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História A Sereia - Capitulo-5


Escrita por: aerinac

Notas do Autor


OI gente,Obrigada a todos que estão lendo e aos que favoritaram.
Então vai um capitulo aii.

Boa leitura.

Capítulo 5 - Capitulo-5


Fanfic / Fanfiction A Sereia - Capitulo-5

Tive certeza de que ignorar
aquele rapaz magoaria mais
a mim do que a ele.

 

CAROLINA:

ABRACEI A BEBÊ MAIS FORTE, tentando fazê-la parar de chorar.
— Shh... — acalentei, na esperança de que a minha voz a confortasse de alguma maneira em vez de trazer mais dor. — Está tudo bem... — sussurrei enquanto ela se debatia em meus braços.
As torrentes de lágrimas dos olhos da bebê se tornaram mais densas e rápidas, até que água começou a brotar de todo o seu corpo. Então seu choro se transformou num engasgo quando a água inundou sua boca.
Eu tremia horrorizada ao vê-la se afogar de dentro para fora.
Acordei num sobressalto, esquecendo que estava no fundo do mar e com a sensação de que também estava me afogando. Gritei, sem conseguir me conter.
— Você está segura, Carolina! Está segura!
Segurei a garganta e o peito, aterrorizada até me dar conta de quem estava falando comigo e que o que Ela dizia era verdade.
— Desculpa. Tive um pesadelo.
— Eu sei.
Suspirei. Claro que Ela sabia.
— Vá ficar com as suas irmãs. Por mais que eu ame sua companhia, você precisa ir para a terra firme. Precisa da luz do sol.
Fiz que sim com a cabeça.
— Você tem razão. Venho te visitar de novo logo.
Tomei um impulso em direção à superfície, tentando disfarçar o tamanho do meu desejo de me livrar do abraço dEla agora. Era difícil conciliar isso com o desespero para me esconder nEla que tinha sentido poucas horas antes.
Subi no píer flutuante bem a tempo de ver o sol despontar através das nuvens.
Permaneci ali, tentando compreender meus sentimentos. Medo, preocupação, esperança, compaixão... tanta coisa se passava dentro de mim que me sentia paralisada. Katja e Karol queriam me tirar da zona de conforto. E eu sentia que nada disso aconteceria enquanto não conseguisse desfazer o caos que carregava dentro de mim.
Subi a escada e voltei para dentro de casa. Katja estava lá, ainda com o vestidinho preto; os sapatos estavam jogados de qualquer jeito perto da porta. Ela estava às gargalhadas com Karol, bebendo um café que comprou no caminho, ainda elétrica por causa da noite anterior.
Ambas me olharam quando cruzei a porta, e o ânimo de Katja desapareceu na hora.
— Por favor, não me diga que entrou na água com esse vestido!
Olhei para as gotículas que formavam uma poça no chão.
— Hum, entrei.
— Ele só pode ser lavado a seco!
— Desculpa. Vou te dar outro.
— O que aconteceu? — Karol perguntou, enxergando meu sofrimento.
— Só mais pesadelos — confessei enquanto tirava o vestido. Eu precisava vestir alguma coisa mais suave, mais quente. — Estou bem. Acho que vou deitar e ler um livro.
— Estamos aqui se quiser conversar — =Karol se dispôs.
— Obrigada. Vou ficar bem.
Fui logo para o quarto; não queria ouvir Katja  reviver sua última conquista. Eu não tinha o menor desejo de voltar para a água, mas queria lavar o cheiro de sal da pele. O máximo possível, pelo menos.
— Por que ela se dá ao trabalho de dormir? — Ouvi Katja perguntar em voz baixa. — Eu achava que ela teria desistido a esta altura. Não precisamos disso.
Esperei a resposta de Karol.
— Ela deve ter algum sonho maravilhoso de vez em quando, que faça os ruins valerem a pena.
Fechei a porta, pendurei o vestido de Katja para fora da janela e deixei o jato do chuveiro abafar tudo ao meu redor.

