História A Terceira Força - Fúria oculta.

As sirenes na Finalizer começaram a soar pelos corredores, num ritmo desordenado e urgente, tingindo as paredes com luzes em vermelho.

Vários Stormtroopers passaram correndo fazendo um estardalhaço. Hux, que estava trabalhando num arquivo, desviou de um batalhão que passou ao lado sem entender o que estava acontecendo.

Temendo ser um ataque relâmpago ao cruzador, o General acessou o primeiro computador de bordo que viu pela frente, procurando o motivo do alarde. Kylo Ren. Com aquele nome no painel, só poderia significar uma coisa…

*

Dentro da cabine, urros e socos ultrapassavam a porta blindada. Kylo Ren estava fora de controle, num ataque de fúria, que o levava a perder qualquer senso.

Para Hux, Kylo era um instrumento contundente, um ser irracional, cuja fraqueza pela Garota estava atrasando todos os planos da Primeira Ordem. Kylo era uma exceção a tudo. Inconstante. Volátil. E aquela era a situação ideal. Com o Cavaleiro fora de controle novamente, o General tinha mais um motivo para pedir o afastamento dele, deixando o caminho livre para seu plano ambicioso de guerra.

“Melhor impossível!” o General pensou, animado.

Mas naquele momento a preocupação de todos era uma só. De que Kylo usasse a Força de tal forma, que rompesse a fuselagem da nave numa tragédia anunciada.

O problema ali era que nenhum soldado tinha a técnica – ou a coragem – necessária para abrir a porta para uma besta desenfreada com um sabre de luz na mão, mas Hux tinha uma solução.

Phasma, a capitã do exército, conseguiu uma espécie de tranquilizante para estes momentos, que pareciam mais e mais recorrentes desde que a Garota de Jakku surgiu. Uma pistola vermelha contendo um poderoso narcótico tóxico, de origem desconhecida, com poder de parada suficiente para derrubar Kylo Ren durante seus surtos.

“No três!” Phasma ordenou aos soldados “Um, dois… três!”

A porta foi destravada com um impulso da alavanca, fazendo-a emitir um som áspero. Os Stormtroopers deram um passo para trás, apreensivos.

Da escuridão emergiu Kylo numa síncope de cólera, com o sabre escarlate crepitando em suas mãos. Seus olhos destilavam ódio. A fúria de um demônio encurralado, pronto para abrir caminho com as próprias unhas e dentes.

Ele foi em direção ao primeiro Trooper que teve a infelicidade de estar no seu caminho. O atravessou no abdômen, deixando um cheiro de plastoid derretido e carne queimada. Seu rompante de raiva parecia quase animal, quando surpreendeu outro soldado usando a Força para jogá-lo contra a parede feito um boneco de pano.

Kylo virou-se para Hux, que não parecia muito à vontade no meio daquele furacão vermelho. O General sacou sua pistola pessoal, numa tentativa de contê-lo, mas Kylo usou a Força para jogar sua arma longe. Puxando-o na sequência direto para suas mãos abertas, o sufocando entre os dedos enluvados.

Numa atitude ridícula e angustiada, Hux tentou se livrar da esganadura estapeando o Cavaleiro enfurecido nos ombros. Como se isso fosse de fato ajudá-lo.

Capitã Phasma, que ainda tentava mirar o tranquilizante em Kylo, conseguiu escutar o que parecia Hux ordenando “Vá… logo…”

O General já estava ficando roxo, mas um disparo bastou para as mãos de Kylo se afrouxarem o suficiente para soltar o homem, que correu aos tropeços, aterrorizado.

Kylo gritou, rosnando e brandindo o sabre no ar como se tentasse lutar com alguma alucinação.

Estava tomado pela dor, como se ácido corresse em suas veias.

Respirando profundamente entre os dentes, ele ainda tentou resistir aos efeitos que aos poucos amorteciam seu corpo. Apoiou-se na parede, em busca de um equilíbrio que não existia mais.

No instante seguinte Kylo Ren desabou no chão, desacordado.

