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História A Terceira Força - A Paz é uma mentira.


Escrita por: hotside

Capítulo 3 - A Paz é uma mentira.


Fanfic / Fanfiction A Terceira Força - A Paz é uma mentira.

Rey já se encontrava adaptada à sua rotina em Ahch-to. Longe do clima seco e hostil de Jakku, e graças à sua alimentação equilibrada, ela se sentia mais forte do que nunca. Também se mostrou uma Padawan muito dedicada, para o orgulho de Luke. Evoluía muito rápido através dos duros treinos, mesmo sabendo que ainda tinha muito chão pela frente.

Com toda esta proximidade, Rey e Luke criaram um vínculo muito forte e fraternal. O mais próximo de uma família que ela poderia se lembrar. Embora, ainda que fosse cada vez mais raro, ela ainda se sentisse sozinha.

“As pessoas que você espera jamais retornarão.” A voz de Maz Kanata ainda martelava em sua cabeça.

Quando a tristeza se instalava em seu coração, Rey parava para ver o mar do ponto mais alto da ilha. A visão de tanta água continuava a fasciná-la. Antes disso só havia conhecido um lago na breve passagem por Takodana, ao lado de Han Solo.

Ainda se lembrava da primeira vez que viu água caindo do céu “Então isso é a chuva” ela dizia, maravilhada. O braço estendido, procurando pegar as gotas com a palma da mão.

Passava horas admirando o poder e a grandeza do oceano, enquanto relaxava com o barulho constante da água contra as pedras. Aspirava profundamente o ar frio e salgado, no ritmo das ondas, num exercício de meditação que aprendeu com Luke logo no início dos seus treinos: Empilhar pedras.

“Estamos acostumados a associar as pedras como algo imóvel, estável” Luke dizia calmamente, enquanto levitava mais uma pedra do chão, colocando-a por cima de uma pilha recém-construída.

“Mas toda esta estabilidade desaparece assim que são empilhadas. As pedras empilhadas falam sobre a instabilidade. Você tem que encontrar o Equilíbrio para que as pedras não desmoronem.”

Rey procurava a próxima pedra enquanto decifrava a mensagem do seu Mestre “É assim com a Força? Por isso não podemos permitir que o lado Sombrio nos domine, tirando nosso equilíbrio?”

“Rey, a Força é maior que isso. Ela não é benigna e nem maligna, ela apenas está lá.”

A Padawan olhou para seu Mestre, um pouco confusa. Luke percebeu.

“Respire… Só respire… O que você vê?”

Ela fechou os olhos, focando dentro de si “A Luz. A Escuridão…”

“Você precisa encontrar um equilíbrio entre a Luz e a Escuridão. Se tender para um dos extremos, você se torna fraco. Se tender para o outro extremo, quando você ver, se tornará uma ferramenta para o lado escuro. É a Terceira Força, a combinação de ambos os lados que trará o equilíbrio!”

O Equilíbrio…” Rey repetiu como se pudesse absorver ainda mais o precioso ensinamento.

As exigências do seu treino eram o suficiente para ocupar sua mente no dia a dia, mas Rey sabia que desde o primeiro contato com o Cavaleiro de Ren, ela se sentia estranhamente ligada a ele. Como que por uma fina teia que flutuava no ar, cedendo aos caprichos do vento.

Ela tinha curiosidade sobre o verdadeiro Ben Solo. Como ele foi seduzido para o lado escuro? Será que Leia estava certa quando disse que ainda existiria Luz nele? Ela poderia restabelecer a ordem na galáxia o trazendo de volta?

Rey só sabia que por ora, a amostra de Kylo Ren que ela tinha conhecido de nada parecia manifestar qualquer tipo de luz. Para ela, um monstro vil e cruel como ele não tinha salvação. Ele abandonou seu mestre e sua família. Matou seu próprio pai! Aquilo era imperdoável.

Apesar da fria localização da ilha, havia uma pequena caverna na qual uma fonte térmica formava uma espécie de piscina natural, possibilitando alguns momentos de conforto. E era pra lá que Rey ia para tomar seu merecido banho no fim do dia.

Por não saber nadar Rey ainda não se sentia muito à vontade com a ideia de entrar no mar, mas para alguém que veio do deserto, aquela pequena piscina já era um bom começo.

Parou na beira da fonte tirando suas roupas, uma a uma, deixando-as sobre uma pedra. Molhou seus pés antes de entrar, permitindo-se soltar um riso de satisfação com o contato. Deliciou-se com a sensação da água quente envolvendo seu corpo enquanto mergulhava.

