lutar. Haymitch foi um gênio ao perceber o valor da sua espontaneidade. Você simplesmente reconhece o que precisa fazer e faz muito bem.

Conforme Gale fala, continuo negando com a cabeça.

— Katniss, de alguma forma, você se tornou uma líder. A porta-voz dos que não tinham voz, a pessoa que mudou a história de Panem. Eu acredito em você.

— Eu agradeço a confiança, mas, independentemente da minha ajuda, vocês têm tido progressos nos planos de estabelecer o novo governo?

— Sim, bastante. A Turnê Presidencial está ajudando muito, pois a Presidente Paylor conquista até os mais resistentes com seus discursos e sua atitude. Ela é humilde, íntegra, determinada. Além de ser uma pessoa de visão e muito transparente sobre aonde quer chegar e como quer fazer isso.

— É difícil acreditar que estamos aqui, discutindo pra valer esse tipo de assunto – digo e ele faz cara de intrigado. — Você não se lembra? Antes da minha participação nos Jogos, ficávamos aqui na floresta apenas conspirando contra a Capital.

— Novos tempos, Catnip! Esses são novos tempos! – Gale se ergue e me puxa pela mão para que eu me levante também. — Vamos andando?

Calço minhas botas e caminhamos juntos em silêncio e, saindo da floresta, vou com Gale à sede da Guarda Distrital, porém não entro no prédio. Um dos oficiais vem nos receber na entrada. É um dos antigos colegas de classe de Gale. Eles se cumprimentam alegremente.

— Bom dia, Louis. Trouxemos um pouco de carne fresca pra vocês aqui da Guarda. – Gale oferece algumas de nossas presas e Louis as recebe de bom grado.

— O mundo dá voltas e vocês continuam trazendo sua caça para as autoridades locais – diz Louis, olhando alternadamente para mim e Gale, estendendo-me depois sua mão, que eu aperto cordialmente.

— Mas agora é melhor, pois é de graça! Não queremos nada em troca – afirma Gale animado.

— Vou deixá-los à vontade – comunico.

— Antes de você ir, Catnip! – Gale está atrás de mim e me segura pelos ombros. — Acho que consegui uma voluntária pra vocês.

— De verdade? – Louis me pergunta.

— Eu quero ajudar, mas ainda não decidi como – falo e novamente peço licença para deixá-los a sós. — Estarei nos arredores, vendo como estão as obras pela cidade. Volto daqui a pouco.

Gale e Louis fazem um meneio de cabeça e saio em direção à padaria. A reconstrução está ficando esplêndida e fico feliz só de imaginar a reação de Peeta ao ver o resultado. Delly está supervisionando as obras e se aproxima de mim.

— Você acha que o Peeta vai gostar?

— É claro. Está ficando linda.

— Do jeito que ele planejou. A inauguração não vai demorar… E vamos poder dar a notícia a ele pessoalmente hoje à noite! – Delly olha para mim e sorri abertamente.

— Você vai vir comigo e com o Haymitch até a estação esperar o Peeta? – pergunto, devolvendo o sorriso.

— Vou arrumar a casa e preparar o jantar. Acho que não chegaria a tempo… Espero vocês lá na casa dele com tudo pronto.

— Até mais tarde, então. – admiro a nova estrutura da padaria por mais algum tempo e volto devagar para a sede da Guarda Distrital.

Ao chegar, ouço a voz imponente de Gale, dando instruções e fazendo algumas observações.

— É preciso fomentar a vigilância nas ruas. Os encarregados de nossa segurança ainda não contam com capacitação nem com os recursos necessários, muito menos com as ferramentas ideais, o que, obviamente, repercute em seu desempenho. É preciso que o Distrito 12 esteja preparado para receber a Presidente e para proteger os habitantes, principalmente os que tiveram um papel decisivo na rebelião.

— Katniss Everdeen, Peeta Mellark e Haymitch Abernathy – enumera Louis. — Eles estão sofrendo algum tipo de ameaça?

Pigarreio para fazer notar a minha presença antes que Gale dê sua resposta. Ele e Louis olham para a entrada alarmados e Gale pede para eu me aproximar. Meus passos vacilantes denotam meu nervosismo.

— É apenas prevenção, soldado. Não tenho notícias de ameaças. – Gale se levanta da cadeira onde está sentado e apoia a mão em meu braço, para se certificar de que estou bem. Ele percebe que estou tremendo. — De qualquer modo, vamos estudar um plano de ação. Até a próxima missão!

— Estarei a postos, comandante Hawthorne. Até breve, Srta. Everdeen.

— Até… uma próxima vez. – Minha voz sai entrecortada.

Já do lado de fora do prédio, não resisto em perguntar:

— O que significa aquele seu comentário, Gale?

— Como disse, é apenas precaução. Estamos num momento de relativa paz, porém lidamos com muitas pessoas cujas intenções não são tão claras. Sempre devemos ter cuidado.

Fico em silêncio por alguns instantes, absorvendo aquela informação.

— Você está se saindo muito bem. – Tento suavizar o clima entre nós.

— Nada como trabalhar em algo que se gosta, fazendo o que se acredita ser o melhor.

