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História A Terceira Força - A queda.


Escrita por: hotside

Capítulo 13 - A queda.


Fanfic / Fanfiction A Terceira Força - A queda.

Uma densa neblina cercava a cidadela, entre fumaças escuras que subiam até a atmosfera. A poluição era vista na mesma medida que era sentida. Seca e sufocante.

A máscara de Kylo felizmente permitia uma filtragem do ar, ao passo que Rey se limitava a colocar seu braço sobre o nariz, buscando manter o ar respirável enquanto expelia curtas tosses.

Quando chegaram à vila industrial, a luz do dia estava a meio caminho sobre o horizonte, mas mal era visível através das grandes colunas de fumaça. A indústria tornava as sombras escuras e cinzentas, mas o topo das chaminés ainda se agarrava a luz moribunda do fim do dia.

Existia um grande portão na entrada, com um tipo de posto alfandegário. Uma dúzia de Hedorianos caminhavam por ali, e outros mais que saiam de dentro. Uma tribo inteira dessas coisas. Um vigia carrancudo autorizava a entrada dos pequenos veículos de transporte, munido de uma lança que pendia do seu ombro.

Kylo resmungou e já foi logo procurando pelo sabre embaixo do manto. Rey percebeu o gesto antes mesmo dele alcançar sua arma, colocando a mão em seu ombro, num gesto que transmitia segurança.

“Não. Sem mortes! Vamos fazer isso do jeito civilizado.”

Kylo não botou muita confiança, mas tentou se aquietar enquanto guiava o veículo até a entrada.

O sentinela, maior do que as outras criaturas que eles encontraram na floresta, fez um gesto os mandando parar no acostamento, e então dirigiu-se até o transporte com cara de poucos amigos.

Assim que abaixou o visor o ser colocou a cara para dentro, grunhindo “Dokumentter jana ordu anıktoo.”

Sua saliva malcheirosa escorria pelo queixo, enquanto apontava uma espécie de escâner de identificação para Kylo. Ele desviou o rosto dos olhos vermelhos do homem lagarto, e então sibilou para Rey “Seja lá o que for fazer, faça logo! Ou eu arranco a cabeça dele aqui mesmo!”

Rey interveio, usando a mesma língua que o Hedoriano reconhecia como dele “Sen bizdin maşine ordunan boşotot, andan kiyin bizge uruksat beret.”

A criatura grunhiu, tentando olhá-la por baixo do capuz.

Ela tentou mais uma vez, num tom calmo, mas convincente “Sen bizdin maşine ordunan boşotot, andan kiyin bizge uruksat beret.”

O ser finalmente baixou o escâner de mão e então respondeu num tom inexpressivo “Men senin maşine boşotup, alardı koyo beret.”

O guarda dirigiu-se até o guichê, onde apertou uma alavanca, fazendo com que a cancela subisse rangendo em atrito com as engrenagens.

E eles seguiram intrépidos, portão adentro.

Rey não pôde evitar um sorriso convencido “Viu só, às vezes podemos resolver as coisas civilizadamente. Sem necessidade de um banho de sangue.”

O Cavaleiro não acreditava no que tinha acabado de ver. Balançando a cabeça desacreditada dentro da sua máscara, ele indagou “Como você fez isso?!”

“Oras, é um truque mental Jedi. Bem simples.”

“Sim, isso eu sei! Mas você conseguiu falar na mesma língua que ele. Como conseguiu?” Kylo parecia incrédulo. Com uma tripulação tão homogênea, a Primeira Ordem tinha pouco interesse em aprender sobre outras culturas. Eles nem sequer encorajavam que seu pessoal aprendesse alguma coisa no próprio tempo livre.

Rey riu orgulhosa “Trabalhar no entreposto comercial de Niima teve lá suas vantagens. Aprendi muitas línguas para conseguir negociar com os forasteiros!”

Se Kylo estivesse sem a máscara, Rey poderia jurar que ele estava sorrindo.

O automóvel se aproximou de um galpão, onde manobraram num espaço livre sem grandes transtornos.

Rey ajustou o manto em seus ombros e então tentou observar um pouco do ambiente ao redor. A usina era ainda mais colossal vista de dentro, acomodando uma cidadela suja e caótica em seu interior.

Eles foram percorrendo as vielas encardidas por anos e anos de fuligem e lama, uma sobre a outra, em busca de qualquer indicação de um grande hangar. O lugar era labiríntico, com caminhos que se abriam numa bifurcação e se encontravam sem fazer lógica alguma. Kylo reparou que já tinham passado mais de uma vez na frente de um velho vendedor de licores. Aquilo já estava o irritando.

