1. Spirit Fanfics >
  2. A Residente >
  3. Capítulo 16

História A Residente - Capítulo 16


Escrita por: fanyunnie7

Notas do Autor


Boa noite babes e me desculpem por essa pequena demora.

Eu prometi um capítulo inteiramente Yulsic, mas constatei que precisava terminar o pov da fany, então dividi o cap nos dois pov's mesmo. Nas notas finais vocês irão compreender melhor o porquê de eu ter feito isso.
Espero que apreciem o capítulo.
Boa leitura !

Capítulo 16 - Capítulo 16


[P.O.V Tiffany]

Passava um pouco da meia noite quando começamos a jantar, sob a luz do luar que ressoava em sua varanda. A sua Housekeeper havia preparado um apetitoso filé de truta com amêndoas, servido com cenoura agridoce e batatas nozete. O champanhe harmonizava perfeitamente com o fruto do mar, enquanto meus olhos harmonizavam perfeitamente com a figura totalmente relaxada à minha frente, refletida pela luz natural do céu, em contraste com as velas flamejantes. Taeyeon parecia uma pintura do realismo, feita sob os olhos do Camille Corot. Seu roupão felpudo preto, caído de um lado do seu ombro, contrastava majestosamente com o tom pálido da sua pele. Só com o olhar, eu podia imaginar o quão deleitosa ela era, me convidando a desbravar um lugar jamais pisado por mim. Seus lábios rosados, moviam-se instintivamente tímidos a cada mastigada. O escuro dos seus olhos tecia o infinito para mim, e agora, me sentia demasiadamente confortável com o caminho que preferir seguir. Ou melhor, com o caminho que o meu coração resolveu trilhar.

Eu havia revelado o quanto já era sua, mas a sua reação foi a mais imparcial possível. Talvez eu tivesse dito algo que já estivesse óbvio demais. Talvez ela já soubesse que eu seria dela desde que nossos olhos se cruzaram pela primeira vez no Irish e desde que ela ofereceu me pagar por um drink. Talvez ela fosse mesmo o tipo de pessoa que iria atrás do que queria, e não descansava até conseguir, e ... talvez seja por isso que eu estava aqui tão rendida aos seus encantos. Para mim, estar em sua presença, significava um turbilhão de sentimentos, que me preenchiam com todas as sensações boas, conhecidas no mundo. Mas o que a minha presença significava para ela ... eu já não sabia.

- Então, me fale um pouco sobre a Tiffany. - Com toda graciosidade, ela remexia o líquido deliberadamente na taça, recostando o seu corpo na cadeira, após repousar os talheres em seu prato vazio.

- Ah, eu não tenho muito o que falar. – Abaixei o olhar para a minha última garfada. – Eu sou só a Tiffany. – Dei de ombros e degluti a minha última cenoura agridoce, com um sorriso casto nos lábios.

- Ah, só a Tiffany? - Ela arqueou a sobrancelha e abriu um sorriso. Sua voz estava abrandada. – Então, me conte como é ser só a Tiffany. Por que saiu do Brooklyn e veio pra LA?

- Por causa do melhor programa de nutrição do país. – Mordisquei o lábio inferior, reprimindo uma certa ansiedade. – Teve um ano que você foi dar palestra na minha faculdade sobre oncologia, mas eu não pude ir. Só lembrei do seu nome, porque era famoso. – Tentei desconversar, desviando o assunto para o lado profissional, antes que ela insistisse em perguntar mais sobre a minha vida no Brooklyn. – Acabou que a Yu queria residência também e combinamos de vir para cá. Além do mais, o clima aqui é muito mais ameno do que no Brooklyn.

- Oh, então primeiro você veio por minha causa, e segundo pelo clima? - Brincou, com um leve tom de ironia em sua fala.

- Olha, isso é soberba, até mesmo vindo de você. – Estreitei os olhos, em um falso sinal de descrença. – Eu vim para aprender no melhor programa de residência, e para falar a verdade doutora Kim, eu nunca tinha te visto antes. – Sorri. - Mas então, como foi que uma doutora tão renomada, começou a desenvolver um gosto pelo BDSM?

