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História A Terceira Força - Aliados de conveniência.


Escrita por: hotside

Capítulo 11 - Aliados de conveniência.


Fanfic / Fanfiction A Terceira Força - Aliados de conveniência.

A manhã chegou trazendo uma luz tênue e alaranjada, sob o insistente nevoeiro do planeta. Houve um evidente climão entre os dois depois do ocorrido na árvore. O silêncio se estendeu desconfortavelmente nas horas seguintes.

Rey estava na beira do lago pantanoso, sentada numa pedra, cogitando abandonar a ideia excepcional de confiar em Kylo e apenas fugir correndo dali. Enquanto isso ela procurava qualquer ondulação rente à água, como prova de que algum animal vivia ali e que pudesse servir de alimento. Era uma distração bem vinda, mas infelizmente nada parecia sobreviver naquele lugar. Exceto eles, e aquelas criaturas.

Kylo aparentava estar mais ranzinza que o habitual. Uma parte era devido à fome que já corroía seu vigor, outra parte era… era melhor esquecer aquilo.

Mesmo contra a vontade, a mente de Kylo voltava para o episódio da árvore, fazendo o calor pesado da vergonha se acumular em seu peito. Ele era um idiota, e o seu estômago revirou com essa certeza irrefutável. Ele já tinha lavado seu rosto numa tentativa de esfriar seus ânimos, e agora estava com a cabeça enfiada na sua máscara como de costume. Apesar de tudo era um alívio estar dentro daquilo, era como se existisse um muro entre eles. Isso o ajudou a relaxar. Foi um momento de fraqueza, ele pensava. Nada mais.

Contudo, uma coisa era certa: mesmo com um plano de fuga perfeito, nada daria certo se eles não colocassem um alimento no estômago logo.

O problema é que eles não tinham qualquer plano perfeito.

Nem comida.

Nem nada.

Somente um ao outro.

Rey continuava sentada na pedra, quando percebeu que toda a fome, a dor, o frio e o medo que ela sentia eram culpa dele. Que a irresponsabilidade dele colocou a vida deles em risco, os trazendo até este maldito planeta.

Uma fagulha de estresse voou sobre o vínculo, então Rey jogou sobre ele toda sua frustração.

“É tudo culpa sua de estarmos neste lugar peçonhento! Se tivesse me ouvido, mas não!!! Sua arrogância quase nos matou! Olha só a merda em que você nos meteu. Parabéns!”

Kylo revirou os olhos por dentro de sua máscara, perguntando-se como ela poderia ser tão cheia de ódio e ainda não estar consumida pela Força Sombria. Mas seu humor não era dos melhores naquela manhã em particular, muito menos para aturar uma reprimenda. Sua vontade naquele momento era afogá-la dentro do lago, então fez questão de projetar sua intenção através do vínculo.

Mas Rey não vacilou com a intimidação do Cavaleiro de Ren, pelo contrário, ela assumiu uma posição de combate usando o que tinha em mãos para atacá-lo: Sua Força e coragem. “Eu não tenho medo de você! Quase te matei uma vez, posso fazer isso novamente!”

A advertência de Rey alimentou a já substancial irritação de Kylo. Seus músculos se enrijeceram quando ele avançou na direção dela, parando bem na borda de seu espaço pessoal. Ombros largos e peito sólido se inclinando sobre ela ameaçadoramente. Uma fera se aproximando para matar.

Apesar da presença Sombria do homem de negro na sua frente, Rey se sentiu confiante. Seu queixo erguido e seus olhos fixos nele, sem qualquer sinal de medo.

Ela não recuaria.

Kylo invadiu a mente de Rey de modo covarde e sujo, buscando entre todas suas lembranças marcantes a que mais a machucava, então a feriu de uma forma que ela não estava preparada.

“Ainda conta os dias desde que seus pais a deixaram? Tanta dor, não é? Se esta é a sua maneira de tratar a única pessoa que a protegeu nas últimas horas, então não é de se admirar que sempre a abandonem!”

Rey titubeou.

Aquilo tinha sido muito perverso.

Ela abriu a boca para dizer alguma coisa, mas o que quer que fosse que ela tivesse planejado responder, voou para fora de sua cabeça naquele momento.

As palavras de Kylo a atingiram como uma lança, arrastando-a pela escuridão, de volta através de lembranças dolorosas do dia em que foi abandonada em Jakku. A nave de sua família se distanciando até se tornar um leve brilho metálico no céu. Ela chorou. Eles nunca retornaram.

O sentimento de solidão ecoou tão fortemente dentro dela, que Rey sentiu como se alguém tivesse literalmente arrancado seu coração para fora. Ela piscou, se esforçando para impedir as lágrimas que teimavam em rolar pelas bochechas. Ela não mostraria fraqueza. Virou o rosto para encarar o chão, com os lábios pressionados e tristes para que ele não a visse, porém, a sua mágoa o atingiu através da ligação entre eles.

Olhando para Rey, agora, Kylo sabia que tinha ido longe demais. Ainda se lembrava do que viu em sua mente na sala de interrogatório na base Starkiller. Ele sentiu o peso da solidão que ela carregou por todos aqueles anos.

Um peso que infelizmente ele também conhecia.

Então ele se sentiu desprezível.

A necessidade de Rey de se distanciar de Kylo era tanta, que ela se virou para ir embora. Independente da dor, da fome, do frio e do medo. Ela tinha seu orgulho. Nunca precisou de ninguém, muito menos dele, mas a Jedi não deu mais que três passos quando Kylo a interrompeu.

