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História A sétima criança. - Capítulo 06


Escrita por: EChrissie

Notas do Autor


Oi gente.
Hell está no Reino de Dracar. Vai começar sua jornada para libertar o Reino de seu avô.
Vamos começar a acompanhar essas batalhas, mas não será fácil, rápido ou bonito.
É uma guerra e guerras são feias! Nelas o pior dos seres aflora... Estejam preparados.
Boa leitura.

Capítulo 7 - Capítulo 06


As semanas se passaram e o Dragão Marrom não tinha notícias da filha. Estava preocupado, mas era uma decisão com a qual tinha que conviver.

Não disse à rainha ou ao príncipe que havia uma possibilidade da princesa Erin ter voltado. Aquele era um tabu.

Para a rainha e o príncipe, a princesa Erin não existia. Ela era, no máximo, a criança da profecia e, para eles, era uma maldição.

Ele suspirava enquanto pensava nisso. O Dragão Branco não aprovava a atitude da filha e do neto, mas nada mudava o coração deles, nem mesmo a morte do Rei o fez.

A menina tinha dito que sabia que o avô tinha morrido. Será que sabia o quanto a mãe e o irmão a desprezavam?

Estava perdido em pensamentos quando foi chamado por uma sentinela. Lady Sheyna tinha retornado.

Assim que entrou no quarto da filha a encontrou cansada e suja, mas sem ferimentos. Ela dispensou as servas e conversou com o pai:

- É ela. – ela disse. – Seu tamanho e aparência são enganosos, ela é uma guerreira apta, feroz e violenta, mas, ao mesmo tempo, fria, analítica e calculista. Não vi seu poder mágico, ela não o mostrou, mas em luta corporal é temível. Reparou que não se encontram mais patrulhas inimigas por aqui? Ela as vem caçando e dizimando. Acredito que está treinando com eles, se acostumando a combatê-los e eliminá-los.

O pai ouvia tudo pensativo, precisava refletir e conversar com a rainha.

- Não faça isso pai. – lady Sheyna imaginava o que o pai ponderava. – A rainha não deve saber. Deixe a menina fazer o que tem que fazer, ela deve ter liberdade para isso e a rainha mandará caçá-la. Por isso não os trouxe para a fortaleza. – a filha falava muito séria.

O pai estava dividido: sua mente alertava que a filha tinha razão, mas sua honra lhe dizia que devia contar.

- Ela precisa saber que a filha voltou. – ele começou, mas a moça bufou e colocou a mão na cintura, apoiando o peso sobre a perna esquerda.

- A rainha não tem filha. – ela disse fria. – E aquela menina não é filha da rainha. Ela pertence aos homens que a acompanham. Eu os vi com ela. Eles criaram uma guerreira, mas também criaram um filhote, uma filha; um deles tem uma companheira onde estavam e que espera por ele, a menina fala o nome dela com amor. – a filha se aproximou do pai e o abraçou. – Ela não pretende ficar aqui. – o Dragão Marrom não ficou surpreso com o que a filha tinha descoberto. – Escutei pedaços de conversa, percebi os sentimentos por trás deles. A menina está aqui por algum senso de dever, somente isso. Deixe que ela cumpra a tarefa a que se propôs e se vá.

- Isso é algo que apenas eu posso decidir. – a voz feminina invade a conversa entre pai e filha.

Sua dona adentra no quarto displicente, como se aquele local lhe pertencesse. Lady Sheyna olha diretamente para sua rainha sem temer por si e levanta o rosto com orgulho.

- Não, não é. – ela rebate com convicção. – O Velho Rei havia avisado: a menina decidiria quando tivesse a idade para isso. Ela não pertence mais a você ou ao reino para ter poder sobre ela e seus guardiões.

O olhar da Rainha é terrível e ela avança para esbofetear lady Sheyna, que não esboça nenhum movimento de defesa. O som do tapa ecoa no quarto. O Dragão Marrom nada faz para impedir a mão da Rainha, sua filha se excedeu, embora tenha falado a verdade.

