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História A Seleção - Tempo


Escrita por: Lighteryum

Notas do Autor


Boa leitura, pudinzinhas. <3

Capítulo 5 - Tempo


Fanfic / Fanfiction A Seleção - Tempo

ρ.σ.v's мicнαєℓ scнrєαvє

 

Estúdio do Jornal Oficial, Angeles, Illéa

 

17 de Outubro, 20:07

 

 

& ~ *+* ~ &

 

Assim que o meu irmão deu a sua breve opinião sobre cada uma das Selecionas, o meu pai tomou posse do protagonismo do jornal abordando sobre recentes ataques Rebeldes na província de Whites. 

Pessoalmente, eu continuo sem entender. Anos atrás, diziam que o problema eram as castas. O Rei Maxon e a Rainha America retiraram-nas, estando Illéa sem castas até aos dias de hoje. Mesmo assim, ainda há gente a rebelar-se de um jeito louco contra nós. O que podemos fazer? A verdade é que nem eu sei. Tanto eu como o Aphonso e o meu pai, estudamos todos os dias arduamente formas de tirar o nosso povo da pobreza e formas em tentar dar mais oportunidades a cada um deles. Mas é complicado. Há povo que nos odeia gratuitamente, e isso dói.

Depois dessas notícias indesejáveis para qualquer illeano, o jornal foi fechado e Wesley — atual chefe dos guardas — entrou pela sala juntamente com Margarot, a chefe das criadas e que iria tomar conta das Selecionadas.

Eu e o Aphonso recuámos, posicionando-nos atrás deles juntamente com o nosso pai. Já tínhamos conversado sobre o assunto de quem iria dar as aulas, qual era a criada para cada selecionada enfim, tínhamos já tudo organizado e no devido lugar.

— Eu vou-vos cobrar com aquela entrada. — Rimos baixo, quando o nosso pai referiu-se ao nosso pequeno dueto da "Sua cara" — Principalmente, por não me terem convidado — Piscou o olho — Estou realmente ofendido! — Fingiu indignação e rimos os três, prestando depois atenção à Margarot. Apanhei algumas meninas a olhar-nos. Entre elas estavam a Érika e a Elia.

— Boa noite, meninas — Margarot deu início ao discurso — O meu nome é Margarot e sou eu quem será a vossa tutora daqui para à frente — Olhou para o relógio e encarou as meninas de volta — Vamos começar pelas regras básicas. O terceiro andar é vos interdita. É o local onde estão os aposentos reais e não vos será tolerada qualquer tipo de intrusão, embora o castigo fique decidido por apenas e somente o príncipe. Depois das 22 horas, é obrigatório cada Selecionada estar nos devidos quartos, a não ser por segunda ordem do príncipe. Penso que todas tenham noção dos ataques rebeldes constantes contra este palácio, por isso não quero e nem desejo ver ninguém pelos jardins, seja de dia ou de noite, sem autorização.  Apesar de guardas não faltarem pelos arredores, toda a segurança ainda é pouca. 

Enquanto Margarot continuava a proferir, olhei de rabo d'olho para Aphonso, que bufava de 10 em 10 segundos. Quiçá, ele esteja irritado por ouvir tantas vezes "príncipe" para aqui e "príncipe" para acolá. Conheço-o bem. Sei muito bem como ele nunca gostou de tantas formalidades.

  — Quando pisaram o palácio, o lugar por onde vocês passaram foi o grande salão e depois, aqui, o estúdio. Há um salão que vocês terão que se habituar a passar a vossa maior parte do tempo durante a vossa estadia. O salão das mulheres. Sigam-me, vou-vos mostrar o lugar.

As raparigas fizeram uma fila desarranjada, e até algumas já estavam a conversar. Não me recordava do nome de muitas. Lembro da Abigail, a menina albina, Clítia, por ter trombado um dia com ela antes da Seleção iniciar também. Estava a ir ver uma das suas apresentações e conhecemo-nos por acaso.  Por falar nela, ela estava em último, juntamente com a Jade, enquanto as outras Selecionadas caminhavam mais à frente.

— Olá — Iniciei a conversa. Clítia olhou-me e deu-me um breve sorriso tímido, enquanto Jade deu um sorriso maior.

— Oi, príncipe atraente — Olhei-a arqueando uma sobrancelha, enquanto ela pareceu um pouco atrapalhada — Digo, a-alteza! — Gaguejou e eu ri. Eu gosto de comentários inocentes que saem desse jeito; inoportunos. Infelizmente, o meu riso trouxe mais olhares para nós, e entre eles, posso dizer que estava de uma rapariga loira e de olhos verdes que me incomodava bastante.

