História A Sombra da Lua - Capitulo 2

Getsukagure (Vila Oculta da Lua), tempos de guerra.

POV Mia Hokaku

E lá estava ela, Sayure Hokaku, minha mãe. Seus cabelos brancos curtos balançavam no ritmo do vento na floresta de Getsukagure. Ela me contava sobre o nosso kekkei genkai, falava o quão importante era preservar ele e dizia com toda convicção “o mundo precisa de nós minha filha, esse kekkei genkai é a nossa benção para este mundo.”

Benção... Ou maldição?

Tudo ficou escuro, minhas mãos ardiam, eu sentia o chakra correndo por mim com tamanha velocidade que esquentava o meu corpo. Água e vento, são os nossos elementos, mas o calor incendeia quando sentimos o kekkei genkai fluir de nós.

Minha mãe dançava, mostrava para mim seu chakra da forma mais pura, os jutsus que tinha adquirido, ela dizia “depois de um tempo os jutsus que você capturou vão desaparecer e o seu chakra vai voltar ao normal.”

Mas não era assim comigo. Quando meu pai assumiu a liderança quis acabar com todas as fraquezas do kekkei genkai, então usou mulheres gravidas do clã como cobaias para diferentes tipos de chakra. Na minha mãe ele utilizou um chakra demoníaco, algo que tinha adquirido por pura sorte em outro país. Esse chakra nunca mais me deixou, assim como certos jutsus ficaram em mim para sempre.

“Não tenha medo do seu poder Mia.” Minha mãe dizia, ela tinha orgulho do nosso clã, mas desejava que pudéssemos fazer mais, ela era diferente, ela não tinha medo, nunca teve.

-ONEE-SAAAN ACOOOORDA!

-IVY! SAI DAQUI AGORA!

-VOCÊ PROMETEU QUE IA ME AJUDAR NEE-SAN!

-TA! TA BOM! TO INDO!

Era só mais um sonho. Uma lembrança, algo que vem e vai. Nada dura para sempre nesse mundo.

Me levantei, fui até o banheiro e lavei meu rosto. Olhei para o espelho, o mesmo cabelo branco porém maior e ondulado, algo dela em mim além do sonho. Os olhos negros não escondem quem é o meu pai, e as olheiras não escondem qual é o meu futuro.

Saio do banheiro e me dirijo para fora do quarto, Ivy está me esperando impaciente do lado de fora.

-Então baixinha, treinou com a tia Lin de manhã?

-Sim! Estou melhorando minha capacidade de extrair chakra porém não consigo pegar jutsus ainda.

-Ah você vai conseguir em breve! Não tenha pressa, vamos para a floresta ok?

Ivy olha para mim com uma cara que diz “você só está falando isso para me agradar, não está falando sério.”

-Mas é que você na minha idade já conseguia pegar jutsus e utilizar eles, além de capturar por completo o chakra.

Ela parecia chateada, sempre fazia um biquinho quando estava.

-Eu vou te ajudar, sempre tem jutsus que são mais fácies para alguns e mais difíceis para outros, temos que descobrir qual natureza é mais fácil pra você capturar.

-Está bem!

Puxo a Ivy para a saída do subsolo, ela então começa a perceber que eu falei sério sobre treinar na floresta e assim ela começa a ficar nervosa.

Sair do subsolo é maravilhoso e libertador, mas só podemos fazer isso quando vamos treinar, e mesmo assim tem que ser raramente, de noite e quando você é maior de 16 anos.

Nosso clã tem um monte de regras que teoricamente é para nós proteger do mundo. Uma delas é evitar ao máximo sermos visto, nem mesmo outros shinobis de Getsukagure podem nós ver, os clã aqui sabem muito pouco sobre nós, basicamente o nome do nosso clã e que trabalhamos diretamente para o rei e os Daimyo.

-Mia, não devíamos treinar dentro do clã? Eu não tenho idade para sair e está de dia ainda.

Ivy é bem certinha e odeia quebrar regras. O meu pai libera as vezes os membros do clã para saírem em ocasiões especiais, Ivy saiu algumas vezes, a última foi quando nossa mãe morreu.

-Está tudo bem baixinha, eu não estou nem um pouco a vontade de treinar aqui embaixo, pode deixar que eu me entendo com o otou-san.

Ivy está preocupada. Meu pai não permite crianças saírem porque não conseguem controlar o kekkei genkai muito bem e isso pode causar muitos problemas e acabar expondo a gente. Todas as regras são basicamente para evitar isso, assim como treinar de noite, temos a lua para nos dar forçar e a escuridão para nos esconder.

-Hey! Mia, Ivy! O que estão fazendo? Vocês não podem sair! Ivy não tem idade e está de dia ainda!

-Calma Bako! Eu já falei com o sensei e ele liberou eu e a Ivy para dar uma volta.

-O sensei não me avisou sobre isso.