- Defende esse monstro? – a Rainha encara lady Sheyna com raiva.

- Defendo uma chance para nosso reino e para o nosso povo. – lady Sheyna rebate com calma e outro tapa é ouvido.

- A vida dela me pertence! A caçarei e a eliminarei! – a Rainha estava com tanta raiva que seus olhos brilhavam perigosamente e o Dragão Marrom temeu por sua cria. Porém, antes que interferisse outra presença se faz notar.

- Não fará nada minha mãe! – a voz jovem interfere no acesso de fúria de sua mãe.

O príncipe Ean pode ser jovem, mas é poderoso e sagaz. Por mais que odeie a irmã gêmea e a deteste pelo que ela representa, sabe que as palavras da filha do Dragão Marrom são verdadeiras. Ele se aproxima da jovem, olhando-a ainda de baixo, devido à sua altura, mas com grande determinação estampada na face.

- Ela é tudo o que a profecia diz? – ele pergunta sério.

- Ela evita usar seu poder mágico e os guardiões também. Não sei seu nível de poder, mas em combate corporal nem mesmo seu avô seria páreo para ela. – diante de tal afirmação os olhos do jovem príncipe se arregalam. Seu avô o havia ensinado a lutar com a espada e tinha conseguido ferir o líder do exército inimigo, mesmo morrendo em batalha devido a isso.

- Ela é tão boa assim com a espada? – o príncipe pergunta e vê com surpresa lady Sheyna exibir um sorriso misterioso.

- Ela luta de mãos nuas. – ela falou com calma.

- Impossível! – o príncipe não acreditava no que ouvia. Ninguém tinha conseguido vencer um daqueles inimigos de mãos nuas.

- Ela tem caçado as patrulhas inimigas que nos cercam e, em momento algum, usou espada ou armadura... E nunca saiu machucada. – lady Sheyna falou esse pedaço de informação sem disfarçar sua satisfação.

- Os guardiões devem ter ajudado! – a Rainha interfere, furiosa, na conversa, mas o príncipe continua vendo o olhar de satisfação e mistério exibido por lady Sheyna e não precisa perguntar.

- Não, minha mãe. É somente ela que tem lutado. Estou certo Sheyna? – o príncipe vê o sorriso que a lady a sua frente abre.

- Sim, meu príncipe. Vê-la lutar é magnífico. Um verdadeiro espetáculo. Me pergunto: Como será quando liberar seu poder mágico? – a moça falava com calma, mas o príncipe via que em seus olhos brilhavam algo que há muito não estava lá: esperança.

Ele se afasta pensativo, refletindo as palavras de lady Sheyna e estende a mão para a mãe, mas antes de sair do quarto de lady Sheyna ele se vira para ela:

- Estará confinada em seus aposentos com uma ração mínima por 15 dias. Não verá ou falará com ninguém. Venha Conselheiro. – ele chama com autoridade e ao passar por sua filha o Dragão Marrom a beija na testa saindo atrás de sua rainha e de seu Rei.

Eles caminhavam pelos corredores da fortaleza em silêncio até chegar ao escritório onde sempre conversavam. O mapa do reino estava na parede e é para lá que o jovem se dirige. Observando pensativo todo o território que o inimigo tinha tomado... Só restavam os domínios do Dragão Marrom e talvez as regiões vulcânicas do Dragão Vermelho, mas há muito tempo não tinham notícias dele, pois o exército inimigo se colocava como uma barreira entre eles.

- Não fará nada para impedir o trabalho da criança da profecia minha mãe. – ele fala calmo como quem fala do tempo.

- Meu filho! Ela é uma maldição! Deve ser eliminada. – a rainha falava nervosa.

- Não. Ela é uma arma e está apontada para o lado certo. – ele continua calmo observando o mapa.

- Não aceitarei isso Ean! – a mãe se agita e seus olhos brilham, mas recua diante do olhar do jovem, que se vira e caminha até estar à sua frente. Frio, calculista, determinação de aço.

