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História A sétima criança. - Capítulo 08


Escrita por: EChrissie

Notas do Autor


Oi gente!
Feriado bom esse! E pra melhorar resolvi postar mais um capítulo.
Espero que gostem. Boa leitura.
Beijos.

Capítulo 9 - Capítulo 08


 

O inverno chegou com força e até mesmo os soldados inimigos sentiam.

A princesa queria aproveitar isso para espionar o exército inimigo. Queria entender por que eles não faziam nada mais que pequenas movimentações naquele cerco sem fim à fortaleza nas montanhas. Também queria localizar os cativeiros que ficavam mais para o centro do acampamento inimigo. Tinha que arrumar um jeito de libertar aqueles filhotes; não poderia permitir que eles fossem pegos no fogo cruzado quando atacasse com força total.

Tar era seu principal recurso agora que o inverno tinha estendido seu manto branco. Ele podia se mover sem deixar rastros e se camuflar perfeitamente, ficando invisível; apesar do perigo que corria ela não poderia deixar de enviá-lo e ele entendia.

Ele deixou sua menina e seu amigo na caverna que agora ocupavam e partiu para espionar seus inimigos. Suas incursões começaram devagar, levou semanas para identificar a distribuição das tendas, caminhos dentro do acampamento e os cativeiros, as rondas das sentinelas, tudo o que pudesse ser usado como informação...

Depois ele localizou as tendas dos comandantes, tentou entrar nelas, mas eram muito bem protegidas e corria muitos riscos nisso, resolveu desistir dessa ideia e retornar para sua princesinha e seu amigo. Tinha muitas informações para dar a ela e também sabia que os dois deviam estar preocupados com sua ausência demorada.

Quando voltou para o esconderijo, encontrou Mak muito sério vigiando a entrada da caverna. A expressão de alívio de seu amigo quando o avistou se aproximar era palpável, eles se abraçaram e entraram na caverna.

Sua princesinha dormia perto do fogo e ele sorriu com a visão dela.

- Ela dorme chorando todas as vezes. – Mak conta. – Se você tivesse demorado mais, nós iríamos atrás de você.

Tar sorriu e se ajoelhou ao lado dela, afastando uma mecha de cabelos de sua testa a acordando sem querer, ela olha em volta desnorteada, mas quando o vê ao seu lado chora emocionada e se joga nos seus braços. Ele tenta consolá-la, mas ela levanta a cabeça determinada:

- Nunca mais enviarei nenhum dos dois sozinho a uma missão. – os olhos da princesa brilham quando fala isso. – Ou vamos todos ou não vamos.

- Minha princesa, não pode falar isso... – Tar tenta ponderar, mas ela balança a cabeça.

- Eu já decidi que será assim. Não discuta comigo! – é a primeira vez que ela fala dessa forma com qualquer um dos dois. Se impondo de forma tão categórica; Tar e Mak se olham surpresos, mas depois sorriem, sua princesa estava crescendo rápido devido aos problemas e provações que passavam.

Ela era uma líder nata e uma hora se imporia a eles, a hora tinha chegado quando ela se preocupou com Tar.

- Está bem. Está decidido então, mas agora precisamos conversar sobre as informações que coletei. – Tar começa a contar e eles discutem qual seria a melhor abordagem.

Acabam se dando conta que não seria possível fazer mais nada sozinhos. Precisavam ir à fortaleza e falar com o Dragão Marrom.

Depois de Mak ter um merecido descanso resolvem levar tudo o que tem. A partir daquela ofensiva a princesa não poderia mais esconder sua presença do inimigo e ficar na fortaleza era a melhor opção para sua segurança. Eles se preocupavam com a reação da rainha e do príncipe, mas tinham argumentos para defender a sua posição.

Chegaram à mesma guarita onde se apresentaram pela primeira vez, ao dizer a senha o sentinela os deixou entrar e os fez aguardar no mesmo local da outra vez. Mandou um mensageiro ao Dragão Marrom e uma hora depois ele estava lá.

Novamente viu os jovens filhos de seus antigos companheiros, mas a menina continuava escondida sob o manto, sentada sobre uma caixa, a mesma caixa que ele a viu carregar da outra vez. Dessa vez ela não se aproximou dele, mas o Dragão Marrom sentia a força do olhar da princesa sobre ele.

- Precisamos conversar. – Mak foi direto ao ponto. – Temos alguns planos, mas já não podemos executá-los sozinhos.

