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História A Seleção - Never lookin' back


Escrita por: Lighteryum

Notas do Autor


Boa leitura! <3

Capítulo 6 - Never lookin' back


Fanfic / Fanfiction A Seleção - Never lookin' back

 

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P.O.V'S Jade Marino 

 

19 de Outubro, 21h20, Jardim do Palácio, Illéa

 

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— Eu juro que vou cair, Aphonso! — Gritei em cima do muro, tentando evitar ao máximo não olhar para baixo. Caminhava com o máximo de cuidado e com os braços estendidos, engolindo a saliva lentamente e tentando não olhar para baixo. Aphonso quando queria era louco. Estávamos em cima dos muros com uns 5 metros de altura, numa zona sem guardas — por ele ter pedido com muito esforço para não nos incomodar.

— Se caíres eu cairei contigo, porque irei-te segurar — Disse num tom brincalhão.

— Não era mais fácil segurares-me antes da queda?

— Isso não teria romance nenhum — Riu levemente. Ele puxou um pouco o meu vestido e eu olhei para trás, caindo quase para trás. Ele possuía um tipo de beleza indescritível. Olhos negros que confundiam-se perfeitamente com a penumbra da noite, e um certo brilho apenas com a ajuda da luz das inúmeras estrelas. O jeito desarrumado que ele tinha sempre os cabelos — e agora estavam  levemente ondulados por termos corrido um atrás do outro, momentos atrás — e o perfume amadeirado juntamente com pêssego. O toque suave que tinha mesmo com as mãos cheias de calos. Aphonso usava uma camisa social preta e umas calças jeans da mesma cor. Ele saltou do muro para dentro do palácio, visto que não podíamos sair perante todos aqueles olhares dos guardas, que se aproximaram quando reparam que o Aphonso tinha saltado. Pelo que parece, só vieram ver se ele tinha-se magoado e logo depois, foram embora. Incomodava-me um pouco, mas pelo menos estava com ele. Esticou os braços, indicando que podia saltar para os mesmos.

— Eu sou gorda — Brinquei, ao mesmo tempo que ele sacudia as suas roupas.

— Eu suporto — Riu — Desce, anda lá, a não ser que queiras ficar aí para sempre — Colocou as mãos na cintura.

— Achas que não conseguiria descer sozinha? — Cruzei os braços e logo me desequilibrei por instantes. Não hesitei.  Agarrei um pouco o meu vestido e saltei para os seus braços. O meu peso fez com que ele caísse para trás de costas no meio daquele relvado impecávelmente arranjado e, pela primeira vez em muito tempo, ouvi as batidas do seu coração. Preparei-me para levantar-me quando ele colocou uma das mãos sobre a minha cabeça e fazendo um bom cafuné nos meus cabelos, impedindo que eu saísse do seu peito. Comecei a sentir-me estranha.

— Se eu soubesse que eras assim tão gorda, teria pedido ajuda a mais cinco guardas — Riu. 

— Tentando arranjar desculpas por essa força medíocre? — Retruquei. Eu não sei o que me deixava mais atordoada naquele momento. O seu perfume, o seu toque ou a nossa aproximidade. Quando éramos crianças e brincávamos juntamente com o Mike, jamais pensei em estar assim com o Aphonso um dia. Ou pelo menos estar a sentir esta sensação esquisita que não consigo decifrar.

— A minha força não é obrigada a aguentar o peso de baleias azuis —  Voltou a rir e eu virei-me para dar-lhe um tapa de leve no seu ombro.

— Idiota. Nunca mudas-te durante este tempo todo — Mostrei-lhe a língua. Permitiu que saísse do seu peito e respirei fundo, aliviada; ou talvez não. Estendemos os braços pela relva fria e ficámos em silêncio durante um bom tempo. Mirei as estrelas, lembrando de como tudo tinha começado. Desde o dia em que me lembro em estar no orfanato pela primeira vez, o nosso primeiro momentos juntos, o último e a minha partida sem ter feito uma despedida em condições. Sem ter dito propriamente um adeus. Felizmente, o destino fez com quem eles entrassem na minha vida, mais uma vez. E, claro, abraçarei esta chance. Se não conquistar, ficarei bem comigo mesma se tiver a amizade deles. Que, para já, é o que pretendo — Estou com fome — Tentei colocar um assunto que não era totalmente mentira.

— Tenho cara de cozinheiro? — Respondeu com uma voz tranquila e rouca.

— Não, mas tens cara de quem vai chamar aquele guarda ali e que irás pedir comida a sério — Apontei com a cabeça e ele olhou para o guarda, voltando a fitar-me segundos depois.