- Aceitará, pois essa é a minha vontade. Eu sou o Rei. A senhora, minha mãe, está como regente enquanto não atinjo a maioridade. Não é a rainha. Eu determino que a criança da profecia não será molestada ou sofrerá qualquer interferência em seus planos enquanto luta contra nosso inimigo. – o rapaz olhava para sua mãe, que abaixava a cabeça obediente, e para o seu Conselheiro, que acenava concordando com a estratégia de seu Rei.

- Meu senhor, minha filha a observou por semanas. Ela afirma que nem a menina nem os guardiões pretendem permanecer em nosso Reino se vencerem o inimigo. O plano da criança é partir depois que o inimigo for derrotado. – o Dragão Marrom não sabe o motivo de dar essa informação específica ao Rei, mas algo lhe diz que é importante.

O rapaz parece pensativo por alguns momentos e depois acena ao Conselheiro:

- Acho melhor assim. – havia algo a mais por trás das palavras do jovem, mas o Conselheiro achou melhor não esmiuçar.

Ele os dispensa e fica observando o mapa do seu reino. Tantas vidas perdidas, tanto a reconstruir... E tudo por que uma criança nasceu... Ean tinha ódio da irmã, mas também sabia que, se ela fosse tudo o que lady Sheyna havia falado, era uma arma formidável e devia ser usada como tal. Saber que ela não pretendia ficar no reino foi um alívio...

Caso contrário teria que eliminá-la.

 

A princesa e seus guardiões já conheciam o terreno das montanhas como a palma de sua mão. Já há algum tempo perceberam que sua sombra não estava mais com eles, mas isso não os impediu de avançar.

A princesa já havia praticado o suficiente com as patrulhas inimigas e sabia como era a formação e organização do exército inimigo, faltava apenas começar a causar caos e medo neles. Ela também soube que mantinham filhotes prisioneiros para satisfazer seus desejos obscenos e aquilo havia se tornado sua prioridade.

Seria o primeiro passo de seu plano e um teste para si, pois deveria ser precisa em seu ataque, para causar o maior dano possível e salvar aqueles filhotes.

Chegaram à noite próximo ao local onde os filhotes eram mantidos. Era afastado do centro do exército, como se ficasse na periferia, havia um batalhão ao qual o cativeiro servia, com cerca de 250 soldados e tinham descoberto que havia vários desses ao redor do acampamento inimigo.

Podia ouvir os choros e lamúrias dos filhotes. Seus guardiões a olhavam preocupados, mas ela balançou a cabeça para eles e sussurrou:

- Estou bem. Vamos seguir o plano. Devemos levar esses filhotes até a segurança da fortaleza.

Eles acenaram e se esgueiraram sorrateiramente, palmo a palmo no terreno, escondendo-se e camuflando-se; depois de um tempo, que parecia interminável, conseguiram chegar ao cativeiro. Havia poucos guardas, a princesa sentia o cheiro deles individualmente agora, como se cada um tivesse uma marca e ela pudesse identifica-los. Então sabia que havia quatro sentinelas fora e mais seis dentro.

Testaram as barras de fora e perceberam que estavam fáceis para eles as tirarem, para crianças fracas seriam impossíveis de mover, mas não para seus guardiões. Sem fazer barulho Tar desloca três barras, abrindo um espaço considerável para que eles passassem.

Eles se esgueiram para dentro do cativeiro e o que veem é horrível. Celas que pareciam gaiolas, repletas de crianças, algumas com a idade da princesa, outras aparentando ser um pouco mais novas e outras menores, quase bebês, as roupas rasgadas, pareciam famintas e doentes, com machucados e feridas. Ao ver os dois homens adultos de seu povo as maiores estendem as mãos desesperadas, enquanto as menores se encolhem nas gaiolas. O cheiro de medo está impregnado no lugar.

Tar e Mak pedem para as crianças fazerem silêncio e vão abrindo as gaiolas o mais rápido que podem, enquanto a princesa vigia. Está demorando, mas isso era esperado. A princesa sente que um dos sentinelas se aproxima e faz sinal para que Tar e Mak esperem e façam silêncio; ela se coloca escondida nas sombras e espera, quando a sentinela aparece, só se ouve o baque e a cabeça que rola.