Folheei minhas cadernetas até encontrar. Por fim, na página de um naufrágio que talvez já tivesse uns doze anos, achei o rosto da bebê do meu sonho. A Água me garantiu que eu não lembraria de nada disso no futuro, então por que aqueles rostos ainda permaneciam na minha memória?Katjah diria que é porque insisto em documentar tudo, mas eu sabia que não. Pelo menos não só isso. Tinha estabelecido uma regra para mim mesma de não olhar para o rosto das pessoas durante os naufrágios, mas a quebrei mais vezes do que gostaria de admitir. Era difícil ignorar as pessoas pedindo para que as salvássemos. Às vezes eu via alguém e depois jamais encontrava um registro público. Nenhum obituário ou blog ou qualquer outra coisa. Conhecia aqueles rostos tão bem quanto os dos meus recortes.
Às vezes eu me perguntava se tinha algum defeito, e isso me preocupava tanto quanto nosso próximo canto. Se eu era capaz de lembrar das dezenas de milhares de pessoas que tinha matado, como conseguiria sobreviver quando acabasse minha vida de sereia?
Observei a foto da bebê, uma garotinha chamada Dora, e chorei pela vida que ela nunca teve a chance de viver.
Embora eu soubesse que o nosso próximo canto só seria dali a quase seis meses, lamentava como se fosse acontecer no dia seguinte. Tinha a sensação de que a minha própria alma se desfazia cada vez que precisávamos cantar. Já tinham se passado oitenta longos anos. Havia mais vinte pela frente. E cada dia trazia a impressão de que o fim não chegaria nunca.
                                                                                                        (...)
Na segunda-feira de manhã, saí de casa o mais rápido que pude. Peguei um dos muitos cadernos de rascunho de Karol e o enfiei na bolsa junto com alguns lápis. Tinha me arriscado a desenhar e a pintar desde que Karol voltou para casa com suas primeiras telas. Embora soubesse que jamais seria a artista que ela era, gostava da ideia de ocupar um pouco as mãos.
Segui para o campus, escolhendo as ruas mais tranquilas que pudesse encontrar, e atravessei o pátio principal perto da fonte e da biblioteca enquanto as pessoas se dirigiam para as salas de aula. Parte de mim se sentia mal por ser tão dura com Katja e Karol. Elas se sentiam bem em bares e boates. Eu me sentia bem na biblioteca. Talvez o jeito com que lidavam com as coisas não funcionasse para mim, mas isso não o invalidava.
Sentei embaixo de uma árvore e peguei o caderno com o intuito de desenhar alguns modelos de roupa que pudesse observar. Eu adorava ver como a moda mudava ao longo do tempo, e embora preferisse um estilo mais clássico, era divertido ver como uma bandana ou um modelo de sapato ou o corte de uma gola trazia de volta elementos de vinte anos antes.
Contudo, eu já tinha percebido que isso era um problema para boa parte das pessoas. Algumas estavam presas aos anos 80, fazendo coisas impensáveis com o cabelo; outras vestiam calça boca de sino quando isso já não era uma boa ideia. Talvez permanecer na época favorita fosse uma espécie de porto seguro, algo a que se agarrar quando todo o resto mudava. Ajeitei minha saia rodada e cheguei à conclusão de que estava certa.
Então, do nada, alguém sentou ao meu lado sob a sombra da árvore.
— Bom, eu estava pensando que você estudava gastronomia, mas agora imagino que estuda artes.
Era o garoto da biblioteca, Agustin.
— Eu mesmo estou bem indeciso. Você não está me julgando, está?
Abri um sorriso e fiz que não com a cabeça. Achei legal ele simplesmente começar a falar como se estivéssemos no meio de uma conversa.
— Ótimo. Andei considerando algumas opções. Tipo, economia parece um caminho inteligente a se seguir, mas sou quase tão ruim com dinheiro quanto na cozinha.
Ainda sorrindo, escrevi no canto da página: Mas não é por isso que as pessoas estudam? Para melhorar?
— É um bom argumento, mas acho que você está superestimando minhas capacidades.