Atravessamos a cidade e, na Aldeia dos Vitoriosos, fomos até a casa de Haymitch. Ele e Effie estão na parte de trás da casa. Haymitch está sentado na varanda, enquanto Effie inspeciona alguma coisa no quintal.

Descarrego a bolsa que estou levando com as frutas e ponho o arco e a aljava sobre a mesa da varanda. Gale faz o mesmo com sua mochila e as armas que estão com ele.

Observo Effie caminhar até o refúgio dos gansos.

— Venham ver! A gansa pôs ovos! Isso é fabuloso! – grita ela com a voz estridente, de costas para o ninho, fazendo um gesto com as mãos para nos aproximarmos.

Vejo a movimentação nada amistosa da Lady, a gansa em questão, em sua direção e Haymitch avisa:

— Corre, Effie!

Ela dispara sem olhar pra trás e os gigantescos saltos de seus sapatos agarram em alguns ramos no quintal. Gale consegue segurá-la no colo antes que caia no chão e a tempo de não deixar Lady alcançá-la. Haymitch, Gale e Effie conseguem atravessar a porta da cozinha.

Segurando à minha frente a cadeira em que Haymitch estava sentado, eu tento inutilmente fazer a gansa voltar ao ninho, então acabo me defendendo das investidas de Lady até passar pela porta da casa e fechá-la.

— Katniss, largue essa cadeira imediatamente! Isso é mogno! – Effie me dá bronca, quando já está a salvo dentro de casa, virando-se depois para Haymitch. — Obrigada, meu amor! Você me salvou!

Eu bufo e reclamo:

— Ei! Isso foi um trabalho em equipe. Eu e Gale que salvamos os traseiros de vocês dois!

— Essa foi por pouco. – Haymitch suspira.

— Só se foi pra você, porque eu levei umas bicadas – resmunga Gale. — Sorte a minha que estou com meu uniforme e ele me protege bem. E você, Katniss?

— A gansa só acertou a cadeira. – Mostro os estragos feitos no precioso mogno.

Effie me olha enfurecida.

— Você ia preferir que fosse em mim, Effie? – pergunto irritada e seu olhar passa a ser penalizado.

— Não, claro que não. Agora eu sei o que vocês passaram na arena – diz ela, piscando os olhos, como se estivesse evitando lágrimas.

— Sabe que eu tive a mesma impressão, Effie! – Gale reprime uma risada e fecho a cara para ele.

— Eu me recuso a ouvir isso! – esbravejo.

— Effie, não exagere. – Haymitch tenta contornar a situação. — Deixe a cadeira pra lá. Deve ter conserto. E agradeça a Katniss.

Effie se aproxima de mim e afaga meus cabelos:

— Sempre tão corajosa. – Ela me abraça.

Assim como nunca consegui sentir raiva das frases insensíveis da minha equipe de preparação, não sustento por muito tempo meu aborrecimento em relação à Effie e, finalmente, retribuo o abraço.

Com o clima mais leve, podemos inclusive rir do que acabou de acontecer.

— Bom, chega de aventuras por hoje. O aerodeslizador vai partir em alguns minutos e eu não posso me atrasar – avisa Effie.

Um Haymitch desanimado pega as malas dela junto com Gale e todos vamos ao local onde a aeronave está pousada. Haymitch faz promessas de tentar encontrá-la em alguns dos distritos que ainda serão visitados. 

— Não se esqueça de me ligar, assim que chegar – pede ele, antes de beijá-la apaixonadamente.

— Será a primeira coisa que farei – garante Effie, com as faces coradas.

Abraço Gale e Effie pela última vez e eu e Haymitch acenamos um adeus antes de eles entrarem no aerodeslizador, que levanta voo logo em seguida.

— É pena que Effie e Peeta não se encontraram nessa visita que ela fez – constato, enquanto andamos de volta pra casa.

— Quando ela vier na Turnê Presidencial, eles passarão muito tempo juntos. Effie me contou que estão preparando algumas homenagens pra você e para o Peeta.

— Você deve estar nesse pacote também, Haymitch.

— Pode ser. – Ele para diante da porta dele. — Passo mais tarde na sua casa para irmos à estação.

Cada um vai para a sua casa e as horas se arrastam. Já estou deitada no sofá com Buttercup, pronta para sair há bastante tempo, e dou um pulo quando ouço alguém bater à porta.

— Lindinha, usando botas de salto! – Haymitch repara, quando desço os degraus da saída de casa. — Está realmente querendo impressionar.

— Não enche, Haymitch – resmungo, odiando a ideia de admitir que ele está certo e que, de fato, eu me esmerei um pouco para me arrumar.

Ao chegar na estação, já estou arrependida da escolha dos meus calçados. No entanto, minha excitação é maior que o incômodo que as botas causam.

O trem de passageiros vindo do Distrito 4 chegou exatamente na hora marcada. Não consigo conter minha ansiedade e me aproximo da área de desembarque, esperando que Peeta seja a primeira pessoa a sair do vagão. Chego a tremer só de antecipar que, em poucos minutos, estarei em seu abraço apertado, sentindo seu calor e seu cheiro. Haymitch põe as mãos em meus ombros.