- Venham comigo. – o Dragão Marrom fez sinal que o seguissem e ele viu a menina pegar aquela caixa, que parecia pesada, como se fosse nada e coloca-la nas costas. Todo o caminho foi feito em silêncio.

O Dragão Marrom os leva até o escritório do príncipe, que já aguardava com Sheyna e Alin. A Rainha não estava, pois tinha se recusado a ver a menina.

Tar e Mak entram escoltando a princesa, mas, ao contrário do que Ean esperava, não o cumprimentam como esperado e ele cerra os olhos diante de tal indelicadeza, sua atenção se volta para o vulto encapuzado e a enorme caixa que carrega com facilidade.

- Hell tem planos para contar. – o Dragão Marrom começa e espera que essa notícia anime ou, ao menos, atice a curiosidade de seu príncipe, mas o ar está tão denso que pode ser cortado com uma faca.

- Antes que ela comece a falar. – Ean se volta para Hell e olha diretamente para onde deveria estar o seu rosto. – Retire o capuz e fale me olhando nos olhos. – ele exige autoritariamente.

- Não deveria atender sua ordem, pois não sou sua súdita ou cidadã do reino. – a princesa começa a falar. – Mas, meu orgulho não me impedirá de salvar vidas inocentes. – ela desabotoa sua capa e a retira, dobrando-a e colocando sobre a caixa que havia pousado no chão com cuidado.

Finalmente Ean olha sua gêmea, realmente a olha. Dessa vez ele não fez como na trilha, onde nem a olhou, agora a analisa meticulosamente.

Seu longo cabelo estava preso em uma trança simples, suas roupas eram comuns e estavam gastas pelo uso, mas havia em torno da menina um ar de nobreza que era palpável. Ela encarou os olhos castanhos do irmão sem medo e com indiferença. Encarava um completo estranho.

- Espionamos o acampamento inimigo e sabemos com exatidão onde estão os cativeiros dos filhotes e as tendas dos líderes, além do armamento. Mas não podemos mais fazer pequenas incursões, temos que realizar uma grande operação de resgate e precisamos de sua ajuda para isso. – ela faz uma pausa olhando o príncipe e continua. – Depois que os filhotes estiverem a salvo, atacarei. Perderei o elemento surpresa, mas ele será bem usado no resgate.

- Não poderá salvar a todos. Tem consciência disso? – Ean olha sua gêmea com uma máscara de frieza.

- Salvarei quantos puder. A maior quantidade possível. – ela responde e a determinação de aço que possui brilha em seu olhar.

- Como tem tanta certeza de suas informações? – príncipe pergunta.

- Tar espionou o acampamento. – ela olha na direção do guardião e o príncipe lembra que o Dragão Marrom falou sobre ele.

- O filho do Dragão Prata. – ele recorda das técnicas do pai dele e fica curioso. – Tem as mesmas habilidades de seu pai?

- Algumas. – Tar demora um tempo para responder de forma vaga.

- Demonstre respeito, jovem. – o Dragão Marrom fica irritado com a forma como o filho de seu amigo tratou o príncipe.

- Da mesma forma como demonstrou respeito por minha princesa quando nos apresentamos? – foi a resposta fria de Tar ao Dragão Marrom.

O dragão mais velho fica sem ação com tal réplica.

- Não vejo nenhuma princesa aqui. – Ean se intromete. – Minha mãe renegou a criança da profecia no dia em que o companheiro e os filhos mais velhos morreram. Pela lei, seus títulos e propriedades foram retirados.

De repente ouve-se uma gargalhada irônica vinda de Mak, que fala:

- Minha princesa não veio atrás de títulos ou propriedades e também não veio atrás da mãe que a renegou ou do irmão que a rejeitou. – ele fala com dureza. – Ela veio ajudar um povo e uma terra que o avô amou, apenas isso. E para o seu governo, pirralho, ela É minha princesa e de Tar! Então a forma como a tratamos não é da sua conta.

- Mak. – a voz da menina é ouvida e existe um toque de diversão nela. – Se Ean é um pirralho... O que eu sou? Afinal, temos a mesma idade. – o guardião sorri e lhe beija a testa carinhosamente.

- É uma pequena dama. – ele responde e se coloca ao lado dela de braços cruzados e pernas separadas.