Ele retribuiu o sorriso, e lembrei do quão normal ele me fizera sentir na primeira vez que nos encontramos. Mais uma vez, ele não se incomodou com o meu silêncio. E de repente percebi o que me deixava tão desconfortável nas aventuras de Katja. As pessoas que ela atraía ficavam fascinadas com as mesmas coisas que fascinavam todo mundo: nossa pele brilhante, olhos sonhadores e um ar misterioso. Mas esse garoto? Parecia enxergar mais do que isso. Me enxergava não só como uma beleza misteriosa, mas como uma garota que ele queria conhecer.
Ele não ficava me encarando. Ele conversava comigo.
— Então você não fez aquele bolo épico no fim de semana?
Fiz que não com a cabeça. Saí para dançar pela primeira vez, escrevi, contente por aquela confissão parecer tão normal.
— E?
Não é a minha praia.
— É, fui nomeado o motorista na sexta passada e, de verdade, não consigo suportar o fedor das baladas. É como se um cheiro velho de cigarro ainda estivesse grudado nas paredes apesar de não ser mais permitido fumar lá dentro — Agustin torceu o nariz de nojo. — E por mais que eu goste dos meus colegas do alojamento, não gosto tanto a ponto de achar que tudo bem limpar o vômito deles. Acho que meus dias de chofer estão oficialmente encerrados.
Fiz uma careta e balancei a cabeça. Eu compreendia bem demais a sensação de ser babá dos outros.
— Ainda tem aula hoje?
Nada!
— Que inveja. Escolhi aulas à tarde para poder dormir mais, o que foi um plano brilhante da minha parte, já que agora estou num relacionamento sério com o sono.
Eu também.
— Bom, acho que eu deixaria o relacionamento um pouco de lado se pudesse fazer mais coisas à tarde. Olha só pra você: está livre para sentar ao sol e desenhar gente que nem conhece por algum motivo bizarro. Não é incrível?
Achei graça. Sempre me achei meio bizarra. Essa foi a primeira vez que isso soou como uma coisa boa.
São as roupas!, argumentei, apontando para as páginas.
— Aham, sei. Mas não ligue para o que eu digo, só estou com inveja. Sou completamente incapaz de desenhar. A única coisa que sei desenhar é um sapo. Aprendi no primeiro ano e nunca mais esqueci. O ponto fundamental é começar com uma bola de futebol americano — ele disse, fingindo um tom de especialista. — Se você errar o começo, o resto vai ladeira abaixo.
Não sabe cozinhar. Não sabe desenhar. O que você sabe fazer?
— Excelente pergunta. Hum... Eu sei pescar. Coisa de família, tipo o meu nome péssimo. Também sei mandar mensagens de texto com frases completas. Sem dúvida isso é uma habilidade. — Ele sorriu, orgulhoso dos próprios méritos. — E, graças ao fato de a minha mãe ter participado de concursos de dança na adolescência, sei dançar lindy hop e jitterbug.
Endireitei as costas de imediato, e Agustin fez uma cara de descrença.
— Juro que se você me disser que sabe dançar jitterbug eu vou... Nem sei o que vou fazer. Talvez botar fogo em alguma coisa. Ninguém consegue dançar isso.
Apertei os lábios e fingi tirar pó dos ombros, um gesto que vi Katja fazer quando queria se gabar.
Como se estivesse aceitando um desafio, ele se desvencilhou da mochila com um movimento dos ombros, levantou e me estendeu a mão.
Eu aceitei e me posicionei na frente de Agustin, que balançava a cabeça e abria um sorriso sarcástico.
— Muito bem, vamos começar devagar. Cinco, seis, sete, oito.
Começamos com os passos básicos, entrando no ritmo na nossa cabeça. Depois de um minuto, ele foi mais ousado e me girou, me deixando na posição daqueles chutinhos rápidos de que eu tanto gostava.
Algumas pessoas que passavam por ali apontavam e riam, mas era um daqueles momentos em que eu sabia que não estavam tirando sarro, mas com uma pontinha de inveja.
Pisamos no pé do outro mais de uma vez, e depois de bater acidentalmente a cabeça no meu ombro, Agustin jogou as mãos para o alto.
— Inacreditável — ele disse, quase em tom de reclamação. — Não vejo a hora de contar para a minha mãe. Ela vai achar que é mentira. Tantos anos dançando na cozinha e me achando especial para agora encontrar uma especialista.
