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História A Sereia de Meaípe... Onde nascem as lendas! - IV


Escrita por: VncentRonan

Capítulo 5 - IV


Depois de dias de viagem longos e cansativos, cruzando cidades sobre os trilhos numa incansável locomotiva chegara à cidade de Vitória, capital do singelo estado do Espirito Santo.  Não teve tempo para conhecer nada, seguiu numa dura viagem montado no lombo de um cavalo, horas mais tarde chegou à cidade de Guarapari que ficava a 60 KM de Vitória. Cruzou a cidade a pé, teve que pagar por uma balsa, já não restava quase nada de dinheiro e por isso teria que continuar sobres seus passos numa estafada estrada de terra. Sol estava quente, quente demais, quase se dava para ouvir a restinga envolta clamar por água, caminhou longa distância, quase 12 KM pela estrada até que conseguiu chegar à pequena vila de pescadores chamada Meaípe. Durante a viagem, os poucos momento que pode se concentrar e pensar sobre sua vida sem ser interrompido bruscamente, o garoto se perguntou sobre a justiça desse mundo. Dentro do vagão do trem, balançando no lombo do cavalo ou suando como porco sobre o sol nas duras caminhadas, por onde passou só enxergou pobreza e imundície. Algumas poucas pessoas ricas que se gabavam perante a maioria miserável. Entretanto cada uma delas, todas trazem as mesmas tristezas, tanto ricos quando os pobres lhes falta algo – pensara que fosse melhor ter sido enterrado junto com seus pais naquela cova apertada, porque se ver só nesse mundo, não sabe de nada e não tem razão para enfrentar tudo que ainda virá a sua frente.

Inácio se encontra meio a uma rua de barro vermelho que serpenteava ao longo de sua vista, apertada por casas pequenas e rústicas, bancas onde frutas e verduras estavam expostas. Muitas pessoas de aparências duras e cansadas, com a pele queimadas pelo sol forte, herança dos que logo cedo tem que lidar com o mar para sobreviver, todos andavam centradas sem olhar para os lados. Homens grandes sentados pelos cantos bebendo cachaça espiando como gatos selvagens aquele garoto franzino carregando uma pequena mala, caminhando tímido sobre aquele barro vermelho como sangue. Lugar ameaçador por todos os lados. Mais havia no ar algo muito bom, uma brisa refrescante que tocava seu rosto, Inácio não conseguia identificar, nunca sentiu antes, só sabia que traz uma sensação muita boa.

- Desculpe senhor! – Um gordo peludo tromba com Inácio. – Senhor eu preciso chegar a esse lugar! – Inácio perguntou ao homem mostrando o papel onde estava anotado o endereço da sua tia-avó.

- Não seja louco moleque! – O homem gordo surpreso, com um lenço limpa o suor da testa, apontou para um cartaz colado na parede. – Você não sabe onde quer colocar os pés. Lá não é seguro, é a casa de uma velha índia que costuma comer meninos magros como você na sopa, com cabeça de peixes e legumes! – O homem gordo deu um empurrão em Inácio para sair de sua frente e seguiu seu caminho torcendo o lenço gotejando o caminho com gotas de seu suor.

Receoso Inácio foi até o cartaz e o examinou detalhadamente. Havia o desenho de um uma jovem muito bonita e delicada, representava como os botões de rosas novos, assim candidatos a símbolos de belezas tinham que parecer, mas o destaque era a grande palavra abaixo do desenho, “DESAPARECIDA”. É o desenho de uma jovem que mora na localidade, no quinto mês de uma gravidez que ia tudo bem, até que desapareceu sem deixar rastros ao visitar a parteira. A parteira foi considerada a principal suspeita, mas nada foi feito contra ela, pois não tiveram provas suficientes. Porém num lugar adstrito de pessoas ignorantes e supersticiosas, apenas suspeitas é suficiente para arruinar a vida de uma pessoa.