— Oi — Clítia respondeu, finalmente.

— Aproveitem a estadia — Cortei o assunto, dando uma reverência e dirigindo-me até ao meu irmão. Elas continuaram a caminhar e trocaram umas palavras entre as duas. Provavelmente, deviam estar a conhecerem-se melhor. 

 Aquele olhar da Katherine tinha-me deixado um tanto desconfortável, daí as ter deixado tão depressa. Aphonso caminhava em passos lentos mais atrás, e eu abrandei o meu passo para o conseguir acompanhar. Coloquei o meu braço esquerdo em volta do seu pescoço e dei-lhe duas palmadinhas no seu peito. Retribuiu um sorriso nervoso. «Não há problema. O tempo cura tudo.», pensei.

 Margarot acenou com a cabeça para o soldado Simpson e Miller, e ambos corresponderam com o mesmo aceno. Passámos pela grande arcada do Grande Salão, e logo chegámos ao Salão das Mulheres. Penso que será complicado elas se habituarem por aqui nos primeiros dias aliás, prevejo várias selecionadas já perdidas. 

  — Aqui é o vosso Salão das Mulheres, o salão a qual vocês irão passar a frequentar mais vezes —  Margarot continuou — É tudo o que precisam de saber sobre este andar. A sala de jantar é vos suficiente e fica ali à frente — Margarot apontou e andou em passos rápidos até à próxima sala.

 Eu, o Aphonso e o meu pai íamos sempre atrás, e uma vez entre outra apanhávamos algumas meninas a fitarem-nos secretamente. Em algumas, eu acenei mas elas viravam o rosto tão depressa que eu senti que era feio, pela primeira vez — Embora eu saiba que é simplesmente timidez. Aphonso estava mais quieto e mais sério. Com certeza estava nervoso e ansioso com tudo aquilo.

  — Como podem ver, as mesas formam um "U" e cada Selecionada tem o seu marcador. Aquela mesa ali atrás é da família real. Eles jantam separados de todas vocês e, às vezes, em horários diferentes. — Margarot pegou no seu livro e começou a ler — Relendo as regras, mais uma vez. Sei que todas vocês já as leram, mas convém sempre relembrar.

« A Selecionada não pode deixar o palácio por sua vontade, terá de ser dispensada pelo príncipe. Nem mesmo o rei ou o outro príncipe podem obrigá-la a sair. Eles podem dizer ao príncipe que não a aprovam, mas todas as decisões sobre quem sai e quem fica são dele. Não existe um limite de tempo predeterminado para a Seleção. Pode acabar ao fim de alguns dias ou durar anos.»

— Assim tanto tempo? — Uma de cabelos ruivos, penso que o seu nome era Maria Luisa, comentou.

— Talvez. — Margarot abaixou um pouco o seu livro para ver quem tinha sido a rapariga que tinha falado — Contudo, é bem improvável que o príncipe permita, mas caso o faça, você é uma propriedade de Illéa. Não tem que reclamar. — Margarot respondeu num tom de voz completamente profissional e de arrepiar — Continuando. 

Olhei de relance para Aphonso. Não estava contente, de longe, mas continuava com a sua figura séria.

«Não é a menina que determina os seus encontros com o príncipe. Se ele o desejar, procurá-la-á para encontros a sós. Se estiver num evento social onde ele se encontre presente, é diferente, mas não deve dirigir-se a ele sem ser convidada.»

«Embora ninguém espere que seja amiga das outras trinta e quatro candidatas, são proibidas discussões e sabotagens. Se for descoberta a agredir, provocar, roubar uma outra candidata, ou a fazer outra coisa que possa prejudicar a relação desta com o príncipe, ele próprio decidirá se a menina deve ser imediatamente dispensada ou não.»

«A sua única relação romântica será com o Príncipe Aphonso. Se for apanhada a escrever cartas de amor e de outro alguém no exterior, ou iniciar um relacionamento amoroso com outra pessoa no palácio, tais atos serão considerados traição e são puníveis com a pena de morte.»

  — Isso significa que nós devemos perder completamente as esperanças com o príncipe Michael? — Olhei rapidamente para o fio de voz que tinha saído. Era de uma menina com um tom de pele de chocolate e com um sorriso perfeito nos lábios. As Selecionadas riram.

  — Claro que não. Eu não deixarei ele saber, não se preocupem. — Brinquei, piscando o olho e dando início a algumas gargalhadas dispersadas pelo salão. 