Rey não podia deixar de fazer um comentário irônico ao perceber a impaciência dele.

“Se você não tivesse matado os outros, talvez pudéssemos simplesmente pedir uma carona para eles, ao invés de ficarmos zanzando feito dois idiotas.”

“Você realmente acha que eles iam fazer algum julgamento moral antes de tentar nos matar?” Kylo bufou por baixo do seu capuz.

Para piorar o então já desagradável lugar, aqueles seres não pareciam muito cientes de alguma norma de educação pública, pois declaradamente não procuravam desviar de ninguém enquanto andavam nas vias estreitas. Esbarrando em qualquer um que cruzasse a frente deles. Sendo menor, Rey sofria com cada trombada e pisada no pé que levava das criaturas.

Um deles, com um pouco mais de pressa que o normal, quase passou por cima dela, fazendo-a tropeçar, caindo de bruços, diretamente com as mãos no chão. O tecido que a cobria deslizou sobre seus ombros, expondo-a na frente de mais de cinquenta daqueles reptilianos apavorantes.

As criaturas ao seu redor imediatamente pararam o que estavam fazendo. Rey ficou sem entender o que tinha acontecido até perceber que ela era o motivo daquela quietação perturbadora “Que droga!”

Então veio um som, um rugido terrível seguido de um grito de guerra, enquanto lanças eram atiradas sobre eles.

“Corre!” Kylo ordenou.

Eles dispararam pelo caminho estreito. O chão lodoso ameaçando derrubá-los a cada passo, até que dobraram uma esquina, revelando um beco sem saída. Vozes furiosas seguiam atrás deles. E a travessa que poderia ser uma rota de fuga, tornou-se uma sentença de morte.

Rey virou-se rapidamente, puxando seu sabre de luz azul. Kylo ficou ao seu lado assumindo uma posição de combate, sua espada vermelha flamejando na direção da turba enfurecida.

Os seres afastaram-se assombrados como se os reconhecessem – talvez da floresta? – Houve um burburinho antes de começarem um frenesi de urros e gritos, enquanto encurralavam os intrusos, prontos para defender o território.

“Acha que é um bom momento para tentar uma amizade com eles?” lançou Kylo, ironicamente.

Rey revirou os olhos “Quando é para atacar você prefere fazer piadinha, isso mesmo?”

Então, como num ciclone mortífero, Rey e Kylo começaram a deslizar os sabres em todas as direções, acertando um após o outro. Fazendo o ar, já difícil de respirar, insuportável por causa do odor forte das carnes sendo retalhadas pelo plasma letal.

As criaturas berravam, guinchavam e se atropelavam, contudo, prolongar um combate ali seria muita imprudência. Eram dois contra uma cidade inteira.

Kylo gritou na direção de Rey, quase inaudível entre o alvoroço todo “Não podemos ficar aqui o dia todo!”

“Eu sei!” Rey gritou de volta.

“Você tem que subir, e tentar encontrar a saída daqui!”

Rey olhou para o muro que estava cercado pela horda “Não consigo chegar até lá!”

Kylo usou a Força lançando oito corpos sobre um grupo, que se amontoaram uns sobre os outros. Era uma mistura de carcaças, braços e pernas, procurando se desvencilhar do rolo.

Então a Jedi aproveitou o caminho livre e fez o que sabia fazer de melhor.

Ela correu em meio ao caos, por cima do aglomerado de homens-lagarto que queriam chegar até Kylo Ren. Lançou-se na direção da muralha que se erguia cerca de quinze metros acima. Os pulmões de Rey ardiam enquanto ela usava suas mãos como instrumento para escalar, cravando seus dedos calejados em cada vão, até que finalmente agarrou o topo.

Kylo continuava lutando ferozmente, numa vórtice vermelha de fúria incansável. Ele não viu mais quem estava matando ou o quê estava matando. O que ele sabia era que tudo na frente dele morreu da mesma forma.

Do alto do paredão Rey conseguiu se localizar dentro daquela cidade caótica de ruas irregulares. Agora ela sabia o trajeto que tinham que fazer para chegar até o espaçoporto, mas ela não podia simplesmente deixar Kylo para trás.