  — Olhem só, se não é a mesma rapariga que chamou o meu irmão de príncipe atraente... — Provocou e eu senti as minhas bochechas a queimarem e corarem de leve. Eu tenho aquele magnífico dom de passar vergonhas nas situações mais inoportunas. Continueu com a boca cerrada a observar as estrelas. Esperava que ele mudasse de assunto, mas sei que ele gosta de acarretar constrangimento nas outras pessoas. Afinal, estamos a falar sobre Aphonso. Ele adora isso.— Oh! A rapariga aventureira ficou sem palavras — Aproximou o seu corpo do meu, virando-se e ficando com a sua barriga para o relvado. Eu olhava para a direita e ele colocava o seu rosto à minha frente. Desviava e ele também, estando sempre a fazer contacto visual comigo. Aquele sentimento esquisito voltou de novo.

  — Vai buscar a pizza — Desconversei —  Tô com fome.

Ele soltou uma gargalhada cavernosa que logo se tornou bem audível. Não entendi o motivo de tanto riso, eu só pedi uma pizza.

  — Querida, nós temos — virou-se para mim e mostrou a sua mão, iniciando uma contagem de coisas que iria dizer — Arroz, carne, peixe, massas, bolos de todos os tipos, fruta, comida pura e requintada que é igual ou melhor de um restaurante de mérito, e tu — riu entre as palavras  que pronunciava — pedes pizza? — Voltou a rir e eu também — Melhor, designas pizza como "comida a sério"? — Ele estava tão próximo que sentia a sua respiração na minha face. Quando nos conhecemos naquele orfanato, tanto ele como o Michael eram apenas dois rapazes cheios de vida que só queriam aproveitar a sua infância ao máximo. Lembro das quedas constantes entre ele o seu irmão de como quando, por exemplo, ambos caíram ao andarem de bicicleta pelo jardim, e embora que quem estava com os joelhos esfolados e cheios de sangue tal como as mãos era o Aphonso, ele chamava toda a gente para ver o seu irmão Michael que não tinha nenhum arranhão. Sempre pôs o seu irmão à sua frente em tudo, dando toda a atenção para o mesmo. Ou naquela vez que riram do Michael por ele ter as calças rasgadas no rabo durante uma apresentação importante no orfanato, aos 12 anos. Ele começou a ficar constrangido e estava quase a chorar, quando Aphonso saiu por instantes e voltou com os seus boxers por cima das calças. O alvo das piadas tinha mudado para ele, mas Aphonso não parecia importar-se. Continuava a sorrir como se nada tivesse acontecido. E, talvez o que eu admirava ele, era a forma como ele protegia o seu irmão a todo o custo. Tal como agora eu vejo, pelo brilho do olhar do Aphonso, que parece que algo falta nele. 

No meio de tantos pensamentos nem me apercebi que já tínhamos a pizza à nossa frente. Tirei três fatias — Lamento, mas eu estava mesmo com fome — e comecei a comer sossegada, tal como ele, enquanto olhávamos as estrelas da noite. Não sei desde quando ele tinha-se tornado assim tão reservado, mas pelo menos sinto que as nossas brincadeiras não tinham sido forçadas. Talvez o tempo nos tenha separado um pouco. Mas bem, só temos que saber mexer com ele e eu, como antiga e atual amiga dele, irei saber o que se passa dentro da sua cabeça.

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20 de Outubro, 09h30, Salão das Mulheres, Illéa

 

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— Então, como correu o encontro? — Annelise perguntou-me. Estava sentada com ela, com a Crystal, Agatha e a Abigail — Melhor do que o da Maria? — Ontem o príncipe tinha entrado na Sala de Jantar como uma expressão não muito feliz. Annelise tentou falar com a Maria, mas ela respondeu apenas de que precisava de descansar.

— NÃO PODE SER! — Anthonia gritou enquanto entrava no salão das mulheres. Todas nós parámos de falar para olhá-la com o jornal que ela tinha nas mãos — Eu não aceito isso, produção, eu sou cardíaca — Disse quase pálida.

— O que se passa? — Victória perguntou algo que todas nós queríamos saber.

— A princesa Daniela desmaiou em pleno concerto e vai ficar com as atividades suspensas durante um ano... — Disse desanimada. Era notório pela decepção no seu rosto que ela era mesmo uma grande fã dela.

— E depois? — Katherine respondeu — Isso faz-te alguma diferença? — Pronunciou seca, enquanto enrolava os seus cabelos com os dedos.

— Claro que faz! — Thonia rebateu, batendo o pé   — Ela é uma inspiração para mim.

