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História A Redenção do Tordo (Após a Rebelião) - O reencontro


Escrita por: IsabelaMellark

Notas do Autor


Nota da autora:

Olá, pessoal!

As duas cenas que eu contei pra vocês que estavam faltando se transformaram em três, quatro, cinco e o capítulo ficou grande, mas eu amei o resultado!

Sem mais delongas, confiram aí o tão esperado reencontro... Peetniss! 💕💖💕💖💕💖💕💖💕💖

Capítulo 34 - O reencontro


Fanfic / Fanfiction A Redenção do Tordo (Após a Rebelião) - O reencontro

Por Peeta

Caminhar um pouco. É tudo o que quero depois de quase vinte e quatro horas nessa cabine de trem apertada.

Assim que o comboio para, reúno minha bagagem e saio pelo corredor em busca da saída.

Desço do vagão, depois de agradecer a boa vontade dos funcionários que liberaram a minha viagem, e o que sinto quando piso na estação do Distrito 12 é algo bem diferente do que aquilo que se passava em minha mente na última vez que desembarquei aqui neste mesmo lugar.

Agora, eu sei o que me espera. E, o que é melhor, quem me espera.

A estação está vazia, porém isso não é surpresa, pois ninguém daqui sabe que fiz a viagem de volta num trem de carga.

— Os telefones do distrito já estão funcionando? – pergunto a uma atendente da estação.

— As linhas telefônicas foram restabelecidas há pouco tempo, Sr. Mellark.

— Obrigado. – Faço menção de me afastar, mas ela continua a conversa.

— Acho que, por isso, a Srta. Everdeen e o Sr. Abernathy não sabiam que o senhor havia perdido o trem e estiveram aqui para buscá-lo mais cedo.

— Eu já imaginava.

— Eles vieram pedir informações no balcão e saíram daqui muito preocupados.

Não faço ideia do que eles estão pensando. Acho que será uma grande surpresa para todos quando eu chegar. Agradeço as informações da atendente e apresso o passo o máximo possível.

Na Aldeia dos Vitoriosos, já bem próximo à minha casa, ouço as vozes e as risadas altas de Katniss e Haymitch, vindas da casa dele. Pelo visto, não estão mais tão preocupados. Pode ser que já tenham falado com alguém do Distrito 4.

Não vou logo pra lá, pois preciso de um bom banho.

Quando entro na sala da minha casa, vejo a mesa de jantar arrumada e intacta. Delly está sentada no sofá, assistindo à televisão, com os olhos quase se fechando de tanto sono.

— Peeta! O que houve? Achei que não fosse chegar nunca! – Ela desperta ao me ver trancar a porta.

— Longa história… Mas, resumindo, perdi o trem de passageiros e vim num trem cargueiro – explico.

— Só você pra fazer algo assim! – Ela se aproxima de onde estou.

— Não aconselho ninguém a me dar um abraço agora. O cargueiro trazia frutos do mar – aviso e ela esboça um sorriso. — O cheiro de peixe está impregnado em mim.

— Eu não me importo. – Ela segura meus braços e beija minha bochecha assim mesmo. — Vou esquentar um pouco da comida. Você deve estar faminto.

Não recuso, pois é verdade. Delly prepara um prato pra mim e senta-se à mesa comigo.

— Alguém do Distrito 4 ligou? – indago.

— Não. Vi agora no noticiário que as linhas de transmissão foram consertadas. Eu nem sabia que estavam com problema. Foi por isso que você não pôde avisar sobre o trem, não é? – conclui.

— Exatamente.

— Por que não mandou uma mensagem? – Delly me serve um pouco de suco.

— Não chegaria antes de mim, já que vim no trem de carga. – Pego o copo que ela me oferece.

Delly boceja, apoiando o cotovelo na mesa e o rosto sobre sua mão fechada.

— Vai dormir, Dell. Eu arrumo tudo quando eu chegar.

