1. Spirit Fanfics >
  2. A Terceira Força >
  3. Tão perto.

História A Terceira Força - Tão perto.


Escrita por: hotside

Capítulo 10 - Tão perto.


Fanfic / Fanfiction A Terceira Força - Tão perto.

O sol minguava através da insistente neblina quando Rey despertou.

Ela abriu seus olhos, o que era quase tudo que conseguia fazer naquele momento. Sua cabeça latejava de dor. Para não mencionar o desconforto de estar deitada no chão duro.

Um tecido repousava cuidadosamente sobre ela.

O manto de Kylo Ren.

Sua memória retornava em fragmentos. Lembrou-se da discussão. De correr e encontrar um esconderijo. Do frio e da falta de ar. Do medo de morrer. De sentir a frustração de Kylo, lutando para estabilizar a nave, através do vínculo. Da sensação vertiginosa ao seu redor e… depois não se lembrava de mais nada.

Eventualmente Rey tentou se levantar, experimentando a realidade fria se instalar em suas veias quando sentiu uma fisgada em sua costela. Rey não precisava de nenhum especialista para saber que tinha fraturado pelo menos uma delas. Ela teve costelas quebradas o suficiente em Jakku para saber qual era a sensação.

Kylo estava a um passo de distância dela, encostado em uma árvore. As pernas esguias dobradas, o rosto enfiado entre os braços ensanguentados que descansavam sobre os joelhos, deixando seus cabelos desgrenhados se espalharem pelo pescoço.

Rey limitou-se a olhar ao seu redor, procurando entender o que tinha acontecido. Buscando um panorama de onde estava.

Parecia uma floresta definhada que em algum momento prosperou em vida, mas que hoje era somente composta por árvores mortas, alongadas e cinzas. O ar era pesado, como se a atmosfera estivesse tomada por fuligem. Um cheiro acre entrou em seu nariz, agarrando-se em seus pulmões como um velcro.

Era um planeta doente.

O silêncio daquele lugar era inquietante. Não havia nada ali. Nem pássaros, nem insetos zunindo. Nenhum farfalhar de mato. Nem mesmo uma brisa. Rey ouvia apenas o coração correndo em seus ouvidos. Tum tum tum.

Com pouca chance de haver uma civilização, o seu plano de entrar em contato com a Resistência tinha ido por água abaixo.

Assim que o Cavaleiro começou a se mexer, ela voltou sua atenção a ele. A tranquilidade que emanava dela tinha desaparecido, substituída pela desconfiança de sempre.

Mas ele não parecia tão melhor que ela. Havia uma dificuldade no modo de respirar que implicava o quão desconfortável Kylo se sentia. Soltando uma queixa de dor quando ergueu seu rosto. Rey pensou brevemente em perguntar se estava tudo bem, mas decidiu que isso não importava.

Demorou um tempo até Kylo perceber que ela estava olhando para ele. “O que aconteceu?” Era a única pergunta que Rey conseguiu elaborar.

“Nós caímos” Kylo disse.

“Óbvio” Rey complementou, embora a vontade dela fosse de responder: Eu te avisei.

Ele tossiu antes de continuar “Tivemos que fazer um pouso forçado em Eladard, mas perdi o controle e então…” Kylo apontou com a cabeça, na direção do lago à sua frente, onde um pedaço da asa da nave despontava sobre a água.

Rey prendeu a respiração ao lembrar-se do seu medo de lugares profundos. Ela não fazia ideia de como conseguiu sair daquele lago com a vida.

Na verdade, ela sabia.

Ele a salvou.

*

A floresta se tornava ainda mais cinzentas com o fim do dia, fazendo a sombra das árvores se tornarem alongadas como dedos descarnados que rasgavam a terra.

Os dois se acomodaram num antagonismo amistoso, enquanto tentavam se recuperar das últimas horas. Ele obviamente não conseguiu descansar, e mesmo que Rey não reparasse em seu rosto ela podia perceber através do seu vínculo que Kylo não se sentia bem.

A verdade é que os dois estavam feridos e exaustos, e mesmo que ambos melhorassem, a fome iria minar o pouco de energia que ainda restava neles.

