História A República - Aniversário Ariano - Há males que vem pro bem

Yuzuriha estava com a mínima vontade de falar com Shion. Primeiro por ele desconfiar de sua fidelidade. Segundo, por que parecia um idiota quando ouvia aquele insuportável cantar para ele.

­_O que quer? – cruzou os braços e se virou para ele.

_Quero conversar... Será que dá?

_Será que dá pra me explicar por que aquele imbecil cantou pra você? – batia o pé direito na grama.

_Não é óbvio? – a encarou do mesmo modo que ela lhe olhava.

_Ele gosta de você! E você? Vai me dizer que também gosta dele? Virou viado, Shion? Seu pai vai AMAR saber disso! – dizia com a face irônica.

_Yuzuriha, para de baixaria – estava tentando se manter calmo, mas ela não facilitava – Só disse que a razão para Dohko cantar pra mim é obvia. Ele gosta de mim, sim. É o que parece que você não sente mais, já estava até de conversinha e piscadinha para outro – cruzou os braços também.

_Eu já disse que ele é um amigo da Melissa, cacete! Ele estava com vergonha de falar com ela, só isso!

_Sim, daí ele tem que piscar pra você pra dizer “tomei coragem! ”? Conta outra, Yuzuriha!

_Se você não acredita em mim, só lamento... Chama o meu pai pra me levar embora! Eu não volto pra lá!

_Vai de ônibus, então! Não vou deixar você tirar meu tio de perto da garota dele por causa de criancice sua!

_Você se importa mais com aquela puta interesseira que com a sua namorada? – dizia em tom alto. Estava a ponto de gritar.

_Olhe bem pra suas amigas antes de chamar qualquer uma de puta interesseira! A Mel é uma pessoa ótima sim e eu a defendo sempre que puder! Agora me deixa falar o que eu vim pra falar! Eu tô cansado de nós. Tô cansado de você!

_Cansado... De mim? Quem você pensa que é para se cansar de mim?

_Sou seu EX namorado, Yuzuriha – retirou a aliança prateada e entregou na mão da loira, que arfava de raiva – Se quiser esperar seu pai ir embora, senta num cantinho aí pra não atrapalhar ninguém! – disse e voltou em direção à festa. Yuzuriha não sabia decifrar o que sentia. Talvez fosse raiva. Esperneou no gramado antes de jogar a aliança dos dois no meio da rua com toda a força que tinha.

Shion passou por Isa, que contava sob gargalhadas a Regulus o que fez à Sasha.

_Mas eu acertei uns quatro! Ela saiu toda quebrada, aquela vaca...

_Isa, você acabou de se tornar minha “idola”! Eu já tava doido pra meter a mão naquela puta há muito tempo! – dizia o loirinho, que estava abraçado com Aspros.

_Calma, Regulus!

_Calma o caralho, Aspros! Aquela maldita acabou de terminar com meu tio e foi dar pro meu pai só de vingancinha! Além de tudo, ela maltratou a Seika! Obrigado, Isa, na real, você é a melhor que nós temos... Depois de mim, é claro! – sorriu mostrando os dentes.

_Eu sei disso, garoto! – bagunçou os cabelos loiros – MEU DEUS! – a menina deu uma sessão de gargalhadas ao ver que Shaka saíra da piscina e seus cabelos estavam esverdeados. Regulus e Aspros contiveram seus risos. Conheciam que o humor do loiro para brincadeira não era lá dos melhores – Cadê o Oros aqui quando eu preciso dele? – mantinha as risadas – Parece que ele tem um alface na cabeça!

_Ah, não está tão ruim assim...- Aspros tentou acalmar a sessão de risadas da menina.

_O quê? Está hilário! Mu, amado, vai lá ajudar o seu amigo! – quando o ariano passou por ela, comentou.

_Com o que? – olhou para Shaka – MEU DEUS! - Mu correu até o amigo e jogou uma toalha sobre os cabelos dele.

_O que foi? – o outro sussurrou.

_É que... Seu cabelo... Está – ruborizou ao ter de falar isso para Shaka. Ele detestava que algo saísse de seus planos – Verde – sussurrou de volta para o loiro, que saiu correndo para o quarto com a toalha enrolada na cabeça. Por sorte, já era noite e quase todos estavam semi-alcoolizados ou bem bêbados mesmo.

_Mu me ajuda! O que eu faço? – andava de um lado para o outro no quarto, molhando o chão inteiro.

