História A República - Um convite inesperado

          Isa permanecia se aventurando em suas peripécias. A estas alturas, estava verdadeiramente dividida entre Milo e Saga. Enquanto se encontrava com um, despistava o outro. Na terceira semana de aula, assim que descobriu que o paquera de Mel era da sua turma, rapidamente tratou de puxar assunto com ele e com o amigo chato, o tal de Shaka.

No horário de almoço, todos se juntavam às suas turmas, exceto eles, que despencavam do refeitório da Medicina para o do Direito, só para não deixar Mel sozinha, já que a sempre introvertida não fizera novos amigos em sua turma. Chegou à mesa onde a amiga já havia reservado seus lugares, mas estava conversando com um rapaz que nem de longe parecia ser um aluno do curso de Direito. Era forte e alto, parecia mais velho do que realmente era. Conheceu Mel por dividir a mesma paixão que ela: comida. Se encontravam na cantina quase todos os dias durante os intervalos das aulas e assim se aproximaram. Uma amizade engraçada cresceu ali, pois eles dedicavam a maior parte do tempo às suas nada minimalistas refeições. 

_Oi Isa, Mu, Shaka! Esse é meu novo amigo, Aldebaran! – a ruiva apresentou o rapaz aos demais, e ele logo abriu um sorriso largo.

_E aí... Hm, preciso arranjar um nome mais curto pra você! Deba! Está bom? – disse a morena, se sentando ao lado de Mel.

_Está ótimo! Mel, qual deles é o seu namorado? – perguntou e viu a menina se tornar rubra imediatamente, igualmente a Mu – Já saquei! – coçou os cabelos, desconcertado com a  pergunta que fizera. Por um momento, se esqueceu de que ela era discreta e tímida. 

_Tudo bem, eles são assim mesmo, Deba! Mas e você? Qual o seu curso? – Isa deu uma garfada generosa em sua salada de legumes – Posso tentar adivinhar?

_Pode! É meio óbvio, mas tente! – o prato dele era bem generoso e alto. Podia ser facilmente confundido com uma cadeia montanhosa.  

_Educação Física!? – disse em tom desafiador. Era incrível a facilidade de comunicação que ela tinha com as pessoas. Era cativante e divertida. Com toda a certeza, seria uma médica maravilhosa.

_Na mosca! E você? Bem, vou adivinhar! Os três tem cara de médicos!

Os meninos riram tímidos. Mu por ser tímido de natureza, e Shaka por ser introvertido e não gostar de conversas informais e que não levam a nada. Já Isa, comunicativa que era, sorriu largamente. 

_Acertou também!

Viram alguns veteranos se aproximarem da mesa em que estavam, refizeram a postura, tentando parecer sérios. Um deles já era conhecido das meninas, era Sísifo, o garoto da faixa vermelha, o outro era alto e forte, tinha o corpo bem parecido com o de Aldebaran. Era Hasgard, seu veterano. O outro apenas Mel tinha visto de relance na festa de recepção, mas não se lembrava do nome dele.

_E aí calourada? – disse o rapaz atlético – Vocês já tem planos para essa sexta- feira?

Todos se entreolharam. Sabiam que provavelmente haveria outra festa. Os veteranos só se aproximavam para falar delas. Isto quando não lhes aplicavam os famosos trotes, pelos quais Asmita, em sua época de calouro, teria pago uma fortuna para que não lhe cortassem os cabelos. 

_Na verdade, ainda não sabemos. Porque? – Isa tomou a liberdade e respondeu por todos.

_Ah, galera, to com preguiça, fala tu – o grandão passou a vez para os amigos.

_E eu lá falo com calouros? – disse o de cabelos espetados, olhando na direção das meninas – Mas acho que com as calouras eu posso dar uma palavrinha – se sentou ao lado de Isa, que se afastou com cautela – Calma, só vamos fazer um convite – sorriu e piscou um olho para a morena – Mas se precisar, prazer, Manigold – beijou a mão de Isa, que fez cara de deboche.

_Dá licença, seus puto! Então, nessa sexta vai rolar um festão lá na minha casa – entregou um papel para cada um deles, contendo o endereço do lugar. Era um bairro nobre – Recomendo às meninas que levem biquíni – sorriu de canto, fechando-o logo em seguida ao se lembrar de que era comprometido – Enfim, está aí o endereço, as bebidas são por nossa conta, se quiserem levar uma carne pra gente queimar, fiquem à vontade!