- Como ousa me falar dessa forma? – Ean estava perplexo com o descaramento daquele dragão e receber de volta um sorriso irônico é o que basta para acender seu gênio. Ele estende suas garras e avança em Mak, que fica parado esperando o príncipe vir, mas ele é interceptado pela princesa, que coloca suas garras na garganta dele.

Os dois irmãos se encaram e sentem-se faíscas no ar. Ean está irado, mas Hell está fria e uma aura letal a envolve.

- Recue. Não vim aqui para lutar, mas se ameaçar minha família não me conterei. – aquelas palavras são um choque para o Dragão Marrom. Mas, o olhar, a postura, a aura que sente envolvendo a menina... Ela falava sério, não via Ean como seu irmão.

- Príncipe Ean, recue. – o rapaz não quer ceder e a menina também não.

- Ean. – Alin chama e se aproxima colocando uma mão em seu ombro. – Recue e escute o plano dela. Pense nos filhotes presos nos cativeiros e que ela quer libertar. – como se voltasse a si com essas palavras, ele recolhe suas garras e recua dois passos. A menina o observa atenta a qualquer sinal de traição e volta para o lado de seus guardiões, mas sem recolher suas garras.

- Ainda é muito lento. – Tar observa e comenta friamente. – Precisa treinar mais. – depois se vira para o Dragão Marrom e comenta. – Alguém do povo da Dragoa Azul poderia lhe dar algumas lições de agilidade, fluidez, velocidade e leveza.

- Sobraram poucos deles. – o Dragão Marrom comenta. – Assim como os do seu povo. – ele completa com tristeza.

Tar pensa um pouco e sente a mão de sua princesinha na sua, ela havia recolhido as garras e o olhava interrogativamente. Ele sorri para a menina e acaricia seu rosto.

- Estou bem, princesinha. – depois se vira sério para o Dragão Marrom e fala. – Renunciamos a todos os laços com nossas famílias e povo para cuidar e treinar a menina, sabíamos o que significava quando assumimos esse compromisso com o Dragão Branco. Não nos arrependemos.

Todos ficam em silêncio por alguns momentos pensando nos sacrifícios feitos e por fazer ainda, mas quem fala primeiro é a menina:

- Chega de criancice e briguinhas de egos. Estamos aqui para planejar um resgate em massa e ganhar uma guerra. Preciso de sua ajuda para isso. – ela fala com Ean e estende a mão. – Vai me ajudar? – o rapaz olha a mão estendida e pensa em tudo o que tinha perdido e o que poderia reconquistar e acena, estendendo a mão para a menina.

- Sim. – eles selam o acordo e começam a planejar.

 

Para que o plano dê certo é preciso que a menina e os guardiões descansem. Eles precisam estar em plena forma e lhes foi dado um quarto amplo, onde puderam se instalar.

Nem a menina ou seus guardiões aceitaram ser separados, motivo que justificou a ocupação de um quarto pelos três. Isso causou estranheza aos servos e logo fofocas eram espalhadas sobre o relacionamento entre a menina e os machos que a acompanhavam, ela, entretanto, estava surda a tudo isso, pensando e planejando. Dois dias depois de sua chegada falou com seus guardiões:

- Preciso ir à forja. Quero preparar algo. – eles acenam para o seu pedido e pedem ao Dragão Marrom que ceda um espaço na forja da fortaleza para a princesa. Ele estranha o pedido, pois fêmeas, em geral, não eram ferreiras, mas, talvez mais por curiosidade que qualquer outra coisa, concede a autorização.

Os guardiões acompanham a princesa até a área designada e começam a ajuda-la, assim que o fogo queima forte ela começa fazer o que tinha planejado. Tar fica de guarda, enquanto Mak ajuda a manter o fogo aceso e não demora Alin se aproxima curioso...

A cena lhe surpreende, pois pensava que seria Mak a estar usando a forja, mas é Hell que se empenha em criar algo que lhe parecia uma armadura, mas diferente do estilo que os dragões costumam usar. Ela está concentrada e nem percebe a presença do rapaz, que após conversar um pouco com Tar se retira.

As forjas ficam em um lugar afastado e profundamente enterradas na montanha, então a princesa se sentiu segura para usar parte de seu poder, mas tentou disfarçar o máximo possível, o fazendo em pequenas, mas contínuas, doses, impregnando o que fazia com seu poder e vontade. Depois de cinco dias de trabalho contínuo se deu por satisfeita e mostrou seu trabalho aos guardiões.