— Nossa — Riu com deboche — Tenho tanta pena das tuas expetativas de vida... — Falou sarcástica. Anthonia aproximou-se com pressa e ia mesmo dar-lhe um estalo quando Elia parou o seu pulso. 

 — É o que ela quer — Afirmou e a Thonia bufou com todo o ar que tinha nos pulmões. Senti o ambiente a ficar tenso.

 — Tu és uma modelo — Anthonia continuou, enquanto Elia a segurava nas mãos, talvez para evitar uma futura briga física — Aparentavas ser alguém gentil, mas não passas de uma espelunca. És uma pessoa sem escrúpulos! Falsa.   — Desabafou. Algumas ficaram com os olhos arregalados. Maria até fechou o livro que estava a ler, Mahina e Clítia que estavam juntas pararam o que estavam a fazer e até a Kiara, que era uma das que parecia ser das mais indiferentes de todas, estava atenta.

— E tu? Qual a tua história para estares nesta Seleção? — Katherine deu um passo em frente.

— Meninas, parem, por favor — Levantei-me — Ninguém quer discussões desnecessárias. Vamos respeitar-nos.

— Concordo com ela — Jasmine apoiou-me, levantando-se também.

— Qual é? — Olhou para mim e para a Jasmine com um sorrisinho de lado — Disse alguma mentira? Se há alguém que é falsa, não sou eu. Quantas de vocês estão aqui porque querem é dinheiro para a família? Também estão a usar a família real para vosso próprio benefício — Cruzou os braços — Não se façam de santinhas, ridículas — Algumas Selecionadas se entreolharam. Talvez, o discurso que a Katherine proferiu tivesse-as abalado. Eu vim porque realmente os queria ver, nem que fosse apenas mais uma vez. Katherine deu um encontrão no ombro de Anthonia e Helena Amy foi para à frente dela.

  —  Muita gente está aqui por dinheiro, é verdade — Helena começou — Mas aposto que se o Príncipe Aphonso nos perguntasse o verdadeiro motivo para nós estarmos nesta Seleção, a maioria de nós seria honesta. E tu? Tu não podias dizer alto e a bom som que estás aqui pela coroa, pois sabes muito bem que serias expulsa na hora — Helena bufou e virou as costas, dando passos largos para fora do Salão das Mulheres.

  — Aquela mocinha não sabe com quem se meteu — Resmungou, e saiu também. Atrás dela ia Jessica. E, depois Jasmine foi também, dizendo "Vou falar com elas".

O Salão ficou com um silêncio a pairar sobre todas nós. Olhávamo-nos caladas. Afinal, isto era uma guerra. Parecia que tínhamos que ter cuidado para tudo, até para mastigar ou seríamos faladas sobre alguma coisa má. A nossa melhor amiga podia ser a nossa inimiga, rival. Não sei o que molestava-me mais; aquele silêncio perturbante ou os olhares acusadores que umas lançavam às outras. Bufei, recostando-me no sofá. Anthonia voltou a sentar-se e fechou o jornal, cabisbaixa. Pude notar que ela não gostava de discutir.

— Eu já falei com a Daniela, sabias? — Érika aproximou-se da Thonia e sentou-se ao seu lado, tentando animar a mesma. Começaram a conversar divertidas e, pouco a pouco, aquele ambiente apreensivo tinha-se evadido. 

Respirei fundo.

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P.O.V'S Aphonso Schreave

 

Corredores, Palácio de Angeles, Illéa

 

09h54

 

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Finalmente terminei o meu treino matinal exaustivo. Infelizmente, costumo fazê-lo sempre sozinho, visto que Michael prefere estar sentado a ler a estas horas. Caminhava, mais uma vez, por aqueles enormes corredores quando vi uma rapariga sentada encostada à parede com o seu salto alto de lado. Andei em silêncio de forma que ela nem se apercebesse da minha presença; e resultou. Os seus cabelos castanhos cobriam mais de metade do seu rosto, e os braços estavam envolvidos nos seus joelhos. Sentei-me à sua beira e só aí ela se deu conta que eu também estava ali. Parecia admirada. Possivelmente por hoje eu estar com uma regata branca e calções cinzentos com o símbolo da nike na minha perna esquerda por ter estado a correr, coisa que é rara de se ver — Dado que tenho de andar sempre bem aprumado. Encostei a minha cabeça à parede, enquanto sentia uma gota de suor a escorrer pelo lado direito da minha face.

  — Está tudo bem? — Olhei-a enquanto ela girava o seu rosto para à frente. Estendeu as suas pernas e pôs as suas mãos, uma por cima da outra, sob o seu vestido azul de seda. Tentava lembrar-me do seu nome enquanto a mirava e ela permanecia em silêncio. Sabia que haviam duas Helenas, mas não me lembro do sobrenome dea. 