Lá embaixo a coisa estava pegando fogo. Uma pilha de cadáveres se amontoava ao redor de Kylo, que continuava lutando com todas suas forças contra as criaturas que não paravam de chegar. Mas mesmo o feroz Cavaleiro já começava a dar sinais de cansaço. De onde estava Rey não tinha muito que pudesse fazer por ele. Olhava ao redor tentando encontrar qualquer solução.

Uma dor lancinante disparou através dela como uma fisgada. Primeiro foi no ombro, depois um apunhalamento afiado nas costas. Num reflexo automático do seu corpo, ela colocou a mão em seu ombro esperando encontrar sangue vivo e quente, até perceber que a dor vinha através de sua conexão com Kylo Ren.

Um grito dele foi o que faltava para Rey ser puxada para a realidade. Confusão e terror se elevaram nela, como lava chamejante, quando ela avistou Kylo encurralado por dezenas de criaturas, que o atacavam ininterruptamente.

Apesar da morte que a cercava e do cansaço que a consumia, ela se sentiu determinada. Uma das saídas de fumaça da indústria se erguia ameaçadoramente alta na frente deles. Então Rey teve um lampejo de ideia. Era arriscado, mas ela tinha que tentar.

A Jedi fechou os olhos sentindo a Força vibrar ao seu redor. Espalmou a mão direita no ar, concentrando a energia na direção da enorme torre, então impeliu sua energia o mais forte que podia até que escutou a estrutura trincar.

Ela segurou sua respiração, considerando os riscos mais uma vez. Olhou para Kylo, apreensiva, como se esperasse um sinal dele.

Kylo sabia o que ela planejava e seus olhos se encontraram. Um breve sinal. Era o que bastava para Rey, que deslocou sua Força num impulso devastador, fechando sua mão num punho e puxando a energia para baixo.

A coluna de concreto fez um estalo e se partiu ao meio, num estrondo aterrorizante. A gravidade fez o resto lançando centenas de pedras sobre Kylo e os Hedorianos, numa hecatombe de destroços de todos os tamanhos.

O instante seguinte parecia não ter fim para Rey.

Seus olhos varriam cada ruína procurando qualquer sinal de Kylo, entre pedras e corpos desmembrados “Apareça, apareça” ela não queria que ele morresse. Sentia-se sincera em relação a isso, como se algo tivesse mudado, uma espécie de respeito por ele que não possuía antes.

Um rumor fez o chão vibrar, seguido de uma explosão que lançou pedras para todos os lados formando uma cratera. Um paredão de poeira se levantou para revelar Kylo Ren em seu centro, caído de joelhos, com a cabeça baixa e a respiração carregada.

Eles conseguiram!

Rey pode finalmente soltar todo o ar de seus pulmões, como se pudesse aliviar todo o peso que ela ainda carregava.

Ela meticulosamente escolheu seu caminho de volta para baixo, seus dedos buscando firmeza em cada movimento de descida. Assim que seus pés tocaram o chão, ela correu em direção a Kylo, que ainda parecia atordoado enquanto se levantava. O que era bom, porque significava que independentemente das lesões ele ainda conseguia se movimentar.

Kylo sentiu que estava sem sua máscara, provavelmente arruinada durante a sua luta, mas ele não tinha tempo para fazer qualquer coisa a respeito disso. Seu sabre de luz estava a poucos metros de distância, desativado. Ele o chamou para sua mão estendida, enquanto Rey se aproximava.

A Jedi parou diante de Kylo, o menor dos sorrisos nos lábios dela.

“Você está bem?”

“Estou” ele assumiu, sem muita convicção.

Os olhos atentos de Rey analisaram-no de cima a baixo em busca de ferimentos. Suas roupas estavam embebidas com um sangue escuro, o que tornava difícil fazer qualquer avaliação mais minuciosa. A preocupação envolveu o rosto dela, quando seu olhar pousou numa lesão florescente em seu ombro.

“Você está sangrando” ela finalmente disse apontando para o ombro lacerado, que escorria carmesim por seus braços.

“Só a dor pode fortalecer” Kylo parecia recitar algum dos infindáveis ensinamentos de Snoke.

Rey contestou preocupada “Dor é apenas dor”

Ele franziu a testa, mais beligerante do que zangado “Eu vou sobreviver.”

Num súbito alívio por vê-lo bem, Rey lançou-se sobre Kylo, envolvendo-o em seus braços e o apertando com força. Ela não parecia se incomodar com toda a poeira e sangue que estavam sobre ele. Ele estava vivo!

Kylo grunhiu e ela não tinha certeza se era de surpresa ou dor.