“Rey...” ele falou tão baixo que ela quase não pode escutar “Você estava certa.”

A Jedi ficou confusa ao escutar seu nome saindo da boca dele. Ainda mais acompanhado daquele quase pedido de desculpas. Onde ele queria chegar? Ela ficou quieta esperando que Kylo elaborasse.

“O que você disse sobre a culpa ser minha. Você estava certa.”

Ele mesmo não podia acreditar que estava admitindo seu erro.

A comoção que Rey sentiu foi rapidamente absorvida pela conexão entre eles. Era quase incompatível com sua persona dizer tais coisas, o que a fez se lembrar de Leia quando afirmou que ainda havia Luz dentro dele.

Rey olhou para o lago, imaginando o esforço que Kylo deve ter feito para tirá-la com vida das ferragens. Talvez Leia esteja certa afinal, concluiu, e este pensamento fez seu coração se acalmar. Já estava mais tranquila quando se manifestou.

“Seria mais prudente se saíssemos daqui. Não sabemos se aqueles… hedoro-qualquer-coisa ainda estão atrás de nós.”

Kylo fez um movimento positivo com o capacete.

“O acampamento fica muito longe daqui?” ela arriscou “Eu poderia ir até lá e tentar furtar suprimentos.”

Não parecia uma má ideia – na verdade, era uma péssima ideia – mas parecia ser, de longe, a única chance de não morrer de fome naquele planeta ermo e infeliz.

Sem nenhuma outra palavra, Kylo virou-se para a mata, dando um breve olhar antes de dizer “Por aqui.”

Apesar da dor residual que ainda a atingia, Rey o acompanhou, andando alguns metros atrás dele. A mão pressionando sua costela que ainda latejava.

O vínculo entre eles era quase impossível de silenciar, de tão próximo. Estar ao lado dela era desconfortável, como se alguém o perseguisse com um sabre de luz apontado para sua nuca. Ele conseguia sentir a desamparo e a dor dela, e isso o enfraquecia.

Ela por sua vez, podia sentir a inquietação dele com sua presença, o que a deixava num estado de vigília constante. Os músculos tensos, olhos atentos. Em outro momento ela seria capaz de atacá-lo covardemente pelas costas, mas não agora. Naquele instante era bizarro perceber que Kylo Ren era seu único aliado em milhares de quilômetros luz.

“Você está com medo de mim?” Kylo parou repentinamente quando fez aquela pergunta, que soava mais como uma afirmação, na realidade. A máscara negra voltou-se para trás, esperando que Rey chegasse até ele.

Rey ergueu o rosto em sua direção. “Não, não estou.”

Ele olhou para ela, que o encarava com aquele mesmo olhar destemido que o desarmou na Starkiller. O mesmo olhar que o fez desejá-la como aprendiz.

Quando pensou nisso, estava bastante certo de que não a deixaria partir.

*

Eles chegaram até a elevação onde Kylo viu os Hedorianos pela primeira vez.

“Droga, eles estavam exatamente aqui” disse ele, dando de ombros, enquanto olhava o terreno desocupado, agora cheio de descartes do acampamento.

“Será que estão fugindo de nós?” Rey se questionou.

“Eles não parecem ser do tipo que fogem” Kylo concluiu.

De onde eles estavam, conseguiam ter uma ampla visão dos arredores daquela infinidade árida: Montanhas e uma floresta ressecada que se estendia pelo horizonte... Tudo desagradavelmente igual ao que já tinham visto, contudo, numa distância razoável, eles perceberam enormes chaminés que se erguiam ultrapassando até mesmo as árvores mais altas. Tudo cercado por uma grande muralha. O lugar expelia uma densa fumaça intermitente, o que explicava a qualidade débil do oxigênio do planeta.

Rey sentiu-se esperançosa ao ver a misteriosa edificação cercada “Eles podem nos ajudar!” Já Kylo não parecia tão otimista com o espírito gregário deles, mas se possuíssem alguma nave que pudessem tirá-los dali, já era alguma coisa.

Era tudo que eles precisavam para escapar daquele planeta infernal.

Antes de se arriscarem nesta jornada, resolveram descer a colina para conferir os restos do acampamento que os homens-lagarto deixaram para trás.

Rey logo assumiu sua antiga ocupação de Catadora e se pôs a fazer uma varredura pela área. Talvez fosse uma espécie de mecanismo de defesa, voltar-se aos velhos hábitos em um momento que ela sentia que sua vida estava indo direto para um rumo desconhecido.

Fuçava em tudo, na esperança de encontrar qualquer coisa que servisse de alimento. Ela vibrou quando encontrou uma caixa cheia de barras de proteína e biscoitos velhos.

“Encontrei, encontrei!” o sorriso de Rey parecia iluminar tudo ao seu redor.

A visão da comida, mesmo tão pouco apetitosa, já era o suficiente para fazer sua boca salivar. Ela foi logo enfiando vários biscoitos em sua boca feito um náufrago esfomeado. Kylo a acompanhou, escolhendo uma das barras.

O alimento foi como uma injeção instantânea de ânimo para os dois.

Num gesto de conciliação, Kylo estendeu de volta o sabre para Rey, que ficou admirada com aquela atitude. Aquilo soava quase que como uma oferta de paz, mais do que uma demonstração de confiança.

E o dia pareceu bonito, apesar de tudo.


Notas Finais


Apesar do jeito arrogante, violento e insensível de Kylo, até que ele consegue ser gentil as vezes... mas SÓ quando ele quer. :-P


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