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História A silent voice - Sensação


Escrita por: Doolboy

Notas do Autor


Oi meus amores! Desculpem a demora, fiquei sem internet por um tempo e não fiz nada nas minhas férias a não ser me preocupar com vocês. Por um tempo pensei em acabar com a fic mas tive uma onda súbita de inspiração. Ouvi muito a Melanie Martinez nesses dias, as músicas dela sempre me inspiram em qualquer situação.
Boa leitura!

Capítulo 3 - Sensação


                                                                                                  __SASUKE__

 Quando eu era pequeno tinha um urso de pelúcia em forma de dinosauro com espinhos falsos espalhados pela coluna comprida que ia até a ponta do rabo, eu brincava com ele sempre que me sentia sozinho, as vezes trancado na escuridão no meu quarto ou quando meus pais brigavam ou quando os outros meninos me ignoravam por completo na escola por ser o mais brigão de todos. Agora penso que eu sou o urso de Ino, ela fala comigo apenas quando Gaara está de mau-humor.
   Mais de um mês se passou desde a última vez em que vi Naruto na escola. Nenhuma notícia dele circulava entre os alunos, e os professores faziam questão de ficarem calados á respeito dele, era quase como se sua existência fosse um mistério. Alguns boatos começaram a circular pela escola, o primeiro deles era que como era verão, Naruto não vinha á escola porque era um vampiro e se ficasse exposto ao sol, ele morreria na hora.
   Outros diziam que ele estava tão mal mas tão mal com a briga que teve com Gaara e Neji que não conseguia ficar em pé até hoje, mas, eu sei que esses boatos eram todos exagerados e feitos para reprimi-lo mais ainda. Porque foi eu quem se meteu na briga, e fui eu que por algum motivo o salvei de levar uma surra daquelas e ainda hoje eu me perguntava como meu corpo se moveu tão rápido ao ponto de eu imobilizar alguém no chão e socá-lo tanto sem sentir dor nos nós dos dedos.
   O último boato mais cogitado aqui na Konoha's High é que Naruto havia morrido pouco depois da briga, ele teria se jogado na Ponte Da Morte. A Ponte Da Morte, descobri a pouco mais de duas semanas, é de fato uma ponte que até hoje é usada em sua maioria por estudantes para cometerem suicídio. Meu estômago revirava só de pensar que Naruto havia morrido e nesse tempo, meus pensamentos têm sido tomados na parte para descobrir o que aconteceu com ele.
  Por algum outro motivo desconhecido por mim, Gaara não fez nada a respeito da briga e ficou dois dias sem falar comigo depois as coisas voltaram ao ''normal'', ele nunca falava dois nomes; Sakura e Naruto. Nunca soube o que tinha acontecido com essa tal Sakura mas, ao que parece, foi algo terrível. Tão terrível que Gaara se recusava a pensar em voz alta.
  As minhas noites se resumiam em ficar com Ino de vez em quando, estudar pouco, beber muito e acabar não dormindo pensando no que havia acontecido com Naruto. Apesar de eu morar perto da casa dele, nunca mais o vi do lado de fora, apenas sua mãe, Kushina que saia as pressas num carro e voltava com enfermeiros. Mas absolutamente nunca Naruto saia para fora, nem aparecia na janela. Era como se ele realmente tivesse morrido. Mas ele não morrera, eu sabia.
  - Bú! - Ino bateu no meu peito de repente me tirando dos pensamentos, o cabelo longo louro balançando de um lado para o outro. - Pensando na morte da bezerra ?
  Bom, eu estava sim pensando numa morte, uma morte que ainda não tinha acontecido. Ela ficou na ponta dos pés e tentou me beijar mas eu me desencostei da parede no mesmo instante e beijei o topo de sua testa, sorri e segurei sua mão esquerda com calma e fomos andando para a sala de aula.
  Ela estava mais feliz que o normal do meu lado, e eu não sabia o porque. Ino começou a falar algo sobre a formatura e de como ela e as outras garotas do grupo de torcida estavam treinando duro nos últimos dias, os jogos escolares começariam na semana que vem e ela mal conseguia se aguentar de ansiedade. Senti quando o peito direito dela raspou pelo meu braço, foi uma sensação boa mas... incômoda no fim das contas.
