História A Substituta - Prólogo

14 de março de 1978

    A noiva estava esplendorosa em seu resguardado vestido branco, sorridente, caminhava devagar sobre o tapete vermelho enquanto segurava o seu buquê formado de delicados lírios brancos (sua flor preferida), todos os olhares felizes eram voltados para ela naquele momento, mas ela só era capaz de olhar nos olhos do noivo que a esperava emocionado no altar. Seriam felizes para sempre? Eles pareciam terem a certeza que sim estampada nos rostos.

    Por baixo do véu, os olhos cor de mel lacrimejantes e os lábios rosados artificialmente tremiam. A noiva estava ansiosa e também estava cheia de alegria, sempre sonhara com esse dia em que finalmente se tornaria a senhora Duarte, esposa do futuro dono das empresas Duarte, um bom partido e também o amor da sua vida. Lady Laura nunca cansava de agradecer a "sorte" que tivera de se apaixonar por um homem como o seu amado, Bernardo. Ela sonhara tanto com o dia do seu casamento que mal podia acreditar que tudo aquilo era real, igreja lotada e enfeitada da forma como ela sempre desejara, seria o casamento mais esperado, elegante e caro do ano. No altar, um noivo jovem, bonito, rico e que a amava igualmente ou até mais a esperava ansioso... Era tudo perfeito ao seu ver!

    Chegando próxima ao altar, Bernardo estendeu-lhe a mão e ela lhe sorriu antes de respirar fundo e entregar a mão ao amado e o buquê a sua mãe que também não controlava a emoção de ver sua querida filhinha vestida de branco e de mãos dadas ao seu em breve futuro marido, deram os poucos passos que faltavam para ficarem diante do padre e este começou definitivamente a cerimônia:

    -Estamos reunidos aqui hoje –Iniciou o velho padre que um dia havia realizado o casamento dos pais de Bernardo e também dos pais de Lady Laura –Para concretizar a união destes dois jovens, Bernardo Almeida Duarte e Lady Laura Vasconcelos. Um casal que como eu disse anteriormente, jovem, mas que certamente já descobriram as riquezas e virtudes que se tem o amor. Aprenderam a amar e respeitar um ao outro e assim desejam continuar e seguir adiante para construírem juntos uma família com forte alicerce!

    Bernardo segurava firme a mão de Lady Laura que tremia incansavelmente, ele conseguia observá-la engolindo seco através do véu que relutava em esconder seu belo rosto. A cerimônia prosseguiu, o padre falou centenas de palavras bonitas e aconchegantes que chegavam a dar sono em alguns convidados, mas emocionava a outros. Mostrou versículos da bíblia que falavam sobre o verdadeiro amor e abençoou o casal, pediu para que trouxessem as alianças para que ele as abençoasse antes de usarem-nas e assim foi. 
    Em seguida, finalmente permitiu que Bernardo iniciasse os votos:

    -Eu, Bernardo Almeida Duarte prometo honra-la como minha esposa, amá-la e respeitá-la. Cultivar enquanto tiver vida esse amor que sinto por você Lady Laura. Eu te prometo fidelidade sempre. –Ele sorria enquanto falava com seus olhos molhados, era engraçado não conseguir controlar o sorriso largo de seu rosto –Eu tenho a certeza que serei o homem mais feliz da terra, no momento em que puser esta aliança em seu dedo e então agora lhe peço para que seja minha –Eles se olharam através do véu que cobria o rosto de Lady Laura –Eternamente. Aceita ser minha mulher?

    -Sim! –Respondeu em um alto sussurro, esticando sua mão esquerda trêmula e gélida para que ele pusesse a aliança enquanto com a outra mão ela enxugava disfarçadamente os olhos.

    Infelizmente não houve tempo o suficiente para que Lady Laura também pudesse pronunciar os votos que havia preparado com tanto carinho para o seu querido esposo, assim que ela pegou a aliança em que deveria pôr no dedo anelar do noivo teve sua cerimônia interrompida por passos pesados de um certo alguém vestido totalmente de preto e encapuzado que parou bem rente a entrada da igreja, as atenções voltaram-se para ele(a) em unanimidade. Não falava nada, não fazia nada, apenas mantinha-se em silêncio e de cabeça baixa escondendo o rosto por conta do capuz.

    Algumas pessoas levantaram bruscamente tentando enxergar melhor, tentando reconhecer quem era ou do que se tratava. Os noivos se olharam confusos, Lady Laura arrepiou-se e sentiu seguidos calafrios ao sentir-se um pouco assustada, as pessoas começaram a ficarem agitadas perguntando-se "quem era o estranho(a)"?

    -Quem é você? –Indagou Bernardo com voz autoritária –Identifique-se! –Ordenou.

    Foi possível ver um sorriso lateral formar-se no rosto da pessoa encapuzada, as palavras de Bernardo não surtiram efeito nenhum sobre ela. O som da risadinha baixa que a esquisita pessoa deu foi ouvida pelo noivo que não aguentou tamanho desrespeito em sua linda cerimônia de casamento.

    -Ora! –Falou irritado soltando a mão da noiva e caminhando em direção ao encapuzado enquanto todos assistiam assustados –Como ousa interromper o nosso casamento? Não tem respeito pelas pessoas? Sai daqui ago... –Sua frase não pôde ser terminada, ele engoliu o resto das palavras quando o encapuzado sacou uma arma de sua cintura e apontou em direção ao rapaz que ergueu as mãos demonstrando rendição. O pânico era visto no rosto dos presentes e o silêncio predominou quebrado apenas pelo choro de uma criança –Calma –Suas palavras agora eram cautelosas –O que você quer de mim? O que quer? –Perguntou tenso.