— Chegar de onde?

— Depois de tomar banho, vou à casa de Haymitch. Ouvi a voz de Katniss vindo de lá. – digo e ela dá um sorriso de lado.

— Ele deve estar um pouco triste mesmo. A Effie foi para a Capital hoje.

— Puxa, não vi a Effie dessa vez… Mas, pelas risadas deles, Haymitch não parecia muito chateado. Nem Katniss – reflito.

Termino a refeição e Delly me ajuda a subir com as malas até o meu quarto. 

— Obrigado e durma bem. – Beijo o topo da cabeça dela.

— Boa noite. É tão bom tê-lo de volta. – Delly acena e fecha a porta do quarto ao sair.

Retiro da mochila o cachecol que a Sra. Everdeen fez para Katniss e o deixo sobre uma das malas, para não me esquecer de levar para entregar a ela na casa de Haymitch.

Tomo banho, escovo os dentes e, quando deixo o banheiro, vou até as janelas do quarto para abri-las antes de descer. Ouço um barulho de vidro se quebrando e o som vem da casa de Haymitch.

Corro até lá e somente percebo que não trouxe o presente de Katniss quando já estou diante da porta aberta, ouvindo a bagunça que os dois estão fazendo.

Observo a sala e a cena é caótica. Muitas garrafas espalhadas pela mesa, cacos cobrindo boa parte do chão e os dois completamente embriagados no sofá.

— Finalmente, o terceiro vitorioso do Distrito 12 deu o ar da graça! – Haymicht esbraveja ao me ver em sua porta escancarada. — Essa festinha particular é pra você também, garoto!

— Olha o calendário! Há exatamente dois anos, tivemos a honra de conhecer pessoalmente o nosso querido mentor! – Katniss exclama, erguendo uma garrafa em sua mão. — Hoje é o segundo aniversário da colheita!

Não me dou ao trabalho de olhar calendário nenhum. Minha atenção não se fixaria em nada mesmo, pois meu coração parou de bater ao pousar meus olhos nela mais demoradamente, ouvindo a sua voz e vendo seu sorriso, ainda que torto pelo efeito do álcool.

Apesar de enfadado com o fato de estar diante de dois bêbados numa completa bagunça, a única coisa em que posso pensar é em como sou apaixonado por ela. É o amor que acelera meu pulso de modo incontrolável, depois de tanto tempo sem vê-la. Minha linda caçadora. Sempre linda.

— Depois de dois Jogos Vorazes e uma rebelião, não era pra ter sobrado nenhum de nós… Mas aqui estamos! – Haymicht comemora.

— Só que, pelo que estou vendo, vocês dois não querem durar mais muito tempo. – Adentro o recinto já empesteado com o odor dos restos de álcool das garrafas vazias e de algumas poças formadas no piso. — Se um de vocês tentar se levantar e tropeçar nesses vidros, é um acidente feio na certa.

Começo a recolher algumas garrafas do caminho e os repreendo, ao conseguir distinguir os rótulos:

— Caramba! Vocês estão misturando todo o tipo de bebidas! Haymitch, como você deixa isso acontecer?

— Desse jeito! – Ele vira o copo que está em sua mão, bebendo tudo o que há nele, e resmunga: — Baixa a bola, Peeta! Assim você estraga nossa comemoração. Está me lembrando da época em que você ficou fazendo papel de nosso treinador, às vésperas do Massacre Quaternário.

— Ele era um treinador exigente, sempre cobrando, sempre insistindo… Chaaaaato! - Katniss implica comigo.

— Chato? Vocês vão ver quem é chato, se sou eu ou se vai ser a ressaca de amanhã.

— Olha só! Ele não desiste! – Haymicht começa a me imitar. — Nada de bebidas, Haymitch, você deve ficar sóbrio e recuperar a forma para proteger a minha queridinha.