 — Tudo ótimo, como deveria estar — Deu de ombros, quase não dando oportunidade para mais conversas.

— Porque a tua expressão diz-me que não? — Arqueei uma sobrancelha e inclinei a minha cabeça para o lado esquerdo de leve, tentando-a olhá-la nos olhos. Ela mudou o olhar para o lado oposto, o que fez-me rir. Tinha feito com que ela ficasse intimidada.

  — Por acaso andas-me a observar para já saberes assim tanto sobre as minhas expressões? — Respondeu. Peguei no seu queixo com o meu polegar e indicador, fazendo-a olhar para mim. Os seus imensos olhos castanhos pareciam estar espantados com o meu movimento, e coloquei uma das suas mechas para trás da orelha.

— Talvez, Helena Valente — Sorri e ela tirou a minha mão do seu queixo — Vais-me dizer o que tens?

— Acho que não é da tua importância — Cruzou os braços, impedindo que eu tivesse mais qualquer tipo de contacto com ela.

— Okay, não insistirei. Todos nós temos os nossos dias bons e maus — Disse enquanto ficávamos no meio daquela taciturnidade, pouco a pouco.

Deixei-me estar. Uma das coisas que eu não suportava muito bem, era quando alguém era frio comigo sem motivo nenhum. Segundo a educação que os meus pais me deram, eu sempre deveria ser simpático para o próximo independentemente do meu estado emocional. Michael achou divertido o jeito que a Kiara lhe tratou, mas eu não. Embora eu não seja a melhor pessoa que tenha moral para falar sobre isso... Mas tal como eu mudei com a ajuda do Mike — Qual me ajudou a levantar-me no meio daquela fase terrível — eu também tenciono mudar alguém. Deixar com que a pessoa deixe de ser fria, mesmo que esteja numa fase má. Que eu posso realmente ser o ombro amigo delas. Por hoje, deixarei passar. Se calhar algo ruim aconteceu-lhe e por esse pretexto ela agora está assim. Silêncio; É tudo o que uma pessoa irada necessita. Noutro dia, insistirei mais. Tudo leva o seu tempo, da mesma maneira que durante esse período, iremo-nos conhecer mais e criar confianças uns nos outros. Aí, poderei ajudar.

 Pus uma perna em cima da outra e observei as minhas sapatilhas. Estavam rasgadas de um lado de tanto as utilizar. Mas não as queria deitar fora; Tinha sido um dos meus últimos presentes da minha mãe.

— Desculpa... — Ela decidiu falar — Estou um pouco irritada, só isso — Confessou.

Suspirei.

—   Tudo bem. Mas posso saber o porquê? 

— Sinto falta da minha família — Respondeu de forma direta. 

Entrelacei os dedos das suas mãos com os meus, com o objetivo de ela sentir serenidade. Sentir falta de alguém é horrível, principalmente quando não está mais entre nós. Momentos bons não precisam de palavras, tal como aquele estava a ser e não precisava ter. Ficamos calados por longos minutos assim, com as mãos dadas. 

  — Eu vou avisar que na próxima semana vocês irão poder escrever cartas para os vossos familiares, pode ser? — Olhei-a de soslaio e vi ela a morder o lábio. Logo, deu um sorriso de orelha a orelha, linda. Adorava ver as pessoas a sorrir, como também gostava de ver que elas estavam bem. Todos aqueles assuntos entediantes sobre o reino melhoram quando o sorriso de alguém, sincero e genuíno, aparece nos seus lábios. É boníssimo para melhorar o dia. Melhorar o meu dia. 

O encontro com a Maria não tinha corrido bem. Eu não sei o que falei de mal para ela não me ter deixado terminar. Não que eu romantizasse o feito do meu povo passar fome. Mas há tanta gente no ano a morrer por falta de comida, água e medicina para combater as doenças, que ela devia sentir-se feliz por pelo menos, acima de tantas dificuldades e contratempos, a família dela se sentir bem. Achei ela um pouco explosiva, mas deixarei-a ficar por mais um pouco e ver como ela realmente é. Espero que não passe de um mal entendido. 

Com a Jade foi diferente. Divertido e nostálgico, mas em equivalência, eu lembrei de quem não me deveria ter lembrado ao ver as estrelas e ter comido pizza. Coisa que não pensarei agora. As raparigas são maravilhosas e tenho de aproveitar ao máximo esta oportunidade da Seleção. Até já me estava a habituar à ideia, o que estava a deixar-me orgulhoso. Eu estava orgulhoso de mim mesmo.