_Vem cá, vamos poder levar alguém nessa festa aí? – perguntou Aldebaran – É que eu não sou solteiro, então se não puder, não vai rolar.

_Por mim quanto menos marmanjo, melhor – disse Manigold, levando uma cotovelada nas costelas.

_Para, Mani, vai assustar as meninas! – disse Hasgard – Mas é sério, podem levar um acompanhante, cada. A não ser que esse acompanhante estude aqui, por que assim fica mais fácil. Podemos contar com vocês lá?

Isa encarou Mel com seu típico sorriso maroto. Já a ruiva direcionou seu olhar para Mu, que acenou com a cabeça um “sim” e ela sorriu.

_Podem sim!

_E o mini Asmita, aí? Vai também? – disse Manigold, que não perdia uma oportunidade de sacanear quem quer que fosse. Todos deram um riso discreto.

_Isso é comigo? – Shaka olhou para ele com indiferença.

_Ei, calma aí filhote de Asmita! Pelo que eu to vendo é tão chato quanto ele – Isa não pôde deixar de concordar. Achava Shaka um porre, daqueles que interrompem a aula para mostrar para o professor que sabe mais que todo mundo. Queria mesmo que ele não fosse. Suportava sua irritante presença apenas por ser amigo de Mu – Desculpa aí, loiro! Não precisa ficar irritadinho, já estamos indo embora!

_Falou, galera! – os outros dois se despediram e andaram na direção oposta.

Shaka terminou seu almoço, retirou seu prato e deixou a mesa em silêncio. Mu pensou em ir atrás dele, mas preferiu deixa-lo sozinho. Shaka era uma pessoa difícil de lidar. O viu caminhar na direção dos portões da faculdade, provavelmente voltaria para a república.

_O que deu nele? – perguntou Isa – Ele ficou magoado?

_Ah, Isa, ele é meio difícil – foi sucinto, não exporia os problemas emocionais de seu amigo a alguém que ele não conhecia direito – Depois eu converso com ele.

_Se você está dizendo - deu ombros - Vem cá, Deba, que história é essa de namorada? Ela estuda aqui? 

_Não, na verdade ela só está passando o fim das férias aqui e logo vai voltar para o Pará... Nós somos de lá, mas ela ainda não entrou para a faculdade. Na verdade, entrou para o terceiro ano agora. É bem chato esse lance de ficar longe dela, mas se Deus quiser, é só por mais um ano... Um ano passa rápido - sorriu fraco. Europa nem havia ido embora ainda e já sentia saudades dela. Mal podia esperar pela passagem deste ano. 

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Mansão Kido

Saori, Sasha e Yuzuriha conversavam sobre futilidades no quarto da mais velha, vestiam e tiravam roupas e mais roupas, procuravam a perfeita para a festa de sexta. A mais nova planejava ficar com Régulus naquela festa, ainda que seu coração pedisse por outra boca. Mas não pensaria nisso agora. Não podia. Ele não estava em seu nível. Não tinha o direito de desejá-lo. Seu pai jamais a perdoaria. 

_Então, esse vestido? – Sasha estava em frente ao espelho de seu closet. Experimentou um Prada vermelho. Não era o mais deslumbrante, porém o preço que seu pai pagara por ele compensava. 

Yuzuriha vestia apenas uma lingerie, que exibia sus curvas perfeitas. Mantinha os pés sobre o respaldo da cama de Sasha enquanto falava ao celular com o namorado, abafando o som para responder ao questionamento da mais velha. 

_Acho lindo, amiga... Mas o que interessa é o que vai estar por baixo - sorriu, mordendo os lábios – Já contou para sua irmãzinha o que vai rolar na sexta? – falava sobre o fato de Sasha estar premeditando perder a virgindade com Sísifo.

_Ainda não, sua fofoqueira! – jogou o vestido no rosto da amiga.

_Mas agora eu quero saber! Pode ir contando!  Sasha Kido!

_Ai sua chata! Vou contar... Eu estava pensando em... Transar com Sísifo!

_Jura? – a outra ficou boquiaberta – Yuzu, o que você acha disso? – Saori tinha somente quinze anos. Não era uma menina maldosa, embora tomada pela futilidade que o mundo ao qual pertencia lhe trazia. "Dinheiro chama dinheiro". 

_Eu acho ótimo! – passou a língua pelos lábios – Eu adoro sexo!

_Adora? Yuzu, você e Shion já...? Já?