- Espero que não esteja cogitando a ideia de um abuso na infância - Ela ergueu a sobrancelha e repousou a taça sobre a mesa.

- O que? Não Taeyeon. – Franzi o cenho, desacreditada em sua pergunta. Senti um nó se formando em minha garganta e então peguei instintivamente a taça com champanhe, disfarçando o meu desconforto. – Nunca me passou isso pela cabeça.

- Eu estou brincando com você menina – Ela sorriu. - Minha infância foi perfeitamente saudável, aliás, até demais. – Em um gesto suntuoso, ela preencheu novamente a sua taça. – Não tenho muito o que dizer. Eu fui uma criança hiperativa, e com o passar dos anos fui melhorando com a psicoterapia e fui aprendendo sobre limites e regras. Aos 15 tive a minha primeira namorada e tivemos a curiosidade em apimentar um pouco a nossa relação. E bem, meu interesse foi aumentando cada vez mais, e quando dei por mim, já estava entretida em clubes. Há uns anos, eram bem comuns, mas não eram tão organizados. Por isso decidi criar o The Night Hunters.

- Uau, essa é a história da sua vida. - Exclamei admirada.

- História da minha vida. – Ela remedou a minha fala.

- Mas confesso que de regras você entende muito bem, mas de limites ... – Parei a fala e cruzei os braços na altura dos meus seios. – Você não aprendeu muito bem.

- Oh, você acha que eu não possuo limites? - Ironizou a pergunta, no modo em que apoiava os cotovelos na mesa e me encarava. – Acredite quando eu digo que estou indo leve com você.

- Tem vontade de me chicotear? Porque acho que foi a única coisa que você não fez ainda – Arrisquei, encarando seu semblante que se fechou repentinamente.

- Não é toda mulher que gosta de apanhar Tiffany, para isso, você teria que me pedir, e ... - Ela voltou a recostar-se na cadeira. - por isso eu jamais toquei nesse assunto com você. A iniciativa, tem que partir de você. – Senti um arrepio gélido tomar-me o corpo, ao escutar suas palavras sérias. – É o que você quer?

Seus limites genuínos, eram perfeitamente ignorados quando estava comigo. Sua impetuosidade estava sempre aflorada, quando desfrutava da minha companhia. Era difícil qualquer raciocínio vindo por parte dela, mas se tinha algo que eu tinha certeza, e falo com toda veemência, era que ela nunca seria capaz de me machucar. Talvez. Mesmo com todos esses atributos que, de cara assustariam uma pessoa comum, por detrás daquilo havia uma presença que me acalmava. A sua presença demasiadamente intimidadora, me remetia à um estado inerte de confiança. Taeyeon já não tinha mais o que conquistar de mim. 

- Não, eu não quero isso. – Murmurei, sentindo que a conversa havia tomado outro rumo e ficado pesada demais para uma noite agradável como esta.

- Sim, não precisamos fazer isso. – Ela me olhou com firmeza.

Relaxei melhor na cadeira e sorvi o último gole da bebida, absorvendo as suas últimas palavras juntamente com a imagem que Jessica plantou em minha mente, quando me contou o que houve na noite em que fora chicoteada pela Taeyeon. A cena inusitada da mulher que eu estava apaixonada, chicoteando a sua mulher grávida, a pedido da mesma, não era algo que eu gostaria de ficar imaginando e repassando a cena na minha cabeça, como se eu tivesse presente na hora.

– Tudo bem, eu me sinto um pouco cansada, podemos descansar? - Fui sincera.

Em meio à tantas revelações, ela apenas assentiu e começamos a arrumar todas as coisas que estavam sobre a mesa. Compartilhamos sentimentos, compartilhamos memórias dos nossos passados, mas me limitei a falar do meu. Foi mais prazeroso escutá-la falar da sua infância, dos seus lugares favoritos, das suas brincadeiras favoritas, da sua sobremesa favorita, das suas matérias favoritas e seus esportes favoritos. Foi satisfatório poder recriar em minha mente, a imagem de uma infância feliz, com todas as suas nuances que me foram doadas. Sentia como se tivesse roubando-as para mim - memórias inexistentes, de uma infância feliz inexistente. Taeyeon não precisaria saber sobre a minha infância, não agora que estávamos bem.