— Obrigada, Aphonso... Er... — Riu de leve, nervosa — Digo, alteza.

— Devo chamar-te de Selecionada também? 

— Ãh? Claro que não — Balançou a cabeça de forma negativa e engraçada.

— Então — Repeti o mesmo gesto que ela, mas fingindo trocar os olhos — Não me chames de "alteza" ou vou dar em doido — Rimos os dois em sintonia e, por instantes, era como só apenas ela estivesse ali.

  — Não gostas de títulos? Eu não me importo se me chamarem de babá — Deu de ombros.

— Babá? Eras uma babá?

— Hm... — Fingiu pensar — Hm, hm! E tu? Eras um príncipe? — Provocou.

— Hm... — Fingi pensar também —  As pessoas já me chamaram de louco, Pablo Vittar 2 — aproximei-me do ouvido dela, e senti que ela se arrepiou — O meu irmão é o 1 — Afastei-me de novo — Neném, cuja palavra eu demorei semanas para entender — Ri, ao lembrar — É do Brasil e significa bebé — Suspirei — A minha criada diz que eu sou um bebé chorão e mimado, também marrento, cordeiro... houve um tempo em que chamaram-me de Nicki Minaj, enfim — Dei de ombros — O título de príncipe é o que continua — Ri e vi a Kiara passando que nem um fogo de artíficio pelo corredor. Mais atrás, vinha Michael resmungando coisas para si, até que chegou até nós.

— Estou a interromper os pombinhos?  — Coçou a cabeça, colocando a outra mão livre no bolso. Notei o seu ar de desilusão.

— Andas-te a meter com uma das possíveis futuras rainha? — Inspirei e expirei fundo — O que fizes-te desta vez, Mike?

— Eu? Faço a mesma pergunta! Juro-te, Aphonso. Não dá para conversar com aquela mocinha. Desisto, oficialmente — Levantou os seus braços em sinal de rendição.

— Dos criadores "Eu te avisei", o novo filme, "bem feito — Ri juntamente com Helena, e Mike apenas correspondeu com um riso sarcástico.

Finalmente, parecia que estava a entrar na minha Seleção.

 

P.O.V'S Rei James Schreave

 

Escritório Real, 23h54

 

— Então, achas melhor o dinheiro desse Show de Beneficência ir para o orfanato de Likely?

— Sim — O meu filho afirmou enquanto lia mais papéis. Ele tinha aura de um Rei mesmo sem a coroa — Os ataques rebeldes deixaram a população de rastos, e houve várias crianças que se separaram dos pais durante os ataques. Vamos mandar alguns guardas disfarçados para os ajudar. Os rebeldes podem querer atingir os guardas para atiçar-nos, mas não farão mais mal aos plebeus — Limitei-me a assentir com a cabeça. Não me lembro quando, mas Aphonso tornou-se muito esperto desde que a Carolina faleceu e Daniela esteve ao pé dele. Ella foi uma boa influência para ele, embora tenham-se separado da pior forma. Aliás, tratava-lhe como filha do meu sangue, visto que o seu pai tinha falecido pouco depois do nascimento do Gonzalo. 

— Vai dormir. Não quero o meu filho a ter encontros com as Selecionadas cheio de olheiras — Falei colocando a papelada que ele estava a ler de lado. 

— Pai, eu estive a pensar... — Desconversou e deitou a cabeça na palma da sua mão. Aphonso tinha o olhar de Carolina. As pestanas longas, os cabelos pretos, até o formato dos lábios. De resto, tinha haver comigo. Talvez por ter sido o primeiro filho, puxou mais a mãe — Vais fazer-me uma festa de aniversário?

Engoli em seco. Eu e o Wesley tinhamos enviado convites aos reinos com quem tínhamos alianças. Portugal, Espanha, França, Brasil, Coreia-do Sul, Japão, Suíça, Estados Unidos, enfim. Mas só será à noite e durante o dia, ele poderá fazer o que quiser. Afirmei com a cabeça que sim e ele franziu as sobrancelhas. Provavelmente, estava chateado, pois ele bem sabia quem vinha por aí.

— Convida toda a gente das alianças menos Portugal e França. Não quero que Illéa se misture com esse povo — Resmungou, gesticulando.

— Aphonso, vais fazer 20 anos. Separa as coisas profissionais das pessoais, por favor — Pedi, organizando os papéis.

— É o meu aniversário, pai — Desembocou.