“Eu fiquei tão preocupada!” Rey admitiu livremente, pressionando o rosto em seu pescoço, sentindo seu cheiro de fogo e de guerra “Que bom que está vivo!”

Kylo fechou os olhos, saboreando a aproximação dela. Estava certo que Rey podia escutar seu coração disparado por causa desse pequeno ato de intimidade. Desde que ele se curvou ao lado escuro, o contato humano era fugaz e raro. Ele mal se lembrava de qual era a sensação de ser abraçado. Kylo sentia cada um de seus músculos tensos sob sua roupa, mas o corpo de Rey irradiava calor, como uma chama solar o fazendo se acalmar e se esquecer de tudo. Sua Força e sua Luz sempre o surpreendiam.

Seus dedos se contraíram quando ela se afastou o suficiente para olhar em seus olhos, mas sem sair de seus braços.

Ele passou um momento assim, apenas fascinado com seu sorriso. Incapaz de desviar seu olhar quando decidiu baixar seus lábios na direção dos dela. Beijando-a tão suave e gentilmente – de um jeito que Rey nunca esperaria vindo dele – que ela poderia pensar que era algum tipo de alucinação causada pelo ar tóxico.

Kylo tinha quase certeza que ela ia se afastar, mas não. Rey correspondeu seu beijo, oferecendo sua boca, selando a distância entre eles. Seus lábios pressionaram firmemente contra os dele, testando-o, desvendando-o.

O Cavaleiro ofegou surpreso e aterrorizado com a força dos sentimentos que ela estava despertando. Ele retribuiu sem hesitação desta vez, cravando as mãos em sua cintura, puxando-a mais perto, para decididamente beijá-la de forma mais intensa e necessitada.

Rey teve que se inclinar quando ele aprofundou o beijo, fazendo-a se agarrar no seu ombro bom para não perder o equilíbrio em cima dos destroços. Ela sentiu os músculos endurecem sob os dedos. Sensações novas queimaram nas bordas de seu corpo, levando fogo para suas veias enquanto Kylo movia os lábios e o corpo junto ao dela, numa dança perigosa.

Eles se beijaram por mais tempo do que deveria ser aceitável naquele momento de vulnerabilidade, então num breve lampejo de consciência, Rey percebeu que ela não deveria ter feito isso. Era uma coisa estúpida a se fazer. Tola e emocional.

Ele era seu inimigo.

Este pensamento trouxe Rey para a realidade, como um choque. Fazendo-a interromper o beijo abruptamente, como se estivesse quebrando um cristal. Então se afastou, mas sem conseguir sair dos braços dele.

Kylo resmungou insistente, procurando seus lábios com necessidade e urgência. Impedindo que Rey se distanciasse. Ele não queria deixá-la.

“Kylo. Pare.”

Eles levaram alguns segundos até recuperarem o fôlego e voltar à atenção para a confusão ao seu redor. Ele apenas a olhou fixamente, os olhos dilatados e escuros, os lábios avermelhados, tentando entender o que tinha acontecido. Incertezas ondulavam através do vínculo.

“Rey…” ele murmurou.

A Jedi desviou os olhos, o calor rastejando por seu pescoço. Percebendo a fragilidade da situação, Rey foi pragmática. Eles não podiam ficar lá. “Eu descobri o caminho até o cargueiro, é melhor irmos antes que nos cerquem novamente” então se virou, saltando sobre os restos da torre.

Os últimos segundos certamente tinham tomado um rumo estranho.


Notas Finais


Opa, temos uma evolução Reylo aí! Sim. Eu sei. Os dois perderam completamente a cabeça ao se beijarem no meio desta confusão toda. Mas quem disse que existe razão nas coisas feitas pelo coração?? haha. X-D

Nos últimos capítulos achei interessante dar uma função para a máscara de Kylo que muitos acham inútil, um mero acessório a la Darth Vader. Já vimos que pode ser capaz de compensar uma falta de oxigênio, protegê-lo de uma pancada na cabeça, filtrar o ar tóxico (ele é um Cavaleiro, precisa estar protegido né?). Mas agora ele perdeu o capacete. Hmmm, seria uma metáfora para o momento em que ele viveu? ;-)

O diálogo entre Rey e o guarda foi inspirada pelo som do dialeto Quirguiz.
- “Documentos e identificação da carga.”
- “Você vai liberar nosso carro e no deixar entrar.”
- “Eu vou liberar o seu carro e deixá-los entrar.”


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