Ah, aquilo seria um luxo inimaginável em Jakku!

Rey gostava da sensação da água ao seu redor, como um abraço aconchegante. Suspirou fundo, enquanto fechava os olhos, se deixando levar num relaxamento fluido e quente.

A suavidade da água acabou fazendo-a cair num sono tranquilo. Em paz.

Mas a paz era uma mentira dentro de sua mente, e Rey foi arrastada para um sonho confuso e ambíguo.

Ela corria por uma floresta árida. As árvores longilíneas pareciam curvar-se sobre ela, como garras afiadas. Podia sentir o cheiro de madeira queimada e fuligem, mas estranhamente não havia fogo em lugar algum. Um arrepio correu pelo seu pescoço. Ela estava sendo vigiada. Um vulto encapuzado se materializou, deslizando em sua direção com inexorável propósito, capa escura varrendo o chão. A figura irradiava poder, e algo mais... O fato de não ver seus olhos a deixou extremamente desconfortável. O medo a atingiu, fazendo-a querer fugir, porém, o seu corpo estava paralisado, pesado, como se tudo estivesse em câmera lenta. O espectro parou diante dela, por um tempo que parecia nunca terminar, então a atingiu com um só profundo golpe usando uma espada de fogo. O céu se tornou vermelho como sangue. Seus olhos se encontraram e ela queimou, não de dor, mas de prazer.

“Kylo…”

Rey acordou assustada com o som de sua própria voz.

A presença de Kylo Ren em seu sonho a perturbou. Essa tinha sido a conexão mais intensa e poderosa até agora. Mesmo quando a voz dele a alcançava dentro de sua mente, não era nada tão vívido, tão perigosamente palpável como foi neste sonho.

Um vento frio atravessou a campina num longo assovio, trazendo aquele cheiro salino que antecede as grandes tempestades. Sem demora Rey se levantou, colocando suas roupas apressadamente e logo mais já estava subindo a escadaria de seixos desgastados rumo ao casebre que dividia com Luke.

Seu novo lar tinha o suficiente para uma vida simples. Ainda que fosse muito mais do que Rey estava acostumada quando morava no seu AT-AT destruído. Algumas prateleiras, uma mesinha, e dois tatames estofados com penas das pequenas aves que viviam ao redor da ilha.

Assim que empurrou a porta um trovão ribombou pelo horizonte, como o rugido de um rancor, fazendo-a se assustar – trovões e chuva eram conceitos novos e que seus ouvidos ainda iam demorar a se acostumar. Do topo da ilha, Rey podia ver que uma tempestade se aproximava, escura e carregada.

Encontrou Luke terminando um ensopado que perfumava o ambiente com cheiro de ervas. A Padawan se pôs a arrumar a mesa, colocando as tigelas e os talheres no local que sempre se sentavam. Assim que terminou, puxou uma cadeira, dando um longo suspiro enquanto apoiava sua cabeça com a palma da mão. Ela se sentia exausta! Parecia que sua energia tinha sido drenada minutos atrás.

Aquilo chamou a atenção de Luke que a olhou, preocupado, com seus olhos azuis desbotados pela idade “Algum problema, Menina?”

Rey piscou repentinamente, como se saindo de um pequeno transe e virou o rosto para seu mestre “Desculpe, eu só me sinto um pouco… cansada…” Sua cabeça doía entre os olhos.

Seu Mestre apoiou a mão calejada em seus ombros, e disse num tom amável “Rey, eu não preciso ser um Jedi para ver que está cansada. Tem algo que gostaria de me dizer?”

Na realidade, Rey não sabia muito bem o que responder.

Dizer que tinha esta conexão peculiar com o sobrinho desequilibrado dele, não parecia uma boa forma de iniciar uma conversa. Se Luke descobrisse, muito provavelmente ela seria expulsa da ilha. A Resistência precisava de um lutador focado entre eles, e não alguém cuja cabeça estivesse em outro lugar.

Pensando nisso, a Padawan sabiamente limitou-se a responder que seu cansaço era devido aos treinos, entretanto, o velho Jedi não pareceu muito convencido. De qualquer forma confortou-a com um sorriso.

Terminaram de tomar seu jantar em silêncio, enquanto as primeiras gotas da tempestade já batiam contra a janela.