Corra mais rápido, Katniss! Mais quatrocentas flexões, Katniss! – Agora é ela quem engrossa a voz para fazer de conta que sou eu falando.

Os dois caem na gargalhada descontroladamente. Enquanto eles riem e praguejam bobagens, retiro o restante das garrafas do chão e junto os cacos de vidro para jogar no lixo, de modo que não mais ofereçam perigo aos dois.

— Delly me disse que a Effie já foi embora – falo. — Se ela estivesse aqui, vocês não estariam nessas condições.

— Se ela estivesse aqui, não! Não estaríamos assim, se vocês tivessem dado notícias. Bastaria um telefonema dela… e seu também! – Haymitch se aborrece.

— As linhas de transmissão estavam com defeito há alguns dias. Os Distritos 11 e 12 estavam incomunicáveis por telefone. Por isso, não consegui avisar que tive problemas e não consegui pegar o trem, mas acabei vindo num cargueiro – explico.

Os dois se entreolham e fazem um ar de compreensão e, por fim, eu entendo tudo.

— Vocês estavam pensando que eu e Effie não ligamos pra vocês de propósito! Se vocês fossem irmãos gêmeos, não seriam tão parecidos. São dois teimosos, desconfiados, mal humorados…

— Nós não temos nada de bom em comum? – Katniss pergunta.

— Deve haver alguma coisa boa aí nos dois, caso contrário eu não estaria aqui preocupado com vocês – murmuro.

— Não se iluda, lindinha. Essa coisa boa sobre a qual o garoto está falando está nele, e não em nós – fala Haymitch seriamente.

— Eu e você não somos nada bons mesmo! Nós somos ótimos, Haymitch… E eu me sinto ótima! Nunca estive melhor na vida! – Katniss tenta se erguer, mas se desequilibra e cai esparramada no sofá, derramando sobre ela o conteúdo da garrafa que estava segurando. — Licor de chocolate! – Ela troca a garrafa de mão e lambe os dedos da outra.

— A cada gole, você fica melhor ainda, docinho! – Haymitch ri da própria piada.

— Haymitch, você criou um monstro… – Viro-me para ela. — Vem comigo, Katniss, vou levá-la pra casa. Você não se aguenta em pé! – Seguro suas mãos para ampará-la e ela se apoia em meus ombros para se estabilizar.

— Mas já? Está cedo. Você nem fez um brinde conosco – oferece Haymitch.

— Hoje não, caro mentor – respondo, tentando colocar Katniss sentada em uma cadeira próxima. — Fique bem quietinha aqui, enquanto vou buscar uma coberta para esse velho bêbado.

— Ei! Eu posso ouvir você, garoto! – Haymicht protesta.

Subo rapidamente até o quarto dele e consigo achar um lençol e um travesseiro. Quando desço, antes de entrar na sala, escuto Katniss dizendo:

Você podia viver cem vidas e ainda assim não merecer aquele cara, sabia?

— Eu me lembro de já ter dito isso a você e, completando o que falávamos antes de Peeta chegar, a frase continua valendo…

— Pra nós dois – completa Katniss.

— Apenas ele pode ajudar você. Vocês podem ajudar um ao outro – acrescenta Haymitch encorajadoramente e ela não diz nada. — Não quero perdê-los de novo. Acabei de tê-los de volta de verdade. – diz ele, como se fosse algo difícil de se reconhecer. — Vocês significam muito para mim, ok?

Estou chocado com a intensidade de Haymitch, mesmo estando bêbado.

— Ok, vou tentar não estragar mais nada – concorda Katniss.

Eles se calam quando ouvem meus passos. Faço de conta que não escutei o que eles diziam e coloco os itens que peguei sobre o sofá:

— Você fica por aqui essa noite, Haymitch. – Aponto o travesseiro e ele capota no local. — Amanhã venho checar como você está.

— Traga pão, por favor. Não quero ouvir suas broncas de barriga vazia! – Haymitch fala e eles riem, divertindo-se às minhas custas.