_Se eu já? – riu com deboche - Minha neném, eu “já” há MUITO tempo! Querida, acha que é fácil morar na mesma casa que meu namorado e não fazer nada? – riu em gargalhadas – E eu te garanto que é uma delícia – revirou os olhos com malícia, lembrando-se das loucuras que já cometera junto de Shion em cada canto daquela casa. 

_Gente, eu #tombei! Não estou acreditando! E eu aqui querendo dar uns beijos no Régulus...- fez cara de desanimada.

_No Régulus? Eu sempre pensei que você tinha uma quedinha pelo Ogawara – Yuzu lixou as unhas com expressão de tédio.

_O Seiya? ECA! – fez cara de nojo – Aquele POBRE!? Deus me livre, amiga! Ele não tem onde cair morto! – permanecia com expressão de nojo. Precisava a todo custo omitir seus verdadeiros sentimentos – Nem vem com essa, please!

_Ih! Ficou nervosinha é por que tem coisa! – as mais velhas caíram na gargalhada.

_Parem, suas chatas! Meu negócio é o Régulus! – cruzou os braços. Mal sabia dos verdadeiros planos de Regulus para aquela festa.

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Quarto 305 – República Beta

O quarto dos rapazes era dividido de forma semelhante ao das moças. Havia uma escadinha no canto que dava acesso ao segundo andar. Milo conversava animadamente com seu melhor amigo, deitados sobre suas camas, que faziam parte do andar de cima. 

_Camyu, você tem que ver a gata que eu estou pegando! - sorriu - Ela me mandou uma mensagem me chamando para uma festa dos veteranos amanhã. Vamos?

_Primeiramente, Milo, eu sei quem é a “gata”, já que você me LARGOU na festa para ficar com ela, e além disso, não vou a outra festa com vocês para ficar segurando vela – o rapaz ficara realmente chateado com o amigo. Era sistemático e enjoado, não gostava de ficar sozinho em ambientes desconhecidos, mas para Milo, isso já era assunto encerrado. “É obvio. Não foi com ele!”. Esbravejava sozinho em sua mente – Enfim, eu não vou.

_Poxa, Camyu – se deitou ao lado do ruivo e fez beicinho. Não sabia o quanto esse tipo de atitude mexia com o interior de Camus. Com o seu próprio interior, em verdade, por mais que não pudesse admitir. 

_Sai daqui, Milo – empurrou o amigo – Anda logo, não quero ir e ponto. Você já vai estar muito bem acompanhado – se fez sério.

_Own, meu picolézinho está com ciuminho? – começou a fazer cócegas na barriga do amigo. O chamava assim por ser muito insensível, diferente de si mesmo, sempre explosivo e intenso.

_Será que dá pra pararem com essa viadagem? – Shura arremessou uma almofada na direção dos dois.

_Afe, Shura, tem pra você também, vem cá! – chamou o amigo com o dedo indicador, fazendo onda com a cara dele. 

_Sossega esse rabo, Milo! Preciso estudar!

_Eu também! Agora me solta, seu insuportável! Vai falar com a tal garota – deu um sorriso irônico e se sentou ao lado de Shura, juntaram suas mesas de estudo uma de frente para a outra e Camus começou a explicar um cálculo de estatística para o outro.

Milo voltou a fuçar no celular, estava curtindo muito ficar com Isa. Ela era linda e quente. Sorriu com maldade. Mal podia esperar por esta festa. 

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Quarto 102 – República Beta

Isa e Mel estudavam juntas, cada qual em sua mesa. A ruiva manuseava um livro que mais parecia uma bíblia aos olhos da amiga. O celular da morena vibrou e ela identificou a mensagem de seu gato “nº 2”.

_Amiga, ele vai comigo à festa! – cutucou a amiga, que se virou para ela - Acabou de me confirmar!

_Isadora, você já pensou como dar um sumiço no outro? Olha, isso não está me cheirando nada bem! Tem tudo pra dar errado! 

_Amiga, o Saga me disse que amanhã de manhã está indo para a Bahia encontrar o irmão dele, ou seja, estou livre, leve e solta – riu com deboche para a amiga - Você precisa me deixar viver, Melissa! Eu preciso deixar tudo aquilo pra trás, e acho que só vou conseguir se parar de pensar que tudo vai dar errado outra vez! 

_Tudo bem, Isadora, é você quem sabe. Eu não me meto mais na sua vida – revirou os olhos e voltou para seu caderno. Não tinha motivo algum para crer que aquilo daria certo algum dia. 

Continua