-Ele deve ter esquecido, anda muito ocupado com burocracias e com a guerra acontecendo e o rei no pé dele, é difícil. 

-Hum, entendo, mas eu vou confirmar, vocês me esperam aqui.

-Claro Bako!

Bako guarda os portões do nosso clã, geralmente ele trabalha com o seu irmão Mikke, mas hoje ele está doente, ou seja, dia de sorte. Me virei para ver uma Ivy apreensiva.

-Mia! Você mentiu para o Bako e agora o otou-san vai matar a gente!

-Está pronta para o seu primeiro ensinamento de hoje Ivy? Sempre tenha uma estratégia e observe tudo ao seu redor.

-O que quer dizer?

-Bako está sozinho hoje porque Mikke está doente, o sensei está descansando nesse momento, quando Bako chegar lá os guardas do sensei vão impedir a entrada dele, e ele vai pedir para dar um aviso ao sensei, os guardas irão recusar, e ele então ficará na dúvida se o otou-san liberou a gente para sair ou não, desse jeito ele vai voltar para cá, vai falar que o sensei está dormindo e dessa forma não pode perguntar nada pra ele, ai nós vamos dar uma de cachorro que caiu da mudança e o Bako vai liberar a gente.

-Como tem certeza que isso vai dar certo?

-Segundo ensinamento do dia, a maior arma de um shinobi é a informação, para ter uma estratégia perfeita você deve ser bem informado, conhecer seu oponente mesmo que ele não diga nada a respeito de si, por isso você deve sempre observar bem. Bako está preocupado com o irmão que está doente, e quando ver o quão é importante para nós como irmãs sair um pouco ele irá seguir o meu roteiro Ivy.

-Você vai estar brincando com os sentimentos dele e sendo uma manipuladora de primeira!

-Por isso eu sou a irmã que consegue as coisas.

-Vai acabar afundando esse clã em desordem quando for líder.

-Calada, ele está vindo.

Bako está com cara de preocupado, como o esperado.

-Então Bako falou com o otou-san?

-Ele está descansando no momento e os guardas não me deixaram dar o recado.

-Nossa que pena né Ivy! A gente queria tanto sair um pouco, para dar uma volta, a última vez que a Ivy saiu foi na morte da nossa mãe.

Com o olhar que a Ivy me enviou pude até escutar ela gritando “você usou a morte da mamãe para poder sair!” Eu era um monstro realmente. Minha mãe costumava me ensinar estratégias, passávamos horas observando as pessoas do clã e comentando sobre elas, foi assim que descobrimos que a tia Lin estava apaixonada pelo tio Hiro, e ajudar ele a perceber isso foi outro jogo de estratégia. Minha mãe adorava jogos, passava horas jogando shogi comigo. Ela morreu antes de ensinar Ivy a jogar.

-Vocês tem certeza que não estão mentindo pra mim certo? Por que se estiverem eu vou levar uma bronca muito feia do sensei.

-Claro que não estamos Bako, mas nós entendemos a sua preocupação, e então vamos voltar para o dormitório, obrigada pela atenção Bako.

Comecei a sair aos pouquinhos, Ivy me encarava como que dizendo “não acredito que você fez isso tudo por nada”

-Hey Mia! Espera, eu acredito em vocês, vocês podem ir, mas não demorem, no máximo uma hora lá fora ok? Nada de usar seu kekkei genkai também.

-Muito obrigada Bako! Prometemos que vamos seguir as regras.

Bako abriu o portão e eu puxei uma Ivy desacreditada para fora do subsolo. O sol estava começando a se por, uma brisa fria passou por nós e o céu já estava escurecendo.

-Não acredito que você conseguiu Mia!

-Depois eu te ensino, agora vamos, não podemos perder tempo.

A Vila oculta da Lua nunca foi muito movimentada, é uma vila muito pequena, sem nenhum grande atrativo, as praias do país da Lua ficam um pouco longe daqui, perto do rei. Aqui realmente só vem quem é shinobi ou quem precisa de um shinobi.

Agora com a guerra acontecendo aqui está deserto, e isso me preocupa, o que será do mundo caso a aliança shinobi perca?

Ivy pelo menos está animada. Ela não se parece muito com a nossa mãe, seu cabelo é mais dourado do que branco, seus olhos são negros iguais aos meus e aos do otou-san, mas quando ela sorri é a mesma coisa que ter a mãe de volta, pena que ela quase nunca sorri.

Entramos para dentro da floresta, estar aqui sempre me lembra da nossa mãe, e estar com a Ivy me faz sentir falta dela mais do que tudo.  

-Ivy essa floresta vai te ajudar no seu treinamento, mas pra isso você precisa se concentrar o dobro. Lá no clã você treina com outros membros e com chakras em marionetes, agora você vai treinar comigo e com a natureza, então respire fundo e sinta o chakra em você, deixe ele fluir pelo seu corpo, sinta ele arder dentro de você.

