História A Sombra da Lua - Capitulo 3

País da Lua, tempos de guerra.

POV Mia Hokaku

Tinha andando muito já, e eu odeio andar. Parecia que não ia chegar a lugar nenhum, até que vi mais a frente as luzes do reino.

Isso me motivou a continuar, tinha que falar com o rei, dizer a ele que preciso ir para a guerra, que posso ajudar a aliança shinobi e ser útil nesse mundo. Mas eu temia que fosse tarde demais para isso.

Acelerei o passo, tinha que tentar conseguir a ajuda do rei, era a única chance de chegar a guerra.

O país da Lua é um país muito rico, muito bonito e sempre lotado de turistas e de pessoas alegres e humildes, que amam seu país e que estão sempre dispostos a ajudar. O rei não é diferente do seu povo, assim como seu pai foi um grande rei que sempre ajudou esse país, o atual rei tem um coração bom e está sempre mostrando isso para todos.

O fato é que o país da Lua é uma ilha e a nação mais próxima daqui é o país do vento, e mesmo assim tem muita água separando a gente. Seria basicamente 4 dias de viagem daqui até Sunakagure, a vila oculta da areia, 2 dias apenas no mar, ou seja, para eu conseguir chegar no país do Relâmpago, que é ainda muito mais longe daqui, demoraria no mínimo 7 dias. Dessa forma preciso da ajuda do rei.

Finalmente chego a cidade principal, e já posso ver o palácio real. Sigo caminhando nas ruas de pedras, mas tem algo errado por aqui, essa cidade sempre esteve lotada de turistas e agora está tão deserta como Getsukagure. A guerra, eu pensei.

-Parada! Quem é você?

Um dos guardas do portão do palácio aponta uma lança para mim. Apesar do país da Lua possuir grandes shinobis o rei mantem a sua proteção através da guarda real composta de homens armados, porém existem alguns shinobis que são encarregados de cuidar da família real caso algo aconteça, alguns desses shinobis são do meu clã, mas eles não ficam aqui no reino, são chamados caso algo aconteça.

-Meu nome é Mia Hokaku e eu vim falar com rei.

Apesar de nós do clã Hokaku nos denominarmos shinobis não temos essa classificação como os outros shinobis tem. Eles usam bandanas e tem treinamento e fichas reconhecidas pelos Kages e os Daimyo, nós não. Não realizamos exames para genin, chunnin ou jounin, e nem entramos em uma academia ninja para estudar. Tudo que aprendemos, aprendemos no clã, e somos denominados ninjas pelo rei e os Daimyo, sem nenhuma avaliação específica, apenas a palavra do nosso líder que estamos prontos para ajudar eles e realizar as missões propostas por eles.

Tudo isso pela velha questão de que o clã Hokaku é um clã secreto e não deve ser exposto de forma nenhuma. Porém, temos que ter uma forma de sermos reconhecidos pelo rei e pelos Daimyo, já que o nosso clã tem pelo menos uns 100 membros.

Assim nós usamos o emblema do clã como reconhecimento, não é nada demais é apenas o nome do clã e a forma da lua crescente. Cada um usa de um jeito, minha tia Lin usa o emblema em um bracelete no pulso direito, a Ivy usa como uma bandana que prende a franja loira, o meu pai usa nas costas do seu kimono e a minha mãe usava como uma faixa na coxa esquerda.

Então eu virei de costas e mostrei para o guarda o meu emblema, eu usava um kimono aberto que ia até os meus joelhos na cor preta com o emblema em branco, o nome do clã 捕獲 e a lua crescente. Ivy dizia que me fazia parecer uma versão rebelde do meu pai, e eu gostava disso.

-Vamos avisar ao rei da sua presença, aguarde um instante.

Ele escreveu uma mensagem em um papel e entregou para o outro guarda do outro lado do portão, esse guarda então chamou um mensageiro que estava na porta do palácio, esse veio pegou a mensagem e entrou para o palácio.

Devo confessar que não demorou para a resposta vir do palácio, mas para mim pareceu horas, estava nervosa, ansiosa e apreensiva. Nunca estive sozinha aqui, nunca estive sem alguém do meu clã do meu lado em tudo o que ia fazer, nas missões ou nos treinos, somos uma família e me preocupa o fato de agora eu estar sozinha fazendo algo tão importante e perigoso ao mesmo tempo. Só espero poder ajudar esse mundo e manter ele bem para que o meu clã continue a existir e assim eu possa voltar para casa.