Inácio consegue chegar à praia, ele se sente maravilhado com a grandiosidade do mar e de como refletia a cor azul do céu, algo que só soube através das descrições de vagas histórias contadas por sua mãe ao longo de sua infância, a visão é muito mais grandiosa do que poderia imaginar. É surpreendente existir aquela quantidade absurda de água na sua frente, pois sua noção de volume vinha de minguados riachos que conseguia pular com um pulo, as ondas que parecem vivas se chocando frequentes na areia. A brisa refrescante que sentira quando chegou à vila, mas agora vinda direto do mar sem obstáculos, se tornara um vento leve e agradável. Tirou os calçados e pulou na areia branca, sentiu entre os pés os grãos minúsculos e quentes.  Uma emoção cresceu dentro dele e por um momento uma vontade de correr o domou – ele correu até suas pernas não aguentarem mais. Provou um pouco da água, entendera ali que realmente é salgada. Pássaros brancos chamados de gaivotas voavam sincronizados amparados pelo vento, mas inesperadamente mergulhavam direto na água e logo depois voltavam com um peixe se debatendo em seus bicos.  Junto com os pássaros, barcos de pesca pintavam o horizonte – os pescadores chamavam as gaivotas de pequenos ladrões de asas, elas ligeiramente roubavam os peixes que viam nas redes. O garoto se apaixonou pelo mar.

Entre tantos boatos e dizeres ruins que escutou, Inácio descobriu que a casa da sua tia-avó se localiza depois do fim da praia de Meaípe, um pouco mais além, então começara outra longa caminhada, já foram tantas naquele dia, seu corpo exausto não aquentava, mas continuou empurrado por uma determinação latente camuflada em seu coração. Cruzou um rio que desaguava no mar – então é aqui que todos os rios terminam; pensou.  Depois de alguns minutos viandado no seu destino, atravessar por algumas formações rochosas, chegara ao pé de um morro alto onde há uma cabana simples de madeira coberta por folhas de coqueiros escurecidas pelo tempo. Há muitas palmeiras espalhadas por toda parte, parece um jardim suspenso. Em nenhum momento pensou sobre tudo que ouvira na vila, sobre a mulher que mora naquela cabana, não conseguia esquecer o sofrimento que ele enfrentou junto dos pais por causa de pessoas parecidas com aquelas tantas que cruzou o dia todo – o preconceito muda de lugar, mas ainda continua o mesmo, maldoso como sempre. Decidiu desconhecer e não pensar no assunto.

Inácio se aproxima reservado de seus temores. Na porta de madeira corroída pelos ventos que arremessavam infinitamente contra ela grãos de areia da praia, deu três batidas sem muita força. De dentro ouve-se bem o velho assoalho também de madeira gemer com os passos, um ruído grave e pulsante. A porta se abre, mas não completamente, na abertura surge uma velha índia – ela tinha por volta de setenta anos, a pele escura e engelhada, longos cabelos negros como a cor dos olhos, de baixa estatura, quase do mesmo tamanho da criança na sua frente, exalava um cheiro forte de tabaco.

- Ela é só outra pobre alma maltratada pela vida como você...

A índia lançou um olhar ameaçador e gelado. Ela se sente como se tivesse um verme por dentro á corroendo, dor silenciosa e nociva causada pelas acusações de ter feito mal a moça grávida que desaparecera inexplicavelmente. É vítima de injúrias e agressões.  Chamada de feiticeira que usara a jovem num ritual pagão. Antigas feridas voltaram a sangrar. É o preconceito por ser uma descendente indígena, junto com toda violência e perseguição que seus ancestrais sofreram. Ela aprendera ainda jovem que tem que encarar as pessoas como se fossem animais ferozes capazes de tudo, sempre com um pé atrás e pronta para revidar a altura, nesses últimos dias tornou-se hábil a realizar essa prática sumária de defesa desmedidamente, e o fez contra o garoto tímido na frente de sua porta. Porém na expressão do garoto não há agressão ou preconceito, só há os desejos de alguém faminto e muito cansado.

- Qual é o seu nome criança? – A velha índia perguntou firme.

- Inácio! Sou o...

- Sei quem você é criança, recebi a carta há uma semana. – A velha índia abriu a porta por completo. – Minha irmã deixou esta terra ainda muito jovem com sua mãe nos braços, lamento saber que estão todos mortos. Apesar que nesse mundo implacável já esperava ser a última de minha linhagem, até me surpreendo por saber de sua mãe que estava viva e guardar meu endereço. Meu nome é Xamutã (na língua indígena significa “quati”). A partir de hoje você vai morar comigo em minha casa, é uma moradia muito simples, mas você é bem-vindo!  Entre que vou lhe dar algo para comer, só não garanto que seja gostoso.

Inácio adentrou em silêncio, não tinha o que dizer e não a encarou, apenas passou por ela de cabeça baixa.