— Só isso? Não quer mais nada, não? – rebato aborrecido.

Katniss estica sua mão e pega o lençol para jogá-lo no rosto de Haymicht.

— Durma bem, companheiro de copo!

Eu novamente a levanto para irmos embora.

Haymitch segue à risca o conselho de Katniss e, antes de cruzarmos a porta, já está roncando estrondosamente.

Seguimos até metade do caminho que leva à casa dela, eu praticamente a arrastando, quando Katniss para subitamente.

— Espera, Peeta. Essas botas estão me matando. Maldita hora que resolvi calçar essas porcarias! Não aguento mais. – Ela se solta de mim, desaba no chão e começa a puxar os calçados de modo desajeitado. — Ajuda aí, vai? – Katniss pede.

— Não fica descalça nesse chão. Vai machucar seus pés – aconselho.

— Eles já estão machucados. – Ela finalmente consegue se livrar de uma das botas.

Eu, então, ajudo a tirar a outra. Katniss fica de pé e, no mesmo instante, volta a reclamar:

— Ai, tá doendo mesmo sem as botas! – Ela levanta os pés alternadamente de um jeito engraçado.

Sem pedir permissão, pego-a no colo.

— Hey! O que está fazendo? Você não pode se aproveitar de mim! – Katniss reclama, mas contorna meu pescoço com seus braços.

— Pode acreditar, não existe a menor chance de eu querer me aproveitar de você nesse estado deplorável! – retruco, completamente desapontado.

— Ouch! Um a zero para o padeiro!

— Não está contando o tanto de foras que vocês me deram lá na casa do Haymitch?

— Não estou em condições de contar nada no meu estado deplorável! – Ela ri. — Mas acho que você tem razão… Estou à frente no placar.

— Muito engraçadinha!

— Tão bonitinho, mas tão caretinha – zomba ela, apertando minhas bochechas com uma das mãos.

— Pensando bem, você deveria ficar de pileque mais vezes. Seu humor melhora consideravelmente. – Arrisco uma risada.

Não consigo ficar com raiva dela nessas condições em que está, embolando as palavras, sem nem saber o que está dizendo.

Katniss roça seu nariz em meu pescoço e repousa sua cabeça no meu ombro. O seu toque me aquece em cada ponto de contato e a sensação é maravilhosa.

— Seu cheiro é bom. Eu poderia ficar aqui abraçada a você pra sempre.

— A escolha é sua… – Interrompo meu andar para olhar nos olhos dela.

— Eu poderia ficar, mas não devo. – Ela balança o dedo indicador negativamente diante do meu nariz repetidas vezes. — Precisamos conversar muito, muito, muito antes disso.

— O que eu preciso fazer para convencê-la de que você pode ficar assim comigo pra sempre, se você quiser?

— Tudo e nada. – Katniss dá de ombros. — Não dê importância ao que digo. Estou… bêbada!

Suas últimas palavras me entristecem um pouco.

— Pronto! Estou deixando você na porta de casa. – Ponho-a no degrau em frente à entrada. — Onde está sua chave?

Katniss revira os bolsos da calça e da jaqueta e nada encontra.

— Devo ter deixado na casa do Haymitch, mas não lembro onde…

— Como diria minha mãe: você só não perde a cabeça, porque está grudada no pescoço.

É raro eu mencionar a minha mãe, porém a frase que ela usava comigo e meus irmãos sempre que a gente perdia alguma coisa se encaixa perfeitamente nessa situação.

Katniss me observa com curiosidade. Seus olhos apertados, que estão ainda menores e vermelhos, buscam nos meus alguma emoção diferente.

— Está tudo bem. – Passo meu polegar em sua bochecha, que está com uma cor rosada. — Vamos para a minha casa! – Pego suas botas do chão e a surpreendo, tornando a erguê-la, mas dessa vez a levo em cima dos meus ombros, sob muitos protestos.