_Calma... Acho...- tocou o queixo. Se lembrou de uma vez em que algo parecido aconteceu com Yuzuriha – Claro! Tem leite aí?

_Leite? – fez cara de nojo.

_Isso, cara pálida! Leite! Se não tiver aqui, eu vou ter de ir lá na cantina buscar.

_NÃAAO! Não me deixa aqui sozinho! Se alguém entrar e me ver assim, eu vou cometer um homicídio! – agarrava com força os fios, que estavam grudados por conta do cloro. Não estava suportando se olhar no espelho.

_Calma, fecha a porta e só abre quando eu voltar! Me espera!

_Claro que vou te esperar! Acha que vou deixar alguém me ver assim? – percebeu que Mu continha o riso ao olhar para ele – Fecha essa porta! Tranca! Passa o maçarico! E PARA DE RIR DE MIM! – estava vermelho de raiva.

_Relaxa, Shaka! Já venho! – saiu em disparada, sem prestar atenção em algumas pessoas que lhe chamavam. Nunca imaginou que passaria uma parte de seu aniversário correndo atrás de leite para “deserverdear” o cabelo de Shaka. Foi até a cantina e achou o leite, dando uma explicação rápida para sua afobação para seu pai. Entrou no quarto e bateu a porta.

_Pronto!

_E agora? O que fazemos com isso?

_Vamos lá na pia...- o loiro acompanhou seu amigo até o banheiro – Melhor... Entre no box... Acho que isso pode fazer um pouco de sujeira...

Shaka ruborizou e retirou a toalha que estava enrolada em seu corpo. Queria que o pensamento que passou por sua cabeça fosse menos pervertido. Estaria dentro do box. Com Mu. Só podia ser um sonho!

_Shaka! Vai logo! – acordou de seus devaneios ao ouvir a voz do amigo.

_Tá, tudo bem...- entrou no box e ligou o chuveiro para cair um pouco de água onde iria se ajoelhar. Mu entrou junto do loiro no box e se colocou atrás dele.

_O leite está meio gelado, mas vai ter que ser assim mesmo...- despejou uma pequena quantidade do líquido sobre os cabelos do outro, puxando-os até o fim, vendo o leite sair dos cabelos com a cor verde – Olha o leite. Verdinho! – também se ajoelhou atrás de Shaka para poder despejar melhor o leite sobre os cabelos sedosos.

Shaka se sentia nas nuvens. De certo que estava constrangido pela proximidade com Mu, mas mesmo assim, nas nuvens. Sentia aquelas mãos macias adentrarem seus cabelos. Fechou os olhos e sorriu.

_Está melhor?

_Está maravilhoso – sussurrou inconscientemente e pendeu a cabeça para trás.

_O... O quê? – o outro ficou intrigado – Shaka?

_Sim! Oi? O quê? – despertou rapidamente de seus devaneios – Nada... Mu, deixa que eu mesmo faço isso, volte pra sua festa...- ameaçou tomar a caixa de leite da mão do amigo, mas ele, na tentativa de afastar o objeto de Shaka, caiu para trás, fazendo com que o loiro caísse sobre si, numa posição nem um pouco confortável. Shaka estava deitado sobre seu corpo. Entre suas pernas. Ruborizaram quase ao mesmo tempo.

_Me... Me desculpe...- dizia o loiro, completamente constrangido. Não conseguia se levantar. Queria estar colado àquele corpo para sempre. Sua mão escorregou pela água e ele caiu ainda mais por cima de Mu. Se ele não o conhecesse, juraria que foi de propósito!

_Tudo... Tudo bem, Shaka – segurou a cintura do loiro instintivamente, sem deixar de olhá-lo nos olhos.  Nunca tinha reparado tanto na beleza de Shaka. Aqueles olhos azuis, uma boca vermelha e carnuda. Sem pensar duas vezes, o trouxe para si e o beijou. Shaka correspondeu avidamente, se entregando aos lábios macios de Mu, que pousou a mão em suas coxas, sentindo uma fina penugem entre seus dedos. O beijo se tornou profundo e cheio de paixão. Mu segurou os cabelos de Shaka para coordenar melhor o beijo. Seu espírito ariano não se fazia mentir. Inverteu as posições e deixou o loiro abaixo de si.

_Mu...- arfava com aquele beijo – O que...- sorriu. Sentiu Mu roçar o nariz dele no seu, num gesto de carinho.