Algumas crianças tremem diante daquilo, mas as mais velhas apenas pegam os menores, ajudando Tar e Mak, olhando insensíveis. Com ajuda das crianças maiores estão conseguindo acelerar o trabalho de soltar todos das gaiolas; logo todas as que estavam ali estão soltas e ansiosas, mas a princesa sente um pequeno puxão em sua capa. Ela se vira e vê uma menina de sua idade de cabelos loiros e olhos verdes.

- Levaram alguns de nós para dentro. Os outros sentinelas estão lá. – a menina sussurra.

- Quantos de vocês levaram? – a princesa pergunta.

- Cinco. Três meninas e dois meninos. – ela fala com um fio de voz e a princesa entende.

- Tar. Mak. Fiquem e protejam os filhotes. Irei salvar os outros e matar as sentinelas. – ela fala com uma certeza que atrai a curiosidade das crianças, afinal ela também é apenas um filhote, além da forma como ela falou com os adultos.

Eles acenam e a princesa se esgueira até onde os cheiros estão mais fortes. Ela se prepara para os horrores que vai ver, jogando toda sua sensibilidade para o fundo de sua mente e deixando que apenas a guerreira assuma.

Os cinco sentinelas restantes estavam em uma orgia abusando sexualmente das crianças. Elas choravam e aquilo parecia que os excitava mais ainda. Algo dentro da princesa desperta... Uma fúria que nunca sentiu, nem mesmo quando viu seu avô ser morto.

Era algo que ardia e gelava, se espalhando por todo o seu corpo. Ela não liberou seu poder mágico, mas sua rapidez foi impressionante e, antes mesmo que se dessem conta, cinco sentinelas estavam mortos de várias formas diferentes. Ela empurrou os corpos que caíram sobre os filhotes, que tremiam e se encolhiam diante daquela visão, mas a princesa lhes fez sinal para que a seguissem e eles só queriam fugir daquele pesadelo, as duas que não conseguiam andar devido a seus ferimentos e estado emocional foram carregadas e arrastadas por seus amigos.

Quando chegaram até onde estavam Tar e Mak e os outros esperando fora das gaiolas perceberam que aquela era uma operação de resgate.

Mas os guardiões perceberam que sua princesa não estava normal e se amaldiçoaram por permitir que ela fosse sozinha. Tremiam pelo que ela tinha visto, pois as crianças que ela trazia estavam muito machucadas.

- Tar, Mak. Depois converso com vocês. – a voz da menina era fria, mas mesmo assim tremeu e isso doeu em seus guardiões. – Agora vamos fazer uma pequena mudança nos planos. Vocês seguem pelo caminho combinado, enquanto eu ateio fogo nesse local desgraçado, eu os seguirei logo em seguida. – ela pegou uma tocha enquanto falava e esperou que obedecessem.

Os guardiões se olharam em dúvida, mas acenaram. Tinham que salvar aqueles filhotes. Eles começaram a conduzi-los pelo buraco que tinham feito. Estavam silenciosos, pois sabiam que nada poderia atrair as sentinelas que estavam de fora, a noite sem luz as ajudava e sempre com as maiores carregando ou arrastando as menores, elas foram conduzidas pelos adultos por uma trilha, subindo a montanha, mesmo quando uma caía no chão logo era levantada pelas mais próximas; estavam livres e ninguém seria deixado para trás.

Tar e Mak estavam preocupados com a princesa, pois ela estava demorando a subir. Já estavam quase perdendo o cativeiro de vista quando um garotinho olha para baixo e aponta sem parecer acreditar e é acompanhado por outros, que se sentam para descansar e observar.

Um grande incêndio tinha irrompido no cativeiro, atraindo a atenção de vários soldados que tentavam apagar o fogo.