— Quero que você me ponha no chão! Agora! – Katniss se debate nos poucos metros do percurso entre nossas casas. — Você vai me pagar caro por isso, Mellark!

Abro a porta de casa com dificuldade, porque ela não para quieta. Entro na sala e ela desliza pesadamente do meu ombro até o chão.

Seu corpo bambeia e eu seguro seus braços para que fique de pé. Ela está ainda mais linda com a expressão zangada.

— Eu já estava zonza, Peeta. Agora minha cabeça… Sua casa… Tudo está rodando.

— Desculpas, não sabia que você estava tão mal – digo sinceramente.

Katniss põe a mão em suas têmporas, como se assim pudesse acabar com sua tontura.

— Faça isso parar! – Ela se aproxima com a cabeça abaixada e encosta a testa em meu peito.

— Como faço isso? – questiono, rindo de sua voz ainda grogue.

Não obtenho resposta. Fecho meus olhos e fico ali com ela apoiada em mim, recuperando-se um pouco do mal estar.

Após alguns minutos, sinto seu rosto se afastar do meu peito. Quando abro os olhos novamente, deparo-me com seus lábios a apenas milímetros dos meus, milímetros esses que deixam de existir no mesmo instante em que nossos olhares voltam a se cruzar. Ela me beija. Seus lábios macios estão quentes e sua boca ainda guarda o gosto do licor de chocolate.

Eu havia garantido a Katniss que não me aproveitaria dela naquele estado de embriaguez e, portanto, não ouso encostar um dedo nela, apesar de nossas bocas estarem coladas num beijo intenso.

Fico em uma posição desengonçada, com meus braços soltos na lateral do meu corpo, enquanto Katniss parece querer diminuir qualquer distância entre nós.

Assim, ela mesma pega minhas mãos e me faz envolver sua cintura. A partir daí, está além das minhas forças resistir a ela e cumprir a promessa que fiz.

Calor irradia do ponto onde ela toca minha pele, lentamente espalhando-se pelo resto do meu corpo.

Katniss acaricia minha nuca e desliza os dedos por meus braços, o que não ajuda em nada a reprimir meus mais primários instintos. Eu aperto a sua cintura, enviando a contragosto uma ordem ao meu cérebro para não me permitir avançar mais.

Katniss segura a barra da minha camisa e agora suas unhas brincam em minhas costas. O arrepio que segue o carinho que ela faz com seus dedos desperta um desejo que jamais senti. No entanto, infelizmente, tenho que refrear a mim e a ela. Afasto nossos rostos e busco suas mãos.

— Não me entenda mal. Não pense que não quero você. Eu apenas não posso permitir que faça algo que possa lhe causar arrependimento depois.

— Mas… – Katniss começa a protestar. — Johanna falou que vocês homens gostam disso.

— Johanna falou com você?

— Sim, nós nos falamos.

— E você não ficou assustada?

— Um pouco… Mas fiquei curiosa também.

— Não mais do que eu fico quando estou assim com você – sussurro no ouvido dela e Katniss se sente incentivada a continuar os carinhos que estava fazendo.

Foco, Peeta. – penso comigo mesmo e respiro fundo, puxando as mãos dela.

— Você não está em condições de decidir, Katniss. Não vou me aproveitar da situação e do fato de que você não sabe o que está fazendo. Eu quero muito você, mas não me perdoaria se nossa primeira vez não fosse…

— Perfeita. – Ela recolhe suas mãos e as põe nos bolsos da calça, enquanto volta a se recostar sobre meu tronco. — Eu entendo.

Ambos respiramos agitados. Fecho novamente os olhos, tentando conter meu desejo por ela e frear a impetuosa vazão de emoções que se atropelam em meu interior, porém não tenho muito sucesso. Sua pele ainda quente aviva os meus sentidos.

Beijo sua testa e ela me abraça. Ficamos assim por um bom tempo, enquanto afago seus cabelos. Estamos desfrutando desse momento, quando ela se separa de mim.

