Diante da realidade de estar tão perto da morte pelas mãos da mulher que ele amava, Kylo se decidiu. Seus joelhos encontraram o chão, resignado, e sua cabeça baixou, em profundo lamento. Aguardando o inevitável fogo de misericórdia.
Aquele era seu fim.
“Isso…” Snoke estava radiante, ondas e ondas de exaltação emanando dele “Agora, levante o seu sabre.”
Rey se sentia completamente desorientada, como se sua consciência e seu corpo fossem separados de suas ações. Quase como se ela fosse duas pessoas diferentes. Era como manter a mão bem perto de uma chama que ficou desconfortavelmente quente, mas que ainda não chegava a queimar. Ela se viu levantando o sabre, mesmo contra sua vontade. Se não fosse a presença familiar em sua mente ela não teria sido capaz de resistir.
“Agora… mate-o!” Ordenou Snoke, sorrindo com altivez.
Os olhos de Kylo permaneceram fechados, enquanto seu coração batia em seus ouvidos. Um momento – um segundo – passou entre eles, mas então o momento se passou, e Rey continuava em seu lugar sem mover um músculo. Seus olhos se encontraram assim que Kylo levantou o rosto, e só então pode ver que lágrimas escorriam pela face dela.
“Rey?” Kylo sussurrou, buscando alguma reação.
Snoke parecia furioso com a resistência de sua aprendiz “Mate-o, agora!”
Mesmo esmaecido, o vínculo se estendeu entre eles, fazendo os sentimentos de Rey chegarem até Kylo. Havia uma raiva escondida ali, mas a raiva não era direcionada a ele, e sim a ela. Uma raiva virada para dentro de si, como uma faca torcida contra o próprio peito.
O ódio do Lord Sombrio era visceral quando ordenou novamente “Mate-o, mate-o!!!” Mas diante da recusa insistente de sua aprendiz, ele mesmo decidiu dar fim naquele maldito traidor da Primeira Ordem lançando-se sobre Kylo, munido de todo seu poder.
Para o assombro de Kylo – e principalmente de Snoke – Rey enfiou-se entre os dois, defletindo o golpe fatal de Snoke com suas próprias mãos. Faíscas saltaram com toda aquela Força concentrada, estalando e iluminando tudo ao seu redor.
Snoke ficou seriamente insatisfeito com a ousada interferência de Rey. Aquilo era inaceitável!
“Uma aprendiz rebelde é uma aprendiz perigosa” Snoke murmurou, desapontado “Mas isso é facilmente remediado.”
O velho Lord, jogou sua Força escura sobre Rey, paralisando-a. Ela tentou lutar, mas suas pernas se recusaram a responder. Todos seus músculos estavam enrijecidos. Gritou de ódio, quando sentiu o corpo imobilizado.
Os olhos de Kylo correram até Snoke e depois para Rey, e então voltaram para Snoke. Droga, ele tinha que fazer algo! Kylo levantou-se, na intenção de acertá-lo e livrar Rey do bloqueio, mas tudo sucedeu tão rápido, que era como um holovideo acelerado.
Snoke sumiu de onde estava, para surgir precisamente diante de Kylo, não dando a ele quaisquer chances de defesa. Snoke envolveu a garganta do Cavaleiro entre os longos dedos, erguendo-o do chão.
“Não se engane, Kylo Ren. Eu conheço seus limites!”
“Não pode me manipular, Snoke! Eu não sou mais um escravo!”
“Você ainda é tão fraco e tolo quanto quando era uma criança. Depois de tudo, você continua tão sozinho e assustado quanto antes, não? Tentando uma justiça desesperada. Tudo para diminuir a sua dor por ter falhado, por ter matado seu pai…” Snoke apertou ainda mais a garganta de Kylo “Compaixão sempre foi a sua fraqueza. Foi o que fez sua ruína, e agora… você está aqui por ela. Oh, Kylo Ren, o que faço?”
Kylo reagiu, cuspindo no rosto desfigurado diante dele “Vá se foder!”
“Eu poderia matá-lo agora mesmo” o velho Lord estreitou os olhos “Porém, seria rápido e limpo demais para o que tenho em mente.”
Os dedos de Snoke se apertaram em torno de Kylo, fazendo-o tensionar seus músculos, preparando-se para a inevitável agonia mental. Então a energia sombria invadiu sua mente, enchendo seus pulmões e escurecendo sua visão. Mergulhando-o numa alucinação perturbadora e cruel. Forte o suficiente para que gritasse, se dobrando no chão, impotente.
Rey podia sentir a agonia crescendo dentro de Kylo. A dor se agitando através da fina ligação que ainda existia entre eles, enquanto sentia a sensação fantasmagórica de seu próprio corpo sangrando.
Ela sabia que aquilo não era real, mas o sofrimento era real para ele.
Snoke caminhou calmamente até Rey, enquanto descrevia com detalhes, e numa frieza perturbadora, cada pavorosa tortura a que Kylo estava sendo exposto em seu pesadelo.
“Deixe-me lembrá-la de quem você é, Garota! Veja como é divertido vê-lo sofrer até a morte!”