Quando voltamos para a cama, me rendi aos braços acalentadores da mulher, que há pouco conheci quando menina. Continuei a escutar as suas peraltices, assim como as suas ambições. Constatei que Taeyeon era uma pessoa plena e feliz por ter conseguido fazer tudo o que queria na vida. Por ter conseguido tudo o que almejou, só não a vontade de ser mãe. Fiquei impressionada como a maneira que seus olhos brilhavam, quando ela me revelou com tenacidade, esse desejo quase imperceptível pelos outros. A primeira impressão que se tem dela, não é aquela figura maternal, e sim, aquela pessoa que vive do trabalho, para o trabalho. Mas conhecendo melhor o seu coração, percebi que ela tinha tanto amor para doar, assim como ensinar e educar.

***

O som estridente do meu celular, despertou-me de um sonho nada memorável, mas foi o cheiro do café recém-moído, que fez com que de fato, eu despertasse. Abri os olhos lentamente e, ao enxergar a bela vista da varanda da Taeyeon, com o letreiro de Hollywood ao longe, não pude deixar de sorrir ao constatar onde eu estava. Não fazia ideia da hora em que fomos dormir, mas recordar de uma noite demasiadamente idílica, fez com que eu acordasse de bom-humor. Recordações de uma noite que me pareceu infinda. Saber um pouco sobre ela, fez com que eu me sentisse mais próxima, mais aconchegada à uma pessoa que, até ontem, era apenas uma sádica desconhecida para mim. Hoje ela já tem uma identidade mais palpável, ela tem um nome do meio, ela tem uma cor preferida, ela tem uma comida preferida, ela tem um hobby preferido, ela tem uma bebida preferida, ela tem uma sobremesa preferida, ela tem um livro preferido, ela tem um escritor preferido, ela teve uma infância indelével e ela tem uma família que a amava. Agora, Taeyeon se tornou aquela roupa surrada, que eu tanto desejei vestir.

Virei para o lado oposto da cama, pensando em abraça-la, mas dei de cara com uma bandeja de vidro, composta por uma xícara branca de porcelana, um prato na mesma porcelana com frutas, outro à parte com torradas e uma pequena cumbuca com pasta de amendoim integral. Me sentei subitamente na cama. Trouxe a única veste que enlaçava o meu corpo nu e cansado, o seu lençol branco, e varri o olho por todo local. Tudo estava quieto por aqui. Meu celular tocou novamente e então estiquei meu braço até a mesinha da cabeceira, e o puxei. Na tela, o nome da Taeyeon brilhava.

- Taeyeon. – Senti o desespero me acometer, por eu ter perdido o horário do trabalho. – Onde você está?

- Bom dia menina. – Escutei sua voz firme e rouca do outro lado da linha, me provocando reações instantâneas. – Eu acabei de chegar no hospital. Você descansou bem?

- Como assim acabou de chegar no hospital? - Dei um pulo da cama, puxando o lençol com uma mão, numa tentativa desengonçada de me cobrir. – Por que não me chamou?

- Você estava muito cansada, você dormiu quase de imediato quando deitamos na cama. Tire o dia de folga.

- Mas hoje não é o meu dia de folga, eu nem falei nada com o Peter. Ele e os estagiários ...

- Eu estou mandando, apenas descanse e aproveite o dia. – Ela interrompeu a minha fala, sem cerimônia. Sua voz soou com mais firmeza e por fim me sentei na ponta da cama, ao escutar do outro lado da linha, a porta do seu carro sendo batida. – Você não quer entrar no mérito de uma discussão, você quer?

Respirei profundamente, me dando por vencida, e me virei, encarando a maravilhosa bandeja colorida. Senti meu estômago começar a reclamar das horas que passei em jejum. – Não, eu não quero. – Não pude deixar de sorrir com o cuidado e a preocupação que ela estava demonstrando em ter comigo.