Ivy tem 13 anos e é muito ansiosa, não tem paciência para as coisas, por isso tem dificuldade com o kekkei genkai.

-Agora feche seus olhos Ivy, e sinta o chakra em volta de você, sinta o chakra nas arvores, na terra, no céu, escute o movimento que ele faz e sinta seu poder em você e além de você.

O nosso kekkei genkai é derivado de água e vento, mas tudo no mundo possui chakra, e isso é a base do nosso poder.

Todo shinobi possui chakra dentro de si, utiliza ele para fazer os jutsus, seja ninjutsus, taijutsus ou genjutsus. O nosso kekkei genkai além de utilizar do chakra dentro de nós utiliza do chakra dos nossos adversários, então temos que ter o controle absoluto do chakra em nós e ao nosso redor.

-Ótimo Ivy, estou sentindo seu chakra, agora eu quero que você coloque as mão sobre essa arvore e capture o chakra dela, não tenha pressa.

Ivy se concentrou bastante antes de colocar as mão na arvore, até que eu senti uma energia vindo de longe, era algo forte, poderoso, algo grande.

-Ivy espera! Tem algo errado!

-O que foi Mia? Eu estou fazendo tudo certo, nem vem!

-Não é isso...

Eu liberei o meu chakra para poder sentir melhor, conectei ele ao chakra da natureza ao meu redor, quando aconteceu uma explosão lá longe.

A guerra.

Peguei Ivy pela mão em meio aos protestos dela, e quando saímos da floresta o céu estava diferente, estava muito escuro, e a lua já estava lá mas estava ficando vermelha.

-O que tem de errado com a Lua?

Ivy começou a se desesperar.

-Eu não sei, mas tem algo muito poderoso nisso, precisamos ir pra casa e avisar ao clã.

A guerra acontecia, o mundo precisava de nós e nós estávamos ali escondidos debaixo da terra como animais. Como sinto sua falta mãe, como sinto o seu sonho batendo forte em mim. É claro que eu me preocupo com o bem estar do clã, claro que quero que o clã permaneça em segurança, não posso deixar que nada nem ninguém destrua a gente, mas essa guerra também é nossa, porque é o nosso mundo. Não dá para se esconder para sempre.

-Bako abre para nós!

-Olha vocês foram rápid...

Nem dei tempo dele terminar a frase, soltei a mão de Ivy e corri em direção ao dormitório do líder do clã.

-Mia, seu pai está descansando, você não pode passar.

Meu chakra já estava circulando muito rápido por mim, dei um soco no seu rosto que fez ele ser arremessado longe. O outro guarda tentou me segurar porém eu sou mais rápida do que ele, então foi fácil conseguir entrar.

-ACORDA! AGORA!

-MAS O QUE SIGNIFICA ISSO MIA?!

Puxei ele pela gola do kimono para o lado de fora do seu quarto. Apesar da vila ser no subsolo tem uma parte mais alta com um teto de vidro que permite vermos o céu e ter luz, arrastei ele até lá. Ele tentou se soltar mas não queria me machucar, e também eu já ganhei dele algumas vezes no quesito força.

-Olha para a lua!

A lua agora está praticamente toda vermelha, ele olha para o céu espantado, todos os membros do clã começam a surgir ali, todos olham para o céu preocupados.

-E agora?! Vai dizer que essa guerra não é nossa?!

-Mia...

-Não! Sem mais! O nosso mundo corre perigo pai! Você tem que ver isso!

-Mia as coisas não são assim...

-São assim sim! O que a mamãe iria fazer em?! Ficar aqui assistindo a isso como se não fosse nada?!

-Mia!

-Você não é líder! Você é apenas um medroso!

Ele me segurou pelos pulsos e me levantou do chão.

-Escuta aqui, a sua mãe foi tudo para mim, você e a sua irmã são meus maiores tesouros, e essa clã é tudo o que nós temos! Não seja imprudente Mia! O mundo precisa da gente, mas para isso precisamos estar vivos! Estou cansado de perder pessoas! E nada vai me fazer mudar de ideia!

-Você é monstro! Quero ver cuidar do seu clã quando não estiver mais mundo para ele existir.

Me soltei dos braços dele e sai correndo em direção a porta.

-Mia!

Ouvi Ivy e a tia Lin gritarem antes de eu retirar o Bako da minha frente utilizando um doton. Eu não sei pra onde vou exatamente, nem o que vou fazer, mas se esse mundo precisa da minha ajuda é tudo o que me resta agora. Minha mãe sonhava em sair do subsolo e ajudar as pessoas como um shinobi de verdade, ela não pode realizar esse sonho, mas agora eu vou realizar por mim e por ela.

Corri o mais rápido que pude para a floresta e escondi o meu chakra. Agora mãe, somos eu e você.