História A República - Ressaca moral

             Mel subiu as escadas cantarolando até o quarto, onde ela esperava que Isa estivesse sozinha. A morena abriu a porta. Vestia um short preto colado, um top branco e seus cabelos estavam molhados. 

_Isadora - arqueou uma sobrancelha - Acho que temos algumas coisas para contar uma para a outra – entrou a ruiva com a feição desconfiada – Você não vai acreditar no que aconteceu, cabrita! – se jogou na cama, retirando as sandálias.

_Ah, mas agora eu vou saber de tudo! Pegou  o gato?

_Então... – deu uma pausa dramática – Eu peguei um gato, mas não esse que você está pensando... – suspirou.

_COMO ASSIM, MELISSA? – a morena se deitou ao lado da amiga. Sua curiosidade se aguçou. 

_Hakurei é pai de Mu – atropelou as palavras – Isso mesmo! Ele do nada foi buscar o filho na festa, Mu pediu pra ele me trazer em casa e ai foi... – respirou aliviada. A amiga mantinha os olhos arregalados e a boca aberta. Estava completamente incrédula no que acabara de escutar.

_O que você quis dizer com “foi”? Melissa eu não sei o que dizer!  Eu que pensei que te surpreenderia hoje... Tô é pasma!

_Quis dizer que nos beijamos – colocou a mão esquerda sobre o coração e suspirou apaixonada – Ele me beijou, Isa!– se virou para a amiga – Gosto de Mu, mas como amigo... O que eu estou sentindo pelo Hakurei é...

_É fogo nesse rabo! Antes que pense que estou revoltada, estou é adorando! E só quero saber quando esse fogo vai se alastrar! – sorriu maliciosa para a ruiva e fez cócegas em sua barriga – Mulher, estou feliz pela sua iniciativa! Apesar de ter certeza de que Mu não vai sair muito feliz dessa história.

_Vai com calma Isadora! Estamos nos conhecendo... Mas com você eu sei que posso ser honesta... Eu senti uma coisa louca por dentro – se fez rubra – Algo quente... Nunca senti isso antes! Nem com o Sore! 

_Isso é tesão, cabrita! E se quer saber, eu iria logo pros finalmentes, já que está assim tão quente!

_Não é pra tanto – cobriu a cabeça com o travesseiro – Vamos almoçar na sexta – sua voz saiu abafada pelo objeto que tapava sua face.

_Isso é maravilhoso, cabrita! Quero saber de detalhes! Mas por falar em detalhes, sua cabrita aqui tem algo pra te contar – enfiou o rosto debaixo do travesseiro da amiga – Eu e Milo.. Rolou!

_Nossa! Mas como foi? – saiu de onde estava e se apoiou na almofada – Gostou?

_Se eu gostei? Eu adorei! Cabrita, que homem é esse? Ele saiu daqui uns cinco minutos antes de você chegar... Estávamos repetindo a dose no chuveiro – mordeu os lábios com a lembrança.

_Que bom que foi bom assim... Só quero saber do outro garoto la, o Saga... O que vai dizer pra ele? – sem perceber, tocou na ferida.

_Ah, mulher, eu sei que parece estranho, mas gosto dos dois. Não entendo isso! Juro que não entendo!

_Eu bem que te avisei que esse joguinho ia dar errado, mas você não me ouve! – andou na direção do banheiro e continuou sua fala – Olha aí no que deu!

_Você devia me apoiar, sua cabrita ridícula! – atirou um travesseiro na porta do banheiro – Eu não sei o que fazer...

_Se você quer tirar a dúvida, seja sincera com você mesma... Você gosta dos dois da mesma maneira?

_Não sei... Milo é gostoso, é sensual, uma delícia! Mas é pegajoso, daqueles que gruda no pé! Bem do seu tipinho assim, sabe – brincou com a amiga – Já o Saga é divertido, tímido, um docinho... Não sei medir essas coisas!

_Então só o tempo vai te dizer quem é o seu preferido – se deitou em sua cama – Amanhã conversamos mais? – bocejou e viu as outras meninas entrando pela porta. Apagou o abajur ao receber uma confirmação de Isa e virou para o canto.

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Dohko e Kardia de fato se acabaram no campeonato etílico. Não houve um vencedor. Quase que instantaneamente, ambos sentiram suas visões turvas e sofreram um desmaio - segundo os demais, um desmaio perfeitamente previsível – e foram levados ao hospital às pressas para a injeção de glicose intravenosa.