- Pois muito bem, faça o que eu mando. Tome o seu café e aproveite o dia. Mais tarde nos vemos em casa. E qualquer coisa que precise, Esmeralda estará por aí.

- Está bem. – Engoli em seco. A ideia de passar o dia com uma pessoa que eu não conhecia, não foi muito agradável, mas não me pareceu nada de muito absurdo no final das contas. - Tenha um bom dia no trabalho.

Assim que nos despedimos, tratei de fazer o desjejum que estava tão apetitoso quanto o seu estímulo sensorial acusava. Enquanto apreciava tudo, fiquei a pensar no que fazer durante o dia todo em sua casa, e pior ainda, sem a sua presença. Não pude negar que comecei a me sentir desconfortável com isso, mas pensei que seria uma boa ideia iniciar o meu estudo de caso, com algumas informações que havia colhido do meu paciente.

Durante a hora seguinte, me aproximei melhor da Esmeralda e ficamos conversando na cozinha, enquanto ela ajeitava as compras e preparava o almoço. Ela era mexicana e aparentava ter os seus 60 e tantos anos. Sua feição era um tanto engraçada e escutar ela falar sobre a família Kim, fez eu me sentir muito mais à vontade e íntima de pessoas que sequer saberia que conheceria um dia, mas que desde a noite anterior, comecei a fazer suposições e criar imagens em minha mente de uma família feliz. Há 30 anos ela trabalhava para eles, mas sempre teve um apego maior pela Taeyeon, a mais nova de uma irmã, e a mesma a considerava como membro um da família. Nunca levava a sério as broncas dos seus pais, mas quando a Esmeralda se intrometia, a história tomava outro curso. Foi estranho e ao mesmo tempo engraçado, imaginar a Taeyeon, sendo essa mulher toda que era, levando bronca e obedecendo.

No período da tarde, invadi o gabinete particular da Taeyeon e com a autorização dela enviada por uma mensagem, peguei o seu laptop afim de começar o meu estudo. Esse cômodo não era tão grande, mas era bastante acolhedor. Havia uma janela enorme de vidro com vista para a piscina, e um sofá creme embutido, tomando toda a extensão da janela. A parede era coberta praticamente por estantes brancas e em tons de café, todas recheadas de livros, discos e filmes antigos. Por um tempo, me senti perdida e inerte nessa imensidão que era o seu mundo particular. Imaginei o tanto de memórias que ele abrigava. Toquei em cada objeto e em cada porta retrato que enfeitava a sua mesa e o seu mundo. Seu sorriso era o mesmo em todas as fotos, mas me perguntava se era a mesma Taeyeon até hoje. Tentei absorver o máximo de memória que pude, antes de mergulhar no meu mundo particular, enquanto restaurava os pensamentos, deixando quaisquer histórias da infância da Taeyeon, em uma caixinha guardada em minha memória. Decretei que ali seria o meu porto seguro. Iria recorrer sempre que precisasse me sentir mais próxima a ela.

A tarde foi caindo e eu não havia percebido, até que a Esmeralda bateu na porta do gabinete, para anunciar a sua chegada. Depois de um lanche maravilhoso, com um cupcake de banana com canela e uma xícara de cappuccino, ela entrou com uma xícara de café, enfatizando sobre a chegada da Taeyeon, que logo viria para o jantar. Foi estranho, mas me senti um membro importante da sua família. Agradeci e apreciei a bebida quente e oleosa, finalizando uma pequena parte do meu trabalho. Quando por fim decidi ir tomar um banho para esperar a Taeyeon, checo a mensagem que Yuri acabara de enviar para o meu celular.

“Fim de plantão, vou fazer uma horinha no Pub e vou para casa. Precisamos conversar sobre o e-mail. ”

Duas coisas que eu detestei nessa mensagem: a Yuri querer conversar sobre o e-mail, e o fato de ela não ter me chamado de BabyTi como sempre fazia, denotava que havia algo sério. Era como se eu já tivesse pressentido afinal, sempre que as coisas estão indo bem, acontece algo que foge repentinamente do nosso controle. A minha diária na casa da Taeyeon, acabou de vencer. Ia para casa, pronta para pagar a minha conta.

