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História A Terceira Força - Seja como a água.


Escrita por: hotside

Capítulo 21 - Seja como a água.


Fanfic / Fanfiction A Terceira Força - Seja como a água.

Rey passou os dias seguintes à fatídica visita de Hux como se estivesse vivendo com os sentidos diminuídos, o volume reduzido a quase nada. Era como se o mundo inteiro estivesse suspenso em algum tipo de buraco negro.

Passava as horas deitada. Os olhos fixos nas paredes. Às vezes pensava que não ia aguentar mais, mas descartava este pensamento quase imediatamente. A morte poderia ser uma alternativa para muitos dos que caíam nas mãos da Primeira Ordem, mas não para Rey.

Ela era uma autoproclamada sobrevivente. Jamais se entregaria.

Também havia um sentimento nebuloso, uma alfinetada em seu coração, como uma ferida invisível que se abria toda vez que ela pensava em Kylo. Uma parte dela estava aliviada por saber que ele estava vivo, outra parte a corroía em mágoa e decepção. Mas ela não deixaria que isso a paralisasse. Todo mundo já tinha escolhido um lado, era tarde demais para se preocupar com isso.

Seu único incentivo agora era concentrar-se nas palavras de Hux e em todo seu discurso doente sobre a Primeira Ordem.

Sabia quais batalhas ela podia lutar, e lutar contra a Primeira Ordem definitivamente não era uma delas – não naquele momento. Isso não significava que ela desistisse de todos os seus ideais. Mas se aquela era a única maneira de sair daquele cativeiro, ela teria que se resignar.

Para Rey aquilo era um jogo, e se ela jogasse bem poderia conseguir sua liberdade novamente.

“Seja como a água” as palavras de Luke retornavam à sua mente.

Então ela seria como a água. Teria a forma que eles esperassem, mas em sua essência ela permaneceria Rey, a Garota de Jakku. A última Jedi.

Ela já sobreviveu a coisas piores, e iria sobreviver a isso também.

*

Toda vez que o Supremo Líder questionava sobre a Garota, Hux limitava-se a responder que Rey continuava muito debilitada, precisando de tempo para se recuperar. Mas, na verdade, era que o General estava postergando esta reunião, pelo simples medo do inevitável reencontro dela com Kylo.

A ideia dos dois se aliando novamente arruinaria todos seus planos.

Para garantir a visível apatia da Jedi, Hux determinou que sua cota de ração diária fosse diminuída para menos da metade. Seria o suficiente para que ela ficasse realmente abatida quando o Líder exigisse sua presença. E foi o que aconteceu, quando Snoke ordenou que o General desse um parecer sobre as condições da prisioneira “Qual é o problema com a Garota? Ela não melhora nunca?!”

Hux começou com sua ladainha de sempre “Supremo Mestre Snoke, a Garota continua enfraquecida. Talvez devamos deixá-la de lado, até sua completa recuperação, para então nos focarmos na almejada guerra e…”

“General!” Snoke ergueu sua mão interrompendo Hux “Passaram-se quatro semanas desde que ela está em nosso poder! Não posso mais esperar Traga-a aqui!”

“Mas Supremo Líder, ela precisa…”

“Sem mais explicações, General!” aquele era um ultimato, Hux sabia disso.

“Sim senhor!” o General fez uma rápida reverência, virando-se em seguida sobre seus calcanhares em direção à porta.

*

Kylo Ren estava atarefado, mais atarefado do que previra. O ato de coordenar estratégias de guerra, avaliações e treinos é um feito complicado, e ele só pode delegar até certo ponto. Algumas coisas requerem sua presença, muitas coisas, na verdade, e é essencial que ele permaneça focado.

Naquela manhã, Kylo estava com suas atenções totalmente voltadas para os testes de desempenho da sua nova nave de comando.

Era estranho sentar na cabine de sua shuttle perfeitamente nova. Afundar-se no couro macio de sua cadeira sem se recordar de Rey ao seu lado, de seus olhos furiosos. Daqueles últimos minutos angustiantes durante a queda. O resgate no lago negro…

Ver tudo aquilo novo em folha era como se todo o episódio da queda no planeta Eladard não tivesse existido. Era como se ele pudesse apagar tudo dentro dele.

Mas ele não podia.

Kylo parecia perdido em seus pensamentos quando o comunicador em seu cinto vibrou ruidoso, era Hux.

“Ren, Líder Snoke está exigindo sua presença no anfiteatro.”


*

Rey foi desperta de sua cela ainda cedo, por dois Stormtroopers truculentos.