— Se a Selecionada for descoberta a violar qualquer lei escrita de Illéa, será punida de acordo com o rime cometido. O seu estatuto de Selecionada não a coloca acima da lei. — Margarot prosseguiu com o seu discurso, terminando com o bom momento entre todos nós. Suspirei. Era até exausto para mim.

«Não poderá usar roupas nem consumir alimentos que não lhe tenham sido especificamente disponibilizados pelo pessoal do palácio. Trata-se de uma medida de segurança, que será rigorosamente observada.»

«Às sextas-feiras, estará presente nas emissões do Noticiário Oficial. Em determinadas alturas, mas sempre com aviso prévio, existirão câmaras ou fotógrafos no palácio. Deverá ser educada e permitir-lhes que testemunhem o seu dia-a-dia com o príncipe.»

«A sua família será recompensada por cada semana que passar no palácio; entregar-vos-ei o primeiro cheque antes de sair. Além disso, no caso de ser dispensada, ser-lhe-ão disponibilizados assistentes para ajudá-la a adaptar-se à vida após a Seleção.»

«Caso consiga ficar entre as dez melhores candidatas, será considerada como pertencente à Elite. Assim que atingir esse estatuto, deverá aprender os deveres e as funções específicas que poderá vir a ter como princesa. Não está autorizada a procurar informação sobre esses pormenores antes dessa altura.»

«A partir de agora, somente a Selecionada será considera uma celebridade.»

«Caso chegue ao final da Seleção, casar-se-á com o Príncipe Aphonso e será coroada Princesa de Illéa, assumindo todos os direitos e responsabilidades correspondentes ao título.»

  — Compreendido? — Margarot finalizou aquele discurso cansativo, e as meninas pronunciaram um «entendido» em uníssono — Muito bem. As vossas coisas já estão todas nos vossos quartos. Peço que me sigam mais uma vez, em uma única fila por favor.

Parecia que estávamos numa escola. Outras selecionadas conversavam, e quem ia à frente era Winter e Elia. Era estranho, o nosso palácio parecia um museu e a Senhora Margarot era a guia. Algumas olhavam maravilhadas enquanto outras bufavam. Uma rapariga começou a ficar para trás, e lembrei-me logo de quem era; a da província de Waverly. O seu vestido era um azul básico que lhe caía perfeitamente no seu corpo magro. Era o vestido mais normal dali, mas nem me importei. Aproximei-me da mesma. Aphonso podia continuar um pouco mais para trás, mas eu queria realmente conhecer todas elas e começar a fazer as minhas apostas.

 — Boa noite — Ela olhou para mim e pareceu reprovar a minha presença logo de cara. 

  — Má noite — Sussurrou, mas eu consegui ouvir.  

  — Penso que alguém acordou com os pés de fora da cama — Brinquei.

Ela bufou: — Porque está a perder tempo comigo? — Olhei a sua expressão séria. Não sabia o que falar, nunca ninguém tinha-me tratado de um jeito tão arrogante logo no primeiro momento. — Vá falar com o resto das selecionadas, aposto que estão mortinhas para  o conhecer.

Em passos rápidos, apanhou o resto das outras meninas. Ela tinha-me deixado sem palavras, mas não era por causa disso que iria dar-me por vencido. Talvez ter vindo ao palácio a tenha chocado, ou alguém inscreveu-a sem o consentimento dela, ou talvez saudades da família. Demasiados "ou" e poucas certezas. Vou dar-lhe um tempo para Kiara se acostumar.

— Olhem só quem falhou? — Aphonso aproximou-se, rindo. Raios, ele tinha visto a cena e atrás, o meu pai também ria.

— Calma aí, Livzinha — Sussurrei — Aquela é difícil de lidar.  E se em vez de estares a rir das minhas vergonhas, fosses falar com as tuas futuras esposas? — Arqueei uma sobrancelha e cruzei os braços — Tenho quase a certeza que eu sei mais nomes do que tu.

— Não tenhas dúvidas — Limitou-se a sorrir, coçando a cabeça.

— Aphonso terá bastante tempo para as conhecer — O meu pai colocou a sua mão direita no meu ombro e a sua mão esquerda no ombro de Aphonso, ficando no nosso meio — Tal como tu, Michael. — Engasguei.