Xamutã passou boa parte de sua vida sozinha, nunca se casou e para sua tristeza não teve filhos. Seu povo originalmente pertenceu ao longo de vastas terras banhadas pelo mar, quando começaram a se espalhar pelo interior pela perseguição portuguesa, seus parentes vieram parar nessa região em especial, aonde veio nascer anos depois. Com o passar do tempo sua família morreu ou seguiu por caminhos diferentes, junto a uma série de acontecimentos e, consequentemente, Xamutã permaneceu ali e acabou se conciliando com a solidão, marido dedicado e fiel. A velha índia ama o mar, todo seu mistério e magia. Veio a oportunidade de seguir uma vida diferente, ela preferiu permanecer na terra onde nasceu. Aproveitou-se que aprendera da avó a arte de ser parteira, como a medicina na época era uma ciência cara, pode se sustentar ajudando os filhos dos brancos a virem a esse mundo, na ironia de que os brancos que causaram a ruína de seu povo. De certa forma a chegada do garoto pode ser benéfica para ambos.

Uma cabana simples de apenas um cômodo. O assoalho de madeira na sua maioria com tábuas soltas ou rachadas, pouquíssimos móveis, vários vasos de plantas espalhados, algumas com um odor muito forte, são as matérias primas dos remédios caseiros. No fundo da cabana há uma extensão do telhado onde se construiu um fogão a lenha. Uma vara longa de bambu hasteada sobre o sol onde carcaças de peixe e entranhas de animais secam banhadas na salmoura – basicamente água do mar. Um pouco mais distante um espaço cercado reservado para a higiene pessoal, onde com um balde geio de água pode se banhar, e não muito longe uma casinha para as necessidades fisiológicas.

Inácio não conseguia se sentir à vontade, tudo aconteceu muito rápido, uma brusca mudança de vida, no entanto, enquanto comia uma polenta salgada com pedaços de miúdos de peixe que sua tia-avó preparou para ele – naquele momento, devido um grande buraco no estomago escavado pela fome, já que comera quase nada deste que deixou a cidade onde nasceu, não conseguiu lembrar de nada tão gostoso como aquela polenta. Seu coração aos poucos aceitou sua situação, não importava o quanto quisesse ou reclamasse, nada será o mesmo que na sua antiga casa.

No canto da cabana, do lado de uma janela, Xamutã esticou uma rede, dessas trançadas a mão, lugar onde o garoto irá dormir. Depois, com bonança, se conheceram melhor com um continua e amigável conversa que se estendeu por horas.

Já na noite daquele sufocante e pesado dia, Inácio deitado na rede tentando puxar o sono pelo calcanhar, mas Zé pestana reluta a lhe fazer um agrado. Através da janela, tem uma vista ampla do mar, o vai e vem constante das ondas e o som áspero que produzem quando se chocam contra a areia. Uma grande extensão de cor negra refletindo-se a escuridão do céu noturno.  Com o movimento das marés, quando as nuvens não atrapalhavam se refletia também as luzes das estrelas, parecia pontos de velas dançando no balanço das águas. Sem perceber uma pressão começou a crescer em seu peito, sentiu seu coração bater forte, fica difícil de respirar, agarrado por uma grande vontade de chorar, e chorou muito, tanto que lágrimas escorressem em seu rosto como frágeis rios ondeados nas maçãs do rosto. Seus pulmões se contraem frenéticos na forma de soluços involuntários até sobrar o som agudo do desespero – até aquele momento Inácio não havia chorado uma única vez, não que não quisesse ou estivesse se fazendo de durão, apenas não conseguiu chorar. Diante do mar a porta de seus sentimentos fora aberta – lembrara que sua mãe comentou sobre a vontade de voltar ao litoral, de como contava saudosa sobre o deslumbre de brincar nas praias ao seu pequeno filho. Toda sua dor emergiu das profundezas do seu ser onde algo poderoso a conteve, de uma só vez em forma de gemidos e lágrimas, ele chorou desinibido. No outro canto da casa, sentada numa cadeira e fumando um cigarro de palha, sua tia-avó observa tudo em silêncio.