Quando ela mostrou o que tinha criado primeiro se surpreenderam, depois sorriram balançando a cabeça.

- São lindas! – Mak falou com um sorriso de canto.

- Sim, mas não devia ter feito isso. Gastou poder que deveria ter ficado acumulando. – Tar aponta, mas ainda assim estava contente com o trabalho dela.

- Poder pode ser acumulado novamente, posso descansar e repor o que gastei. – ela fala muito séria para Tar. – Mas, se perder algum dos dois uma parte de mim vai morrer também.

Ela tinha se aproximado de suas criações e as olhava com satisfação. Tinha forjado duas armaduras para seus guardiões na forma de dragões como a sua própria. A de Tar era branca azulada como as geleiras das terras de seu clã e a de Mak era verde escuro como as profundas florestas onde ele nascera. Havia criado armas para eles também, de acordo com o gosto de cada um.

- Elas estão vivas e sabem porque foram criadas. – ela lhes contou com um sorriso. – Devem nomeá-las. Mas elas não são como a minha. – ela os adverte. – Estão similares às usadas pela guarda de ouro de Atena. Vão protegê-los nas batalhas que virão.

- Está bem princesinha. – Tar cede diante das palavras da menina. – Vamos leva-las ao quarto e deixar que façam companhia à sua e você vai se alimentar e descansar.

- Antes temos que encontrar Alin. – ela fala olhando de um para outro. – Fiz algo para ele também. – fala pegando um embrulho longo.

Os guardiões concordam, guardam suas armaduras em suas caixas e vão atrás do rapaz. Eles o encontram junto de Lina e outras crianças resgatadas por eles, no grande espaço reservado para isso. Assim que os veem as crianças que podem se mover correm e gritam cumprimentando-os, querem falar todas ao mesmo tempo e os três tentam dar atenção a elas, depois de algum tempo de algazarra Lina as chama de forma doce e sorridente, mas as crianças só dão espaço quando os três prometem visita-los todos os dias até quando partirem novamente. Apesar de contrariadas as crianças concordam e permitem um pouco de espaço aos três.

A princesa se aproxima de Alin e o chama para conversar um pouco mais afastado, enquanto Tar e Mak conversam com Lina e agradam os filhotes, que já estão mais calmos.

- Alin, você tem acompanhado o príncipe em suas incursões? – ela pergunta direta a ele, sem nenhum tipo de preâmbulo.

- Sim, Hell. – o rapaz fala coçando a cabeça. – Ele pode estender as garras e quando falei que a única forma de tornar-se rápido com elas era depender delas para sobreviver ele quis começar a treinar. Desde então eu e Sheyna o acompanhamos.

- Ele ainda é muito lento. – ela falou para Alin. – Você tem aliviado com ele. – ela o repreende e ele cora, desviando o olhar.

- Não posso pegar tão pesado. – ele explica. – O Dragão Marrom me mata. – ele suspira dramático.

- A vida dele pode depender dessas garras, Alin. – ela adverte e Alin começa a pensar que ela está tentando ajudar o irmão sem que ele saiba.

- Agora não adianta mais. – o rapaz suspira derrotado. – Não tem mais tempo, logo partiremos todos. – ele completa sério.

- Tem razão. – ela acena e pega o embrulho que carregava, estendendo ao rapaz. – Não sei se sabe usar uma dessas, mas vou supor que Ean ou Sheyna devem ter começado a te ensinar como lidar com elas. Fiz para você.

Alin olha o embrulho que lhe é estendido com surpresa e o pega devagar, quase não acreditando que ela tinha feito algo para ele. Ele desembrulha e fica abobalhado com o que tem nas mãos.

Uma espada longa dentro de uma bainha de couro marrom trabalhada com desenhos rebuscados, a empunhadura é simples, mas é possível ver que quem a fez usou muito capricho e técnica, o equilíbrio é perfeito. Ele tira a espada devagar da bainha e olha a lâmina, que brilha à luz refletindo o reflexo dele, de repente ele sente um pequeno choque passar da espada para seu corpo e ela começa a brilhar levemente, o surpreendendo.

- Bom, ela te reconheceu como o usuário dela. – Hell comenta satisfeita.

- Como assim? – ele pergunta sem tirar os olhos da espada.