 [P.O.V Yuri]

- Irish Pub hoje, após o plantão. – Recebi um tapa leve nas costas, vindo da Sara. – Todos irão. – Terminei de fazer a sutura no paciente e cobri os pontos com o esparadrapo, enquanto ela se afastava e voltava para a recepção.

- Pronto, o senhor pode aguardar que só vou prescrever a sua receita e já volto para te dar alta. – Levantei da cadeira, fechei a cortina para que o paciente ficasse mais à vontade em seu leito, e segui para a recepção. – Quem é que vai? - Puxei o receituário do hospital e comecei a prescrever os antibióticos que o paciente iria tomar, assim como os horários.

- Eu, você, Peter, Charlie e não sei a Tiffany, Peter disse que ela tirou o dia de folga.

- Okidoki, estou mesmo precisando relaxar. – Fechei os olhos momentaneamente e fiz um movimento circular de leve com a cabeça.

- E por que não está na cirurgia com a sua doutora preferida? - Ela sorriu de canto, um tanto sugestiva, e me entregou um copo com café, por cima da bancada da recepção.

- Porque ela solicitou o Charlie dessa vez. – Me limitei a pegar o copo e o receituário do paciente, com um sorriso altivo nos lábios, deixando para trás uma Sara visivelmente confusa com a minha resposta.

Passei o restante do plantão distraída. O fato de ter beijado uma chefa do hospital, não me deixou concentrar muito em minhas atividades seguintes. Por sorte, não fui solicitada em nenhuma outra cirurgia, apenas chequei os pacientes, troquei as medicações, fiz admissões e suturas, por fim dando altas. Nada fora do costume. Mas ainda tinha o fato de que eu precisaria contar pra Tiffany, o conteúdo do e-mail, só não imaginava como. Aproveitei a calmaria do lado de cá do andar e fui para o vestiário. Chequei no relógio e faltava pouco menos de uma hora para terminar o plantão, e então decidi descansar um pouco.

Sentei em um dos bancos que ficavam entre os armários e saquei o celular do bolso, totalmente alheia a qualquer presença no ambiente. Um misto de sentimentos me acometeram, enquanto digitava uma mensagem para Tiffany. Medo. Dúvida. Receio. E talvez um pouco de culpa. Um turbilhão de sentimentos confusos, que se instalaram em meu âmago. Assim que enviei, olhei para o relógio, assistindo os números atravessarem, convencendo-me de ter feito a coisa certa, até escutar o barulho de um dos armários sendo fechado. Uma silhueta se movimentou em minha direção e enxerguei a doutora Jung caminhando. Seus cabelos estavam soltos e perfeitamente escovados. Sua roupa cirúrgica azul marinho deu lugar a uma calça jeans branca, um suéter rosa e uma sapatilha marrom. Ela estava demasiadamente adorável.

- Yuri. – Ela foi diminuindo os passos, até que parou em minha frente segurando firme em sua bolsa. – Que bom que te encontrei aqui, precisava mesmo lhe falar.

Levantei do banco, sustentando um enorme sorriso. – Tudo bem, está com tempo? Vamos fazer uma pausa no Irish. - Não sabia o que havia acabado de fazer, mas vê-la me deixou um pouco mais animada, à ponto de não me importar em falar com os outros sobre ter convidado ela.

- Não ... Yuri ... – Ela respirou calmamente e passou os dedos de leve na testa, denotando um certo cansaço. Quando ela voltou a me olhar, meu sorriso havia sumido, imaginando o que ela teria para falar. – Você é uma interna e eu sendo mais velha e chefa de departamento, sou responsável por você. O que aconteceu hoje no elevador, não pode voltar a acontecer novamente. Foi um erro primário.