Com seus sentidos privilegiados os dragões viram um pequeno vulto sair pela porta da frente, para espanto dos soldados, mas quando um deles tentou pegar a criança se ouviu um grito e o corpo caiu no chão. O vulto avançou com velocidade e começou a atacar os soldados que estavam ali, atraindo mais soldados e causando mais mortes. Era um verdadeiro massacre e nenhum dos soldados inimigos foi páreo para o pequeno vulto.

Eles viram que ela tinha acabado com todo um destacamento e sabiam que ela não tinha nem suado, ela começou a arrastar os corpos rapidamente, formando uma palavra com eles. Logo houve a movimentação de mais soldados atraídos pelo fogo e conseguiram ver que ela escapulia sorrateira por um caminho oposto ao que tomaram; ela daria uma volta maior, mas os alcançaria em algumas horas.

Começaram a chamar as crianças e continuaram a subir. Elas estavam cansadas, doentes, feridas, com fome, mas a vontade de se afastar daquele lugar de pesadelos deu-lhes mais forças do que os adultos previram e conseguiram chegar muito mais longe do que o planejado.

Quando pararam para descansar e beber água estavam mais próximos de uma das entradas da fortaleza e sentiram a aproximação da princesa. Ela não disse nada, apenas começou a caminhar entre as crianças, verificando se conseguiriam caminhar e chegar logo à segurança proporcionada pela fortaleza.

A menina de cabelos loiros que tinha lhe falado antes se aproximou dela e conversaram baixo, longe dos adultos, viram a princesa abraçar a menina com força e lhe falar algo. Os olhos da menina se arregalaram e ela se afastou um pouco, olhando séria a princesa e depois acenando com a cabeça, lágrimas foram enxugadas e ela seguiu com a princesa conversando com as crianças maiores, que acenavam e começaram a carregar as menores. Era hora de chegar à fortaleza.

 

A sentinela não conseguia acreditar no que seus olhos viam. Chamou seu colega e ele também estava espantado.

Crianças, dezenas de crianças estavam se aproximando do portão, escoltadas por dois machos e um pequeno vulto coberto por uma longa capa.

Enviaram um mensageiro ao seu superior, que ao saber veio ele mesmo ver aquele milagre. Mandou que o portão fosse aberto e as crianças colocadas para dentro. Viram uma menina loira se aproximar dos adultos e do pequeno vulto, mas eles abanaram a cabeça e se foram, deixando a menina entrar na fortaleza, junto com alguns menores.

O comandante correu dando ordens para acomodar as crianças, chamando fêmeas para cuidar dos pequenos. Todos tinham olhos assombrados, mas alguns estavam frios e insensíveis se preocupando apenas em proteger os pequenos.

O comandante não sabia mais o que fazer até que foi abordado pela menina loira que havia visto conversando com os adultos misteriosos:

- Comandante, tenho um recado de nossos salvadores para o Dragão Marrom.

Ele olhou a criança e não sabia como reagir. Ela não parecia que ia lhe dizer o que era e então mandou um mensageiro ao Dragão Marrom, pedindo que ele viesse com urgência ao seu posto.

Depois de duas horas a notícia da chegada dos filhotes tinha se espalhado pela fortaleza e muitos adultos estavam indo vê-las na esperança que fossem os seus pequenos perdidos. A confusão estava se instalando, pois os guardas tinham ordens de não deixar ninguém se aproximar das crianças assustadas, houve empurrões e palavras ásperas foram ditas, mas surpreendentemente quem colocou ordem foi a menina de cabelos loiros.

Ela subiu em uma caixa colocada por um de seus colegas sobre uma mesa, elevando-a a uma altura de onde pudesse ser vista por todos, e começou a bater palmas ritmadas, sendo seguida pelas outras crianças, atraindo a atenção dos adultos presentes. Quando o silêncio se fez ela deu um sinal aos seus amigos que pararam de bater palmas e todos a escutavam:

- Adultos! Me escutem, por favor, estão assustando a mim e aos meus amigos! Sei que devem estar desesperados, mas estamos cansados, machucados, doentes... Não temos condições de ver vocês agora! – alguns adultos começaram a falar que queriam ver se seus filhotes estavam ali, mas outro menino mais velho de cabelos brancos e olhos azuis subiu na caixa e se fez pronunciar.