O guarda abriu a mensagem que tinha acabado de receber, era a resposta do rei, ele me olhou de cima a baixo antes de abrir o portão. Caminhei lentamente até a porta do palácio onde um dos empregados do rei me esperava. O meu nervosismo aumentou e aquela pressa para falar com o rei tinha ido embora.

Eu nunca temi nada na minha vida antes. Já lutei com grandes shinobis, já enfrentei grandes obstáculos, já fiz missões complicadas se tornarem fácies. Mas agora era uma guerra para onde eu queria ir, entrar em uma guerra para poder ajudar, para poder ser útil. A maior arma de um ninja é a informação, e eu não tinha nenhuma, sabia onde a guerra está acontecendo, sabia qual era o nome do inimigo, mas não sabia nada sobre ele e sobre o que estava acontecendo nesse momento. Isso me preocupou, é uma guerra e eu sou só uma, será que farei alguma diferença? Será que não é tarde demais?

-Mia Hokaku! Que prazer receber você aqui!

-Vossa Majestade, agradeço por ter me recebido.

-Diga Mia, o que te traz aqui?

-Vim lhe fazer um pedido Alteza.

-Não me lembro de ter alguma conferencia com o seu clã essa semana.

-Não vi pelo meu clã Majestade, vim por conta própria.

-Hum... O que posso fazer por você Mia?

-Vossa Alteza, vim pedir para que o senhor me envie para a guerra, desejo ajudar a aliança shinobi contra Madara Uchiha.

-Entendo, conversei com o seu pai, o líder do clã, sobre isso. Pedi que ele enviasse shinobis do clã para a guerra, mas ele se recusou, porque uma das leis absolutas do seu clã é não se envolver em guerras, claro que você sabe muito bem disso, então porquê?

-Estou ciente das regras do meu clã Alteza, e reconheço que lhe fazendo esse pedido estou quebrando elas, mas não acho correto em tempos de guerra o nosso clã ficar escondido na vila oculta da Lua, quando claramente podemos ser uteis nessa batalha. O nosso kekkei genkai é um dos mais fortes e poderosos do mundo ninja e se isso não ajudar a aliança shinobi não sei o que poderia. Sinto que é o meu dever ajudar a salvar esse mundo, mesmo estando sozinha posso ser útil e assim também irei realizar o sonho da minha mãe de usar a força do clã em prol de todos.

-Isso é uma atitude muito corajosa e nobre Mia, sinto que você realmente está disposta a ajudar esse mundo, vejo nos seus olhos o quanto isso é importante para você e sinto que se você conseguir ajudar a salvar esse mundo também estará salvando o seu clã.

-Sim Alteza! Me permita ajudar...

-Eu conheci a sua mãe Mia.

A expressão no rosto do rei me deixou sem chão, ele parecia preocupado e decepcionado. Nunca imaginei que ele falaria da minha mãe e isso me fez querer desabar.

-Você se parece muito com ela realmente, na aparência e no jeito determinado e corajoso. Sayure nunca teve medo de nada e sempre deixou isso bem claro, mas nem sempre isso é algo positivo Mia. Venha comigo, tenho algo para te contar.

O rei levantou do seu trono e saiu pela porta daquela enorme sala, e eu o segui sem dizer nenhuma palavra durante o caminho. Subimos alguns lances de escadas, o palácio era um lugar muito lindo realmente, tinha lindas tapeçarias e quadros que retratavam a beleza do nosso país. Ele parou de repente na frente de uma porta estreita, e ao abri ela senti um forte vento gelado na minha pela, estávamos no terraço do palácio, ele passou pela porta e eu passei logo em seguida. Era um lugar incrivelmente alto e com uma visão espetacular. Todo o país da Lua podia ser visto de lá, incluindo as praias, as floresta, a vila e a lua que agora está vermelha como sangue.

-O seu clã Mia surgiu a muito tempo, não se sabe a quanto tempo exatamente, talvez desde a criação do chakra em si. Sempre foi um clã muito poderoso, seu kekkei genkai sendo uma das maiores habilidades ninjas desse mundo. No início o seu clã servia unicamente para a guarda do rei do país da Lua, até que aconteceu a primeira guerra ninja e o rei em um ato não muito bem avaliado enviou o clã Hokaku para lutar na guerra, é claro que seu clã era praticamente imbatível mas tiveram muitas perdas e o kekkei genkai foi notado pelo mundo. Logo após o fim da primeira guerra os Daimyo das cinco grandes nações vieram até o país da Lua atrás daqueles shinobis. O rei então fez um acordo com eles para que o clã Hokaku pudesse servir a eles e ao rei.