  Eu me perguntava diariamente que tipo de relacionamento nós tínhamos já que ela uma hora ficava comigo, outra com Gaara e depois vinha chorando para mim e eu nunca a questionava. Nunca. Ela entrou primeiro na sala e foi como se ela desfilasse num tapete vermelho indo até a sua carteira, botou seu material e veio depois na minha direção. Eu sequer me movi da porta, só percebi que estava atrapalhando a entrada dos outros quando ela me puxou para o final da sala e eu deixei meu material sobre minha carteira.
  - O que você tem ? - ela acariciou meu rosto, a mão pequena e gelada. Os olhos azuis claros demais.
  - Nada. - minha voz saiu mais rouca que o normal e Ino recuou a mão para junto do peito como se estivesse com medo que eu a mordesse. - Só estou cansado... Não se preocupe.
  O semblante dela mudou, eu tomei meu lugar na cadeira e ela sentou-se na minha frente quase se atirando para o meu colo na sala parcialmente vazia.
  - Bom... Tenho certeza de que pode falar comigo o que quiser.
  Eu não podia e não queria. Eu nunca confiaria tanto em Ino ao ponto de compartilhar meus pensamentos com ela.
  - Estou bem. Só preciso ficar sozinho.
  - Ah, claro. - não rápido mas sorrateiramente, ela se afastou de mim e foi conversar com outras garotas que chegavam. Logo ela se esqueceu de mim e começou a saltitar enquanto falava sem parar.
  Senti o olhar pesado de Gaara sobre mim e não me importei, assim como faço com maior parte das coisas, não me importo. Passei os próximos nove minutos sentado sem fazer nenhum movimento, minhas pernas ficaram doloridas, o sinal tocou e eu me levantei de supetão e peguei minha mochila e sai de sala. Ouvi Ino chamando-me mas eu não queria ouvir sua voz hoje, nem depois. Os professores já apareciam nos corredores e certamente eles fariam de tudo para que eu voltasse para a sala de aula.
  Por isso fui para o banheiro dos meninos e fiquei cerca de cinco minutos ali trancado acompanhado do cheiro de limpeza e shampoo, quando não havia mais riscos no caminho sai do banheiro e fui agachado para o pátio e joguei minha mochila por cima do muro, ouvi quando ela bateu de cara no chão e subi num latão de lixo verde e passei minhas mãos pelo muro. Escutei um gritinho vindo detrás de mim e quando olhei por cima do ombro, era a diretora Tsunade.
  Apressei-me e coloquei a ponta do meu calçado contra a parede branca e forcei meus cotovelos a se inclinarem e passei a perna direita pelo muro, depois a direita, olhei mais uma vez para a diretora que apontava para mim  e gritava algo para dois professores e pulei para o lado oposto. A poeira subiu um pouco e nesse meio tempo passei minha mochila pelas costas e sai correndo feito um louco, só parei quando estava bem longe do colégio e perto da praça onde vi Naruto pela última vez.
  Minha garganta ficara seca e meus lábios rachados, vi Shikamaru sentado no banco da praça com alguém pequeno demais para que eu visse a essa distância, mas era uma mulher ruiva. Encostei meu ombro direito no muro de flores sobre a calçada e continuei a olhá-lo. Ele cerrou os olhos e apertou os punhos sobre as pernas, a mulher então afastou-se e passou as mãos pelo rosto, era Kushina, ela abraçou Shikamaru.
  -Ei! - virei-me para trás de repente, era um professor.
  Comecei a correr mais do que rápido passando pelas pessoas como um raio. Num rompante entrei em casa. Ele não poderia ter me seguido até aqui, poderia ? Por melhor das dúvidas tranquei as portas e janelas e me recolhi no quarto. Tudo fora de lugar e ainda assim eu sabia onde tudo estava, por exemplo, eu não precisava me levantar para procurar nada porque tudo que eu precisava estava trancado dentro do meu guarda-roupas, meus sapatos todos debaixo da cama e minhas roupas espalhadas sobre as cadeiras do quarto.