 

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21h29

 

Quarto do Aphonso, Angeles, Illéa

 

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—  Sempre fui guerreira, mas foi de primeira, me vi indefesa, coração perdeu a luta, simm —— Fiz a nota mais desafinada que consegui enquanto cantava e dançava, com Aphonso olhando-me com reprovação e a rir — Adeus bebedeira, vida de solteira, quero sexta-feira, estar contigo na minha cama juntos, coladinnnnn — Corri e saltei para cima do Aphonso, que estava deitado na cama —  Assim, maninho, coladin — Abracei-o enquanto o ouvia resmungar a dizer para eu o largar. Continuei-o a abraçar e a apertá-lo mais contra o meu corpo, enquanto continuava a cantar a música. No instante a seguir, levantei-me e continuei com o meu solo de dança maravilhoso e ele conseguiu respirar.

— Pensava que eu ia morrer hoje — Respirou fortemente mais algumas vezes para recuperar o fôlego. Não liguei, continuei a dançar — Tenho de ir ver as fichas das Selecionadas — Levantou-se e dirigiu-se até à sua secretária. Tirei a minha peruca loira e aquele vestido rosa choque, ficando apenas de boxers e fui atrás dele, sentando-me logo na cadeira que estava ao seu lado.

Aphonso tirou um monte de papelada que falava sobre as questões económicas, províncias e feitos rebeldes para o lado e puxou uma enorme capa de couro para si. Abriu e a primeira selecionada era a Elia.

 — Elia Kyla Sky Lakina Ertz — Murmurou —  Kyla, a mulher bravia  — Comentou enquanto passava os olhos pela ficha. Ela era bem bonita, a sua pele oliva bronzeada dava-lhe um ar completamente exótico.

  — Eu lembro dela, ela tinha um estilo indiano. Ah! Ela fez anos há pouco tempo — Olhei para a idade dela e logo me recordei — E tu também estás quase a fazer 20 anos. O que vais querer de presente? — Perguntei enquanto me debruçava para ver as outras fichas melhor. Para ser sincero, já tinha espiado juntamente com o senhor Wesley algumas delas como a Jasmine, a Agatha, a Jasmine, a Victória, a Sophie e várias outras, mas nunca pude analisá-las profundamente. Voltei a olhar para o Aphonso que estava com o olhar vidrado na janela, observando a Illéa noturna. Merda, esqueci-me completamente que eles os dois faziam anos no mesmo dia.

— Com licença — Margarot entrou pelo quarto, juntamente com a Leah — Finalmente terminámos com as Selecionadas. Elas estão todas nos seus devidos aposentos.

Levantei-me e fui vestir a minha roupa, cuja estava espalhada pelo chão. Margarot e Leah eram das mais velhas criadas e confidentes que o palácio alguma vez pode ter. Já me tinham visto nu, mesmo eu tendo a idade que tenho.

— Tu nunca mudas, pois não, Mike? — Leah riu, perante o estado em que eu estava. Ri de volta e vesti-me rapidamente. O quarto estava silencioso — Vamos, Leah. Margarot, boa sorte com o senhor deprimente ali. — Sussurrei. Margarot sempre esteve a par da situação, ou melhor, a maioria do povo do castelo. Era inevitável não ver aqueles dois beijando-se pelo castelo sempre que podiam.

— Eu tratarei dele muito bem. — Deu-me uma piscadinha e um sorriso de lado. Saí com a Leah.

 

 

P.O.V'S Alizia Marlon

 

Quarto da Alizia, Palácio de Angeles, 08h49

 

18 de Outubro

 

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A minha primeira manhã no castelo. A minha primeira noite, a minha primeira vez em que estava a abrir os olhos assim que a Kelly   — uma das minhas criadas  — abriu as cortinas e Nicole  — a outra criada  — saía da casa-de-banho, indicando que o meu banho estava pronto. Ambas cantarolavam felizes, era estranho como estavam contentes com todas aquelas tarefas que eu sempre considerei cansativas.

Tentei ao máximo não me mexer, nem lembrar-me do Maxence. Perguntava-me se Daniela também dormia assim, numa cama tão confortável como esta. Mas falhei na legítima hipótese de não lembrar-me deles. Tudo ainda estava tão claro. No momento em que vi as notícias sobre o seu casamento. Eu senti-me traída, embora eu sinta, lá no fundo, que não os posso culpar. Dói.

— Menina, está acordada? — A voz da Kelly soou, abanando-me com cuidado.

Comecei-me a mexer, dando indícios, assim, que estava ainda a despertar. Abri os meus olhos calmamente e vi-as a olharem para mim. Não estava habituada a verem-me a servir daquela forma. Será que com ela é do mesmo jeito?

Sentei-me vagarosamente na cama e espreguicei-me. Iria tomar o meu primeiro café da manhã aqui no palácio, tal como o meu primeiro banho. 