Ele deu uma pausa breve e olhou para a lua vermelha, sua expressão era dura, parecia extremamente incomodado e talvez com raiva.

-Quando a segunda guerra aconteceu, um dos Daimyo decidiu enviar o seu clã, só que o resultado dessa vez foi um pouco preocupante. Muito membros do seu clã morreram, mas não em combate, foram capturados por outros shinobis que usaram de meios bárbaros para tentar roubar o seu kekkei genkai. E quando a terceira guerra aconteceu o líder do seu clã da época, o seu avô, não permitiu que o clã fosse enviado para essa guerra. Mas mesmo assim um pequeno grupo dentro do clã quis ajudar o mundo ninja, e foram todos mortos. Quando o seu avô soube dessa notícia ele tomou um medida drástica.   

Ele deu outra pausa, parecia triste agora, e algo dentro de mim falava que havia algo errado.

-O seu avô pegou várias mulheres gravidas dentro do clã, ele queria tornar a futura geração mais forte e resistente para que assim ninguém pudesse roubar o seu kekkei genkai e o clã pudesse ser livre novamente.

-Espera Alteza! Isso está errado, meu pai que pegou as mulheres para fazer experimentos com diversos tipos de chakras.

-Não Mia, não foi seu pai. Sei que você deve ter ouvido essa história de outras pessoas do clã por conta do que aconteceu com você e com a sua mãe nessa época. Todos culparam o seu pai porque ele estava prestes a assumir o clã e não conseguiu impedir aquela tragédia. Mas a iniciativa e ideia foi do seu avô. O seu clã realmente possui um kekkei genkai extremamente poderoso, mas existem certas limitações. Vocês não podem adquirir habilidades de kekkei genkai, kekkei tõda ou de kekkei mõra de outras pessoas. Cada membro do clã tem um limite de quanto chakra consegue capturar e quantos jutsus conseguem adquirir. Também quase nenhum membro do clã consegue manter jutsus adquiridos por mais de 24 horas. Vocês podem camuflar a presença do seu chakra, mas para poder usar ele devem expor ele. Vocês podem sentir o chakra de todos em uma certa distância e também podem sentir desiquilíbrios no chakra do ambiente ou de alguém, mas não consegue identificar desiquilíbrios no seu chakra. E o mais importante é que os membros do clã Hokaku tem uma vida curta.

Eu não conseguia pensar em nada, ele falava do meu clã, da minha família, mas dizia coisas que eu não compreendia! Coisas que eu não sabia!

-Um dos motivos de você estar sendo preparada para assumir o clã tão jovem é por isso. O seu avô morreu antes de você nascer e o seu pai morrerá logo também, a sua mãe não estava simplesmente doente, ela só tinha alcançado o limite que é dado para todos do clã, nada muito além dos 40 anos. E era essas fraquezas que o seu avô no seu leito de morte tentou acabar. Ele enviou vários membros do clã para vários países, o objetivo era capturar o maior chakra que pudesse encontrar. Quando eles voltavam com o chakra em si, o seu avô retirava o chakra deles por completo matando eles e selando o chakra no ventre de uma mulher gravida. Várias mulheres morreram porque seus bebes não suportaram o chakra selado neles e morreram dentro delas e isso causou vários problemas. O seu pai tentou impedir, fez de tudo para parar o seu avô, lutou contra membros do clã que tinham esperança naqueles experimentos, até que a sua mãe impediu seu pai de continuar a lutar contra. Sayure acreditava no seu sogro, acreditava que aquilo poderia salvar a próxima geração, e então se dispôs gravida de você para ser a próxima no experimento.

Meus olhos se encheram de lagrimas, eu não podia acreditar naquilo que estava ouvindo, por que eu não sabia disso?! Por que meu pai nunca me falou nada sobre isso?!