  Tirei meus sapatos e joguei a mochila no chão. Meus pais não estavam e Itachi provavelmente dormia no quarto feito um porco. Liguei as luzes e peguei um bloco de notas que tinha ganhado no natal passado, me joguei na cama esfregando um pé no outro tirando as meias e me arrastando na cama para ficar em cima de um travesseiro. Peguei uma caneta do bolso da calça e anotei '' operação N''. A partir de agora eu iria descobrir tudo a cerca de Naruto e acabar com seus mistérios.
  A primeira coisa que eu fiz foi arrancar algumas folhas do bloco de notas e escrever pequenos trechos dos boatos que eram mais aceitáveis até o momento, ele não poderia ter morrido ( anotei), então a conclusão mais plausível que eu cheguei sozinho foi um grande X em vermelho no meio da folha. Eu sabia que ele tinha deficiência auditiva mas aquilo não era algo suficiente para morrer, milhares de pessoas nasciam com essa doença... e uma boa parte delas sofria como ele deveria sofrer.
  Saltei da cama e procurei por um tubo de cola e colei aquela folha na parede acima da cabeceira da minha cama desorganizada. O segundo passo seria recolher todas as informações que os outros alunos sabiam mas, a principal informação estava bem guardada com os professores e com a minha grandiosa fuga de hoje, pode-se dizer que eu jamais teria algum crédito com eles. Já posso imaginar que Mikoto recebeu a ligação da diretora relatando a minha grandiosa escalada pelos muros.
  Mas agora aquilo não importava. Passei o resto do dia até as quatro da tarde pensando, dormindo, coçando o saco na cama e comendo qualquer coisa que tinha na geladeira até o momento em que uma bola de basquete foi atirada na minha porta. Itachi, pensei. Abri a porta antes que ele batesse aquela maldita bola novamente, se ele o fizesse, eu o faria engoli-la.
  Ele usava uma calça folgada caqui e camisa escura, as unhas recém-pintadas de preto e os cabelos amarrados, descalço. Ele me olhou por vários segundos sem dizer nada, apenas batendo a bola grande laranja contra o piso limpo, o braço direito subindo e descendo segurando e rebatendo a bola. O barulho reverberando pelo corredor e nós dois nos olhando. Ele sabia que eu odiava aquele som.
  Antes que a bola quicasse pela 12° vez no piso, ergui meu braço direito e bati na lateral da bola e a fiz ir quicando para o outro lado e descer os degraus da escada á baixo e bater em algo no final. Itachi e eu olhamos enquanto ela fazia seu caminho para longe de nossos campos de visão.
  - Ninguém está em casa hoje... - ele disse como se não esperasse por uma resposta. Colocou as mãos na cintura suada por baixo da camisa.
  - E ? - coloquei meus braços na frente do peito, Itachi esticou os cantos dos lábios num meio sorriso malicioso.
  - Eu acabei chamando uns amigos meus para uma reuniãozinha. - senti que ele tentou conter o tom de animação espontânea na voz rouca, mas foi impossível e ele ergueu as sobrancelhas finas se virando para  mim. - Vai. chame seus amigos porque essa vai ser A Festa.
  Apertei meus olhos na sua direção. Seria perigoso chamar TODAS as pessoas que nós dois conhecíamos para uma festa na nossa casa enquanto nossos pais morriam de trabalhar. Pensei por um segundo em dar-lhe um soco e mandar ele se ferrar, mas de repente, ver dona Mikoto perder as estribeiras me pareceu bem conveniente.
  - Hum. Tudo bem. - concordei e ele sorriu ainda mais.
  - Ótimo! - ele empurrou meu ombro para o lado e abriu a porta do quarto, vasculhou toda a área depois me encarou como se eu fosse um criminoso. - Agora tome um banho e, dê um jeito nessa bagunça, eu vou abastecer a geladeira e todo o resto...
   Por que eu daria um jeito na minha adorada bagunça organizada ? E por que ele achava que eu iria levar alguém para o meu quarto. Não teria como ele saber que eu estava saindo com Ino, nós não estudávamos na mesma escola.