Assim que Rey terminou sua refeição, ela lavou a louça e foi até sua cama. Aninhou-se em seu cobertor como uma criança. Fechou seus olhos e tentou afastar qualquer pensamento conturbado, mas sua insônia a castigava mais uma vez.

Em algum canto de sua mente, ela escutou a voz de Kylo a amaldiçoando “Saia da minha mente!”

*

Passaram-se alguns dias desde que Kylo prometeu ao temível Líder Supremo que descobriria a localização da Garota, sem sucesso. Qualquer outra pessoa não resistiria a suas ofensivas, mas ela parecia uma muralha intransponível, onde ele só conseguia espiar pelas rachaduras e ver relances fora de contexto.

Ele sabia que a Garota se encontrava num local montanhoso e cercado por água, mas isso ainda não era o suficiente para decifrar sua localização. Quantos lugares assim existiam na Galáxia? Parecia uma missão impossível.

O seu tempo estava passando, e o receio de falhar novamente diante do Líder Supremo o atingiu-o como uma adaga entre as costelas. Castigo severo eram as palavras que vinham na sua cabeça.

Como se não bastasse, sua ansiedade só piorava o desempenho. Estava cada dia mais inquieto, evitando a todos. Principalmente quando cruzava com Hux, que parecia se divertir com seu aspecto cansado, entregando o insucesso de suas tentativas.

“Ren” disse Hux enquanto direcionava a ele o seu sorriso cínico “Devo perguntar como está se saindo ou terei que dar as más notícias ao Líder Supremo ainda esta semana?”

Kylo nem se deu o trabalho de parar para escutá-lo, continuou seguindo indiferente pelo longo corredor, indo na direção das câmaras de meditação.

A câmara era uma pequena sala à prova de som, com temperatura controlada e sem luz. O lugar certo se você procura foco total. Kylo recostou sobre a poltrona e relaxou seus músculos. O silêncio e a escuridão o confortavam. Respirou fundo e tentou manter a mente longe de ruídos.

Assim que abriu a conexão as imagens começaram a pipocar de forma aleatória em sua mente, como se estivessem só esperando o momento certo para serem despejadas na frente dele.

Kylo conseguiu descortinar alguns pensamentos recentes de Rey. O mar, sempre ali. As pedras. O casebre. Irritou-se. Não era nada que ele já não tivesse visto antes.

Continuou rastreando em busca de qualquer outra pista, e se viu na memória dela. Remexeu-se desconfortável na cadeira, não gostava da ideia daquela Garota voltando seus pensamentos para ele.

Respirou fundo e se agarrou à conexão antes que a perdesse de vista. Estendeu suas raízes mentais até notar uma pequena caverna. A sensação morna da água abraçando seu corpo. O relaxamento e… droga, ele não esperava aquilo.

Ele viu Rey.

Nua.

Kylo sacudiu a cabeça em negação, desejando afastar a imagem daquela nudez.

Foco!

Um segundo se passou e Kylo se viu numa floresta definhada. O medo que irradiava da Garota o encorajou a acelerar seus passos, inundando seu corpo com confiança e sede de sangue. Ele teve seus instintos recompensados quando a avistou não muito longe. Tão bonita e intensa quanto uma aparição. Alcançou-a sem dificuldade, estacionando suas botas na frente do corpo paralisado. O Cavaleiro prendeu a respiração antes de finalmente puxar seu sabre, golpeando-a de uma só vez até o punho. A lâmina vermelha e inflamada desapareceu através das costelas de Rey. Seus olhos se revelaram sob a máscara até encontrar os olhos dela.

“Kylo…” ela murmurou, arrebatada de prazer.

Foi a derrota dele.

Sem que Kylo esperasse, seu corpo foi dominado por um formigamento que o alcançava em ondas, logo abaixo da sua cintura. Soltou um suspiro profundo entre os dentes, aborrecido, esforçando-se desesperadamente para não perder o fio que os conectava.

O Cavaleiro usou o que restava de sua Força para manter o vínculo, ao mesmo tempo, em que tentava conter seus impulsos que latejavam, tirando sua concentração.

Foco. Foco. Foco. Ele repetia incessantemente.

Enquanto seu cérebro se esforçava para recuperar o controle, uma única sensação o atingiu como um raio. Atirando-o numa espiral que o obrigou a fechar os olhos, tentando puxar o ar, como que rompendo a superfície de uma água gelada. Sem fôlego.

“Droga!” ele rosnou, e lá se foi o vínculo.