— Peeta, eu… – Ela não completa a frase.

Qual será a surpresa agora? Uma declaração de amor?

Ela desaba sentada no sofá abruptamente.

— Não estou bem! Eu acho que vou…

— Vomitar! – constato alarmado.

Só dá tempo de ela agarrar uma de suas botas e despejar nela a mistura exagerada de bebidas que ingeriu.

Após uns instantes, Katniss ergue a cabeça e respira fundo.

— Vou pegar água pra você – aviso.

Quando já estou levando o copo pra ela, Katniss passa mal novamente e usa a outra bota para vomitar dentro dela.

Deixo o copo no braço do sofá e apoio sua testa, que já tem uma fina camada de suor pelo desagradável esforço.

Depois que passa o pior, ofereço a ela a água que trouxe e deixo-a recostada onde está.

— Você precisa de um café, bem forte.

Preparo rapidamente o café e levo a xícara até Katniss. Ela bebe todo o conteúdo e ainda encontra humor para brincar:

— Agora é que essas botas vão para o lixo mesmo!

— Vamos até o meu quarto pra você trocar essa roupa, Katniss.

Subo as escadas, segurando-a firmemente e deixo-a sentada na poltrona próxima ao banheiro.

Pego em meu armário uma camisa de mangas longas, como ela prefere, para ocultar as cicatrizes, e uma calça. Vão ficar enormes, mas Katniss vai dormir confortavelmente nelas. Procuro também uma escova de dentes nova pra dar a ela.

— Aqui, roupas pra você vestir e uma escova de dentes nova.

— Como você é prevenido. Tem escova nova em casa… Não sabia que você fazia estoque dessas coisas.

— Sou precavido. Vai que eu encontro a mulher da minha vida bêbada na rua, precisando de abrigo? – digo e ela sorri.

— Preciso de um banho.

— Você consegue tomar banho sozinha?

— Vou tentar me manter em pé. O café me ajudou.

Katniss se levanta e se desequilibra um pouco.

— Ajudou, mas não muito! – reparo. — Posso chamar a Delly pra auxiliar você? – pergunto e ela nega com a cabeça.

— Já basta você me ver assim…

— Tenho certeza de que a Delly viria, sem problemas e sem julgamentos.

— Não quero.

— Por que você tem que ser assim tão cabeça dura?

— Porque sim.

— Como é que vou ajudar, se eu ficar aqui do lado de fora?

— Já sei! – exclama ela, depois de olhar à sua volta.

Katniss vai cambaleando até onde está minha mala e pega o cachecol que deixei sobre ela.

Ao ver o que ela pegou, começo a dizer:

— A propósito, este cachecol…

Não chego a terminar a frase. Quando menos espero, Katniss o coloca como uma venda sobre os meus olhos.

— Mas… – começo a protestar.

— Sem ‘mas’' Você vai ficar comigo lá dentro, desse jeito!

Não discuto mais e vou fazer a vontade dela, que me guia pela mão e me deixa sentado no chão do banheiro, ao lado do chuveiro.

— As toalhas limpas estão no armário – falo e ela logo pega uma para cobrir minha cabeça.

Tenho certeza agora de que o efeito do álcool ainda está longe de passar, pois ela não faria nada parecido, se estivesse sóbria.

— Assim está bom! – Ela ajeita os tecidos que colocou no meu rosto. — Você vai ficar bem?

Sempre - respondo. — Estou preocupado é com você.

Como diria Johanna, esse momento poderia ser a realização de uma das minhas fantasias, porém a cena é patética e me causa vontade de rir, em vez de qualquer excitação.

Como apenas posso prestar atenção aos sons que ela está fazendo, ouço-a tomar banho e se trocar.

Felizmente, não acontece nenhum acidente grave, só uns esbarrões na porta do box, um grito por causa de um jato de água gelada que saiu do chuveiro, quando ela se esqueceu de abrir o registro de água quente, e um pote de xampu caído no chão.