Voltamos a sentar sob a árvore e comecei a pegar minhas coisas. Foi um momento breve e precioso, e eu estava quase com medo de que mais um minuto com Agustin fosse quebrá-lo.
— Então você ainda não fez o bolo?
Neguei com a cabeça.
— Bom, já que você abriu mão das baladas, e eu abri mão de dirigir para os bêbados, e não tem nenhum estabelecimento no centro onde a gente possa exibir nosso talento para a dança, por que não fazemos o bolo neste fim de semana?
Ergui a sobrancelha.
— Olha, sei que eu disse que não era um bom cozinheiro, mas acho que você é capaz de me impedir de estragar a receita.
Quem está superestimando a capacidade de quem agora, hein?
Ele riu.
— É sério. Acho que seria divertido. Se tudo der errado, tenho uns pacotes de miojo no quarto, então pelo menos teremos alguma coisa para comer.
Dei de ombros, na dúvida, mas tentada a aceitar o convite. Katja conseguia frequentar regularmente apartamentos de estranhos, ter o máximo de intimidade possível com eles e sobreviver para contar a história. Então talvez eu pudesse assar um bolo numa cozinha de alojamento sem matar ninguém, certo?
— Você parece nervosa. Tem namorado?
Ele fez a pergunta como se só agora tivesse se dado conta do óbvio.
Escrevi NÃO no papel. Ele riu de novo.
— Certo. —Agustin pegou a caneta da minha mão e anotou um número num papelzinho. — Este é meu telefone. Se você decidir aparecer, manda uma mensagem.
Assenti e peguei o papel. O rosto dele se iluminou. Em seguida, ele checou o celular.
— Muito bem, agora estou atrasado. — Ele levantou. — Vejo você depois, Carolina — ele se despediu, para então apontar para mim. — Viu? Eu lembrei.
Lutei para segurar um sorriso. Não queria que Agustin soubesse que aquele pequeno gesto tinha valido o meu dia.
Me despedi com um aceno e fiquei até meio tonta quando ele, logo antes de entrar no prédio, me lançou um olhar por cima do ombro.
Um sentimento estranho e fervilhante começou a subir pelo meu peito. Eu tinha dezenove anos fazia muito tempo e já havia observado muitos garotos dessa idade. Sabia que normalmente os romances eram muitos e fugazes, então essa atenção não duraria. Ainda assim, era um sentimento mágico, e fiquei grata mais uma vez por aquele garoto que eu mal conhecia.
Tive a sensação de compreender Katja mais a fundo. Ela ansiava por um vínculo físico, e o conseguia da melhor maneira possível. Karol passava horas falando com os outros pelo computador ou pelo celular porque queria um vínculo intelectual. Era isso que fazias as duas se sentirem vivas. Eu? Trabalhava como escrava para a Água, na esperança de, ao final disso tudo, encontrar um vínculo romântico na minha vida futura.
A verdade era: não havia como ter certeza de que conseguiria. Mas enquanto eu estava ali, sentada sob aquela árvore, algumas coisas ficaram claras. Eu não estava preocupada. Não estava triste. Não estava sequer pensando no futuro distante, porque só conseguia pensar em como tinha sido cada minuto com Agustin.
Talvez o segredo para eu poder seguir em frente não fosse eliminar tudo o que sentia. Talvez só precisasse me concentrar no único sentimento que fazia todos os outros parecerem menores.
Peguei o celular, rindo de como aquele aparelho era inútil para mim. Eu o usava mais para fazer pesquisas e me distrair do que para qualquer outra coisa.
Só havia três números nos meus contatos, e o de Chiara nem estava atualizado.
Digitei para o contato novo com dedos hesitantes.
Agustin? É a Carolina. Se ainda estiver de pé, adoraria fazer um bolo no final de semana.
Respirei fundo e apertei ENVIAR. Peguei minhas coisas, bati a grama que tinha grudado na parte de trás da saia e fui andando para casa.
Antes de sair do campus, meu celular vibrou.
Eu tenho as assadeiras!

 


Notas Finais


Gostaram do capitulo?
Cade os comentarios?
Tudo bem,Tudo bem.


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