Kylo tropeçou cegamente para fora da cabine, atordoado. Ignorando ocasionais Stormtroopers que cruzaram seu caminho sem entender o que acontecia com o Cavaleiro. Sentia sua cabeça latejar. As réplicas de tudo ainda pesavam entre seus olhos, devido ao esforço mental que acabara de fazer.

Mal chegou ao turbo elevador mais próximo quando desabou, caindo sobre suas mãos e joelhos. Sentia como se não houvesse ar suficiente. Conseguiu destravar seu capacete com certa dificuldade, arrancando-o da cabeça e arremessando, com ódio, contra a parede.

Ele não podia perder o controle. Ele não podia perder o controle mais uma vez. Este maldito vínculo estava piorando tudo, e ele não tinha certeza de quanto tempo mais seria capaz de continuar escondendo esta fraqueza de seu mestre.

Censurou-se por ter se permitido levar pela circunstância. Sentia-se fraco. Era insultante! O que quer que estivesse acontecendo com sua mente e corpo, ela esperava que o deixasse em paz. Kylo direcionou o ódio para ela. Aquela garota. Era culpa dela que ele estivesse se sentindo fora de si.

“Saia da minha mente!” ele rosnou.

*

Ahch-to amanheceu revirada pela tempestade da noite anterior.

Ondas turbulentas rugiam contra as bordas da ilha. O céu estava carregado, apenas alguns tons mais claro do que o oceano em si. Algumas árvores caídas estavam retorcidas por causa do vento. Instalações utilizadas como depósito estavam quase completamente destruídas. Alimentos, ferramentas, caixas… Tudo encharcado e espalhado pelo campo.

A pacata ilha estava uma bagunça.

Rey acordou cedo, apesar da leve dor de cabeça. Meditou em sua cama antes de se levantar e preparar seu desjejum. Pão com ovo e leite. Percebeu que Luke já havia acordado e estava e ocupando com alguma coisa do lado de fora. Sua presença forte e serena a tranquilizava. Aquele homem parecia não se abalar por nada, sempre constante, sempre em frente.

A aprendiz já estava à mesa quando Luke largou sua maleta empoeirada na varanda, fazendo um barulho metálico. Tlunk. Ela sabia o que aquilo significava. Teria que passar o dia inteiro consertando todo o estrago da chuva. O que não era de todo mal, já que gostava de consertar desde seu tempo em Jakku, quando passava horas solitárias arrumando coisas.

“Precisamos nos apressar, menina, antes que outra chuva chegue até nós.” A Padawan concordou soltando um “sim” de boca cheia.

*

Kylo despertou num sobressalto, acionando seu sabre numa reação cega de ódio, até se dar conta de que estava sozinho em seu quarto, na sua cama. Só então percebeu que havia dormido com roupa e tudo, fazendo-o se lembrar da experiência nada conveniente com a Sucateira.

A Garota abriu uma via em sua mente, deixando um pequeno pedaço dela para atormentá-lo. Ele não podia sucumbir, ele é um Cavaleiro, ele é mais forte do que isso. Mais forte do que ela.

Sentou-se na beira da cama, passando a mão pelos cabelos e soltou um suspiro profundo e inquieto. Não sabia nem por onde começar.

Olhou ao redor buscando onde raios tinha jogado seu capacete, mas logo se esqueceu do que estava procurando. Estava muito agitado para concentrar-se em qualquer coisa. “Que inferno…” ele ruminou.

Então, aquela maldita sensação voltou crescente, se agarrando e descendo pela sua coluna, como uma cobra traiçoeira. Ele podia se sentir sucumbindo a isso. O calor que une seu corpo, entrelaçando-se por suas veias e pele. O lado escuro o instigava a lutar, matar e destruir, mas a Luz de Rey era muito forte. Atraindo-o para ela. Incendiando seu corpo. Fazendo-o experimentar sensações das quais ele não conseguia fugir.

Tentou procurar desesperadamente a sombra da Força dentro de si, mas quando fechou os olhos buscando concentração era ela que estava lá. Esperando por ele na escuridão atrás de suas pálpebras.

Era melhor tomar um banho frio.


Notas Finais


Esta técnica de meditar empilhando pedras realmente existe, e chama "Rock Balancing"! Achei que tinha tudo a ver com o lance do equilíbrio! :-D

E este vínculo hein? Depois dessa, acho que descobrimos a função da capa do Kylo Ren na história! Hahaha. Que maldade. >:-)


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