Rey engoliu a raiva, desviando os olhos de consternação, enquanto Snoke apertava suas bochechas com os dedos pálidos, a fim de virar seu rosto para frente. Obrigando Rey a apreciar a agonia do Cavaleiro.
“Olhe!” Snoke ordenou mais uma vez “Está sentindo toda a dor dele? Se você realmente se importa, mate-o e o livre deste tormento.”
O velho Líder tomou o silêncio de Rey como desprezo, então torceu sua energia escura mais uma vez sobre Kylo, fazendo-o se curvar em si com as mãos sobre o rosto, tentando abrandar os sentidos.
“Rey…” Kylo balbuciava, erguendo todas suas defesas mentais, numa tentativa vã de deter Snoke “Não entre no jogo dele. Há Luz em você!”
Agora, tudo que Rey podia fazer era ficar ali, a alguns metros de Kylo, respirando profundamente. Palavras seriam um desperdício naquele momento. Ela não sabia como impedir a morte lenta e dolorosa dele diante de seus olhos.
Ela não tinha força para lutar contra isso, ela… espere. Força?
A Força!
A Jedi fechou os olhos durante a epifania. Da mesma forma que fizera na StarKiller, canalizando e concentrando toda a energia dentro de si. O corpo dela relaxou, e ela abraçou aquela paz, como Luke ensinara.
“Quanto mais Luz existir, mais Sombra haverá.”
Os gritos de Kylo ainda rasgavam o ar, quando a Força a envolveu, e um fogo se acendeu no coração de Rey, entrando numa supernova. Seu corpo começou a formigar e logo uma energia violenta raiou com urgência, causando uma explosão de onda de Luz que disparou em todas as direções, atingindo o velho Lord feito um torpedo, livrando Kylo de seu martírio.
O corpo decrépito de Snoke dobrou-se para trás com o forte baque, feito um bambu que não aguentou uma ventania. Deixando a certeza de que, pelo menos, a coluna e mais uma dúzia de ossos do velho Líder tinham se quebrado com o choque, tirando-o de combate.
Rey soltou todo o ar dos pulmões, quando viu o corpo desconjuntado de Snoke caído no chão. Então ela não desperdiçou nenhum segundo, quando correu até Kylo, que ainda lutava para se levantar, meio nauseado de dor.
“Kylo! Por favor. Diga que aquele desgraçado não fritou seu cérebro. Diga que está bem!”
“Agora que você não quer mais me matar, eu estou bem” Kylo tossiu, aproximando-se de Rey, num gracejo “Só me lembre de nunca deixá-la furiosa.”
Rey zangou-se com a inoportuna gracinha “Não seja ridículo, aquela não era eu!”
Kylo piscou, meio perplexo.
“Snoke estava usando meu corpo como um canal para seu próprio poder sombrio. Eu era a marionete daquele demônio!” Rey esclareceu, enquanto se aconchegava sob a túnica, procurando algum conforto dentro das lembranças “Mas quando nosso vínculo se encontrou e eu senti todo seu pesar, eu tive forças para tirar Snoke da minha mente.”
Os olhos de Kylo se abriram numa expressão entre medo e surpresa. Depois de tanto tempo, Rey continuava a surpreendê-lo com sua Força e sua bravura. E agora ele tinha tanta coisa para dizer a ela, mas ali não era a hora e nem o local para isso.
“Vamos sair logo deste inferno!” ele enfim declarou, porém, antes mesmo que desse o primeiro passo rumo à saída, um barulho torcido e molhado veio da direção de Snoke, capitando a atenção de ambos.
O pensamento da vitória tinha vindo cedo demais.
O velho Lord Sombrio começou a se endireitar. Cada osso se afastando, se torcendo, esticando a pele macilenta ao redor. Tudo voltando ao seu devido lugar. Uma cena grotesca. Seu corpo absorvia a energia oscilante que rastejava até ele, diretamente do subsolo, como raízes sedentas.
Vinda do núcleo de Jakku.
Logo, Snoke estava em pé novamente, numa altura impressionante, como se nada tivesse acontecido.
“Mas que merda é esta?!” Kylo exclamou, boquiaberto. Ele nunca vira tamanha demonstração de poder. Aquilo o fez perceber que não tinham chances contra o velho Líder, a não ser que ele… Droga. Seria arriscado demais! Praticamente impossível!
Snoke flutuou a poucos centímetros do chão. Sua veste dourada pendendo no ar. Sua voz trovejou, ecoando suas palavras com veemência “Não há mal que vocês possam fazer contra mim e que não possa ser desfeito. Sou eu que tenho todo o poder aqui!” seus olhos se voltaram para Rey “Garota, você vai se submeter a mim, para cumprir o seu destino, e só então permitirei que sobrevivam!”
O que quer que Snoke fizesse para dissuadi-la, Rey não faria. Por experiência própria, ela sabia que ele estava blefando e que acabaria com os dois, mais cedo ou mais tarde. Sua única alternativa era fugir dali.