- Mas por que tanta preocupação? – Respirei profundamente, achando aquele papo extremamente exagerado. Saí da frente dela, caminhando diretamente para o meu armário. – Foi só um beijo, não teve nada demais.

- Mas isso não pode voltar a acontecer, foi irresponsabilidade minha. – Sua voz foi mais firme.

- Por mim, tudo bem. – Respondi sucintamente e comecei a retirar minhas vestes. - Mas não precisa se culpar por isso, não sou uma criança.

O silêncio imperou no ambiente e eu podia sentir o seu olhar diretamente para mim, enquanto eu me trocava. Retirei toda a minha roupa do hospital, sem se importar com a sua presença, e vesti meu jeans com a minha jaqueta preta, sem pressa. Assim que voltei a minha atenção para ela novamente, trocamos um olhar inquieto, consolidando o seu desejo. Pude enxergar dúvida e ao mesmo tempo ... temor? Havia algo ali, mas era difícil decifrar. Eu a beijei e ela se manteve inerte. Ela não me afastou. Momento algum fez menção de me afastar. Então por que era tão difícil de levar a sério o que ela falava, sendo que sua expressão corporal dizia o contrário? Por que me observar enquanto trocava de roupa, afinal? Tudo em sua aparência era minimalista, o retrato de uma mulher tentando mostrar, a todo custo, que aquilo o que houve, era errado. Mas não me enganava, de outra forma qualquer, não o faria mais.

- Olha, só vamos relaxar e tomar umas, rir, conversar, sei lá, se divertir. Você poderia vim. – Me aproximei e segurei firme em seu antebraço, descruzando do outro, sorrindo com mais confiança.

- Não acho que seja uma boa ideia. – Murmurou e de novo seu olhar inquieto. De novo ela inerte. E de novo ... eu poderia muito bem beijá-la, mas ela teria que tomar atitude dessa vez.

- Então está bom. – Me afastei subitamente dela e voltei para o meu armário. Bati a pequena porta de metal, fazendo um barulho eclodir por todo o ambiente quieto, e tranquei. – Aparentemente sua mulher não se incomoda em sair com uma residente. – Provoquei. - Boa noite doutora Jung.

Passei por ela e me limitei a olhar diretamente para frente, deixando-a parada na porta do vestiário. No momento em que alcancei o elevador, pude me arrepender das palavras duras proferidas em um momento de irritação, mas ainda assim a sua atitude foi demasiadamente exagerada, ao me tratar como uma criança, por conta de um beijo.

***

Assim que adentrei o Irish, fui envolvida pela energia vibrante do local, parcialmente cheio, com o bom e velho rock in Roll no jukebox. Segui diretamente escada acima e me deparei com o pessoal conversando, rindo e jogando sinuca. Peter, Charlie, Sara e outras duas residentes que até então, só sabia que eram da pediatria porque elas transitavam com roupas rosas, sempre acompanhadas de um enorme sorriso.

- Ótimo, chamaram a trupe dos ursinhos carinhosos também. – Puxei a caneca de cerveja de Sara que estava em cima da mesa de sinuca e sorvi um grande gole. – Tiffany não veio?

- Nem sinal dela ainda – Ela curvou seu corpo, apontando o taco na direção da bola e deu uma tacada, espalhando as outras com agilidade sobre a mesa. – E por que demorou tanto?

- Nada, estava vendo umas coisas. – Encolhi os lábios e devolvi a sua caneca ali. – Vou pegar uma cerveja para mim.

Quando voltei com a minha caneca do bar, cumprimentei todos ali presentes. Fui apresentada às residentes, Allison e Emma, que falavam animadamente com Peter e Charlie, sobre a recepção de inauguração da nova ala que seria no final de semana. A conversa não me interessou à ponto de me juntar e me entreter com o assunto, então apenas retirei a minha jaqueta, ao sentir meu corpo esquentando por conta do ambiente fechado, e me juntei a Sara na sinuca.