Sentia-se indisposta e enfraquecida. Seu estômago doía. Suas pernas mal conseguiram se firmar quando foi levantada de supetão. O incômodo passou, assim que percebeu que, finalmente, estava saindo daquele maldito cubículo.

Embora ela não soubesse se aquilo era necessariamente bom.

Rey não pode deixar de reparar na estrutura impressionante daquele lugar enquanto era escoltada. Chegava a ser assustador pensar que a Resistência tivesse capacidade – e a coragem – de cogitar uma guerra contra a Primeira Ordem, com toda aquela tecnologia à disposição.

O lugar era uma intrincada confusão de corredores, portas e salas “Seria uma nova Base Starkiller?” Rey pensou, até cruzarem por uma passagem iluminada, onde ela teve o vislumbre de uma janela tomada por um azul profundo. Isso respondia ao menos uma pergunta: Ela estava a bordo de uma enorme espaçonave.

Sua observação logo foi cortada assim que ela viu Hux à sua frente, visivelmente inquieto.

Enquanto Rey aguardava uma autorização, ela já conseguia sentir um desconforto rastejando pelos seus tornozelos até suas costas. A malevolência irradiava de trás da porta. Era a maior concentração da Força que ela já havia sentido, ainda maior que a de seu mestre Luke. A escuridão tornou-se cada vez mais sólida, até que a Jedi soube exatamente quem a esperava.

Snoke.

Assim que a porta se abriu, Rey sentiu como se a Força tivesse vindo derramando-se como uma lava. A presença do Lord Sombrio tirou o fôlego de Rey, roubando parte de suas forças, e seus joelhos quase cederam. Um sussurro frio soprou em seu pescoço, como uma língua gelada. Seus olhos se fecharam, procurando se acostumar com a sensação, ou simplesmente por medo.

“Seja como a água, seja como a água” ela repetia o mantra para si, enquanto passava pelo átrio.

Ela caminhava olhando para baixo, mas assim mesmo ela pode ver o vulto de duas figuras refletidas no chão polido. Uma era magra e pálida com seus dois metros e meio de altura. A outra tinha se tornado tão familiar quanto ela gostaria de aceitar. Era Kylo Ren, no seu usual uniforme de Cavaleiro.

Kylo estava pasmo, ele sinceramente não esperava ver Rey ali. Seria difícil seguir a orientação de Hux quando a Jedi caminhou em sua direção. Ele desviou o olhar de sua presença forte, esforçando-se para não trair seus pensamentos.

Rey foi deixada a alguns metros da plataforma. Snoke cruzou o salão até ela. Parecia flutuar dentro da sua longa túnica dourada.

“A última Jedi... Finalmente” Snoke estava exultante “Eu estava esperando por você!”

Ela tentou levantar o rosto, mas a figura pálida a sua frente era demasiada aterrorizante, com seu aspecto arruinado e sua cabeça mal cicatrizada, fazendo-a dar alguns passos para trás.

O velho Lord Sombrio aproximou-se de Rey, cuidadoso, examinando-a “Eu não estou aqui para fazer mal, estou aqui para guiá-la.”

Sua mão descorada alcançou o rosto de Rey, segurando-o entre os dedos gelados e cadavéricos. Rey não conseguia ver seus olhos, mas o sentia, perfurando-a como alfinetes. Snoke começou a se aprofundar em sua mente. Ela pode senti-lo serpenteando pelas suas lembranças, analisando-a. Dissecando-a.

“Garota preciosa. Você tem tanto poder quanto me lembro” a expressão dele beirava o prazer “Ah, eu ainda consigo sentir isso.”

Rey apertou os olhos e franziu o rosto numa expressão de nojo e de dor.

“Com a Ascensão da Primeira Ordem eu procurei por crianças sensíveis à Força. Kylo Ren foi o primeiro, e único, por muito tempo, até conseguirmos você” o velho Lord das Sombras falou, aproximando-se ainda mais, como se fosse contar um segredo.

“Você deveria se orgulhar de sua origem.”

Ainda de olhos fechados, Rey retrucou, firmemente “Eu conheço minha origem.”

Snoke contestou. “Eu a procurei por toda a Galáxia, dizimei vidas, destruí planetas. Até descobrir que estava nas mãos daquela escória mercenária a quem você chamava de pais.”

“Isso é mentira!”

“Não te julgo pela verdade que foi forçada a acreditar, Garota, mas lamento informá-la que te roubaram dos braços de sua verdadeira mãe, morta.”