  Acabou que os 15 minutos que achava que faltavam para dar sete da noite, se passaram mais rápidos que um piscar de olhos e quando dei por mim ouvi barulho de pessoas entrando em casa, a risada tosca de Itachi e a voz de... Deidara!??
  A minha curiosidade foi maior e corri para o canto da escada, fiquei encolhido agachado olhando para baixo. Deidara era o namorado do meu irmão havia mais de três anos e pelas minhas contas eles terminaram e voltaram umas 35 vezes até o inverno do ano passado, e por mais incrível que pareça eles ainda não tiveram nenhuma discussão. Se não Itachi estaria choramingando pelos cantos como sempre quando eles '' terminavam'' por apenas dois dias.
  A relação deles era a mais complicada e mais interessante que eu já vira. O cheiro de cigarro logo aparecera entre eles e eu me senti incomodado por alguma coisa. Talvez fosse porque eles se davam bem, bem até demais e estavam amplamente felizes. Sai do meu esconderijo e voltei para o meu quarto. Me joguei de novo na cama e pouco me importei se meus pais chegariam ou não hoje.
  O teto branco do meu quarto tinha rachaduras cinza, foram deixadas aí numa época em que eu era viciado em fios. Não importava o que as outras pessoas entendiam quando eu falavam nos fios delas. Eu sabia exatamente o que eles significavam então nunca me importei em apagá-los.
  Vinte minutos se passaram voando e de repente a música alta começou a tocar muito mais alta quase me derrubando da cama, ouvi risos, gritinhos e conversas. Desci mais uma vez, agora mais confiante. Não era mais apenas os amigos de Itachi, agora eram os amigos dos amigos. Nunca vi a casa tão lotada antes. As luzes que eu não sabia onde ele havia arrumado oscilavam entre o vermelho, azul e verde e tinha uma fumaça gelada espalhada pelo piso e parava acima dos joelhos.
  Não havia muitas pessoas que eu conhecesse ali. Passei na cozinha e peguei uma cerveja e bebi vendo as pessoas dançarem de um lado para o outro. No meio da multidão vi cachos louros, era Ino sem dúvida, bebi mais e sai para dançar mas conforme eu dançava mais a sala ficava cheia e mais difícil ficava para eu respirar. A única saída foi sair de casa.
   E de repente ali, em meio ao frio da noite extensa e escura que estava longe de acabar, fui assolado pela onda gritante de fragilidade pela figura agora repousante na minha frente. E agora o todo o álcool que tomei parecia não mais percorrer por minhas veias, e meu coração que batia nos ouvidos como sinos tocando, batia mais lento, porém duas vezes mais forte como se quisesse romper as veias que o seguravam, rasgar a carne se atirar nas mãos de Naruto como seu salvador.
   Meus pés fixaram-se no chão tal como a gravidade manda, mas eu sentia que meu peso havia dobrado e meus joelhos sentiam a necessidade de se dobrarem. Pisquei, só para ter certeza de que não era mais uma miragem e sim real. A lua pendurada no alto do céu ficou maior do que realmente costumava ser, a música alta já não me alcançava e a euforia sumia gradativamente dando lugar a uma coisa nova. Desconhecida. Temi por um segundo que fosse uma doença.
  O vento soprou gentil no meu rosto e bagunçou minhas roupas escuras, subitamente inapropriadas por alguma coisa que não consegui identificar. Naruto não se moveu, os fios dourados balançaram de um lado para o outro numa dança serena e seus olhos azuis me encararam pelo que pareceu uma eternidade e então ele virou o rosto para baixo, além da ponte e procurou seu reflexo perdido e impossível de ver na água agora escura abaixo de nós.
  Minha respiração ficou pesada e vi a necessidade de respirar invadir meu corpo. Onde estava toda a minha curiosidade agora ? Por que minhas pernas teimavam em não se mover, quando eu claramente tinha uma vontade e lhes ordenado ? Forcei uma passada, depois outra e mais outra. Parei no corre mão longo demais, vermelho demais e antigo demais.