Supremo Líder captou a intenção da Jedi, então aquilo bastou para que ele fosse mais extremo se não quisesse perder a possuidora da valiosa e única chave para sua vida eterna.
A atmosfera ao redor vibrou ao redor do templo. O zunido constante aumentou, até tornar-se um leve tremor, fazendo com que todo o chão vibrasse. Então a vibração aumentou exponencialmente, até tornar-se um terremoto. As paredes começaram a balançar. As luzes piscaram. Poeira fluiu pra baixo, vinda do teto, onde surgiram mais rachaduras. Chovia areia, enquanto pedras caíam.
“Ah droga! Não!” Kylo desesperou-se, quando antecipou o que estava prestes a acontecer. Snoke havia criado uma armadilha, e estava usando as pedras para selar o templo!
Eles tinham que sair dali. Eles tinham que se apressar!
Mas… e depois? O que mudaria?
A realidade atingiu Kylo como um soco no estômago. Eles poderiam se salvar. Eles poderiam correr para longe dali, mas ele sabe que se Snoke permanecesse vivo, nenhum lugar seria suficientemente longe da influência do velho Lord Sombrio. Snoke iria persegui-los implacavelmente, caçá-los, até que não existisse mais nenhum canto para se esconder. Eles seriam pegos. Eles seriam torturados. Seria questão de tempo para que ele concluísse seu desígnio, deixando a Galáxia sob o eterno domínio dele.
A segurança seria só uma ilusão, como se uma espada afiada pairasse sobre suas cabeças. Não existiria paz e nem liberdade, e o legado do seu avô jamais seria finalizado se ele continuasse fugindo. A única chance seria enfrentar Snoke até ter certeza que o desgraçado estivesse eliminado para todo sempre.
Fugir talvez salve sua vida.
Mas salvaria a Galáxia?
Salvaria Rey?
Não.
A determinação do Cavaleiro se consolidou, fazendo todo o medo e todo o ódio evaporar-se. Sua mente ficou em branco, deixando-o envolto de uma insólita sensação de tranquilidade. Então, Kylo finalmente decidiu, quando segurou as mãos de Rey entre as suas. A pele tão quente em sua palma, enquanto ele a olhava diretamente nos olhos.
“Rey, por favor, me perdoe…”
Rey estremeceu. Um breve suspiro de desamparo escapou de seus lábios “Do que está falando?”
Lágrimas se juntaram por trás dos olhos de Kylo quando ele respondeu “Perdoe-me por isso…”
A dor atravessou Rey quando ele a golpeou com a Força, lançando-a metros à frente, direto para a saída que já se encontrava parcialmente fechada. Rey bateu com as costas no chão, aturdida, mas apoiou-se depressa sobre os cotovelos, voltando seu rosto na direção de Kylo.
“Mas o quê… o que você pensa que está fazendo?!”
Como se em resposta, um barulho de explosão ecoou através das cavernas. Grave, profundo, ressonante. Seus olhos se cruzaram uma última vez, antes de Kylo Ren sumir entre pedras e escuridão.
Rey gritou desesperada quando se levantou aos tropeços. Correndo onde antes havia uma porta. Esmurrando as pedras com suas próprias mãos, que sangraram entre os nós dos dedos a cada soco. A montanha ainda tremia, quando ela caiu sobre seus joelhos, esgotada. As lágrimas de raiva e frustração escorrendo de seu rosto “Não faça isso! Kylo! Por favor…”
Uma mão alcançou as costas de Rey, fazendo-a pular num sobressalto. Era seu grande amigo Finn, vindo ao seu resgate, junto com uma equipe de auxílio “Vamos Rey! Vamos! A nave está lá em cima nos esperando!”
“Kylo está preso! Ele… ele… Vocês tem que tirá-lo de lá!”
“Ei, ei! Me escute!” Finn apertou os ombros de Rey firmemente, se esforçando para mantê-la calma “Depois enviamos outra equipe, mas agora não temos tempo. Luke precisa de cuidados, e outra tempestade está a caminho! Não podemos ficar presos em Jakku. É Arriscado. Você me entendeu?”
Lá fora, a chuva torrencial tinha cessado, dando lugar para uma forte tempestade de areia que estava vindo como uma muralha vermelha. A Resistência sabia que a aeronave poderia manter-se no ar com ventos de até 200 km/h. Então era compreensível que estivessem seriamente preocupados quando viram o gráfico mostrar ventos de mais de 450 km/h.
Se a nave fosse exposta à tempestade de areia depois de ventos tão fortes, eles correriam o risco de ficarem presos naquela montanha com Snoke. E ninguém ali queria viver esta experiência peculiar. Exceto Rey que não parecia colaborar com o salvamento.
Rey esbravejou, quando foi arrastada escada acima. Ela tinha que ficar. “Me soltem! Preciso voltar! Kylo não pode ficar sozinho! Snoke vai matá-lo!”
Finn balançou a cabeça num minúsculo assentimento na direção do operador, que não teve outra escolha, senão neutralizar Rey até que todos estivessem em segurança, fora de Jakku.
“Kylo… ele… nós temos que… ei… o que está…”
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.