Rey piscou, transtornada. Não fazia tanto tempo que Luke contou sobre a sua família, e aquela história perturbadora destoava do que ela tinha ouvido.

Ela sentia-se tão fraca agora, que a Força escura que emanava do velho Lord Sombrio a atingiu como um golpe, fazendo-a esvaziar o conteúdo de seu estômago imediatamente.

Snoke não parecia se importar com esta demonstração de asco. Estava acostumado com este tipo de reação “Infelizmente você ainda está muito fraca para o que tenho planejado.”

Rey continuava ajoelhada, tossindo na direção do chão quando Snoke virou-se para Hux “A Garota está doente, leve-a imediatamente para o centro médico e reservem um dos aposentos oficiais a ela.”

O Grande Supremo Líder aproximou-se de Kylo, que assistia tudo em silêncio “E você, Cavaleiro de Ren, será o responsável direto pela Garota. Assim que ela se recuperar, comece seus exercícios práticos de conversão para o lado Sombrio. Esta será a conclusão do seu treino.”

A inesperada ordem do Líder fez Hux trocar um breve olhar com Kylo. Ele e a Garota, juntos?! Aquele velho pirou. Como o Supremo Líder poderia permitir tamanho erro depois de tudo que Ren fez?

Kylo sinceramente não se sentia preparado para este desígnio. Contudo, sabendo que aquilo poderia ser parte de um importante teste final que iria avaliar sua lealdade diante da Primeira Ordem, ele tentou não demonstrar nenhuma insegurança. Então assentiu com um leve movimento da cabeça.

“Sim, Líder Supremo.”

Hux praguejou internamente ao ver seu plano se desmanchando através da boca de Snoke.

Enquanto o General levava a pobre Garota nauseada para a enfermaria, um plano B se formava dentro de sua cabeça.

Seu tempo estava se esgotando.

*

Assim que Rey foi devidamente medicada, ela foi deixada em seu quarto por Hux, que se certificou de que a Garota receberia uma refeição completa e seu uniforme da Primeira Ordem ainda naquele dia.

“Lembre-se de tudo que eu disse” ele não poderia deixar de adverti-la.

Rey sabia do que ele estava falando. Ele estava falando especificamente de Kylo Ren. Então o General saiu, deixando-a finalmente sozinha.                                                          

O mal estar ainda não tinha passado completamente, então Rey foi ao banheiro procurando a única coisa que poderia acalmá-la depois do apavorante encontro. Um banho quente e demorado.

Rey sentou-se no chão da cabine, deixando a água morna escorrer pelos seus cabelos e ombros ainda tensos com tudo. Ela tentou se transportar para aquelas tardes tranquilas na fonte termal de Ahch-to. Ela infelizmente percebeu que, por mais que tivesse treinado com seu mestre, nada a prepararia para tudo que estava passando.

“Quem sou eu?” Rey disse para si mesma, como se o som de sua própria voz a ajudasse a processar tudo que foi dito.

Por que ela foi levada de sua verdadeira mãe? Quem era ela? Por que Luke escondeu a verdade? E por que Snoke precisa tanto dela, afinal?

Para o bem de sua sanidade, Rey tinha medo de saber a resposta. Até agora quanto mais se aprofundava em sua história, mais turbulenta a realidade que a cercava. Era como se alguém estivesse remexendo o fundo de um lago deixando a água cada vez mais turva.

A única coisa que ela tinha certeza, naquele momento, é que continuava sendo uma prisioneira da Primeira Ordem – ao menos era uma prisioneira importante, dado o upgrade do seu cárcere.

Mas o que importava mesmo, é que tinha dado mais um passo rumo à sua liberdade.

Após o banho, ela encontrou suas novas vestes a esperando dentro do armário. Sentiu-se constrangida por imaginar alguém entrando em seu dormitório durante o tempo que estava no chuveiro, mas tentou afastar este pensamento enquanto se trocava.

O traje era composto por uma calça e blusa de manga comprida com o brasão da Primeira Ordem no ombro. Era duro e pouco maleável, certamente era a roupa mais desconfortável que ela já tinha vestido.

A Jedi respirou fundo quando se forçou a olhar no espelho. Parada ali, dentro de toda aquela roupa escura. Torceu a boca, odiou o jeito que ficou nela. Não era agradável se ver dentro da farda do inimigo.

“Seja como a água” ela repetiu.


Notas Finais


Se eu fosse a Rey, não seria como a água não, seria como o AR mesmo e evaporava rapidinho deste lugar! Haha! X-D

E sim, o título deste capítulo faz referência a um discurso de Bruce Lee! :-)


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