 As palavras coçavam na minha garganta, eu queria lhe fazer milhares de pergunta mas a presença em especial dele me fazia ficar quieto e cheio de borbulhos dentro de mim como um enxame de abelhas ferozes capturando uma única presa.
  Ouvi sua respiração entrecortada pelo frio e segurei o corrimão, ele era a única coisa capaz de me manter de pé naquele momento. A Ponte da Morte não era tão assustadora assim como pensei. Era apenas uma ponte afinal, acabada e cheia de lendas bizarras. Naruto piscou mais uma vez, e eu desejei ouvir sua voz mas sabia que ele não faria isso.
  Ele me olhou e foi um incêndio só percorrendo meu corpo. Minha pele queimou contra o frio que soprava firme contra qualquer um fora de casa, meus batimentos novamente falharam e retornaram de uma forma estranha.
  - E-E-Eu... - ele falou. Tímido e fazendo força nas cordas vocais para que eu definitivamente o entendesse, ele apertou as mãos finas no aço gélido da ponte, empurrou a ponta do sapato contra uma das grades carmim sujando a ponta do calçado. - Que...ro... So...nho.
 Entendi é claro o que ele quis dizer, mas não significava que eu o faria. A voz dele era parecida com um pequeno engasgo, como se fosse uma criança aprendendo a falar e não me pareceu feio ou repulsivo. Foi gracioso. Eu queria ouvir mais. Muito mais.
  Passei a ponta da língua pelos lábios recém secos e me lembrei de piscar. Eu ficara tão atordoado com a sua presença que me esqueci das funções normais de um corpo humano. Agradeci mentalmente pela respiração ser realizada involuntariamente.
  - Acho que seria bom você ficar com alguém diferente de vez em quando. - falei num tom que julguei ser o suficiente para que ele escutasse. Ele riu por meio segundo e segurou a franja loura para que o vento que soprava ruidoso, não a bagunçasse mais ainda.
  Ele mexeu os dedos finos na minha direção, mas se deteve, percebeu que eu não sabia falar a sua língua. Sua voz silenciosa. Naruto procurou algo pelos lados, algo que eu não sabia o que era, talvez algo que me ajudasse a entender o que ele queria me dizer. Por fim Naruto suspirou e puxou uma certa quantidade de ar para seus pulmões e fechou os olhos. O comprimento de seus cílios escuros eram bem maiores do que eu havia julgado, mais compridos e pontudos.
  - E-Eu... - ele apontou com o indicador para o próprio peito, depois esticou-o para mim sem me tocar. - Obriga... por... aquele dia.
  Maneei um sim com a cabeça. Incapaz de verbalizar.
  Seu rosto agora parecia mais jovem, infantil e um tanto cansado.
  Naruto então piscou, lento. Todos os seus movimentos me pareciam com uma dança, uma dança vagarosa e que estava longe de terminar.
  - Tudo bem. - falei por fim. - Quer dar uma volta ? - perguntei sem ao menor pensar, estava desesperado por ter mais tempo com ele.
  A minha pergunta lhe pareceu estranha, de súbito é claro mas estranha... Eu não a via assim. Naruto subiu as pontas da mão direita para a garganta, abriu a boca e a moveu mas não disse nada. Tive a impressão de vê-lo mover os dedos mas ele parou o movimento no meio.
 Ele deu um passo para frente, as sobrancelhas louras um pouco juntas sob os olhos perfeitos azuis.
  - Minha... voz... ruim ? - ele demorou-se em cada palavrinha dita, era como se estivesse com medo do que eu dira. Ele tinha o rosto meio aflito. As mãos ao peito, fechadas.
  - Não. Nem um pouco. - murmurei sincero.
  Naruto demorou para esboçar alguma reação. Pensando em algo e então seus lábios se esticaram num sorriso amável que durou intermináveis 5 segundos. Ele abaixou a cabeça e mirou os sapatos sujos e então ergueu a face branca devido á luz prateada da lua.
 Vi sua expressão mudar tão de repente quanto uma ventania passageira na rua e duas mãos finas demais se envolveram na minha cintura, e um rosto gelado se roçou no meu. Era Ino. Ela tinha as bochechas rosadas e senti o cheiro de cerveja vindo da boca dela, tinha uma parte molhada na camisa rosa, talvez bebida.
