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História A Sereia de Meaípe... Onde nascem as lendas! - I


Escrita por: VncentRonan

Capítulo 2 - I


A palavra lenda é definida como uma narrativa de caráter maravilhoso, em que fatos históricos são deformados pela imaginação popular ou pela invenção poética.

Toda essa singularidade e sentidos são impostos nas lendas pelas pessoas que querem explicar, mas não conseguem acreditar nelas. O que faz uma lenda ser especial e persistir através dos anos ou o que acima de tudo é capaz de torná-la real, é o quanto podemos acreditar serem verdadeiras.

No mundo atual, no qual os humanos esqueceram os extintos selvagens, sobrevivendo com ilusões compradas em qualquer esquina, os olhos se fecharam. Através das águas dos mares, entre imensuráveis e belas praias, através de densas florestas, chegando às místicas montanhas, são lugares onde se guardam segredos terríveis que através do tempo e com esforços diversos, foram mantidos ocultos nas sombras – toda a humanidade influenciada a crer que não passavam contos senis. A descrença é uma arma poderosa.

 Brasil, estado do Espírito Santo, a cidade de Guarapari afaga na direita do imponente oceano atlântico. Num cais antigo e olvidado dos bons tempos, parte desses mistérios pousam suas reflexões, entre alguns barcos ancorados há um homem velho que carrega as marcas sofridas da idade, olhos verdes profundos e cansados, cabelos grisalhos, o queixo coberto por pelos finos de uma barba suja. Está sentado numa cadeira de praia e com uma garrafa térmica do lado, paciente a esperar por alguém. A vida de cada pessoa é como um relógio antigo, não importa como esteja, parece que não funciona, mas não deixa de contar cada segundo. É uma tarde tranquila.

Os pensamentos sossegados do velho homem são quebrados por dois garotos desajeitados e barulhentos, carregam tantas coisas nas mãos que não podiam mexer os dedinhos magros, porem há determinação em seus olhos, algo difícil de ver nos jovens de hoje fascinados pela modernidade. Eles caminham até o fim do cais onde não há barcos e tinham uma vista limpa do mar e do horizonte distante. Ao largar toda a bagaceira, respiram o ar puro que viaja na forma de uma leve brisa. Eles estavam preparados, uma vez que trouxeram uma boa coleção que ia de linhas com anzóis a uma Flagelante redes de pesca, há um tubo de cola e um pedaço de carne seca, podia ver também alguns rojões, mas entre tantas coisas avulsas, uma varinha de bambu toda trabalha a mão que o menor dos garotos levava como a um troféu, coloca com todo carinho sobre o cais. Os garotos ficam parados, olhar distante.

- Será que vamos conseguir? – O menor dos dois, com um gesto suplicante perguntou ao outro.

- É claro que vamos! Estamos usando tudo que seu pai dizia que usou. Não tem como algo dar errado. Com isso nós vamos provar que ele não é mentiroso! – O garoto que é maior na estatura, porém os dois têm a mesma idade, por se confiante si, respondeu firme. Seu amigo abriu um sorriso que quase não cabia no rosto.

Os dois preparam seus instrumentos conforme suas ideias e se divertiam com isso – triste é dizer que não importa o que vá fazer, sempre terá alguém para atrapalhar. Um grupo de moleques arruaceiros, cinco no total, eles se aproximam sorrateiros e maliciosos. – Não falei que os dois vinham para cá! – Um deles alardeou.

- Nunca vi duas antas tão atrapalhadas! –Falou o maior do grupo, claramente mais velho, ele é o líder que todos temem. – Não bastava apresentar aquele trabalho ridículo hoje na classe. Vocês realmente acreditam nas histórias que o pai idiota e mentiroso dele contava.

- Olha esse tanto de coisa inútil, sem dúvida que querem provar que era tudo verdade e estão tentando pegar uma sereia. – Outro dos moleques comentou.

- O que vocês dois trazem dentro da cabeça? Não acredito que se deixam levar por mentiras tão vagabundas! – O líder é aquele típico garoto que já repetiu de ano algumas vezes e gosta de justificar sua vida fazendo com que outras pessoas se sintam pior que si mesmo, ele late raivoso, espanca a dupla com palavras maldosas e chuta forte a varinha de pesca de bambu, que acaba caindo na água. – Sereias não existem!

 Os dois amigos estão recuados no limite do cais. O maior dos dois enfurecido, determinado a tomar uma atitude contra o grupinho de garotos que provocavam. – Vocês não conheceram o pai dele, não podem falar assim!

O seu amigo segurou em seu braço. – Não faça nada, eles têm razão. Meu pai só era um idiota mentiroso! – O garoto menor estava de cabeça baixa, a tristeza que cai sobre ele é tão pesada que capaz de incomodar até os seus agressores.