*

Kylo acordou numa cadeira de contenção. O corpo entorpecido. Sua última memória era de que estava dentro da cabine de meditação e… sim, ele conseguiu a localização da Garota! Ele tinha que ir atrás dela!

O ideal seria avisar Snoke o quanto antes, mas ele não podia se arriscar. E se fosse um alarme falso? Droga. Não podia errar mais uma vez. O Cavaleiro decidiu que ele iria até Ahch-to buscar a Garota pessoalmente. Sem avisar ninguém.

Quis se levantar, mas ainda se sentia lento e pesado, até perceber que na realidade seus braços e pernas é que estavam presos.

Só então notou Hux.

O General estava a um metro de sua cama, os braços cruzados, o observando de forma cautelosa, porém satisfeita. Exibia uma mancha vermelha e arroxeada no pescoço. Kylo suspeitava que ele causou aquele vergão. Sentiu certo contentamento ao pensar nisso.

Hux começou sua ladainha “Ren, Ren… o que faremos com você e seu descontrole? Perdemos dois soldados hoje. Sinto como se tivéssemos uma bomba relógio a bordo.”

Não querendo cair na armadilha moral daquele ruivo petulante, Kylo o questionou “E por que você acha que me importo com sua opinião, General?”

Um sorrisinho cínico surgiu no rosto de Hux assim que se aproximou, fazendo Kylo sentir o cheiro enjoativo daquele gel que ele usava no cabelo “Talvez eu também devesse pedir a opinião de Snoke a respeito de certo pupilo instável, que anda pela estação totalmente fora de controle, colocando a integridade da tripulação em risco.”

Kylo Ren respirou fundo, segurando a raiva crescente.

“Pedirei um relatório para o responsável. Por ora você ficará em observação para evitar maiores transtornos” Hux virou as costas e saiu da sala, fechando a porta atrás de si.

Kylo Ren olhou para o teto, pensativo. E agora? Sabia que precisava ir atrás da Catadora, antes que ela sumisse de vista. Mas também não queria entregar o jogo para Hux, correndo o risco dele tomar a frente, capturando-a, e levando todo o crédito da missão sozinho.

Aproveitou para dar uma boa olhada no que o prendia na cama. Quando viu, não conseguiu segurar a risada. Tinham o prendido com travas mecânicas!

“Incompetentes.”

A Força ainda estava despertando nele, mas se soltar foi muito fácil. Levantou-se da cama, meio grogue. Pegou seu capacete e seu sabre que estavam sobre um armário, e saiu tentando chamar menos atenção possível que sua figura marcante permitia.

Ele tinha que ter a garota sobre seu domínio o quanto antes.

*

Os sabres de Rey e Luke rodopiavam num ritmo inquieto, em contraste com a paisagem pacata de Ahch-to.

Luke a atacava num movimento longo, e Rey defendia rebatendo seu golpe com outro, e outro. O Mestre fez um leve gesto com a mão, arremessando Rey com a Força, fazendo-a se arrastar pelo chão pedregoso com suas mãos e pés. O fato é que ela já estava exausta com todo o treinamento da manhã, precisava de uma pausa.

A Padawan sentou-se no chão, esbaforida. “Mestre Luke, preciso de um descanso.”

O Mestre olhou a seriamente. “Rey, seu inimigo não vai esperar quando o cansaço vencer. Vamos. Lute!”

Rey levantou-se, dando batidas para tirar a poeira de sua roupa e endireitando sua coluna. Quando seu sabre subitamente voou de suas mãos até Luke, que o pegou no ar e sorriu com a provocação.

“Venha, lute comigo!” Luke a desafiou.

Ela balançou a cabeça, olhando para suas mãos vazias. Sentia-se estranhamente desmembrada sem o seu sabre “Mestre, mas o meu… o meu sabre… como?”

“O seu sabre de luz acabou de ser engolido por um hutt” Luke brincou “E agora? Use a Força!”

A Padawan esticou seu braço como fizera na Starkiller, mas ao invés do sabre voar até ela, o objeto continuou imóvel, repousando nas mãos de Luke.