  - Ei! - ela disse alto demais, a voz ficando aguda enquanto seu punho fechado acertava meu peito. - Vamos pra festa agora!
  Ela ficou na minha frente sorrindo bobamente, suas mãos se esticaram da minha cintura para minhas mãos, seus dedos eram pegajosos.
  Naruto não disse nada, apenas se auto abraçou e maneou com a cabeça para o final da rua, para minha casa mais especificamente e prensou os lábios rosados um contra o outro. Ino percebeu que eu o encarava e num movimento rápido, ficou na ponta dos pés e me beijou e sorriu segurando meu rosto.
  - É sério que você está deixando uma festa daquelas por esse cara ? - ela sussurrou sem largar minhas bochechas frias como neve, seu hálito era insuportavelmente alcóolico. - Vem. - seus lábios azedos encostaram-se nos meus.
  Antes que ela me beijasse de novo, segurei seus pulsos secos e a detive.
  - Pra onde você quer ir ? - olhei para Naruto por cima de Ino. Ela tentou puxar os pulsos das minhas mãos mas a colei contra meu peito de um jeito que seus xingamentos eram todos abafados pela minha camisa.
  Naruto negou com as mãos e forçou um sorriso amarelo, ele indicou Ino e o final da rua e se virou para ir embora.
  Minhas pernas se moveram na sua direção mas Ino me deteve. Ela me empurrou para trás e estapeou meu peito falando algo sobre eu ser um péssimo namorado. Eu nem sabia que éramos namorados. Ela fazia uma longa lista de coisas ruins que iriam me acontecer se eu não fosse com ela para aquela maldita casa. A cada palavra que ela dizia Naruto se afastava mais e mais, se unindo á escuridão da rua e sendo acompanhado pela lua reluzente no alto do céu.
  - Pare com esse escândalo, Ino. - eu me afastei dela, tentando encontrar algum resquício do cabelo dourado de Naruto na escuridão mas não o achei, mesmo apertando os olhos com força. Ino pigarreou. - Chega! - encarei-a.
  Ela cerrou os olhos para mim, os lábios ficando rígidos. Os seios dela ficaram espremidos quando ela cruzou os braços com força e jogou a cintura de lado, seu movimento típico de quando estava com raiva e prestes á explodir.
  - Eu não te entendo, Sasuke. - ela rosnou meu nome piscando, ela estava mais sóbria do que eu julgava. - Uma ora você parece querer ser durão, outra se derrete todo, ou então você fecha de vez. É como uma parede invisível que se ergue de acordo com o seu humor. Eu não sei mais o que você quer ou que você pensa. Quem é você ?
  Suspirei só para mim.
  Ino rolou os olhos, não com raiva mas frustrada.
 - Eu quero ser uma boa garota para você, Sasuke mas, você não permite.
 Como dizer para ela que ser uma boa garota não é usar as pessoas, ter sexo a hora que quiser com qualquer um e não sair espalhando boatos estranhos por todo lugar ? Resumidamente Ino era uma sínica. Alguém que você se prende facilmente se não soube jogar o mesmo jogo que ela.
 Ela continuava com aquele rosto de boneca, cheio de maquiagem, me fitando como se esperasse que eu me atirasse aos seus pés pequenos de porcelana.
 - Acho que, eu não lhe devo satisfações Ino. - ouvir minha voz soar fria como agora, me dava um certo gosto nos lábios. E Ino recuou, os braços finos despencando para os lados do corpo cheio de curvas conseguidas de malhação. - Você na verdade, é a namorada do Gaara... E está apenas me usando para que ele a note de alguma forma, está desesperada.
  - Cale a boca! - ela usou as mãos e empurrou meu peito com força mas mal sai de lugar. - Você não pode falar comigo desse jeito!
  Haveria algum jeito de enxotá-la sem lhe fazer parecer ridícula ? A minha mente vagueava para longe dali e tudo se resumia ao rosto subitamente vermelho de Ino, pequena, chorosa e irritante. Seus olhos dilataram mas Ino se recusou a derramar uma lágrima, se forçando, raspando as pontas das unhas pela pele fina dos braços.