- Viemos do inferno! Entendem? Do inferno! – a essas palavras algumas mulheres começaram a chorar e foram consoladas por seus parentes. – Precisamos de um tempo para entender que não estamos mais lá! Depois podem vir aqui, mas agora devem voltar e nos deixar em paz! – com essas palavras os adultos começaram a se olhar e acenar.

Os filhotes estavam certos. Deveriam ser preservados e cuidados. Começaram a se dispersar no momento em que o Dragão Marrom chegava acompanhado de Ean.

Ao ver toda aquela movimentação o Dragão Marrom chamou o comandante, que explicou tudo, inclusive a coragem dos filhotes mais velhos, que conseguiram acalmar os adultos.

Ean caminhava entre as crianças, calado, apenas observando seus corpos e olhares, até que chegou à menina loira e ao menino de cabelos brancos. Eles pareciam os líderes e tentavam organizar e consolar os menores e mais frágeis.

- Quem salvou vocês? – ele perguntou ao menino, mas foi ignorado, pois um menorzinho começou a chorar e ele tentava consolá-lo.

- Não me ouviu?! – Ean estava surpreso com aquela atitude, não estava acostumado a ser ignorado, e recebeu uma reprimenda da menina loira.

- Estamos ocupados cuidando dos menores. Não estamos aqui para matar sua curiosidade jovem senhor. – ela falou calma, mas seu tom de voz era muito claro.

- Como se atreve a falar assim comigo? Sabem quem eu sou? – ele falava perdendo a compostura da qual sempre se orgulhava.

- Eu vejo um cara que não compreende que está assustando crianças que já estão apavoradas. – o menino de cabelos brancos fala agressivamente. – Saia de perto de minha amiga. Está próximo demais. – ele se colocou entre a menina e Ean para protegê-la, foi quando o príncipe percebeu que tinha se aproximado muito dos dois e o papelão que ele estava fazendo confrontando aquelas crianças traumatizadas.

Ele se afastou corado e se inclinou levemente, reconhecendo seu erro:

- Peço desculpas por minha grosseria descabida. Estão corretos e não se repetirá. – ele se afasta e vai até o Dragão Marrom, que tinha acompanhado toda a cena.

- Foi humilde ao reconhecer seu erro e pedir desculpas. Agiu como o Rei que é. – o Conselheiro o elogiou, mas o rapaz balançou a cabeça.

- Se fosse não teria sido tão grosseiro e inconveniente. Ainda tenho muito que aprender Conselheiro. – com essas palavras se cala.

O Dragão Marrom se orgulha de seu príncipe e futuro Rei. Ele era um bom rapaz com um fardo pesado nos ombros jovens e as pessoas se esqueciam disso devido a maturidade que sempre mostrava.

Ele caminhou até a menina loira que o comandante disse que tinha o recado para ele.

- Minha jovem, sou o Dragão Marrom. – ele se identifica e a menina olha dele para o príncipe, que vinha logo atrás e o homem entende sua dúvida.

- Pode falar na presença do rapaz. – ela olha o menino de cabelos brancos que acena, cruzando os braços e olhando seriamente o adulto e o outro menino.

- Temos um recado de nossos salvadores. – ela começa, mas parece ficar indecisa, sendo cutucada pelo menino de cabelos brancos para que continue. A menina suspira e continua. – Ela mandou dizer que mesmo que tenha que sangrar cada soldado inimigo libertará os filhotes presos em cativeiros como o que estávamos. O nosso foi apenas o primeiro, logo mais filhotes chegarão. – a menina termina de dar o recado e o Dragão Marrom a olha.

- Disse “ela”. Uma menina de longos cabelos castanhos e olhos castanhos, acompanhada por dois jovens dragões machos, um de cabelos e olhos prateados e outro de cabelos verdes e olhos castanhos? – ele descreveu para a menina e ela acenou concordando.