Elas afastaram-se dando-me a possibilidade de pôr os meus pés naquela carpete macia, que mais parecia um monte de penas ou uma nuvem de algodão. Andei em bicos de pés até calçara as minhas pantufas, para depois entrar na casa-de-banho. Despi-me e tomei o meu banho visivelmente incomodada por estar a ser observada, mas penso que seja uma coisa a acostumar-me se eu vier a ser uma princesa de verdade  — Se bem que eu estou aqui apenas para recomeçar do zero de uma melhor forma. Uma forma que eu posso ser melhor do que ela.

Após o banho terminar, elas secaram-me e passaram-me um creme hidratante com cheiro a pêssego. Diziam ser o favorito do Aphonso. Não dei importância, podia ser até da fragrância que ele mais detestava. Enquanto as duas cochichavam e eu escutava a conversa sem muita cabeça. Nicole secava-me e penteava-me os cabelos, ondulando-os de forma simples, como eu gostava. O meu vestido bordô é levemente ousado, tendo um grande decote no sítio do meu peito. Era bonito e eu até gostava dele. À minha frente, estava um monte de jóias à minha disposição. Tanta bijutaria e nenhum pincel. Só passaram dois dias e já sinto falta de pintar. Eu era uma pintora e uma das melhores. Esforçava-me todos os dias para ser um pouco melhor do que o dia anterior — e eu conseguia. 

As minhas criadas terminaram de me aprontar. Olhei-me no espelho e ver-me daquele jeito, sentia que não estava atrás dela. Agradeci pelo trabalho e as duas acompanharam-me até à porta. Nicole era muito tímida, dando apenas sorrisos envergonhados, mas parecia ser bem próxima a Kelly, uma que eu estava a gostar bastante. Elas guiaram-me pelos imensos corredores e fomos ter ao Salão das Mulheres. Quando lá cheguei, vi uma ruiva a ler, sentada num dos sofás. As minhas criadas fizeram-me uma breve reverência e foram-se embora. Era estranho ser tratada daquele jeito. Pergunto-me, se eu vir a sair da Seleção, o que elas farão. Continuei a olhá-las até ver as suas figuras desvanecendo pelo corredor. Respirei fundo e andei com cuidado até à ruiva. Ainda não sabia o nome dela e, sinceramente, hesitava em perguntar. Ela parecia estar tão concentrada a ler que  eunão queria atrapalhar, como também não queria apegar-me a ninguém. Decidi sentar-me a dois sofás de distância do dela, olhando para as minhas unhas e pensando nele, mais uma vez.

— Olá! — A ruiva aproximou-se de mim, fechando o seu livro e sentando no sofá ao meu lado.

— Oi — Respondi. Ela tinha olhos castanhos e uma pele alva completamente jovem.  Será que ela viu que eu hesitei e por isso veio falar comigo?

 — O meu nome é Maria Scoot. Muito prazer — sorriu.

 —  Alizia Marlon. — Afirmei. Maria ajeitou-se no sofá e alisou o vestido. Estava nervosa com algo e olhou-me mordendo o lábio. Pressuponho que ela está indecisa se devia contar-me ou perguntar-me algo ou estar quieta.

  — Tu vens de onde? — Notei que ela estava prendendo o ar e o libertou assim que me questionou — Eu sou de Carolina — Deu um sorriso e ficou virada para mim.

Suspirei. Ela parecia estar realmente ou talvez estava a falar comigo porque éramos as únicas ali. Nas piores hipóteses, pode ser alguém com quem eu deva ter cuidado. Quem sabe, o meu plano de não fazer amigos aqui vá pela água abaixo, ou eu consiga obrigar o meu coração a não simpatizar-se com mais ninguém além da minha família humilde.

—  Venho de Bankston. É no norte e fica a quilómetros de distância daqui. — Comentei.

— Nunca fui até aí. — Disse — Espero que sejamos amigas, embora eu nunca tenha tido muita sorte nessa área. — Desabafou, desviando o seu olhar para a sua pulseira com um diamante pequeno, porém tinha um certo brilho laranja que combinava perfeitamente com os seus cabelos presos ruivos.

— É... — Tinha medo. É normal sentir desconfiança entre as pessoas, ou neste caso, Selecionadas? Principalmente, é que ela é a minha rival indiretamente. Maria e mais trinta e quatro raparigas, independentemente de eu não querer saber de nenhum dos príncipes. Olhei para a enorme prateleira de livros à minha esquerda. Não é que estivesse com vontade de ler, mas não queria fazer contacto visual neste momento com ela. Não queria transparecer arrogância da minha parte. A Seleção é uma guerra. 