Kardia abriu os olhos lentamente e sentiu sua cabeça latejar. A dor só não era pior por que ele viu quem queria ver quando abrisse os olhos. Degel. 

_De... Onde estou?

_No hospital - respondeu com rispidez - Devia estar envergonhado, Kardia! – o belo rapaz, que usava um par de óculos, estava com os cabelos ainda úmidos pela piscina, mas mantinha sua expressão reprovadora. Balançava a cabeça de um lado para o outro.

_Ai Degel, vai pra puta que pariu, vai! Você devia é estar preocupado comigo, não me julgando! – fez dengo.

_Eu? Eu te avisei mais de mil vezes que esse campeonato não ia acabar bem! Mas você me escuta? – se sentou na cadeira vaga ao lado.

_Espera aí - tocou o queixo com a expressão interrogativa - Eu ganhei do Dohko?  Me diz que ganhei!

_Não, Kardia, não houve um vencedor – disse de maneira séria – Vocês desmaiaram quase ao mesmo tempo.

_Então precisamos terminar o campeonato! – pelo tom de sua voz, aquela parecia se tratar de uma ideia genial – Na próxima festa isso vai ser resolvido! – deu um soquinho na maca na qual estava deitado – E onde está o Dohko?

_No quarto ao lado, e nem pense em ir lá! Sossega esse facho e espera a glicose terminar! – a palavra de Degel sempre tinha alguma influência sobre o gênio difícil de Kardia. Ele era apaixonado pelo amigo, e sabia que no fundo, ele também gostava de si. Não sabia de que, mas Degel tinha medo de algo. Certamente que não era nenhum santo, reconhecia isso, mas seria capaz de mudar ALGUMAS coisas em si por Degel. Por ele, tudo valeria a pena. Era só ele aceitar o seu amor.

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Milo voltou para seu quarto. Camus ainda estava estudando com sua luminária acesa para não atrapalhar Shura a dormir. O resto dos rapazes ainda estava na festa. Pelo menos Kardia e Degel deviam estar. Deu um beijo nos cabelos do amigo. Era naturalmente uma pessoa muito carinhosa e apegado. Segundo Camus, apegado até demais. 

_Ainda estudando? – tentou falar baixo. Apenas tentou.

_Tenho prova. Aonde você estava? – disse com indiferença.

_No quarto da minha gata, Isadora! Camyu, você não vai acreditar no que rolou! – se sentou na mesa de Camus, atropelando um livro de cálculo. Viu seu amigo lhe disparar tiros com o olhar ao se sentar sobre seu livro – A gente transou! 

O coração do outro apertou naquele momento. Não queria saber. Não queria que Milo lhe contasse nada. Sua respiração pesou e ele fechou o livro bruscamente.

_Não está feliz por mim, Camyu? – Milo o encarou incrédulo – O que deu em você?

_Deu que eu estou com sono e não quero saber da sua lua de mel com aquela garota – disse com indiferença e se deitou. Pensou ter dado bandeira demais, mas apenas se virou para o lado oposto ao do amigo. Se sentiu abraçado por trás.

_Não briga assim comigo – voltou a dar um beijo nos cabelos de Camus – Não queria que ficasse bravo, só queria te contar algo que me deixou feliz, mas se não quer saber, eu não falo mais nada!

_Será que as meninas aí podem namorar em silêncio? – disse Shura, com um mau-humor escancarado.

_Vai se foder, Shura! Só por que não come ninguém, fica com inveja do nosso amor! – apertou Camus e foi jogado no chão por ele, causando gargalhadas no outro.

_Faz um favor, Milo, vai dormir! – o ruivo disse ao amigo e colocou um travesseiro sobre a cabeça. Milo não ficava aborrecido com Camus. Sabia que esse era a maneira de ser dele. Queria entender melhor o que sentia por ele. Se trocou e foi dormir, esses pensamentos não eram necessários. Estava gostando de Isa. Ela lhe fazia bem como nunca se sentira antes. 

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O dia amanheceu. Isa acordou com um barulho estridente sobre sua mesinha de canto. Seu celular vibrava insistentemente. Tateou a mesa até ver quem era o chato que a perturbava onze horas de um sábado.  Apertou os olhos escuros para olhar para a tela e viu o nome de seu “incomodante”: Saga.

Queria se esconder num buraco nesse momento. Não sabia o que dizer a ele. Demoraria mais um pouco para atender.

Continua