  - Eu amo você. - ela suspirou e se atirou contra mim. - Amo tanto que... - o rosto quente dela ficou colado no meu peito, as mãos agora mornas seguravam a barra da minha camisa escura. - Por favor... Uma chance... Quando você quiser.
  Ino não tinha ideia de como aqui estava sendo humilhante para ela e vergonhoso para mim.
  Tirei os braços dela de mim com o máximo de delicadeza que a minha paciência permitia, o que não foi lá muita coisa porque eu fiquei agitado e a empurrei dois passos para trás e sai na direção da minha casa. Ouvi ela me chamando entre as lágrimas que ela deixou rolar pelo rosto vermelho, a bebida deixava qualquer um mais frágil.
  A sala de estar foi completamente tomada por hippies e fumaça de cigarros, rock e conversas gritadas. Procurei por Itachi no meio das pessoas mas não consegui o achar, todo mundo se movia disformemente como se estivessem ao ponto de se partirem no meio criando um movimento deformado de braços e pernas, cinturas e cabeças jogadas para os lados. Tossi um pouco adentrando a sala amarrotada, tomei cuidado para não pisar no pé de alguém.
 Os pisca-piscas do natal passado estavam todos espalhados pelos cantos da parede da sala, alguns pés quase os esmagavam. A minha noite fora frustrante o suficiente para que eu decidisse que aquele dia, já estava na hora de acabar. Passei com dificuldades para o anda de cima e me tranquei no quarto, não me preocupei com os sapatos ou com as roupas, simplesmente virei-me na cama e fechei os olhos com força e coloquei um travesseiro em cima do meu ouvido.
  - Não acredito nisso! - Mikoto gritava em plena sete da manhã, jogou uma colher na pia e bufou alto. - Saio por cinco horas e meus adoráveis filhos fazem uma festa. UMA FESTA.
 Fiquei encarando minha torrada no prato por quase um minuto antes de ouvir Itachi se defender. Fugaku também entrou na conversa, e de repente não era mais um diálogo, era um sermão por cima de sermão, grito por cima de grito. Peguei minha torrada do prato e tirei uma mordida, esse era apenas mais um café da manhã normal.
  - Não me diga como agir com meus filhos! - Mikoto empurrou Fugaku para trás. Subi meus olhos. O rosto dela ficou vermelho de raiva e as sobrancelhas unidas. - Você nunca está em casa! Vá! Saia e compre algo para a sua amante!
  E papai calou-se como se Mikoto tivesse lhe dado um tapa na face. Itachi deixou o garfo cair no prato e arregalou os olhos.
  - Mikoto... Não na frente das crianças. - Fugaku ditou lento entre dentes. Pude ver que duas veias saltavam de seu pescoço. - Nós já temos problemas o suficiente. Seus chiliques não vão fazer parte desta lista. Contenha-se.
 Mikoto apertou aqueles olhos escuros e prendeu todo o ar que podia nos pulmões, achei que ela o estapearia de verdade e lhe diria palavras feias mas ela não o fez. Ela arrumou o cabelo longo escuro para trás e voltou a servir o café, como se nada houvesse acontecido e a amante misteriosa de Fugaku não tivesse sido citada. Ela era o ponto fraco dele.
  O casamento dos meus pais já ia mal havia mais de cinco anos. Primeiro foram as saídas de noite, ligações suspeitas que ele sempre disfarçava, depois presentes que não eram para minha mãe e então, uma mulher apareceu em casa procurando por papai e bastou aquilo para que Mikoto juntasse a última peça. Mas, ainda assim ela não tinha coragem o suficiente para se separar dele, era como se ela fosse vítima de Fugaku.
  Terminei meu café em silêncio e peguei minha mochila que deixei sobre o sofá da sala, os pisca-piscas ainda estavam nos cantos e havia muita coisa de ontem espalhada pelos cantos. O castigo de Itachi pela ideia da festa, foi arrumar tudo aquilo até as nove da manhã. O sol jazia firme mas não forte no alto do céu e a lembrança de Naruto me rompeu quando passei pela ponte.