O estômago de Kylo se contraiu num vazio, um súbito lembrete de que não tinha comido nada em três dias. Todos os suprimentos estavam no fundo do lago junto com sua nave. Não tinha muito que fazer.

Soltando uma tosse trêmula do fundo da garganta, Kylo se levantou, e então foi atrás de qualquer coisa que pudesse servir de alimento.

Assim que adentrou na floresta, o pessimismo encontrou seu lugar. O planeta era mais morto do que aparentava ser. Abaixo, o solo estava duro e rachado. O que antes era uma vegetação rasteira, agora era apenas um emaranhado de palhas que se esfarelavam quando pisadas. Não parecia crescer nem mesmo uma erva-daninha naquela terra estéril.

Kylo continuou andando pelos arredores, enquanto mantinha a mente vinculada à Rey, caso ela pensasse em fugir.

Um burburinho adiante chamou sua atenção como um estalo, fazendo-o conter seus movimentos na tentativa de captar melhor cada som que chegava até ele. Não parecia muito longe, porém mais próximos do que gostaria. As vozes vinham de trás de um monte e iam ficando mais claras conforme ele ia se aproximando. Estava na direção certa.

Ao pé da colina, Kylo pode ver uma espécie de acampamento itinerante, com pequenos veículos de terra, um fogareiro queimando e cabanas meio-montadas. Estariam chegando ou indo embora?

As criaturas que circulavam pelo local eram meio humanos meio lagartos, tinham a pele esverdeada, como se feitos do mesmo material que o lago. Suas roupas eram no mesmo tom da pele e pendiam esfarrapadas pelas laterais. As pupilas eram vermelhas, inexpressivas.

Kylo estava analisando a estrutura do local, buscando por sinal de suprimentos e armas, quando houve uma movimentação entre eles. Todos pararam o que estavam fazendo e olharam em sua direção.

“Porra!”

Num sobressalto Kylo girou seu corpo, escondendo-se atrás de uma elevação. Praguejou entre os dentes, quando percebeu que, na verdade, o que tinha chamado a atenção deles vinha logo além. Uma linha tênue de fumaça se erguia através das árvores.

Vinha da direção da Catadora!

*

Rey continuava na clareira em que Kylo tinha a deixado.

Sabia que poderia fugir dali naquele momento, mas seria estúpido tentar continuar sozinha no estado que estava. Assim como também era estúpido continuar ao lado de seu inimigo.

Um inimigo que a tinha salvado da morte certa, mas ainda assim um inimigo.

A indecisão manteve Rey em seu lugar.

Talvez um cessar-fogo não fosse de todo mal. A ideia não a agradava muito, mas era o que cabia a ela naquele momento.

O que Rey não teria dado para perguntar ao seu mestre Luke sobre isso. Para que ele desse qualquer orientação… A lembrança fez seu coração se apertar de tristeza. Ela nunca mais o veria…

O frio começou a se deslocar com a chegada da noite. Rey resolveu acender uma pequena fogueira, utilizando alguns galhos secos que encontrou – parecia ser a única coisa que não faltava naquele lugar – logo, ela tinha uma agradável chama para se aquecer.

De certa forma o fogo a hipnotizava. Suas chamas dançavam e entrelaçam em tons vívidos de vermelho. As fagulhas faziam-na se lembrar de Kylo em Takodana, quando seu sabre a assombrou pela primeira vez. Parecia que tinha sido há tanto tempo… Ela se lembrava disso como se fosse uma lembrança feliz, um encontro bonito, e não ele a caçando na floresta.

O sol havia quase terminado sua descida, quando Rey teve um estranho pressentimento. Uma sensação de alerta vindo através de sua conexão com Kylo. Mil pensamentos passaram pela sua cabeça. Ele estava em perigo? Parecia estranho admitir que se preocupasse com ele depois de tudo.

De repente um farfalhar interrompeu seus pensamentos. Rey virou-se desconfiada. Os olhos fixos na direção que o som vinha. Num movimento automático a Jedi esticou a mão até seu cinto, só para se lembrar no instante seguinte que Kylo tinha tomado seu sabre horas atrás “Droga!”