_Eu acho que tive um surto de consciência Shaka...- dizia, ainda com o rosto colado no dele – Desde quando?

_Desde sempre...- entendeu que a pergunta se referia a desde quando o amava em segredo.

_Fica comigo? – foi direto. Nunca havia entendido o fato de não ter se envolvido completamente por ninguém. Nunca sentiu o que sentia agora, nem mesmo quando se interessou por Mel. E estava muito feliz por isso. Talvez sempre tivera Shaka em seu coração e se recusava a aceitar, a entender isso. Não deixaria mais um segundo sequer para trás – Estou esperando sua resposta – deu um beijo demorado no canto da boca do loiro, depois outro na bochecha.

_Você ainda quer que eu responda?

_Quero – mordeu o lábio inferior – Quero que me responda...

_É claro que eu fico com você! Eu te amo, Mu!

_Isso foi uma das melhores coisas que ouvi hoje...

_Uma das? – cruzou os braços.

_Sim... A outra foi “Ajuda seu amigo, Mu” – sorriu.

_E por que? – sorriu de canto.

_Por que foi ela que me fez vir até você... Que me fez buscar o leite. Passa-lo no seu cabelo. Fazer você querer tomar ele de mim e cair sobre o meu corpo...– acariciou a face alva com as costas da mão – Vem, vamos voltar... Meu Shaka – sorriu.

_Espera! O meu cabelo!

_Ah é! – riu – Vamos continuar – permaneceu banhando os fios loiros com o líquido por algum tempo, vez em quando parar para trocar um beijo. Nunca esteve tão feliz.

A festa ainda estava agitada. Kanon e Thetis, mesmo depois de ficarem, ainda se pegavam como gato e rato.

_Não vem querer bancar meu dono não!

_Calma, mulher! O que é isso, meu Deus!

_Isso? Eu estava indo conversar com Gio e você já fica com essa cara de cu! Assim não dá!

_O que esse mala tem que vocês não param de conversar com ele? – cruzou os braços e fez um bico imenso.

_Hmm – tocou o queixo. Amava provocar Kanon – Bem, vou começar a lista – estendeu a mão – Ele é lindo. Gente boa. Cavalheiro. Tem conversa... Não sei, precisa de mais? – ria irônica.

_Pena que ele não sou eu, e sei que é de mim que você gosta – puxou-a pela cintura e roubou um beijo digno de novela – Precisa de mais? – disse no ouvido dela.

_Sai daqui, garoto! – o empurrou e ia andando em direção à piscina, quando ouviu uma voz familiar no microfone.

_GALERA! COMUNICADO IMPORTANTE AQUI! – Dohko subiu na cadeira para fazer mais um de seus típicos escândalos. Após saber que Shion deixou Yuzuriha, seu coração se felicitou. Viu nisso uma razão a mais para encher a cara.

_Fala logo, seu bêbado! – disse Defteros, mais mal-humorado que nunca.

_Bêbado? Eu tô bebendo por que tô feliz! Beber é a saída pra tudo! Eu diria pra você beber também pra esquecer o chifre! – gargalhou.

_Eu te mato, seu babaca! – o gêmeo já ia partir pra cima de Dohko, mas foi impedido por Sísifo.

_Para, Defteros! Não tá vendo que ele tá zoando? – o amigo apenas revirou os olhos.

_E O CORAÇÃO NÃO GUENTAA! – cantou no microfone, e tentando dançar, desequilibrou – OOOOOHHHH – foi segurado por Hasgard, que o impediu de cair feio – Obrigado, amigo – abraçou o taurino.

_Que cena mais linda! Será que estou atrapalhando o casalzinho aí? – Selinsa filmava o abraço entre os amigos. Hasgard largou Dohko de lado e tomou o celular da mão da menina e o levantou bem alto – ME DEVOLVE ISSO! – ela pulava tentando pegar o aparelho.

_Deixa eu pensar – tocou o queixo com a mão livre, sentindo que a menina tentava escalar seu corpo como um gato – Senta igual mocinha, Selinsa! – debochou do jeito bruto da menina.

_Vai pra merda! Me dá meu celular AGORA! – fez bico.

_Tá achando que eu tenho medo de cara feia? – riu, mantendo o celular o mais alto que seu braço conseguia levantar.

_Se tiver, vai ser difícil se olhar no espelho! – a menina provocou e o viu deixar o celular sobre o balcão e pegou-a, a colocou sobre o ombro direito e a atirou dentro da piscina sem nada dizer – MALDITO! 