—   Eu sei, filho. E quero que tudo corra às mil maravilhas — Olhei para ele, pegando na sua mão — Porém, quer queiras ou não, também és um príncipe. De vez em quando, temos que abdicar um pouco das nossas coisas para outras irem de vento em popa. Só são duas horas do teu dia e além do mais, não te peço mais que educação à frente da Daniela e do Maxence. Duas horas — Repeti mais uma vez. Sabia que era bem isso o que estava a afetá-lo na sua cabeça, principalmente porque ainda guardava memórias más de como tinha sido quando a família real de França nos veio convidar para o casamento deles. 

— Não vai ser fácil, pai. Depois de cinco meses... Será muito complicado — Colocou ambas as mãos na cabeça, despenteando-se todo logo de seguida. Limitei-me a sorrir e com o meu polegar, acariciei as costas da sua mão. Sempre quis o melhor para ele, independentemente dos riscos que eu mesmo poderia vir a enfrentar. Mais do que um rei, ele era o meu filho, como Michael. Os únicos com o meu sangue, juntamente com o da Carolina.

Ele levantou-se e foi-se embora, sem dizer mais nada. Respirei fundo, e chamei o Wesley para ajudar-me nos convites. Aphonso fará 20 anos, duas décadas. Farei com que seja o seu melhor aniversário de sempre, para também recompensar tudo o que tem sofrido e vivido. Afinal das contas, mais que um Rei, eu sou o seu pai.

 

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P.O.V'S Maxence Chermont

 

Palácio de Portugal, 21 de Outubro, 21h32, Portugal

 

Quarto da Daniela

 

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— Porque não me contas-te mais cedo? Eu não iria-te julgar - Suspirei, enquanto colocava o pano morno sobre a sua cabeça — Tives-te mesmo que ir até ao limite? Tives-te mesmo que cair à frente de toda a gente? Daniela, sua cabeça dura - Resmunguei, enquanto ela continuava com os olhos fechados. Estava mais pálida do que o normal e o seu cabelo ondulado estava um pouco molhado na sua testa por causa do pano molhado misturado com o seu suor.

— Para eu te puder contar, também tinha que aceitar-me no estado em que me encontrava — Suspirou — E nem eu queria acreditar — Sussurrou. O seu tom de voz era fraco e rouco. Molhei de novo o pano e, depois de o espremer bem, voltei a colocá-lo sob a sua testa - Obrigada por seres sempre tão atencioso, Maxence... e por teres guardado segredo.

Daniela caiu no meio da sua apresentação no palco, onde estava a dar um concerto de beneficência para os desalojados no Porto. No entanto, ela entrou em colapso e desmaiou a meio da performance «Why». Ela foi imediatamente socorrida deixando todos preocupados com a sua colisão, mas dou graças — e volto a dar — pelo meu médico, Senhor Adrian, ser fã dela e estar a assistir ao concerto dela comigo. Mas... As notícias não foram as melhores.

— Não é o que os amigos fazem? - Ri de leve e voltei à minha postura séria — Eu quero-te ver bem, Ella. Embora eu saiba que para já isso não seja totalmente possível - Mordi o meu lábio e sentei-me em cima da sua cama. Ela abriu um pouco o seu olhar e sorriu fracamente ao ver-me inquieto diante a situação em que ela estava — Vais-lhe contar? — Engoli em seco.

— Claro que não. Ninguém pode saber — Senti uma certa insegurança na sua resposta.

— Nem os teus irmãos?

— Nem eles, Maxence — Afirmou conviccão — Principalmente o Gonzalo. Iria armar um escândalo se eu não lhe contasse a verdade. E claro, iria-me dar um sermão — Deu de ombros e começou a fitar o teto branco e vazio. Eu sabia que ela queria chorar, mas queria fazer-se de forte para não enfraquecer, pelo menos à minha frente — Fomos demasiado descuidados — Desabafou, e eu balancei a cabeça de forma positiva, por mais que aquele assunto me doesse sem motivos; ou eu pensava desse jeito.

— Se ao menos tivesses ido logo quando deste falta da t... - Ela interrompeu-me-

— Nem aí, Max. O erro foi meu e vou viver bem com isso.

— Não foi só teu, Daniela.

— Agora eu não posso fazer nada.

— Porque não queres.

— Porque o respeito — Olhou-me séria. Levantou-se com cuidado e sentou-se na cama, colocando o pano amarelo dentro da bacia de água morna que estava no criado mudo — Não me dês mais na cabeça, Maxence. Eu imploro-te. — Enchi os meus pulmões cheios de ar e continuei a segurar a sua mão magra e com as veias a sobressaírem. Ella voltou a fechar os olhos, e, pessoalmente, amava vê-la sem aquela maquilhagem que a tornavam, às vezes, noutra pessoa. Mas odiava aquela cara de adoentada.