Com algumas dificuldades, no entanto deveras rápido Inácio se habituou a sua nova vida. Garoto forte, sempre queria ajudar de alguma forma, então auxiliava sua tia avó no que ela viesse a precisar. Xamutã compartilhava todo o seu conhecimento ao dedicado assistente, sobre a natureza e a cultura de seu povo, também tentava ensinar o pouco que conhecia da educação dos brancos. Os dois formavam uma boa dupla que se ajudavam mutuamente, cicatrizando as feridas no coração de cada um. Verdade que as calunias sobre o desaparecimento da moça grávida houveram de ser ruins aos negócios, diminuíram drasticamente a procura pelos serviços de parteira ou medicina caseira da velha índia, porém, ainda tinha pessoas que não acreditavam nos boatos ou mesmo aquelas que não tinham outra escolha, já que médicos estudados custavam muitas moedas. Alguns messes depois, outra pessoa veio a desaparecer, dessa vez uma menina, não tinha mais que nove anos, não tinha nenhuma espécie de contado com Xamutã, morava em outra região da cidade de Guarapari distante de Meaípe, mas as suspeitas das pessoas em volta voltaram cair todas sobre ela. Não há provas do seu envolvimento, também não há nada que prove que é inocente, uma complexa investigação de caratê das despreparadas autoridades locais só levou a mais dúvidas e suspeitas. Se há um criminoso único ligado aos dois casos, não se sabe, de toda forma se esses desaparecimentos não forem solucionados a tendência é cada vez a situação piorar.

Se passaram sete meses. Num dia tranquilo de sol, enquanto voltava para casa com embrulhos da venda, Inácio se viu cercado por vários garotos furiosos, todos maiores e mais fortes que ele.

- Passeando seu cachorrinho da velha bruxa, ou deve ter ido buscar os ossos para mastigar a noite? – Um dos garotos indagou sem frescura.

Inácio não o encarou, continuou a andar. O mesmo garoto bate firme nos embrulhos e após o empurrar, o papel em volta das compras se rasgou e tudo caiu pelo chão. – Sempre se sentindo melhor que todo mundo. Que porcaria você carrega ai?

Inácio ignora tudo, continua a andar, passa sobre os ovos, pedaços de carne e trigo esparramados pelo chão, tudo que estava cuidadosamente carregando nos embrulhos. Outro garoto se irrita com a reação indiferente dele, agarra o braço e o soca forte no rosto. – Você não reage seu covarde, como vamos te surrar se você não reagir?

Inácio cai no chão, sangue escorre pelo seu nariz, mas não sentia dor, sentia outra coisa mais aguda e profunda. O mesmo garoto lhe chutou violentamente nas costelas. Inácio rolou pelo chão de terra vermelha, poeira se levantou, ficou de cabeça abaixada e não olhou para nenhum deles.

- Não vale nem apena surrar essa coisa inútil, é um cão covarde! – Outro garoto proferiu dando meia volta e indo embora, levando todos juntos com ele.

O mesmo que o agrediu ficou por último, deu uma cusparada no Inácio caído no chão. – Seu lixo, você não é ninguém, não gostamos desse seu jeito arrogante, suma dessa vila e leve aquela velha junto! – Ele se juntou ao outros garotos e todos foram embora.

- Você é capaz de acabar com a vida inútil desses tolos pretensiosos...

Depois de alguns minutos olhando apenas a terra vermelho do chão, Inácio se levantou, sacudiu a poeira em suas roupas, limpou um pouco do sangue que escoria pelo nariz com a camisa – se perguntou se merecia aquilo ou se era arrogante. Respirou fundo, não se importou com mais nada, apenas continuou seu caminho, deixando as agressões, as compras e tudo que estava sentindo para trás, como aprendeu a fazer durantes os tempos difíceis de sua vida, ignorou tudo – tinha dentro dele algo que gritava para lutar, só se conteve a não reagir, a situação de sua tia-avó já é complicada e tudo que ela não precisa e de um afilhado abichando briga com os garotos da vila.

No entardecer daquele dia, Inácio estava sentado no alto do morro atrás da casa da sua tia avó, debaixo de uma árvore frondosa de Pau Brasil. Lugar de uma vista privilegiada do oceano. Desde que o garoto descobrira aquele local, ele gostava de se sentar ali no entardecer para observar as sombras recaírem sobre o horizonte enquanto o sol desvanecia, se escondendo por trás das montanhas no final de cada dia, algo que lhe trazia paz enquanto pensa na vida.

- Sabia que ia te encontrar aqui criança. Também gosto de vim para cá pensar, é um lugar que traz paz aos pensamentos sabulosos! – Xamutã se aproximava devagar, admirada com o estado estapeado do garoto, o rosto inchado com marca de sangue, as roupas imundas. – O que aconteceu com você?