_Aprende a não mexer com quem está quieto! – disse e virou as costas para ela – Vamos lá, Dohko, o que você tinha pra dizer?

_Sabe que eu até esqueci – coçou os cabelos, tentando se lembrar – Ah! Galera! – subiu na cadeira novamente, fazendo os demais se retraírem – Relaxa, meu povo, tá tudo sob controle! – bambeou novamente e sacudiu os braços para se equilibrar – EITAAA! TÁ DIFÍCIL! ASSIM NÃO DÁ! ESSA CADEIRA SÓ FAZ ESCORREGAR!

_ A cadeira, né! Sei! – Manigold gritou lá do fundo.

_Enfim! Deixa eu falar! Quero ver todo mundo na boquinha da garrafa! Quem se candidata além de mim?

_EU! – Gio saiu de dentro da piscina e recebeu alguns olhares surpresos.

_Não existe rockeiro na hora de ralar na boquinha da garrafa! – passou os braços em torno dos ombros de Giovane – Partiu então! Mais alguém? Ó, já vou avisando que se ninguém se candidatar, eu vou selecionar, hein! – Dohko sempre fazia a linha bêbado chato. E hoje não estava muito diferente.

_Tô dentro também! – Kardia correu para perto de Dohko, mesmo sob protestos de Degel.

_Se seu namoradinho te fizer passar vergonha, me fala, que eu dou uma voadora bem na cara dele! – Ana estalou os dedos ao falar com o irmão.

_Você está preparado pra conviver com isso aí? – Degel comentou com humor na direção de Albafica.

_O que está chamando de “isso”? – a menina torceu o braço do irmão sem dó.

_Ana! Ana, chega...- segurou os ombros da namorada e recebeu um olhar mortal – CALMA! – levantou os braços em símbolo de paz – Calminha...- voltou a abraça-la. “Se ela faz isso com o irmão, imagine comigo! ”. Pensou.

_O Gio vai primeiro! Vai lá, terror da mulherada! – o meio-chinês empurrou o colega na direção na garrafa vazia que estava preparada para a dança. Colocou a tal música e viu seu efeito. Giovane dançava surpreendentemente bem. Seu abdômen era perfeitamente desenhado, suas coxas eram grossas na medida certa. Estava levando as meninas ao delírio.

_Ai, Saga! – Isa tentava destapar seus olhos, já que Saga colocou suas mãos sobre eles – Deixa eu ver!

_Preciso filmar isso... – Aninha disse em voz baixa, mas foi o suficiente para que Shura escutasse e a deixasse novamente.

_Quer saber? Eu tô fora! – ele disse as últimas palavras e andou em direção aos quartos. Parecia que o dia estava ruim para quase todos.

“Vai chegando na boquinha da garrafa

Na boca da garrafa

Desce mais, desce mais um pouquinho

Desce mais, desce devagarinho”

Após Kardia terminar sua dança, Dohko se aproximou da garrafa. Pensava, como sempre, que estava sensualizando. Ondulava a barriga e descia até a boca da garrafa. Ao se levantar e tentar sambar, escorregou e dessa vez não havia um Hasgard para lhe segurar. Levou um tombo certeiro e caiu sobre o braço direito, causando uma sessão de gargalhadas em todos.

_Eu não disse que ia dar merda? – Defteros se deitou no chão para rir – Quando eu falo...- voltou a rir – Ninguém acredita! AAAAHHHH SE FUDEU! – gargalhava e apontava para Dohko, que mesmo estatelado no chão, continuava rindo.

_Seus porra, me ajuda aqui! Tá doendo! AAAIIII UM MÉDICO PELO AMOR DE DEUS! – sentia dor, mas ria de nervoso. Sabia que provavelmente seu braço estava quebrado.

Hakurei estava com Mel assistindo ao “espetáculo” de Dohko. Respirou fundo.

_Lá vamos nós outra vez...

_Ó! Se alguém for machucar, machuca de uma vez pra poupar o tio Hakurei! – Manigold disse no microfone – Se ele tiver que ir pro hospital de novo e quando voltar, alguém querer bancar o surfista prateado igual esse aí, VAI FICAR CAÍDO NO CHÃO!

O mais velho não pôde deixar de rir. Pelo visto, o hospital ficaria bastante movimentado hoje.

Continua