- Meu pai chega bêbado em casa quase todos os dias, agride minha mãe que trabalhou o dia inteiro para manter a casa limpa e me chama de bosta inútil, depois dorme como se nada tivesse acontecido. Quanto se aprender que nesse mundo só existe a realidade sufocante e sem graça, menos vai sofrer por motivos alheios. – Disse o líder dos demais.

- Já chega gente, não quero ficar mais aqui! – Um dos moleques se sentiu mal com o rumo que a situação adotou.

O grupo decide ir embora, não restava mais nada já que eles jogaram lama nos planos dos dois garotos caçadores de sereias, perdeu toda graça, os moleques recuam pelo cais, quando passavam próximo do velho homem que até então observava em silêncio, ainda comentavam sobre o que fizeram. – Vocês não viram como ele ficou arrasado?

- Eles mereceram. É um trouxa sonhador e o outro um idiota como o pai!  Vamos para o campo jogar bola! – Murmurou o líder. O grupo foi embora.

Os dois garotos ficaram parados na beira do cais, olhando a varinha de pesca se afastar levada pela a correnteza. – Não podíamos deixar irem embora assim. Aquela besta peluda tem que pular na água e pegá-la de volta, é o que merece por ter feito isso!

- Apenas esqueça! – O pobre menino está sobre uma manta de tristeza muito densa e não podia fazer nada, além de ignorar tudo.

- Isso não está certo!

- Apenas esqueça!

- Mas aquela é a vara da sorte do seu pai!

- Você não me entendeu Gustavo? – Gritou o garoto. – Nada importa mais, as histórias mentirosas dele ou o que ele gostava. Droga, afinal ele era meu pai, não é para você se importar tanto. Apenas esqueça!

Se criou silêncio, longo e corrosivo. A vara de pesca foi levada pela correnteza do mar. Os dois juntam o resto de suas coisas. – Desculpa por te gritado com você!

- Ele não era meu pai, ainda sim gostava de suas histórias! Mas não estou chateado com você, tudo bem, eu entendo que você está passando por um momento muito difícil, pode contar comigo. Vamos leva tudo isso de volta para a sua casa e depois a gente pode ir para a minha, mamãe vai fazer lasanha para o almoço e disse que você poderia ir se quiser.

- Obrigado, mas vou ficar em casa, quero ficar sozinho, não estou muito legal.

- Eu não vou desistir, até sua casa tem chão, vou te convencer, sabe que a comida da minha mãe é muito gostosa! – Os dois amigos chegaram alegres e cheios de vida. Eles estão voltando para casa, tristes e acabados, não é fácil confrontar a realidade; Rodrigo em especial como se voltasse de um enterro, o enterro de sua esperança.

Os dois garotos levemente distraídos com seu pensamentos caminhavam devagar pelo cais.

- Ei... Meninos! Sereias são muito espertas, traquinas e grandes nadadoras, para o pai de vocês dois consegui pegar uma com essa variedade de coisas, ele é incrível! – O velho sentado na cadeira de praia comentou quando os garotos estavam pertos. – Não levem a mau, não sou uma espécie de lunático bisbilhoteiro ou coisa parecida, mas eu estava dando uma boa olhada em toda movimentação. Esperar por alguém, ainda mais se tiver severamente atrasado, pode ser tanto monótono. É bom quando tem algo de interessante para nos distrair. Chamo-me Atlas... É um nome muito estranho, eu sei. A homenagem da minha avó a uma cidade especial!

- Meu nome é Gustavo! – Disse o maior dos dois estufando e batendo com o dedo polegar no próprio peito. Depois apontou para o garoto menor e que alardeava toda sua indignação. – Ele se chama Rodrigo! Não era meu pai. Era o dele!

- Meu pai só era um idiota mentiroso que não dava valor a sua própria vida! – Rodrigo evitava olhar diretamente para o velho, as palavras passavam por sua garganta como agulhas, machucando a carne.

- O que aconteceu com seu pai? – O velho Atlas perguntou.

- O pai dele era pescador! – Gustavo puxou as rédeas da conversa para si. – Na grande tempestade de dois messes atrás, estava no mar, um companheiro foi jogado na água por ondas enormes. O pai dele pulou na água para salvar o amigo, conseguiu o trazer de lado ao barco, até ajudou o amigo a subir primeiro e na vez dele outra onda grande o jogou contra o barco. Disseram que ele bateu a cabeça, ninguém pôde fazer nada, desmaiado foi levado rápido pela correnteza e se afogou.

- Eu me lembro desse caso, passou constantemente na televisão. O reporte narrou que nos dias de hoje ainda se pode acreditar em heróis. – Disse o velho Atlas surpreso.

- Meu pai não era herói. Não tinha que pular na água para salvar ninguém! – Rodrigo permanecia de cabeça baixa.

- Algumas vezes, coragem vai muito além do que deve ou não fazer, é uma questão de instinto. Lembro bem de tudo, suspenderam as busca sem terem encontrado o corpo. Então seu pai pode estar vivo em algum lugar. Milagres podem acontecer!