-Um ninja tinha vindo de uma vila oculta de um dos grandes países, o corpo dele estava se deteriorando devido ao chakra que conseguiu capturar, ele era o último shinobi nessa missão e a sua mãe era a última mulher gravida do clã, você era a última esperança de uma geração forte, e por alguma razão aquilo deu certo. Sua mãe teve vários sangramentos, mas a quantidade de chakra selado em você permaneceu em você e ainda está em você. Você resistiu e suportou, e hoje é a mais forte e mais habilidosa do seu clã, a quantidade de chakra que você consegue capturar é muito maior do que todos do seu clã, e a quantidade de chakra que tem em você permite que você mantenha jutsus e vá muito além no seu kekkei genkai, você é o milagre que seu avô queria, que seu pai foi contra, que alguns membros do seu clã temiam e outros esperavam, e que a sua mãe tanto sonhava.

Não consegui segurar as lagrimas, meu corpo pesado caiu de joelhos no chão frio do terraço, nada parecia certo.

-Quando você foi crescendo a sua mãe nutriu um sonho que era do seu avô, ela desejava que o clã algum dia podia fazer mais pelo mundo, por todo o mundo. Ela sonhava que seu clã pudesse ser exposto sem nenhum problema e que ninguém pudesse derrotar vocês. Você era o triunfo dela. Mas seu pai e o meu pai, o antigo rei do país da Lua, não concordaram com aquilo. Muitas pessoas morreram, e vocês só tinham um resultado, apenas você era resistente, os outros continuavam com as mesmas fraquezas. Dessa forma o seu pai e o meu pai juntaram forças e criaram as leis absolutas do clã, para que vocês pudessem ser protegidos desse mundo e de si mesmos. As fraquezas não podiam ser combatidas de forma segura e seu pai e o meu pai não suportavam mais nenhuma perda. Muitos membros do clã foram contra as leis, inclusive Sayure, mas seu pai e o meu pai foram firmes com eles, e com o tempo eles perceberam o inevitável.

-Estávamos todos condenados.

-O seu pai nunca quis contar isso para você e para a nova geração, tinha esperanças de que vocês pudessem viver sem esse peso. Mas o que eu quero que você entenda Mia é que as regras nunca foram uma forma de prender vocês, e que querer salvar o mundo é um desejo nobre e seu clã pode sim fazer isso, mas é um risco muito grande para aqueles que tem tanta dor em si. Pense em como se sentiria no lugar do seu pai. Você é a única do clã que tem a chance de viver sem esse peso, a única que realmente pode fazer algo grande para esse mundo sem a dor da perda em si, mas você deve pensar no seu clã Mia, deve pensar nas pessoas que estão ali, no risco que elas correm se forem expostas, e que mesmo tendo uma vida difícil elas escolheram viver seguras e unidas, fazendo o que estiver ao seu alcance para esse mundo.

Pai... Eu sinto muito...

-Creio que um dos motivos do seu pai não ter vindo atrás de você é que ele sabe que você pode sim ser livre, e como pai é o maior desejo do coração dele. Se estiver disposta a fazer algo por esse mundo indo para a guerra e ajudando a aliança shinobi, você é mais do que capaz Mia, mas antes de agir pense no seu clã, naquilo que você pode fazer por eles e como você deve proteger eles, é o seu dever como futura líder do clã.

As palavras do rei me atingiram como estacas de gelo, cada célula do meu corpo doía. Eu fui egoísta e egocêntrica, pensava no meu sonho e na minha mãe e ignorava o meu clã. Minha mãe agiu errado mesmo tendo boas intenções e eu segui esse caminho. Meu pai é um grande líder e espero poder chegar aos pés dele. Agora eu entendo o que é o peso da responsabilidade, agora eu entendo o que é a dor da perda, agora eu entendo os sacrifícios que foram feitos para que o clã pudesse continuar vivo. Cometemos erros, mas sempre estivemos juntos, e isso era o importante, estar juntos e salvos. Eu olhei para a lua vermelha acima das nossas cabeças e permiti que as últimas lagrimas de raiva, decepção, magoa e medo caíssem.

-Majestade, eu agradeço por suas palavras, e agora eu sei que fui tola nos meus julgamentos, mas se eu posso ir para a guerra e ajudar a manter esse mundo vivo para que o meu clã possa viver, sinto que é o que eu devo fazer. Sem expor o meu clã mas sendo forte como ele, peço que me permita ir para a guerra.

-Seria uma honra ter uma konoichi como você do nosso lado, Mia Hokaku, do País da Lua.