As portas deslizam, porém não o vejo. Uma funcionária da empresa de trens se posiciona ao lado da porta, cumprimentando os viajantes que saem. Alguns passageiros desviam de mim, com suas malas, enquanto outros que chegam se abraçam com quem os esperava na estação. Nenhum sinal de Peeta. Meu sorriso se desmancha aos poucos, à medida que escasseiam os passageiros que passam por mim, que continuo em pé, no mesmo lugar.

— Eu vou até ali perguntar sobre ele – avisa Haymitch.

Fico observando o gestual de Haymitch, que conversa com a funcionária, e meus olhos se enchem de lágrimas quando a vejo balançar a cabeça negativamente ao responder a ele.

— Peeta não embarcou. Ele não foi visto na estação até a hora da partida do trem – ele me explica ao retornar.

— Talvez a gente possa obter alguma informação no balcão de vendas – sugiro e vamos até lá.

Expomos a nossa dúvida à atendente, que não se mostra muito solícita.

— Lamento, senhor, mas não posso dar essa informação. – É a resposta lacônica da funcionária.

— Você sabe quem nós somos e conhece a pessoa sobre a qual estamos procurando informação – fala Haymitch firmemente, mantendo a calma.

Ela nos observa através do vidro que nos separa e parece se sensibilizar ao ver minha expressão preocupada.

— O Sr. Mellark não cancelou a passagem dele, mas não embarcou. No sistema, não consta nenhum bilhete comprado por ele para qualquer das viagens nas próximas semanas. – A atendente nos comunica.

— Ok. Obrigado – agradece Haymitch e nos afastamos do balcão. — Deve ter acontecido alguma coisa – murmura ele.

— Eu sei o que aconteceu. Ele não voltou, Haymitch… Peeta não voltou e não vai voltar. Se alguma coisa tivesse acontecido, ele ou alguém de lá teria telefonado.

— Pensando bem… Effie também não me ligou, Katniss. – Ele parece se dar conta da triste coincidência. — E eu achando que ela havia gostado da estadia dela no Distrito 12!

— Não podemos culpá-los, não é mesmo?

Seguimos o caminho de volta para a Aldeia dos Vitoriosos, cada um com as suas lamentações.

— O que será que eu fiz de errado? – Haymitch se pergunta.

— Não acredito que vim até aqui calçando essas botas estúpidas.

— A estupidez é das botas agora?

— Cala a boca, Haymitch.

Ele, de fato, fica calado, mas não sem antes dar uma boa gargalhada.

— Faz isso. Ri mesmo. Nós dois somos a piada do dia.

— Vamos logo pra casa.

Chegando ao portão da Aldeia, não aguento dar nem mais um passo. As botas estão me matando e Haymitch nota a minha dificuldade.

— Sobe aí nas minhas costas – oferta ele.

— Você está maluco?

— Anda logo. Não é todo dia que você vai me ver me oferecendo para ser seu burro de carga.

Eu reluto, porém ele insiste. Quando Haymitch passa direto pela minha casa, percebo o motivo de ele ter feito isso e reclamo:

— Quero ir pra casa. Não serei boa companhia hoje.

— Eu tenho a solução para os nossos problemas e ela está na minha casa.

Haymitch só me põe no chão quando entramos em sua despensa. Ele pega uma chave e abre um compartimento, cheio de bebidas.

— Achei que…

— Se achou que eu ia jogar fora minhas bebidas, achou errado, queridinha. Pega logo uma garrafa.

Agarro todas as que consigo segurar.

— Isso vai deixar você em coma alcoólico – alerta ele.

— Se é pra tomar um porre, vamos fazer isso direito.

— Gostei da disposição. – Haymitch escolhe outras garrafas e fecha a porta que ele abriu.

Se, para mim, é impossível me livrar da dor que ecoa em minha mente, o que mais quero agora é me colocar num estado de inconsciência e não despertar dele tão cedo.

Haymitch abre algumas bebidas e as enfileira na mesa diante de mim. Por absurdo que pareça, olho pra ele com carinho. Haymitch continua terrível, mas ele é, agora e mais do que nunca, minha família.

Eu limpo o gargalo de uma das garrafas com a manga da bela camisa que escolhi vestir e tomo uns goles antes que eu desista. Meus olhos e meu nariz ficam logo vermelhos por conta da sensação que o álcool provoca, ao descer queimando minha garganta. 

Senhoras e senhores, que os jogos comecem!

 


Notas Finais


Olá, pessoal!

Já sabemos que o Peeta está a caminho, então esse capítulo nem foi tão sofrido assim, não é?

Que nada! Se eles sofrem, a gente sofre junto...

A boa notícia é que Katniss e Peeta se reencontram no próximo capítulo!

E a ótima notícia é que eu estava tão empolgada com o reencontro que acabei escrevendo a respeito dele paralelamente ao texto que vocês acabaram de ler, o que significa que o próximo capítulo será postado assim que eu terminar de escrever só duas cenas que estão faltando... e vai ser logo!

Beijos!

Isabela


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