Luke balançou a cabeça em reprimenda. “A-hã.”

Rey continuou até uma veia estufar em suas têmporas. Nada. Nenhuma oscilação. Frustrante.

O Mestre apontou para uma pedra no chão “Quero que jogue esta pedra em mim.” Ela se encolheu com a ideia de machucá-lo. Luke ergueu sua prótese de metal escondida sob uma luva de couro marrom. “Veja! O que é uma pedrinha perto disso? Vamos!”

Rey respirou fundo, buscando algum tipo de Força extra e apontou a mão direita para a pedra, que vibrou, voando rápido na direção de Luke que a bloqueou com a Força.

Já era um começo.

*

Kylo chegou até o hangar, que naquele horário estava desprovido da sua agitação habitual.

A pouca tripulação parecia envolvida demais em seus afazeres para reparar em sua presença. De qualquer forma ninguém se atreveria a questioná-lo, mas Hux seria outro assunto.

O General estava em sua estação habitual, com os olhos pousados num painel luminoso, enquanto articulava irritado, provavelmente ocupado com alguma transmissão oficial.

Se Hux o visse, sem dúvida, causaria um tumulto, exigindo sua imediata prisão, por descumprimento das regras de conduta. Isso atrasaria seus planos. A única solução seria distraí-los.

Kylo usou a Força para mover uma plataforma do outro lado do hangar, causando um estrondo metálico ao fazer o grande objeto cair no chão. Os técnicos presentes desviaram toda sua atenção para o barulho.

O Cavaleiro acelerou seu passo para o lado oposto.

Assim que estava longe o suficiente do General, Kylo segurou o primeiro técnico que viu pela frente. O pobre homem tremeu sob suas luvas – Não gostou do olhar frouxo diante dele, parecia muito assustado para entender qualquer ordem – Mas Kylo tinha que sair dali antes que Hux tivesse a chance de descobri-lo.

Kylo apertou o colarinho com seu punho, sendo ameaçador o suficiente para ter certeza de que o homem entendia a gravidade de sua ordem. “Prepare minha nave de comando para decolagem. Nenhuma tripulação será necessária. Faça isso agora, fui claro?”

“Sim, senhor” o operário acenou com a cabeça, fazendo um rápido cumprimento enquanto corria sem tirar os olhos de Ren.

Em poucos minutos sua nave de comando estava na doca, pronta para decolagem.

O Cavaleiro entrou através da rampa de metal da sua shuttle, endireitando-se em seu assento enquanto colocava os cintos de segurança. Olhou todos os botões e luzes do painel dando início aos procedimentos de decolagem.

A nave foi manobrando pela plataforma, se alinhando à saída. Kylo olhava atentamente para o salão, procurando por qualquer sinal daquela cabeça ruiva. Nada.

Um chiado veio do transmissor. A voz do técnico saiu de forma objetiva “Permissão para decolagem.”

Kylo sentiu uma onda de esperança. Em poucas horas seus problemas estariam resolvidos.

*

Hux estava mergulhado em mais uma de suas extenuantes reuniões, quando a notícia chegou até ele através de um subordinado que parecia particularmente inquieto.

“General Hux, Kylo Ren fugiu de sua cela de contenção.”

O ruivo curvou os lábios, engolindo um seco. Não deixando escapar qualquer resquício de fracasso perante sua equipe. O seu rosto ficando vermelho, tomado pela frustração de ter perdido a chance de se livrar daquele animal chamada Kylo Ren.

“Procure-o pela base, nos aposentos, na sala de meditação, tudo! Kylo é uma ameaça para todos enquanto estiver solto!”

“Senhor” o homem se inclinou, a voz tão fraca que mal dava para ser escutada com o burburinho todo ao redor “A nave dele não se encontra na plataforma de lançamento.”

Hux desviou os olhos do homem, enquanto fitava um horizonte invisível, ruminando em busca de alguma saída.

“Notifique a Capitã Phasma” Hux enfim respondeu olhando para o oficial que parecia nunca ter visto a luz do sol “E prepare sua nave de combate.”