  — Bom dia, meninas — Uma menina de cabelos curtos aproximou-se e sentou-se ao meu lado esquerdo, ocupando o lugar do outro sofá. O seu vestido branco era um pouco mais acima do seu joelho, tendo a parte do peito cheio de pedras preciosas e super detalhada   — O meu nome é Annelise — Esticou a sua mão com o intuitivo de cumprimentar-nos.

  — Maria! — A ruiva sorriu, apertando-lhe a mão. As duas olharam-me quando eu continuei calada. Cumprimentei-lhe rapidamente, olhando depois para a saia do meu vestido.

  — O meu nome é Alizia. — Falei pela segunda vez hoje.

As duas começaram a falar. Percebi que a Annelise gostava de conversar, tal como Maria. Pouco a pouco, as meninas iam entrando no Salão das Mulheres, até a Senhora Margarot chegar. Algo não estava batendo certo. Mesmo passado tanto tempo, faltavam algumas.

 — Ótimo, estão todas aqui — Olhou em volta com as mãos unidas, um pouco mais abaixo da sua cintura. Ela conseguia ser respeitada com aquele olhar — O príncipe Aphonso tem algo a anunciar-vos.

Cochichos começaram logo a surgir. Tanto eu como Maria e Annelise levantámo-nos, e eu fui um pouco mais para o canto. Gostava do meu espaço; Gostava de não iludir-me com amizades. Um guarda passou pela porta, abrindo-a mais e dando espaço para que o príncipe passa-se. Ele estava sozinho e, por mais que me custa a admitir, radiante. Vestia um terno azul escuro e, como acessórios que eu conseguisse ver, um relógio no seu pulso esquerdo. A Senhora Margarot pediu silêncio, calando todas no momento. O príncipe começou a passar os olhos por todas as selecionadas lentamente, até que chegou até a mim, que era a última. Não esteve muitos segundos aliás, uma questão de milésimas. 

  — Como se calhar já tiveram a oportunidade de ver, apenas restam vinte e nove selecionadas. — Sons de espanto foram ouvidos e logo todas as meninas estavam a murmurar. Olhei mais para o lado direito, e uma estava com lágrimas nos olhos. Como é que conseguem fazer amizades tão depressa? Mas mais importante, como é que seis raparigas foram embora do nada?

Um constrangimento permaneceu no ambiente. O príncipe estava sério e a olhar para o relógio. Ouvímo-lo a suspirar, e ele inclinou a cabeça, olhando pela janela que estava aberta. Penso que estava a procurar as melhores palavras. Michael apareceu atrás dele. Usava um terno da mesma cor que ele, e tal como o irmão, estava sério.   — Uma rainha — O príncipe Aphonso prosseguiu — Tem que saber-se respeitar a si, ao próximo e, mais importante, o povo de Illéa. Eu não sou um príncipe. Nasci por coincidência a este cargo, e vou provar a toda a gente que não serei um fracasso enquanto rei, respeitando sempre os ideais do mesmo e sendo o Rei do povo. Por isso, a minha futura mulher tem de ter a mesma visão. A humildade vale muito mais que poder. Não tenham vergonha de mostrarem o que são. É uma desilusão apaixonarmo-nos por alguém que nunca existe, ou que no fim, parece que nunca esteve aqui para nós. — Deixei de ouvir o resto do discurso. Aquilo atingiu-me como uma seta no coração.

Não queria lembrar, mas relembrei. Estou a ouvir mais o meu coração do que o meu cérebro. Não importa o quanto eu o tente tirar da minha cabeça, dos meus pensamentos, é como já fizesse parte de mim. Abaixei a cabeça. Eu não queria chorar, mas é sempre nos piores momentos em que uma pessoa desaba. Agarrei o meu vestido discretamente. Preferia descarregar toda a raiva naquele pedaço de tecido caro do que em lágrimas a escorrer. 

Para minha surpresa, Anne agarrou a minha mão sem permissão. Olhei-a surpreendida, e ela deu um sorriso. Nem tive tempo suficiente para processar o seu gesto, já que todas olhámos para a Maria. Não estive mais atenta ao que o príncipe proferia, mas pude entender que ele a chamou. Maria engoliu em seco, fechou os olhos e voltou-os a abrir confiante. Será que era por causa disso que há momentos atrás, ela estava tão hesitante em contar-me alguma coisa?

— Boa sorte — Annelise sorriu — Talvez seja apenas um encontro — Sussurrou.