Um vulto passou por ela como uma flecha, antes que Rey pudesse se levantar, a sombra pegou seu antebraço com força, fazendo-a se torcer tentando fugir.

“Merda, o que você fez??” disse Kylo, totalmente sem fôlego. Colocando-se tão próximo que ela poderia sentir seus músculos tensionados sob a roupa.

“Ei, me larga!” protestou Rey, incomodada com toda aquela aproximação desnecessária “O que foi que eu fiz??” Tentava se afastar dele, o empurrando.

Kylo cobriu a boca de Rey e a arrastou para dentro de uma enorme árvore partida ao meio, torcendo-se feito um pretzel junto a ela, no reduzido espaço. Protegeu a entrada com galhos secos, formando uma espécie de esconderijo improvisado. Ou algo estava muito errado, ou Kylo tinha enlouquecido de vez, Rey concluiu.

“A fumaça da sua maldita fogueira chamou a atenção deles!”

“Deles quem??” Rey procurava olhar por cima do ombro.

Kylo fez sinal de silêncio com suas luvas pretas, e apontou para fora “Hedorianos. São oito” seu tom de voz se tornou baixo e potencialmente preocupante. A Jedi olhou na direção que ele apontava, e então pode ver algumas sombras que caminhavam vagarosamente entre a floresta árida.

Os olhos de Kylo se tornaram estreitos e ferozes mirando em algum ponto, Rey podia ver um plano se formando na cabeça dele.

“Não!” Rey sibilou em protesto, agarrando-se ao braço dele. Os olhos assustados do tamanho de um pires “São perigosos” ela constatou.

Kylo se sentiu ultrajado “Perigosos? Eu que sou perigoso aqui!”

“Por isso mesmo! Então por que atacá-los?!” Rey sacudiu a cabeça, indignada “Eles são oito, nós somos dois. Olha nosso estado lamentável!”

Kylo resmungou, ofendido. A ideia de fugir e se esconder feito um rato não eram do feitio dele. Sabia que seria capaz de enfrentá-los, mas talvez ela estivesse certa, não era sensato comprar uma briga naquele momento quando ele nem mesmo conseguia respirar.

Os seres chegaram até a clareira onde eles estavam, avaliando o local metodicamente. Eram ainda maiores e mais assustadores de perto. Cheiravam à lama e morte.

Kylo diminuiu sua Força presencial tornando-a menos perceptível. Rey não sabia manipular sua energia como ele, por isso limitou-se a ficar imóvel.

Se aqueles reptilianos nojentos o encontrassem, poderia ser o fim.

Rey se afundou nos braços dele. Seu rosto escondido, tentando segurar o nervosismo. Kylo por sua vez a apertou com força, deixando-a mais próxima, numa reação impensada de proteção.

Os intrusos pararam diante da fogueira, que ainda ardia uma suave brasa. Pareciam deliberar entre eles soltando guinchos e ruídos aborrecidos. Houve o que aparentava ser uma discussão acalorada e então foram embora pelo mesmo caminho que vieram.

Kylo e Rey continuaram acuados em seu esconderijo, sem saber se as criaturas iriam retornar.

Suas respirações descompassadas foram suavizando, até o cansaço os vencer. Fazendo-os cair num sono pesado e irrequieto.

*

A floresta decadente ainda estava mergulhada na escuridão e no mais profundo silêncio, o que a tornava ainda mais nefasta. Se é que isso fosse possível.

Kylo acordou num sobressalto, acreditando ter escutado alguém o chamar. Um momento se passou até que ele ouviu novamente.

“Kylo...”

Era Rey.

Ele fez uma pausa, coração se apoderando. Ela viu algo? Estava com dor? Com frio? Por que ela o chamou?

Rey continuava na única distância possível que o abrigo permitia. Ou seja, muito, muito próxima. Aninhada em seus braços com as pernas dobradas, o calor emanando de seu corpo. O rosto estava relaxado em seu ombro forte. Sua boca entreaberta e seu hálito quente contra seu pescoço fazia-o contrair cada músculo de seu corpo.

Kylo virou o rosto para vê-la melhor. Conseguiu vislumbrar seus cílios sobre os olhos fechados. Ela estava dormindo.