- Nada! – Inácio responde firme.

- Por essas terras o homem branco derramou o sangue do nosso povo, quiçá por isso o barro seja tão vermelho. – Xamutã se sentou do lado do garoto. – Foram perseguidos e tratados como animais, eles sofreram mais que poderiam aguentar e tiveram que abandonar seus lares, muitos morreram. Eu carrego essas feridas dentro de mim, vi minha vó chorar muitas vezes asilada pelos cantos. Eu aguento porque ainda respiro e bebo água, sinto o cheiro das flores e fumo meu tabaco. Não importa o sofrimento que irá viver. Quem pode continuar vivo sempre terá o futuro como consolação!

- A vida sempre será injusta? – Inácio contempla as feições de sua tia avó.

- A vida não é injusta! A vida é uma mulher prendada e insensível, ela não desperdiça sorrisos para os miseráveis de corpo e espírito! – Xamutã seduzida com o horizonte ao longe.

- Então eu sou um ninguém nesse mundo?

- Isso só você poderá afirmar, no fim de sua vida. Não sei de tudo que você passou ao longo de sua história, se foi toda sofrida ou teve lampejos de alegria. Ainda assim, você chegou aqui vivo. Se alegras criança, ainda pode encontrar sua justiça. Cada ser vivo que já andou ou respirou em toda terra, carrega uma parte do grande Yamandú (considerado o deus supremo na mitologia tupi-guarani) em seus espíritos, alguns poucos foram tocados pelos próprios dedos de Yamandú fazendo desses especiais. Todos tem a vitória repousando em seus corações, só precisam da razão verdadeira para vencer!

Inácio não entendeu bem as palavras da sua tia avó, mas se sentiu bem e afagado com elas, não carecia de perguntas ou outras coisas mais, apenas se serenou. – Desculpe, mas eu perdi todas as compras que me pediu para buscar no armazém.

- Não se preocupe, dinheiro muito difícil de conseguir... De alguma forma amanhã vamos dar um jeito.

Os dois ficaram ali, sentados por um tempo, apenas sendo companheiros um ao outro, pacientes como a noite que caia devagar.

- Minha avó contava, bem antes dos brancos invadirem nossas terras, seres mágicos nadavam por toda esses mares. – Xamutã comentou enquanto enrolava um cigarro com tabaco em folha seca de bananeira.

- Seres mágicos? – Inácio indagou.

- Sim! Os filhos e filhas da mãe-d’água, homens e mulheres, metade peixe e metade gente, sereias! As sereias nadavam livres em nossos mares, mas a chegada do homem branco com sua lógica e descrença, todas elas desapareceram. Eu acredito que exista um lugar só delas, já que aqui ficou perigoso. O homem branco é um bicho agressivo. Todas as sereias foram para esse mar dos sonhos, onde estão seguras e podem nadar livres.

- As histórias que ouvir sobre o mar também falavam sobre as sereias. Criaturas cruéis que arrastam os marinheiros para as profundezas, depois que morrem afogados, as sereias os devoram. Mas é só um mito ridículo, não existe!

- Se você acreditar de verdade, todas elas vão existir outra vez mais! Têm várias lendas diferentes sobre as sereias. Eu gosto de uma que minha avó contava, é uma antiga história de Meaípe...

” Fala sobre um jovem marujo estrangeiro, que depois de naufragar na costa de Guarapari foi salvo por uma linda sereia, os dois se apaixonaram perdidamente. O amor deles era proibido pela mãe-d’água. Então o jovem marujo teve o duro castigo de ser transformar numa rocha no meio do mar, uma prisão eterna. Sua amada arrisca tudo e desafia a mãe-d’água, procura um curandeiro indígena e faz um trato, seu sangue de sereia por uma poção capaz de livrar o jovem da sua prisão. Porém, a poção não funciona. Irritada por ser enganada, a sereia bebe o restante da poção, ela se transforma numa humana. Mãe-d’água furiosa sobe a superfície montada no seu cavalo para castigar a jovem sereia que agora era uma humana. O cavalo tropeça, a mãe-d’água cai sobre a rocha que é a prisão do jovem marujo. A rocha se quebra e o rapaz é libertado. Mãe-d’água toma seu lugar presa na rocha. Agora a sereia como uma humana, se casou com o seu amado, os dois viveram felizes.”


Notas Finais


Espero que gostem amigos!


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