Maria correspondeu a tudo com uma expressão calma, e começou a caminhar atrás do Príncipe Aphonso que já tinha desaparecido. A inveja e a raiva por ela já era palpável, mas nem eu tinha percebido bem o que se tinha sucedido, visto que estava perdida pelos meus pensamentos.

— Será que vai ser expulsa? —  Abigail disse, preocupada.

— Pelo que pude perceber, o príncipe falou sobre o seu "espaço pessoal". Provavelmente, alguém entrou sem permissão. — Foi a vez da Crystal falar.

E de novo, elas começaram a teorizar o motivo de seis Selecionadas terem saído. A Senhora Margarot cortou as nossas suposições fazendo-nos segui-la até à sala onde teríamos o pequeno-almoço. 

Boa sorte, Maria.

 

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P.O.V'S Maria Scoot

 

Jardim do Palácio, Angeles, Illéa, 10h01

 

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Sentámo-nos num banco do jardim. Ele sentou-se à minha frente e parecia ter o olhar perdido. Mau era, eu tinha reclamado com ele, quando nos encontrámos ontem à noite, depois do jornal oficial. Deve-me odiar e está a procurar a melhor forma de dizer «estás expulsa».  Na verdade, eu nem estaria aqui se não fosse pela minha mãe ou pela minha irmã. Ontem à noite, quando finalmente acordei para a vida e soube que poderíamos ficar aqui por anos, eu quis fugir; Para bem longe. Só passou um dia e sinto a falta da minha família. Das risadas, da desarrumação diária, de cantar. E, quanto mais o príncipe Aphonso tentou-me acalmar, mais eu lhe insultei. Acusei-o de ser mimado e de não ser suficiente bom para arranjar uma princesa verdadeira. Foi no meu último insulto que ele realmente sentiu-se ofendido. Tanto que ele pediu para eu ir-me embora, descansar e arrefecer a cabeça — Mas quem parecia arrefecer mais a cabeça depois do que disse, era ele. Eu sabia que o tinha irritado pelo brilho do seu olhar. Eu queria ter ficado mais uns minutos no jardim, mas ele ordenou aos guardas para que me levassem e me acompanhassem até ao meu quarto. E agora, é o momento de desculpar-me pela minha atitude infantil.

— Eu queria pedir-te desculpas por ontem — Decidi falar, apagando aquele silêncio — Não estava em mim. Para ser sincera, estava a delirar — Tentei rir para amenizar aquele momento tenso. Aphonso levantou um pouco a cabeça e deu um sorriso fraco. Logo, recostou-se no banco e cruzou um pouco as pernas, continuando com as mãos nos bolsos. Posso dizer que, se caso ele não fosse um príncipe, tinha aparência de um.

— Todos nós temos os nossos bons e maus momentos. Vamos esquecer esse assunto. — Desviou o assunto e fitou a relva. Olhei-o de soslaio. Agora é que reparei que eu era a pessoa com quem ele tinha o seu primeiro encontro, pelo menos, publicamente. Mordi o meu lábio, mas nem por isso sentia-me nervosa. Estava aqui por elas. Não era uma louca atrás dele e muito menos pelo objeto que ele utilizava em cima da sua cabeça — Então... O teu lugar preferido é o jardim?

  — Sim. Sinto-me menos presa — Fiz aspas com os dedos e ele riu com o meu gesto — aqui fora. A despeito de eu não puder vir aqui à noite... — Resmunguei.

Ele levantou-se e sentou-se ao meu lado. Afastei-me um pouco, mas aquele movimento não lhe pareceu incomodar: — Eu posso falar com os guardas e permitir que venhas aqui à noite, mas nunca depois das 22h. Acho que entendes... — Olhou-me preocupado. Sim, eu entendia. Os ataques rebeldes regulares que o palácio sofria — Então, se não te importasses, eu queria que um guarda estivesse contigo a uma certa distância para não te sentires incomodada, claro.

Arqueei uma sobrancelha e fiz de conta em estar a pensar na sua proposta. 

— Parece-me bastante convincente. — Ri e ele também. Uma risada rouca.

  — Ótimo. — Ele pareceu feliz com a minha resposta e olhou para o céu,sorrindo para o mesmo —  O que fazias?

— Como?

— A tua profissão. — Fitou-me.