Antes que ele decidisse o que fazer, Rey o chamou novamente. Desta vez aproximando-se ainda mais.

“Kylo, por favor…”

Os movimentos dela oscilavam como se algo estivesse a consumindo lentamente em fogo, causando faíscas de excitação. Com um grunhido Kylo virou seu rosto, recusando-se a olhar para ela, contudo a guerra em seu sangue levou sua batalha implacavelmente para o sul. Sua confiança fraquejou quando ela se curvou, pressionando a lateral de seus quadris contra o volume involuntário começou a crescer abaixo do umbigo dele.

Ele nunca sentiu nada como isso antes, nunca quis sentir algo assim antes.

Os sentimentos que Rey despertavam nele eram irreversíveis, indisciplinados e impossíveis de controlar. Seus dedos se enrolaram em punhos, buscando uma contenção desesperada, como se segurasse um animal selvagem preso a uma coleira. Ele desejava se afastar, mas mal conseguia se mexer.

Tão perto.

Rey movia-se de forma absolutamente cruel, contorcendo-se entre as longas pernas dele, como se pudessem ocupar o mesmo espaço. O cheiro dela embotava os sentidos de Kylo, que jogou a cabeça para trás, numa tentativa desesperada de puxar o ar e recuperar o controle de seu corpo. Ele pensou em banho frio, no Líder Supremo, em sua mãe… mas Rey brilhava como a chama, como o Sol. Com aquela Luz que ele tentou desesperadamente apagar.

“Oh, Kylo...”

Aquilo estava destruindo ele.

Com a respiração cada vez mais pesada, Kylo apertou a boca. Uma dor crescente se enraizava nas suas entranhas, flutuando ao longo de sua dolorida necessidade de tê-la mais perto, o rasgando numa agonia prazerosa da qual ele não conseguia fugir.

Era como se seu corpo estivesse agindo por vontade própria. Ele gemeu, fechando os olhos, ocultando furtivamente as intenções de si, e por um breve momento se imaginou dentro dela saboreando sua feminilidade.

Ah droga, aquilo estava saindo de controle!

Não demorou muito para que Kylo estivesse se movendo instintivamente no mesmo ritmo que Rey. Ele desceu o nariz entre os ombros e pescoço dela, aspirando seu cheiro salgado de mar. Sua pele era quente e macia, beijada pelo Sol. Delicadas sardas se espalhavam pelo seu rosto e busto, desaparecendo pelo discreto decote. Ele queria tocá-la, sentir seu cabelo deslizar por entre seus dedos, para então encontrar sua boca e descobrir se o seu gosto era tão bom quanto seu perfume.

Ele a queria.

Mas não era certo.

Kylo fez um juramento perante sua ordem de Cavaleiros de Ren. Sabia que poderia ir pro inferno de Snoke por desejá-la daquela forma, mas pelo menos ele poderia dizer que nunca colocou as mãos sobre a Garota. Rapidamente ele se afastou, deixando que o ar frio da noite encontrasse espaço entre seus corpos conectados.

Uma queixa desconfortável entregou o despertar de Rey, que, surpreendida com aquele homem enorme curvado sobre ela, a fez plantar a mão sobre seu peito o empurrando firmemente, num reflexo de defesa “Tá maluco?! Sai fora!”

Ela se esquivou num movimento rápido e arredio, jogando-se para fora do abrigo, desconcertada.

Kylo ficou sem reação.

Sentia-se um pervertido miserável espremido dentro daquela árvore desgraçada. Mal conseguia pensar, ou fazer, ou dizer qualquer coisa enquanto tentava disfarçar a situação constrangedora entre suas pernas.


Notas Finais


O esconderijo pode ter escondido eles dos homens bárbaros, mas não os esconderia do desejo latente! ( ͡° ͜ʖ ͡°)
Coitado do Kylo, passou nervoso ali hein! X-D

Eu quis inventar uma criatura para este planeta. Como é um lugar em decomposição, com florestas mortas e lagos pantanosos, eu quis usar algum nome que combinasse com o ambiente. Em japonês "Hedoro" (ヘドロ) significa "Lodo".


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...