- Tentei uma técnica nessa espada que eu não sabia se funcionaria... Fiz com que ela fosse usada somente por uma pessoa: alguém que ela considerasse digno de brandi-la. Se ela não te escolhesse você não poderia nem mesmo levantá-la, que dirá que ela ressoasse com você; se a minha tentativa não tivesse dado certo ela seria apenas um objeto inanimado, ainda que de alta qualidade. – ela explica.

- Quer dizer que ela é mágica? – ele pergunta encantado e Hell coça o rosto pensando na resposta.

- Acho que posso dizer que sim. Ela está viva, Alin, e é consciente. Cuide bem dela e não faça nenhuma besteira ou ela vai te rejeitar. – ela o adverte com seriedade. – O poder dela vai refletir o que você já carrega dentro de si... Aqui. – Hell toca o peito de Alin levemente. – Sempre a use para fazer o certo. E não se esqueça de dar um nome a ela. Todas as coisas vivas precisam de um nome. – ela fala sorrindo satisfeita por saber que agora ele tem algo que possa protegê-lo na batalha.

- Obrigado Hell. – ele guarda a espada com cuidado na bainha e se aproxima da menina sem jeito, mas em um impulso a abraça e é abraçado por ela.

- Espero que ela te proteja, Alin. – ela fala para o rapaz, continuando a abraça-lo.

Alin sente o cheiro dela e se sente aquecido com o pequeno corpo dela em seus braços, ficam assim por alguns momentos até ouvirem alguém pigarrear, quebrando o encanto que os tinha envolvido, e se separam devagar e corados diante do olhar brincalhão de Tar, Mak e Lina.

- É um belo presente Alin. – Mak fala sorrindo e o rapaz olha para o chão sem graça, mas acena concordando.

- Sabe usar? – Tar também estava sorrindo, mas estava preocupado que o rapaz não soubesse fazer uso do presente e acabasse se machucando ou a outra pessoa.

- Ean e Shenya estão me ensinando, mas eles não tem muito tempo livre. – ele fala sem jeito para Tar.

- Te darei algumas aulas então. – Tar fala determinado. – Vou pegar pesado, pois terá que ser um intensivo, mas depois de algumas aulas, você já não vai mais se ferir ou a outros. Me encontre aqui depois da refeição vespertina, você me mostra onde treina e vamos pra lá.

- Obrigado Tar! – o rapaz fala empolgado, mas o gemido de Hell o faz virar na direção dela.

- Não vai incapacitar ele Tar, por favor. – ela pede com uma careta e depois olha para Alin com pena. – Estou com pena de você, Tar é um excelente mestre, mas já é rigoroso em um treino normal, que dirá em aulas intensivas...

- Não importa Hell. – Alin fala com determinação. – Mesmo que eu acabe todo machucado e dolorido, valerá a pena se puder proteger Lina e as crianças.

- Assim é que se fala Alin! – Mak dá um tapa nas costas do rapaz que o faz tropeçar para frente. Mas está feliz com essa oportunidade de aprender a usar o presente que Hell tinha criado especialmente para ele.

- Já vamos. – Hell fala bocejando. – Tenho que descansar. Até logo. – ela acena aos dois e vai embora, seguida por Mak e Tar.

Alin admirava a espada e pensava em que nome daria a ela, não desejava nada violento, pois apesar de ser uma arma só pretendia usá-la para proteger aqueles que precisavam, como Lina e os filhotes de quem eles cuidavam. Queria que ela representasse todo o seu instinto protetor, pois queria ser o escudo de todos com quem se importava e a espada serviria a esse propósito.

Sentiu que a espada ressoava, como Hell tinha falado, parecia que ela tinha gostado dessa disposição e então sorriu, retirando a espada novamente da bainha e a admirando:

- Kuratoro... “Guardião”, sim, esse será seu nome. O que acha dele? – ele sorriu quando a espada brilhou com mais intensidade, como se tivesse aprovado seu nome. Tornou a guardar a espada e viu o sorriso de Lina que não tinha se afastado e ouviu quando ele nomeou a espada.

- Kuratoro gostou do nome que deu a ele. – ela falou com um sorriso doce. – E eu também, por que um guardião é um defensor e nunca um atacante, gosto que você pense em guardar ou proteger alguma coisa.

- Tenho que proteger você e as crianças. – ele disse um pouco envergonhado e sentiu a espada emitir pequenas ondas de aprovação com suas palavras, tirando um sorriso dele.