- Era uma menina bonita. – o menino de cabelos brancos falou pensativo e depois sorriu – Lutava muito bem. Depois de nos soltar, ateou fogo em nosso cativeiro e matou muitos soldados inimigos em um piscar de olhos. Uma coisa linda de se ver. – ele disse com os olhos brilhando e foi cutucado pela garota loira.

- Não diga essas coisas. Ela não gostou de fazer isso. – foi repreendido pela menina e atraiu a atenção do Dragão Marrom, que analisava o que o menino dizia.

- Como sabe que ela não gostou? – ele perguntou.

- Ela estava triste, por nos ver naquela situação. Mas seu coração não estava alegre com o massacre que fez. – a menina explicou. – Ela fez o que tinha que fazer, mas não se alegrou. – ela completou dando de ombros.

- Quais são os seus nomes? – o príncipe perguntou e a menina apontou para si e disse:

- Me chamo Lina e meu amigo se chama Alin. – ela se apresentou e ao menino.

- A menina que os salvou disse mais alguma coisa? – o príncipe perguntou, pois achou que a garota não tinha dito tudo. Novamente ela fica em dúvida e o príncipe sabe que acertou.

- Perguntamos o nome dela. – Alin revela. – Ela disse que se chamava Hell. Nome estranho para uma mãe dar ao seu filhote... – ele fala coçando a cabeça.

Ean olha para o menino e a garota, que parecem ter sua idade, apesar do menino ser mais alto que os dois, e apenas acena:

- Tem razão. – se volta para o Dragão Marrom e lhe fala – Já vou. Qualquer coisa estarei no escritório. – o príncipe caminha lentamente se retirando, mas sendo acompanhado pelo olhar de seu Conselheiro.

- Eles se parecem... – Alin comenta com Lina que concorda.

- Quem se parece? – o Dragão Marrom pergunta, embora já saiba a resposta.

- A menina que nos salvou e aquele jovem senhor. Tem os mesmos olhos e o mesmo andar. – Lina comenta e o Dragão Marrom sorri com a comparação, concordando internamente com ela.

- Devem descansar e se curar. Providenciaremos acomodações para vocês e para os que vão chegar. – ele fala para as crianças.

- Então acredita nela. – Alin pergunta sorrindo pela primeira vez.

- Sim, meu jovem. Acredito que cumprirá a promessa dela. – ele se inclina e se retira indo até o escritório de seu príncipe.

O encontra olhando o mapa de seu reino, pensativo. Não quer interromper e apenas se coloca sentado no canto esperando.

Vê o príncipe balançar a cabeça e suspirar. Depois se volta para o Conselheiro determinado e lhe diz:

- Vamos começar a planejar uma grande ofensiva. Logo teremos notícias dela e de seus guardiões. Devemos estar preparados para o seu sinal.

O Conselheiro acena e começa a repassar com o príncipe os recursos que dispõem e como podem ser aumentados.

 

Longe dali, escondidos em uma caverna, os guardiões e a princesa comem um animal que Mak caçou.

Os dois estão preocupados com sua princesinha. Ela está calada e distante desde que chegaram ao seu esconderijo. Não sabem se devem começar aquela conversa ou esperar que ela o faça.

De repente, como se tudo viesse à tona, ela se joga em Tar e começa a soluçar e chorar, afundando o rosto no peito dele.

- Como podem fazer aquilo com crianças? – ela pergunta entre soluços e ele apenas a abraça forte.

Mak se aproxima de seu amigo e da princesinha deles, abraçando os dois e acariciando a cabeça dela:

- Sempre existirão monstros para fazer esse tipo de coisa e outras mais. – ele conversa com ela.

- Eu fiquei tão furiosa! Senti algo dentro do meu coração, desconhecido, poderoso, selvagem. Queimava e congelava. – ela tenta explicar o que sentiu aos seus guardiões.

- Não sei dizer que sentimento era esse. Talvez fosse somente fúria pelo que viu. –Tar fala indeciso – Sente como se fosse algo ruim?