Perdi a conta de quantas rodadas jogamos, e de quantas cervejas tomamos. Entre gargalhadas e conversas fiadas, o restante do pessoal havia se juntado à gente após um tempo, e agora conversávamos ao som acústico do Led Zeppelin. Peter e Charlie abraçados e encostados na mesa da sinuca. Emma e Allison jogando, enquanto a Sara estava sentada na quina da mesa. O ambiente havia enchido um pouco aqui em cima, mas eram as mesmas pessoas de sempre, que trabalhavam no hospital. O andar assemelhava-se ao próprio hospital, mas sem pacientes, sem macas, sem cirurgias, sem roupas coloridas e iguais ... apenas um bando de plantonistas que se encontravam para dispersar a mente do trabalho. 

- Aí Sarinha, aproveita que a Yuri está solteira e muda logo de time. – Provocou Peter, assim que parei entre as pernas dela e  lhe entreguei outra caneca de cerveja.

- A enfermeira Kwon? - Ela levantou uma sobrancelha, com um tom desdenhoso. – Ela está apaixonada por outra. – Ela sorveu um grande gole da sua bebida, me encarando.

- Hmmmmmm já imagino até quem seja. – Se meteu Charlie, arrancando em uníssono, outro coral de “hmmmm. ”
Balancei a cabeça em sinal de negação, e sorvi um gole da minha cerveja, rindo com os comentários de incentivo dos meninos. Já podia sentir o efeito do álcool bater, me deixando levemente tonta e mais animada.

- Eu não estou apaixonada por ninguém. – Respondi com uma revirada de olhos, como se o seu comentário tivesse sido ridículo. O que não deixou de ser no final das contas, ao lembrar das próprias palavras da Jessica. Agora eu me sentia uma estúpida. 

Nunca me apaixonei por uma mulher somente por causa de um beijo. E este, até havia sido ocultado dos meus pensamentos, desde quando saí do vestiário, e muito menos eles iriam ficar sabendo disso. Como eu havia dito à mesma que não foi nada demais, não iria sair divulgando para os meninos também. Mas talvez eles tivessem razão ao dizer que Jessica era fria e que não se aproximava de ninguém. Ou talvez, ela ainda amasse a sua mulher e a quisesse de volta.

- Então prova para mim Kwon. – Sara aproximou sua perna da lateral do meu corpo e me acariciou com o pé, rindo toda insinuativa.

- Mas eu só quero ver se você vai deixar passar essa Yuri.

Entre gargalhadas e ovacionadas, alguém falou e eu nem prestei atenção ao certo quem foi. Encarava Sara e estudava a sua postura “dada”. Não me lembro de ter dispensado uma mulher na minha vida, quiçá fugir de uma, com uma atitude dessa. No momento em que puxei a caneca da sua mão e repousei na mesa, seu corpo deslizou mais para ponta e a segurei firme no quadril, trazendo-a para mim. Nossos lábios se chocaram com urgência e não demorei a envolve-la em um beijo intenso, explorando a minha língua na cavidade da sua boca. Suas mãos livres aproveitaram para passear pelos meu ombro e pescoço, puxando-me com mais força para o seu corpo. 

Assim que nos afastamos para retomar o ar, os meninos ficaram agitados ao redor da mesa, por conta do beijo. Rindo, peguei a minha caneca que estava ao lado da Sara e no momento em que a levantei para sorver um gole, eu deveria estar tonta demais e vendo coisas. Enxerguei a mesma silhueta fina, de calça branca e suéter rosa que, antes parada na porta do vestiário, agora parada na porta da entrada.


Notas Finais


Bom, foi isso, espero que não queiram me matar por causa desse final UAHSUHSUSHAUHS mas só queria mesmo terminar esse plantão, para poder vim com um sentimento mais palpável entre Yulsic.
Aproveitando a deixa, quero dizer que estarei viajando no dia 7 e voltarei somente no dia 17. Não sei se conseguirei atualizar a fic novamente antes de viajar, porque estou numa correria enorme. Fora o fato de ainda ter lost in love para atualizar, portanto só peço que tenham um pouquinho de paciência.
E obrigado por todos os últimos favoritados e comentários de apoio, me sinto cada vez mais incentivada por vocês.
Até o próximo s2


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...