Ao terminar de se vestir, Katniss retira a toalha e o cachecol do meu rosto, deixa-os pendurados em meus ombros e passeia os dedos pelos meus cabelos bagunçados, olhando em meus olhos.

Relutante em abandonar esse carinho inesperado, eu me levanto e nossos troncos ficam colados, a ponto de sua respiração acariciar meu rosto, sem desviarmos nossos olhares.

— Eu preciso de… de… pasta de dente. – Katniss pisca algumas vezes e precisa de alguns segundos para se recompor.

— Na gaveta. – indico, com a voz também alterada pela reação à proximidade dela.

Katniss dá alguns passos para trás e se vira de costas para buscar o que ela pediu. Eu vou até a porta e me recosto de lado em seu batente, de cabeça baixa, observando-a apenas com minha visão periférica.

— O mal estar passou? – indago, quando percebo que ela enxuga a boca com a toalha.

— Ainda não. – Ela põe a mão sobre a barriga.

— Venha se deitar pra ver se a sensação ruim vai embora. – Conduzo-a pela mão até minha cama. — Vou fazer um chá pra você, se não melhorar.

Katniss se deita e eu repito o gesto, ficando de frente pra ela no colchão.

— Como foi a viagem? – pergunta ela.

— Foi ótima. O Distrito 4 é maravilhoso. Aquela imensidão azul é…

— Eu prefiro o meu mar particular. – Ela me interrompe e eu a fito confuso, sem entender o que ela quis dizer. — Seus olhos… Como senti falta deles!

Inclino minha testa para baixo para descansar contra a dela e puxo Katniss para mais perto. Sua pele, mesmo refrescada pelo banho, irradia calor e eu fecho meus olhos, absorvendo seu perfume.

A temperatura no quarto parece ter subido alguns graus em questão de segundos.

— Eu queria beijá-la agora, mas você não está passando bem.

— Eu aceito carinho também. Estou precisando. Você não sabe o que passei aqui sem você.

— Eu posso imaginar. Não foi fácil pra mim também – confesso, acariciando os cabelos dela.

— Fica comigo… Esta noite e todas as outras noites do resto de nossas vidas? – indaga ela.

— Sempre – digo, sem esconder meu sorriso.

— Todos os dias também? – Ela passa os dedos por meu rosto e me olha nos olhos.

— Isso foi um pedido de casamento? – questiono em tom brincalhão.

— Sim. Aquela vez em que você fez o pedido não deu muito certo, lembra?

— Eu me lembro bem. – Respiro profundamente. — Quero dar minha resposta de um jeito diferente. Você me espera um minuto?

— Eu já devia imaginar que ia recusar meu pedido. Você sabe que eu não vou ser uma boa esposa.

— Por que você está dizendo isso?

— Eu sou um desastre. Veja como ficou a minha família.

— Pensando bem, você tem razão. Você não pode ser considerada uma boa irmã, nem uma boa filha. – Assevero e ela ergue o tronco com dificuldade para me encarar ante a minha confirmação, depois se deita de novo, resmungando de dor de cabeça. — Você só fez tudo o que estava a seu alcance para proteger sua família. Então, apenas posso dizer que você foi, você é e você continuará sendo perfeita.

— Você já me imaginou como sua esposa?

— Incontáveis vezes.

— Eu tenho certeza de que você se arrependeria, Peeta…

— Vou até a casa do Haymitch pegar alguns licores, pois o efeito do que você bebeu já está passando – falo com um fingido ar sério. — Descobri que, assim bêbada, você fica muito mais sensata e toma as melhores decisões possíveis… Só pra confirmar: você me pediu mesmo em casamento?

— Pedi sim.

— Eu não disse? Muito sensata. – Dou um beijo rápido em seus lábios. — Antes que eu me esqueça, eu não recusei o seu pedido, apenas preciso pegar uma coisa.