— Quando notas-te isso?

— Bom, faltou logo desde o início... Há cinco meses. Nós, artistas, temos sempre dietas rigorosas e por vezes falta devido a isso. Por esse motivo, não quis saber. Mas... Há cerca de 2 meses atrás... eu tive coragem e bom, tu sabes o resto.

— Se tivesses visto no início, poderias ter evitado, Daniela. — Suspirei.

— Não — Disse com persuasão — Jamais — Balançou a cabeça de forma negativa — Eu tenho que assumir as responsabilidades, Maxence. Se fosse forçado, era uma coisa. Agora, fui eu mesma quis. Nunca me perdoaria se fizesse tal coisa. — Limitei-me a beijar o topo da sua mão enquanto ela falava e fomos interrompidos por duas batidas na porta.

— Vou ver quem é — Levantei-me penteando os meus fios de cabelo com os dedos e rodei a maçaneta, vendo quem se encontrava por detrás das portas.

— Alteza, isto chegou para vocês — Bella, uma das criadas da Daniela, fez-me uma reverência e entregou-me uma carta com um papel dourado e o emblema de Illéa. Despediu-se e foi-se embora. Fiquei segundos a olhar a carta, questionando-me se devia contar a Daniela ou se prosseguia tácito.

— Quem era? — Ella perguntou com a sua voz rouca e débil. Fechei a porta sem fazer quase nenhum barulho e com a carta nas minhas mãos. Tirei os sapatos e os chutei para qualquer sítio do quarto, deitando-me e enfiando-me dentro daqueles cobertores ao pé dela, enquanto inalava aquele seu perfume de pêssego que ela sempre exalava.

— É de Illéa — Afirmei, abrindo a carta e tirando de lá o conteúdo para ver o que estava escrito.

— Deixa ver — Concluiu, pondo o seu rosto sobre o meu peito. Aproveitei aquele momento para fazer um leve cafuné nos seus cabelos. Ela continuava a arder de febre e eu limpei algumas gotas do suor que estavam na sua cabeça com a manga da minha camisa social azul. Ela pegou na carta e começou a ler.

 

Prezado Príncipe Maxence de França e prezada Princesa Daniela Henriques de Portugal,

 

É de bom grado que enviámos este convite para vos emprazar sobre o aniversário do príncipe herdeiro do trono de Illéa, Aphonso Schreave, que celebrar-se-á no próximo dia 28 de Outubro. Assim sendo, vimos por este meio convidar, vós, altezas, a comparecer à celebração dos seus 20 anos. Agradecemos a vossa presença.

 

A família real de Illéa.

 

— Se não formos irão pensar que temos algo contra. Conquanto também seja o teu aniversário...— Ela dobrou de novo o papel, colocou-o dentro da carta e deixou-o ali, em cima dos cobertores.

— Eu não posso ir, Maxence — Virou o seu rosto para mim e colocou as mãos no meu peito. De novo, aquele sentimento estranho — Vai tu. Resolve o que tens que resolver com a Alizia — A sua sinceridade incomodava-me em certas ocasiões. Ela pensa mesmo que a deixarei naquele estado? Depois de tanto que passou sozinha, ela era uma mulher que eu admirava. Não que o que sinta por Alizia esteja totalmente desvanecido, mas eu e a Ella somos melhores amigos. E um amigo não deixa outro para trás.

— Nunca te deixaria sozinha — Pronunciei com convicção — Além disso, eu também estou magoado com Alizia. Magoado ao ponto de ela ter dito que achava que nunca lhe amei. Magoado ao ponto de ela estar a pensar que eu sou um bastardo. Magoado por ela não confiar em mim — Suspirei com amargura. Daniela olhava-me com simpatia. O seu olhar era estranho. Ella ouvia as pessoas e procurava sempre entendê-las, seja para o bem ou para o mal — Eu amava-a mesmo. Porém, hoje... — Mordi os lábios e desviei o olhar — Não sei se posso dizer o mesmo. — Ella ergue-se e sentou-se, outra vez. Puxou a minha cabeça contra o seu peito e, por momentos, senti o mesmo cheiro que a minha avó materna. Os seus dedos dançavam entre os meus cabelos e o ambiente escuro do quarto, sem nada aceso ou ligado, apenas a janela um pouco aberta para passar um pouco de ar, estavam-me a fazer sentir-me aconchegado.