- Venha comer. – Lina o chamou. – Daqui a pouco Tar vai vir te pegar para aprender a usar Kuratoro.

- Certo Lina. – ele concordou com a sua amiga e a acompanhou para também ajuda-la a servir os menores. Não importa quanto o treino de Tar fosse puxado, sempre ajudaria Lina nessas tarefas, porque tinham poucas pessoas ajudando e gostava de estar perto dos pequenos.

Depois de realizar suas tarefas e se alimentar foi ao encontro de Tar e o conduziu até a área de treino que sempre usava com Ean ou Sheyna.

- Não usaremos espadas de verdade ainda. – Tar disse jogando um bastão de madeira para ele. – Vou testar suas habilidades e depois começamos a aula de verdade.

Ele começou a ser testado em agilidade, velocidade de reação, noção de distância, atenção, resistência.

Logo nos primeiros momentos percebeu que Tar era exigente, metódico e detalhista, corrigindo o menor erro dele, mas também se deu conta de que não era tão ruim assim e isso se devia as lutas na arena.

- Tem uma boa base, um pouco selvagem e sem técnica. – Tar o avaliava de alto a baixo. Alin não estava muito ofegante e toda vez que estava realizando uma tarefa que lhe dava era focado e sua mente sempre parecia estar avaliando possibilidades de cumprir o que lhe era proposto, era criativo e imprevisível em suas respostas. – Já lutou por sua vida muitas vezes, Alin. – essa afirmação pegou o rapaz desprevenido e ele olhou Tar um pouco desconcertado.

- Sim, lutava em uma arena no acampamento em que nos salvou. Lutas até a morte, com as mãos nuas. – ele resumiu e Tar apenas acenou.

- Agora vamos ver o que o príncipe e a filha do Dragão Marrom te ensinaram. – ele jogou uma espada de madeira para Alin e atacou em um movimento fluido do qual Alin quase não se livrou, seguido por uma sequência de golpes que Alin não conseguiu revidar, apenas se protegia e, mesmo assim, no sexto golpe foi atingido.

- De novo. – Tar comandou e começaram tudo novamente.

A aula só acabou quando estava anoitecendo. Tar deu o treino por encerrado e viu Alin desabar ofegante, ele havia sido duro com o rapaz, mas ele foi bem para uma aula como aquela. Estendeu a mão para Alin que a pegou para se levantar gemendo.

- Amanhã na mesma hora. – Tar falou enquanto andava calmamente acompanhando Alin para fora da área de treino. Sorriu quando o menino acenou devagar, mas apesar das dores viu força de vontade em seu rosto e isso lhe deu certeza de estar fazendo a coisa certa.

Se separaram na ala dos filhotes resgatados e Tar foi para o quarto que dividia com a princesinha e Mak. Ela estava dormindo e Mak lia algo, ele levantou a vista e sorriu para Tar:

- Então, foi um bom treino? – Mak perguntou curioso.

- Alin tem talento, se tivesse alguns meses com ele poderia torna-lo um espadachim competente. – Tar sorriu olhando sua princesinha. – Mas ele ainda está muito longe do nível de nossa princesinha.

- Ela teve anos de dedicação e treino. Não menospreze o rapaz. – Mak falou com um sorriso repreendendo seu amigo.

- Não o estou menosprezando. – Tar se defendeu. – Apenas digo a verdade, nossa princesa parece que foi talhada para ser uma guerreira altamente habilidosa. Já conversamos várias vezes sobre isso, pouquíssimos guerreiros seriam páreo para ela.

- Vamos torcer para quem ela vá enfrentar não ser um deles. – Mak falou sério e o clima pesou no quarto.

Tar suspirou profundamente e foi se banhar, o treino o havia deixado suado e queria estar limpo para comer e se deitar na cama que dividia com Mak e a princesinha.

Voltou ao quarto e deu de cara com Mak contrariado olhando Ean, que estava no quarto, longe da cama, mas observava tudo com atenção e isso incluía a princesa adormecida.

- O que deseja aqui Ean? – Tar falou calmo e em voz baixa, não queria perturbar o descanso da princesa.

- Soube que está treinando Alin. – ele respondeu baixo, apesar da careta por Tar ter usado seu nome e não seu título. – Por que?

- Alin ganhou um presente de nossa princesa e precisa treinar para poder usá-lo com algum conhecimento. – Tar respondeu e viu o rosto do príncipe mostrar confusão.