    O encapuzado mantinha o braço firme em direção a Bernardo que sentia o corpo gelar de dentro para fora, e outra vez foi possível ver um sorriso sarcástico no rosto do outro.

    -Por favor –Pediu a noiva já entrando em desespero e desvencilhando-se das pessoas que a cercavam na tentativa de mantê-la calma diante da situação. Caminhou apressada para perto de seu noivo mesmo ele pedindo sem se mover para que ela ficasse onde estava, Lady Laura não o obedeceu –Por favor, não faça nada com o meu Bernardo. O que você quer de nós? –Falou com a voz trêmula e quase chorando de medo pelo que poderia acontecer com o seu querido noivo. -Quem é você?

    O encapuzado em um gesto rápido parou de mirar no noivo e sem muita demora apertou o gatilho em outra direção. O estrondo ecoou tão alto dentro da igreja juntamente com o grito de dor da vítima e de horror dos convidados, que já não mantiveram calma e começaram a correr, a fugirem por todas as saídas da igreja que não fossem a principal. Alguns rapazes pulavam até mesmo as janelas laterais.

    -LADY LAURA! –Gritou em desespero Bernardo virando-se bruscamente e vendo que o tiro havia acertado o peito esquerdo da moça. Ele teve a sensação de vê-la cair em câmera lenta. Ajoelhou-se ao lado da sua noiva caída e levantou o seu véu revelando o seu rosto tão delicado com uma expressão apavorada –POR FAVOR, POR FAVOR –Ele não sabia pelo que pedir, colocava sua mão sobre o tiro para tentar conter o fluxo de sangue que aos poucos estava virando um grande borrão vermelho no vestido branco, mas era inútil não tinha como impedir que ela se fosse, o tiro havia pegado bem no coração –ESTÁ TUDO BEM! TUDO BEM! –Ele respirava alto, sentou-se totalmente no chão e olhou para o teto desenhado da igreja implorando mentalmente aos céus que salvasse Lady Laura, implorando que acontecesse um milagre, ele tinha tanta fé naquele momento. Apoiou o corpo da moça sobre suas pernas enquanto a abraçava e sujava-se de sangue. –ALGUÉM CHAMA A AMBULÂNCIA! –Gritava em desespero para as pessoas que ficaram na igreja, ele pôde ver duas pessoas saindo rápido, certamente iriam atrás de algum socorro, pensava ele. Ele olhou ligeiramente para as pessoas que restaram e viu a mãe de Lady Laura desmaiada sobre um dos bancos.

    -Minha filha, é mi-minha filha -Gaguejava o pai da noiva perplexo enquanto alguns homens tentavam afastá-lo para longe daquela cena dizendo-lhe que estava tudo bem e que os médicos chegariam logo, dizendo que não era nada demais. No fundo ele sabia que era mentira -É MINHA FILHA! -Gritou caindo de joelhos o homem de cabelos brancos ondulados. Seu rosto tinha uma expressão tão sombria -Minha filha -Os homens tentavam consolá-lo com palavras inúteis "vai ficar tudo bem, não foi nada grave", enquanto impediam-no de se aproximar.

     –Vai ficar tudo bem, meu amor. Vai ficar tudo bem. -Disse tentando tranquilizar a dama pálida que olhava para ele em silêncio e com as pupilas dilatadas. Ele tentava manter-se firme, mas lágrimas escaparam e caíram sobre a face da moça que estava ficando cada vez mais gélida –Deus nos uniu, Laurinha...-Fungou passeando os dedos na face da noiva -Ninguém vai nos separar. -Ela apenas o olhava nos olhos como sempre fizera, mas dessa vez transmitia dor e desespero.

    -Um dia eu volto para você –Falou com a respiração alta e arfante, seu noivo franzia o cenho e gesticulava um "não" com os lábios.

    –Você não vai a lugar nenhum! –Ele passava as mãos sobre os cabelos claros dela –Eu não vou deixar você ir no dia do nosso casamento –Ele sorria e chorava ao mesmo tempo –Por favor, Laura. –Ele chorava sem esconder sua dor, pois já não podia mantê-la em controle –Por favor, não me deixe –Encostou o rosto no rosto dela enquanto pedia repetidas vezes para que ela não o deixasse –Não, não me deixe. Não me deixe! - Ele a apertava mais forte sobre seu peito e ela continuava arfante, ele olhava desesperado ao seu redor na esperança de ver um médico vindo em direção a eles, mas não via nada a não ser expressões horrorizadas e tristes lágrimas. Ao baixar os olhos e encarar novamente o rosto da sua noiva percebeu que ela já não respirava, seus olhos não tinham mais brilho e sua vida havia ido.

    -Laura?–Chamou ainda a segurando em seus braços, chamou mesmo sabendo que seria inútil, mesmo sabendo que ela não responderia, que nunca mais sua voz ouviria -LAURA! -Gritou e seu grito foi ouvido por todas as pessoas que agora cercavam a igreja já sabendo da tragédia que havia acontecido –LAURA! ACORDA.

    A última lágrima que Lady Laura não deixou que escorresse ainda em vida, deslizou sobre o seu rosto em seu leito de morte.