Jamais poderás voltar atrás, Maxence. Nunca irão voltar ao primeiro momento, tal como nunca poderão ser como vocês foram no passado. Mas isso não mudará o que vocês tiveram antes. O quanto foi verdadeiro e especial todos aqueles sentimentos, como me contas-te — Ri um pouco ao relembrar certas coisas estranhas e engraçadas que fiz com Alizia, juntamente com ela que riu adoentada — Ainda vais a tempo de alterar o que te incomoda hoje. A história é tua para escreveres. Se não gostares, viras a página e reescreves mais uma vez — Deu de ombros, enquanto ainda me mexia no cabelo — Eu já te disse e volto a dizer. Podes ir quando quiseres. Podes ir agora, daqui a um minuto, dia, semana, ano. Aproveita a tua felicidade, Maxence. Não posso prender alguém quando o coração está em outro lugar. Desfruta esse amor onde tu possas realmente aprender todos os dias um pouco mais a como cuidar de alguém e ao mesmo tempo descansar — A sua voz era tão calma que dava-me arrepios.

— E a tua história? O que farás com ela?

— Irei escrever de um jeito em que eu possa ficar bem no final; sozinha.

— Mas... — Impediu-me de falar.

— Nós nascemos sozinhos, tal como na maioria dos casos voltámos a morrer sozinhos. Não há problema para mim caminhar sozinha. Para não falar que acho que Deus colocou isto que eu tenho agora para não me sentir tão só, Maxence. Eu estou bem. Não posso voltar a olhar para trás agora. É um novo dia agora. Temos de ter orgulho dos nossos medos e erros, eles tornam-nos no que somos hoje. 

— Daniela, eu...

— Sabes, muitas das vezes nós pensámos que sentimos tanta falta de uma pessoa... que acabámos por notar que só sentimos falta dos momentos que passámos com ela. Dos sorrisos, choros, até das brigas. Abraços, beijos, brincadeiras estúpidas, vezes em que tentámos dizer adeus um ao outro... Ah.. — suspirou — A vida é tão traiçoeira quando quer. Já viste? Um amor da tua vida virar um desconhecido? Ou melhor amigo... ou pai. O que fazer? Quando nós gostámos, dói-nos mesmo. 

— Sentes a falta mesmo dele?

Sinto. Mas a vida continua.

Quando conheci a Daniela, pensava que ela era uma daquelas típicas raparigas mimadas que se faziam de boazinhas à frente das câmaras e por de trás era terrível. Estava enganado e até hoje culpo-me secretamente por ter pensado tal coisa dela. Queria-a proteger. Escutar aquelas palavras fez-me perceber ainda mais o quanto ela consegue ser madura, mesmo quando tudo para ao seu lado está a descamar. É como se ela continuasse a ter forças para escalar-se a si mesma. A sua mão parou e eu fitei-a. Dormia como um anjo. Levantei-me cuidadosamente e peguei no peluche cor-de-rosa cheio de pêlo que estava ao seu lado, "Nyan". Coloquei-o entre os braços dela e deitei-a sem a acordar. Ella aconchegou-se ao peluche um pouco mais e continuei a olhá-la. Um sorriso tonto permanecia nos meus lábios. Saí da sua cama e puxei os cobertores para cima dela. Fechei as persianas, as janelas e os cortinados da forma mais silenciosa possível. Voltei a caminhar até ela e deparei-me com os seus pulsos roxos. Puxei um pouco mais a manga do seu pijama e reparei que ela tinha hematomas pelo corpo. Arrepiei.

Mais uma vez, ela estava-me a esconder-me alguma coisa.

 


Notas Finais


No próximo capítulo irei focar as selecionadas Érika, Abigail e Annelise (encontros).

Para quem não gosta da Daniela, boas notícias. Ela andará bem sumida pelos próximos capítulos.

Se vocês tiverem ideias para o decorrer da história para as vossas personagens, mandem-me MP. Estou sempre disposta a receber novas sugestões. Por exemplo "Se houvesse uma briga entre Aphonso e Michael por causa de certo assunto X, eu iria fazer com que ambos se juntassem e o quanto a amizade deles é especial para mim", enfim. ^^ As ideias mais criativas eu irei colocar. Afinal, a história é interativa para todas nós.

Não se agarrem muito a momentos "adoráveis". Isso não durará durante muito tempo, e espero que não me matem no final ;_________;

Amanhã finalizarei o questionário, visto que hoje eu tive o dia todo fora e vim agora, há 01h20 postar novo capítulo porque vos adoro :'3 É só isso. Boa noite para todas, pudinzinhas!

Mais uma coisa. Obrigada pelos comentários. Eu estou a sentir-me demasiado mimada por vocês e um agradecimento especial para quem sempre elogia a minha escrita, mesmo sendo — literalmente — a minha primeira fanfic. Tenho orgulho <3

Beijinhooos!


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