- Presente? Não entendo. – ele falou olhando sua gêmea que ainda dormia, apesar da conversa que estavam tendo perto dela. – Ela tem o sono pesado para uma dragoa. – ele comentou curioso.

- Sabe que está segura conosco. – Mak falou cruzando os braços, desafiante. – E está cansada. – ele completou vagamente.

- Cansada? Usou poder mágico? – Ean não atinava com o motivo para o cansaço de Hell, até observar as três caixas que estavam mais no canto, um pouco escondidas. Ele se concentrou e sentiu a energia que vibrava naquelas caixas, era poderosa.

- Sim. – Tar confirmou. – Precisou realizar algumas coisas, mas o fez de forma extremamente cautelosa. O inimigo teria que a estar procurando ativamente para poder detectar e mesmo assim seria difícil, pois as montanhas encobriram seu poder. – ele tentou tranquilizar Ean, mas para sua surpresa ele foi até as caixas que continham suas armaduras e as olhou com especial atenção, se agachando perto delas.

- Essas duas são diferentes desta. – ele falava das armaduras deles, comparando-as com a armadura da princesa. – Mas sinto o mesmo poder nas três, embora esta negra tenha mais algum outro poder a envolvendo.

Mak olhou Ean avaliando o rapaz. Lembrava que ele demonstrava grandes habilidades mágicas desde pequeno e que era estudioso, sempre ávido por aprender, entretanto, o que ele falava estava em um nível extremamente intuitivo e sutil... Como diferenciar aromas parecidos, mas diferentes.

Estava pensando sobre isso, talvez fosse uma aptidão ou uma sensibilidade ao poder da irmã, quando percebeu a mão do rapaz levantar para tocar a caixa com a armadura da irmã. Tentou evitar que o fizesse, mas não foi rápido o suficiente e esperou que ele não se machucasse muito, mas para a surpresa dele e de Tar, a caixa da armadura da princesa brilhou, o que surpreendeu os três.

- O que está fazendo Ean? – a voz sonolenta da princesa chamou a atenção deles e Ean corou com a pergunta, mas mesmo assim continuou com a mão sobre a caixa da armadura da irmã.

- Avaliava o trabalho do ferreiro que fez esta caixa. – ele respondeu rápido e Tar e Mak arquearam a sobrancelha para aquelas palavras. – É um verdadeiro artista! – e desta vez o elogio foi verdadeiro, pois, realmente a caixa era uma verdadeira obra de arte. – Estas outras não foram feitas pelo mesmo ferreiro. – ele falou olhando as outras duas caixas. – Talvez por um aprendiz, o estilo é diferente, mais delicado, porém também são muito bonitas. – novamente o elogio é verdadeiro.

- A caixa que está tocando foi feita por um verdadeiro mestre da forja. – a princesinha fala sorrindo, ainda sentada na cama.- E as outras duas por sua aprendiz. – ela completa bocejando logo em seguida.

- Uma aprendiz? – Ean está surpreso, nunca tinha ouvido falar de uma ferreira. – Então aprendeu bem com o mestre, pois tem que estar atento para perceber as diferenças entre os dois trabalhos. – ele voltou sua atenção às caixas, não percebendo os sorrisos marotos dos dois guardiões.

- Não toque nas outras duas caixas, por favor. Elas vão te machucar. – a princesa pediu e Ean voltou seu olhar para as caixas que ela mencionava e pareciam inanimadas, mas ele sabia que isso não queria dizer nada.

- Se elas tem um sistema de defesa por que esta não me atacou? – ele perguntou curioso. O mago nele queria entender o poder que emanava daquelas caixas.

- Acho que a caixa que está tocando, na verdade, o que a caixa está guardando, gosta de você. – a princesa falou ao seu irmão e ele a olhou espantado.

- Tem algo vivo aqui? – ele estava fascinado e passou a mão ao longo da caixa, o que a fez brilhar com mais força.

- Sim, ela está viva e gosta de você, caso contrário teria sido jogado para o outro lado do quarto com um choque. – ela explica entre um bocejo e outro.

- Ela... – ele parece cada vez mais interessado no que a caixa contém e os guardiões somente observam a interação entre os irmãos. É a primeira vez que eles não se agridem com gestos, palavras ou olhares, agindo civilizadamente. – Qual o nome dela? – ele pergunta animado e vê Hell fazer uma careta.

