História A Segunda Vida de Nandinha - O Desmaio

O Desmaio

Ainda na semana em que Nandinha descobriu seu poder da faísca, depois de testes com magnetos, comunicadores pessoais e plásticos, alguém perguntou:

- Será que dói?

Em poucos segundos surgiu um voluntário para tomar o choque.

Nandinha não queria fazer isso, poderia machucar o colega, mas a insistência da turma foi tanta que ela encostou seus pinos de recarga no braço dele e soltou uma faísca.

O garoto deu um berro e um pulo para trás, mais pela brincadeira do que pela pequena beliscada que sentiu da faísca.

Os outros meninos também quiseram enfrentar a faísca, e Nandinha, ao ver que isso era inofensivo, atendeu prontamente todos eles.

Foi assim que começou uma brincadeira de fugir do choque: um pega-pega em que todos tinham que fugir da Nandinha, e quem ela pegava, ganhava um choque.

Os inspetores da escola nem desconfiavam do verdadeiro motivo da empolgação da criançada naquela correria.

Por mais fugitivos que Nandinha atingia com suas faíscas, a vez de pegar estava sempre com ela, alguns até facilitavam o ataque dela só para poderem fingir uma dor terrível ao serem tocados.

Faltavam poucos minutos para o sinal de fim do intervalo quando Nandinha começou a diminuir a sua velocidade, caiu de joelhos e tombou de lado, sem conseguir utilizar as mãos para amortecer a queda.

Os colegas achavam que era parte da brincadeira, mas perceberam que era algo sério quando viram que ela não conseguia se levantar, seus braços travavam e ela caía de novo sempre que ela tentava se erguer.

Eles se aproximaram, e ouviram um apito eletrônico sempre que ela abria a boca e sussurrava algo.

O amigo dela, aquele que ela tinha derrubado na luta, se agachou e tentou levantá-la.

Com os olhos fechados, ela encostou os dedos que estava utilizando para dar choque no pessoal, e da boca aberta, além do apito, ele consegui ouvir bem baixinho a voz dela dizendo “dedos” e “recarregar”.

Uma inspetora de alunos, vendo o tumulto, se aproximou para cuidar da situação. Como a criançada em volta não estava gritando, ela já suspeitava que alguém tinha se machucado.

Ao ver uma criança caída, ela se abaixou para tentar localizar o ferimento, e ao tocar na pele dela, lembrou que ela era a menina robô.

Nandinha não se mexia mais, e apenas aquele apito alternado podia ser ouvido de sua boca aberta.

O amigo dela, pensando nas conversas que tiveram pelos comunicadores pessoais, lembrou dela dizendo que aqueles pinos, os mesmos que ela estava utilizando para fazer faíscas, eram utilizados como recarga de seu corpo em qualquer fonte de energia elétrica.

Essa lembrança, e o sentimento de que sua amiga poderia morrer se algo não fosse feito imediatamente, fez com que ele gritasse com toda a seriedade que um garoto de doze anos pode ter:

- Ela precisa recarregar, procurem uma tomada!

A inspetora não sabia se isso era o certo a ser feito, mas a certeza com que aquele menino estava falando fez com que ela ajudasse a carregar a Nandinha e deixasse ele mexer delicadamente na mão dela, puxando alguns pinos e encaixando-os na tomada.

Imediatamente, os olhos de Nandinha se abriram. Ela estava salva.