— Vê se não demora.

— É rápido.

— Estou com sono. Meus olhos estão pesando… Assim ó… – Katniss fecha os olhos bem apertados e fica parecendo uma menina travessa e encantadora.

— Espera só mais um pouquinho.

Eu a deixo deitada na cama, de olhos fechados. No entanto, antes de me afastar, escuto sua voz sussurrada:

— Você voltou pra ficar. Verdadeiro ou falso?

— Verdadeiro. Pra ficar com você.

Ela mantém os olhos cerrados, mas seus lábios desenham um sorriso em sua face.

Corro até o cofre que fica em meu estúdio e onde guardo os objetos encontrados nas ruínas da padaria.

Eu nunca tive ânimo de tentar abrir o baú de metal onde meus pais guardavam as suas alianças, mas a ocasião está me dando essa coragem. Com paciência e com o auxílio de uma chave de fenda que pertencia a meu irmão mais velho e que também está no cofre, finalmente abro o baú e encontro um par de alianças em seu interior.

Admiro os dois anéis de tamanhos diferentes na palma da minha mão. A pergunta cuja resposta eu temia já foi esclarecida.

Minha mãe estava acordada junto ao meu pai, quando nossa casa foi bombardeada. Isso pode significar que ela, no fundo, preocupava-se comigo.

Ainda que isso não seja verdade, ela ao menos se importou de ficar ao lado do meu pai naqueles momentos difíceis. As duas hipóteses são alentadoras para mim.

Com esse espírito leve, retorno ao meu quarto.

— Katniss – chamo, mas não obtenho resposta. — Katniss, eu voltei e trouxe o que prometi.

Toco seu braço, seu rosto e seus cabelos, mas ela já dorme pesadamente, com os lábios ligeiramente abertos.

Tenho a chance de examiná-la bem de perto. Ela é adorável dormindo.

Guardo as alianças no bolso. Elas agora ficarão comigo, para eu não perder a chance de oficializar o pedido de casamento, quando a oportunidade surgir.

Saio do quarto e desço as escadas carregando as roupas dela. Limpo e organizo um pouco a sala e a cozinha, deixando as roupas – e as botas – no tanque.

Tomo outro banho depois da longa noite e me deito ao lado de Katniss. Ao fazer isso, sussurro pra ela:

— Eu aceito seu pedido… Eu aceito você como minha esposa todos os dias e noites do resto de nossas vidas. Eu prometo amá-la e respeitá-la enquanto eu viver. – Ainda dormindo, ela tateia a cama até me encontrar ao seu lado e envolve seus braços em mim.

É até bom que ela ainda esteja dormindo. Só assim poderei fazer o pedido de casamento do modo que eu planejei.

Estou cansado, aliviado e feliz, muito feliz. Durmo rapidamente também. Meus sonhos se misturam com o calor da sua pele macia descansando sobre meu peito e com beijos com sabor de licor de chocolate.

 


Notas Finais


Oi, pessoal!

Que maratona pra liberar esse capítulo tão rápido! Infelizmente, não consigo manter esse ritmo sempre.

Valeu a pena esperar?

Só aviso que essa reconciliação não valeu muito, não. A reconciliação de verdade vai acontecer no próximo capítulo, quando nossa heroína estiver sóbria.

Falando no próximo capítulo...

Chegou o momento de unir minhas duas fics!

Vou reescrever aqui o último capítulo da fic "O presente de Peeta para Prim", com uma surpresa: do ponto de vista da Katniss!

Mas o capítulo não será uma mera reprodução do outro!
Haverá outros acontecimentos e serão feitas algumas adaptações, é claro, pois esta fic tomou rumos um pouco diferentes do que planejei originalmente, mas vou usar alguns diálogos que escrevi nessa minha outra história e dos quais gosto muito.

Espero que gostem também!

Beijos!

Isabela


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