— Ah... Hum...— Desviei o olhar para as rosas que estavam à nossa frente — Eu cantava. A minha família não era muito rica, mas dava sempre para nos sustentarmos nas melhores formas possíveis — Suspirei ao relembrar noites em que não tínhamos comida. Dos rostos tristes dos meus irmãos, mas pior, a desilusão nítida nos olhares dos meus pais. Eles eram heróis. Faziam os impossíveis para termos nem que fosse um grão de arroz naquele prato imenso por estar quase sempre vazio e, quando não havia nada, eles culpavam-se silenciosamente. Aphonso percebeu-se do meu olhar triste e pegou na minha mão. De certeza que ele não era um tolo. O seu pai abordava muito sobre as águas escassas em algumas províncias, pobreza e fome. Assuntos como esses devem estar já repassados nos seus ouvidos e olhos.

— Eles estão bem? — Perguntou. Aproveitei o seu toque. Era suave, apesar de estarem calos à vista. Era estranho ver um príncipe com calos nas mãos. Queria rir devido ao meu pensamento, mas o assunto era bastante sério para que isso ocorresse.

— Estão — Dei de ombros. O dinheiro da Seleção iria fazer um enorme jeito a eles e pelo menos, já não me iria preocupar com a questão diária se eles tinham comida na mesa ou não.

— Então, fica orgulhosa pela tua vida — Franzi as sobrancelhas. Como é que passando fome eu poderia-me orgulhar da minha vida? Soltei a mão, indignada. Devia ser mais um daqueles príncipes que têm a mania. Aquele discurso anteriormente era simplesmente bluff para ninguém desconfiar o que se escondia por detrás daquele terno azul.

— Tenho fome — Menti e levantei-me —  Obrigada pelo "encontro" — O tom de voz sarcástico era notável, porém nem eu quis saber. Sacudi o vestido e levantei-o um pouco para poder andar sem tropeçar.

— Eu acompanho-te — Ele disse, levantando-se. Senti que ele estava a caminhar atrás de mim.

— Dispenso. Eu sei o caminho até lá. Obrigada — Agradeci por educação e entrei no castelo. Ele continuava a vir atrás de mim, e isso estava a irritar-me — Por favor! — Virei-me para trás  e ele continuou a andar, vindo até a mim — Eu disse que sabia por onde era o caminho.

— Esqueces-te que eu também ainda não tomei o pequeno-almoço? — Respondeu seco, passando por mim e entrando pela porta da Sala de jantar. Bufei. Agora não sabia com o que estava mais irritada. Pelo tom de voz seco ou pelo que ele disse lá fora. Olhei de soslaio para um guarda que estava com os olhos cravados em mim, surpreendido. Quando ele notou que eu já tinha notado, fez de conta que estava a olhar algo para trás de mim. Suspirei e abri o meu olhar de confiança. Inúmeras selecionadas vão ficar ruídas de inveja por eu ter sido a primeira com quem ele teve o seu primeiro encontro. Mas no fim, quem terá pena delas serei eu, quando esse príncipe se revelar.  

 

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Notas Finais


Pudinzinhas, olá!

É, eu faço capítulos com quase sempre mais de 5000 palavras, não dá para evitar. Mais uma vez, eu peço perdão pela minha escrita medíocre, mas é o que podemos ter por agora.
Estou a trabalhar nos questionários ainda, tal como nas personagens. Talvez no próximo capítulo já seja para o preencher. Não tenho data prevista para o lançamento, mas prevejo que teremos capítulo na Sexta-feira e no Sábado.

Se alguém quiser mudar o encontro ou algo semelhante, que corra mandando-me MP. Estou a basear-me nas fichas, e claro, se vocês quiserem acrescentar algum trama na vossa personagem, não hesitem em mandarem-me também. A história é interativa, conquanto eu ainda não saiba bem como lidar com cada personalidade. Com o tempo se chega lá, neh?

Eu vou responder ao comentários maiores quando estiver no computador. Dá-me mais jeito para ver o que vocês escreveram com mais detalhe, do que estar no telemóvel.

Enfim, só um pormenor ou curiosidade, hehe. Em Portugal — ou pelo menos, no local onde eu vivo e arredores — leva-se a mal o facto de alguém tratar uma menina por "moça" ou até "garota" — mas "moça" é como as pessoas do sexo feminino e masculino se sentem mais ofendidas. E perdoem-me, eu escrevo rapariga mas é sempre sem maldade, hehe.

Obrigada pelos comentários. Não exigi, mas sempre me dão força para continuar e mesmo eu não tendo solicitado, vocês comentaram. Um enorme obrigada do fundo do meu coração. Irei responder a todos. Acreditem, se eu responder a uma, irei responder ao resto também.

Beijinhos! <3

Kirari.


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