  Quando cheguei na escola tudo estava comum, comum até demais. Não passei pelo corredor dos armários e fui direto para o da minha sala. No final do corredor, vi Ino sorrindo e balançando pompons cor de rosa e azuis para cima e para baixo balançando os quadris na frente de Gaara. O cabelo dela balançava de um lado para o outro. Ela parecia feliz, o que só reforçou a minha teoria de que eu não era nada mais que uma peça no seu jogo de sentimentos.
  As pessoas conversavam ao meu redor mas nenhuma das conversas me interessava, me preparei para adentrar a sala de aula e rezei mentalmente para que a diretora não viesse pegar no meu pé hoje.
  - Sim. É verdade! - ouvi uma voz nova, feminina. Ela riu. - Ah, não diga isso assim ! - mais uma gargalhada.
  Afastei a porta e entrei na sala de aula. Carteiras em fila, os mesmos grupos, porém duas pessoas novas estavam presentes. Uma garota de cabelo curto cor de rosa e olhos verdes conversava com Naruto, e do outro lado, na frente de ambos uma garota de cabelos compridos e olhos perolados ria com eles. As bochechas dela estavam vermelhas. Naruto fazia uma série de movimento com os dedos, elas riram novamente dele.
  Eu não sabia quem elas eram mas supus que uma delas deveria ser a tal Sakura. A garota mistério do colégio, a única pessoa que até onde eu sabia, Gaara não ousava tocar no nome. Pisquei e encarei Naruto por um breve espaço de tempo, ele não parecia ter me notado ali, caminhei direto para a minha última carteira e me sentei.
  Joguei a mochila sobre a mesinha e coloquei minha mão direita por debaixo do moletom e abri o bolso que havia costurado mês passado, procurei por uma música no celular e coloquei meus fones por dentro do moletom e fechei os olhos momentaneamente e quando voltei a abri-los, vi que Naruto me olhava de canto de olho mas logo desviou e então ouvi a voz estridente e rouca de Gaara se aproximando. A garota de cabelo rosa ficou tensa, os ombros pequenos rígidos, a morena a encarou e Naruto segurou a mão da rosada.
  Gaara ria quando entrou na sala, seus olhos dobraram de tamanho quando focalizou o pequeno grupo na frente do birô. Gaara ficou tão pálido que achei que ele fosse desmaiar ali mesmo, então logo Ino entrou em seguida. A reação dela não foi muito diferente, ela engoliu em seco e lutou para esconder que ficou surpresa e passou o braço pela cintura de Gaara e sussurrou algo para ele sem olhar a garota rosada, ele não conseguia desviar o olhar, e muito menos a outra garota, Ino puxou Gaara e ambos seguiram para os seus devidos lugares na extremidade da sala.
   Eu me perguntava o que tinha acontecido entre eles. Kiba e Neji faltaram hoje. Qual seria a reação que eles teriam ao ver aquela garota ?
  Não tive tempo para continuar me questionando, senti cheiro de perfume e quando ergui meu rosto vi a garota de cabelos rosados, os braços alvos cruzados e o olhar acalentador sobre mim. Ela deu um pequeno sorriso para mim, apertando os olhos.
  - Você deve ser o tal Sasuke ? - ela sorriu ainda mais pondo as mãos enlaçadas para trás, a saia da farda azul lhe caia muito bem. - Sou Sakura, - ela me estendeu a mão direita pequena para que eu a apertasse. - sou amiga de Naruto, e aquela é Hinata.
  Olhei para sua mão pequena e tive medo por um segundo de apertá-la, era fina demais, esquelética até. Mas mesmo receoso, apertei-a.
  Naruto mais uma vez me olhava, ou melhor, nos olhava. A tal Hinata fazia o mesmo, acenou para mim de maneira tímida mas não a cumprimentei de volta.
  - Sim. Sou Sasuke. - eu disse por fim. Monótono.
  - É um prazer te conhecer Sasuke. - Sakura fez uma expressão satisfatória. Ela parecia me analisar, como se estivesse tentando ler meus pensamentos. - Você estaria interessado em fazer parte de uma revolta ?
  
 



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