- Não sei. Não parecia mau, mas estava descontrolado dentro de mim. – ela conversava com ele mais calma.

- Sabe que sempre estaremos aqui para te proteger. – Mak falou levantando o rosto dela em sua direção. – Nos amaldiçoamos por não termos ido com você e te protegido daquilo. – ele enxugava as lágrimas dela e Tar continuava acariciando sua cabeça devagar.

Ela mordia o lábio e olhava de um para outro, no tique que tinha quando não sabia ao certo se deveria perguntar ou dizer algo.

- Diga minha princesa. Estamos preparados. – Tar respondeu com um sorriso.

- Artêmis pretendia fazer aquilo comigo? – ela pergunta confusa.

- Sim. Da forma como as mulheres fazem quando estão juntas, mas sim. Ela pretendia ter sexo com você. – Tar responde com um suspiro.

- Mas eu sou criança! – ela falou com horror, pensando nas cenas que tinha visto.

- Por isso Hefesto ficou tão perturbado e Clio furiosa. – Mak explicou a ela com calma. – Por isso o pai dela ficou tão envergonhado com as atitudes dela. Não é porque ela gosta de moças, isso não é certo ou errado, mas porque você é uma criança e ela não deveria se aproximar de você com essas intenções até entender o que ela estava propondo.

- O que eu vi foi tão horrível e sujo! – ela fala com horror e os dois homens se olham preocupados. Tinham que achar as palavras certas para acalmá-la.

- Realmente. O que viu foi terrível, mas o sexo em si não é sujo. – Tar começa de forma ponderada.

- Princesinha, quando estou a sós com Clio em nosso quarto nós fazemos sexo e, se os dois consentem e concordam com tudo o que acontece, não é horrível. Na verdade é bem prazeroso. – Mak fala um pouco corado. Como queria que Clio estivesse ali para falar essas coisas com a princesinha...

- Como assim? – ela perguntou curiosa e agora os homens não sabiam o que responder ou como esconder seu embaraço.

- Err... Prazeroso... – Tar tentava ajudar seu amigo a explicar, mas o olhar expectante da princesinha o fazia ficar cada vez mais embaraçado.

- Como quando você bebe água quando está com sede ou toma banho quando está muito quente e suada. – Mak se lembra de pequenas coisas que podem tentar fazer a pequena a entender.

- É uma sensação muito boa. – a menina fica pensativa e os homens esperam que ela complete o pensamento que veem rondando seu rosto. – Mas não quero experimentar tão cedo... – os guardiões soltam um suspiro de alívio com aquela declaração. Mak chega a tocar seu peito de tão aliviado que sente seu coração.

- Tudo tem um tempo certo para acontecer princesinha. – fala um Tar bastante aliviado. – Como as estações que vem uma atrás da outra. Quando chegar o tempo certo para você e encontrar a pessoa certa, sentirá que está pronta para experimentar os prazeres do sexo. Apenas tenha em mente que deve ser o seu tempo. – ele enfatiza a palavra “seu” para ter certeza que a menina entendeu. – Não deve tentar acelerar ou permitir que alguém a pressione a fazer algo que não está pronta. – ele fala muito sério com ela.

A menina olha de um para o outro e percebe que o que eles lhe diziam era algo muito importante e acena séria.

Eles percebem que ela precisa de um tempo para digerir tudo o que falaram e continuam abraçados e tentando acalmar sua menina. Ela acaba dormindo nos braços de Tar e Mak começa o turno de vigia.

Ele estava muito preocupado com as coisas que a princesinha seria exposta ao longo da guerra. Nenhuma criança deveria ver ou vivenciar nada daquilo. Tinham conseguido acalmá-la daquela vez, mas temia pelas próximas que viriam.

 


Notas Finais


Pois é...
Os horrores da guerra afetam todos, mas os mais atingidos são o mais frágeis e preciosos...
Como Hell vai lidar com esses horrores e quais mais ela verá?
Comentem se quiserem. Vocês sabem que sempre estou disposta a escutar a opinião de vocês e trocar uma ideia interessante.
Beijos.


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