- Milagres não têm explicação e por isso não existem! – Rodrigo está com nojo do sentido de esperança, qualquer menção a esse substantivo o irrita.

- Realmente não existe nada nesse mundo que explique os milagres, a fé ou qualquer baboseira supersticiosa. Disso sei muito bem, aprendi-o durante minha vida. Porém, gosto de acreditar, por mais inexplicáveis ou improváveis, tudo pode acontecer!

- Todas as vezes que as pessoas me diziam exatamente isso, meu coração se enchia de esperança e eu acreditava em tudo. Eu só tinha que acreditar que meu pai estava vivo, logo voltaria para casa. Com o passar dos dias, depois de sofrer por cada barco que voltava sem ter encontrado nada, as pessoas simplesmente mudaram o discurso. Diziam que ele teve o sepultamento no mar, como um bom marinheiro ia ser do seu agrado, como que tudo que aconteceu fosse uma coisa boa e encerraram as buscas. Acreditar em milagres, sereias ou qualquer outra lenda estúpida é como acreditar na esperança, algo desnecessário que cria um sentimento ilusório de que tudo está bem, mas que no fim só vai restar a dor! – Rodrigo vomitava aquelas palavras com tanto sofrimento, que é evidente que mente. Ele acredita com todo o coração que o pai está vivo, que cada história que contava sobre suas aventuras no mar era verdade. Apenas está cansado da decepção. Levantou a cabeça e encarou o velho diretamente pela primeira vez, mas o que o chamou a atenção foi um cordão em volta do pescoço dele com um grande dente pendurado. Lembrou que o pai explicou-lhe que era comum antigos marinheiros usarem o dente de um tubarão que mataram com as próprias mãos para dar sorte no mar. – Isso no seu pescoço é o dente de um tubarão?

- Deste tamanho, devia ser enorme, como o conseguiu? – Perguntou Gustavo após ouvir emocionado tudo que o amigo dizia, também atraído pelo longo, brando e pontiagudo dente.

- Eu ganhei do meu avô há muito tempo atrás.  – O velho pegou o dente e começou a esfregar entre os dedos, se emocionou por lembrar. – Não é o dente de um tubarão. É de algo que come tubarão, na verdade, come tudo que encontrar pela frente, mas seu prato preferido são pessoas!

- Pessoas... É de qual tipo de bicho? – Gustavo metediços não se conteve.

- Do tipo assustado e cruel, se esconde nos buracos escuros dos oceanos em todo mundo, espreitando os inocentes e caçando sempre. Não deveria existir nesse mundo! – O velho apertou o dente em sua mão. – É uma lenda antiga!

- Eu sabia que ia ter uma lenda envolvida nisso. –Rodrigo indignado. – Isso não passa de um dente de tubarão que você pode encontrar em qualquer peixaria.

- Escute garoto! – O velho Atlas o encarou, os olhos fixos como a ponta afiada de uma adaga. – É por causa dessas lendas que o mundo é o que é hoje, o que hoje são apenas historinhas sem importância, no passado foram batalhas épicas entre vida e morte. Você pode ter seu motivo para não acreditar, mas não vou deixar você desrespeitar tantas memórias. Se realmente quer saber de onde vem esse dente vai ter que ouvir tudo que tenho para contar, cada palavra deste o início, caso contrário, pode ir embora. Se resolver escutar, eu garanto que no fim você irá ver o mundo de outra forma!

- Vamos escutar a história que ele tem para contar! – Gustavo sempre gostou de contos e fábulas, tudo capaz de prender sua atenção, se divertia quando dormia na casa do Rodrigo e o pai dele contava sobre suas aventuras no mar. Pegou no braço do amigo que ainda estava com a cara fechada, os dois se sentaram próximo da cadeira do velho.

— Muito bem! Não só nas lendas, mas em tudo que for tentar fazer, ver ou tocar, aprender ou entender, o fator que vai determinar se é verdade ou não, é o quanto realmente estar disposto a ir até o fim, o quanto acreditar ser capaz de fazer. Eu completei nesse ano sessenta primaveras. Nunca contei essa história para ninguém e sinto tristeza por isso, talvez pelo fim que se aproxima e queira que ela continue sendo contada, mesmo quando eu não estiver mais no mundo dos homens. Minha própria história faz parte das lendas como uma prova que é real. Quando se é novo tudo parece ser muito maior do que realmente é, por isso não se apressem em perder a inocência! – O Velho Atlas começa uma longa viagem, da tampa da garrafa térmica ele faz um corpo, despeja um chá quente e com um suave aroma. Toma um gole. – É a história de uma sereia, de um rapaz inseguro e solitário, e de um amor capaz de desafiar até mesmo a razão. Tudo aconteceu num lugar chamado de Meaípe!



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