- Ela ainda não tem um nome. Não acho nada apropriado para ela e isso me frustra. – a caixa brilha mais uma vez e Ean sente algo.

- Ela está te consolando! – ele fala surpreso com o que sente. – É como se entendesse sua dificuldade e te consolasse. – nesse momento Hell se mexe em uma velocidade incrível e está ao seu lado tocando a caixa.

- Desculpe querida, - ela conversa com a caixa – nada me ocorre e você ainda não tem um nome. – a caixa brilha de novo e Hell sorri. – Você é maravilhosa! – ela sorri e beija a caixa, se levantando e voltando para a cama, onde se aconchega entre os lençóis.

Está observando a caixa de sua armadura ressoar com a presença de seu irmão gêmeo e se pergunta o que significa, mas seus olhos pesam de cansaço e acaba adormecendo.

Ean observa a sua gêmea fechar os olhos devagar e adormecer, parecia que era muito mais jovem agora. Ele percebe que acabou fugindo do assunto que foi tratar ali e se afasta da caixa, virando para Tar.

- Quero treinar com Alin  e você também. Segundo Sheyna, Hell é formidável em combate, como você foi um de seus instrutores acredito que me beneficiaria com seu treinamento. – ele fala sério e Tar coloca a mão no queixo, pensativo.

- Estou começando um tipo de treinamento com Alin que talvez você não suporte bem, pois é muito intenso. Ele tem pouco tempo e muita coisa para aprender. E outra questão: se for meu aluno, não farei diferença entre você e ele. Não me importo se é o rei e ele um órfão. Serão iguais. – Tar fala e vê Ean também ficar pensativo, pesando suas palavras.

- Que horário irão treinar? – Ean pergunta.

- Após a refeição da tarde. – Tar responde avaliando o gêmeo de sua princesinha.

- Se eu aparecer para treinar significa que aceitei seus termos. – ele fala e depois de olhar para a caixa da armadura uma última vez se retira.

- Ficou louco?! – Mak pergunta de seu amigo. – Não acredito que está pensando em treinar Ean!

- Normalmente eu diria não a ele. – Tar fala para Mak. – Mas a reação da armadura da princesinha me colocou para pensar.

- Pensar o que? – Mak pergunta desconfiado.

- A armadura não o rejeitou e ressoou com ele. Talvez ela estivesse reconhecendo o sangue igual que corre nas veias dos dois, mas acho que é mais profundo. – ele olha sua princesinha adormecida e Mak tem um estalo.

- A princesinha se importa com ele e armadura sente isso! – ele fala surpreso.

- Não é porque ele a rejeita que ela vá fazer o mesmo. – Tar fala pensativo. – Mas, talvez esconda esse sentimento, até dela mesma, para não se magoar mais. Viu como conversaram? Não digo que pareciam irmãos, mas eles se abriram mais um para o outro. – Tar suspira preocupado com sua princesinha.

- Ele não reagiu mal, mas ainda sinto que ele é uma ameaça a ela. É uma impressão... – Mak fala devagar tentando explicar ao seu amigo o que sentia. – Ele se sentiu curioso com a armadura, mas ainda acho que ele a atacará quando não for mais útil. – essa era a maior preocupação de Mak, uma traição depois que vencessem a batalha.

- Não vamos descartar essa possibilidade. – Tar fala sério, encarando Mak. – Se ele aparecer para treinar, vou dar a ele o mesmo treinamento que Alin. Manejo com a espada, sem técnicas especiais. Isso só a princesinha e meus descendentes, se os tiver, saberão.

- Está bem Tar. Tem bom senso até demais. Faça como quiser. Agora coma e vamos dormir. – Mak aponta para o jantar que estava esperando Tar e vai se arrumar para dormir, enquanto seu amigo se alimenta.

Tar pondera que talvez não seja má ideia ensinar uma coisa ou outra ao príncipe, pelo menos ele teria uma chance maior de viver e a sua princesinha não poderia ser considerada culpada se algo acontecesse com Ean.

 


Notas Finais


A palavra Kuratoro existe. É esperanto e significa guardião.
Sempre que penso em Alin me vem a figura de um protetor, um defensor e quis lhe dar algo criado por seu amor que representasse esse lado dele.
Ean tem uma forte intuição e sensibilidade mágica, além de ser um mago poderoso... Mas isso não o impede de ser um idiota com a irmã dele.
Espero que tenham gostado.
Beijos.


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