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História A Terceira Força - Pétalas de metal.


Escrita por: hotside

Capítulo 9 - Pétalas de metal.


Fanfic / Fanfiction A Terceira Força - Pétalas de metal.

Rey já estava há pelo menos duas horas ocupada com a parte elétrica da nave, recapitulando cada esquemático daquele console numa lista mental.

Ela verificava se havia alguma desconexão, algum cabo solto ou queimado. Cada peça tinha sua função e sua importância. Máquinas eram previsíveis e confiáveis, ela as entendia. Ao contrário de Kylo.

Ele por sua vez estava na cadeira ao lado, ansioso, sem que pudesse fazer muita coisa. Limitava-se a observar cada movimento de Rey com uma atenção desconcertante. Qualquer atitude suspeita e sua mão pressionava o metal do sabre. Ele não confiava nela também.

Rey deu um longo suspiro, numa mistura de alívio e cansaço, quando algumas luzes oscilantes finalmente se acenderam no painel. Ainda no chão, ela tirou o capacete e deu o veredito.

“Tenho uma boa e uma má notícia.”

Kylo levantou a cabeça, aguardando a resposta.

“Sua shuttle está funcionando num modo de segurança. Ou seja, podemos voar.”

Ele inclinou o rosto “Mas?”

“Mas a bateria de emergência vai durar somente quinze minutos. Depois disso a temperatura e o nível de oxigênio do interior da nave vão cair tanto que…”

Kylo a interrompeu com um gesto impaciente “Já entendi, já entendi!”

Saindo de seu posto, ele olhou para o painel agora iluminado. Abriu um compartimento de onde surgiu um mapa holográfico. A imagem incorporou uma nova varredura, mostrando os planetas mais próximos. Ele abriu as mãos, esticando os dedos, ampliando o mapa naquele quadrante. Em seguida tocou uma área, dando mais zoom. “Estamos aqui” Kylo apontou para uma região “Até onde conseguimos ir?”

Rey se aproximou, apoiando suas mãos no ombro de Kylo, fazendo-o se afastar discretamente com o contato. Os olhos dela focaram no mapa, então apontou para um planeta grande, desenhando um risco imaginário com o dedo “Com a autonomia que temos, podemos chegar até este ponto” ela continuou “Pousando aqui, pelo menos garantiríamos nossa sobrevivência. Em relação ao resto poderíamos pedir ajuda.”

Kylo mordeu o interior da boca, pensativo. Ela estaria blefando? Seus braços apoiados no painel, as luzes refletindo em seu rosto pálido, enquanto ponderava o que fazer.

Olhou diretamente nos olhos da Jedi, examinando as bordas de sua mente. Rey mudou a expressão bem de leve, emitindo uma energia inquietante que chegou até ele.

A Garota planejava algo.

“Não” foi tudo o que ele disse antes de começar a digitar as coordenadas.

Rey olhou para os dedos dele, em seguida para o rosto de Kylo “Para onde você está nos levando?!”

“Mudanças de planos” ele foi categórico. Sua voz estava abafada e mecânica agora que ele havia recolocado a máscara “Seguiremos para a Finalizer.”

Rey protestou “Perdeu o juízo? Se fizer isso nós vamos morrer!”

Mas para sua total revolta, Kylo já tinha tomado sua decisão.

O Cavaleiro se ajustou na cadeira de piloto, arrastando e clicando em diversos botões. Com uma das mãos ele indicou a cadeira ao lado “Sente-se” ele ordenou, para o espanto de Rey, que se sentou como se houvessem mil armas apontadas para sua cabeça. E então Kylo ligou a aeronave, num ronco suave, sentindo o impulso os jogando para trás.

*

A nave seguia aparentemente estável até o destino que Kylo tinha escolhido.

Rey permanecia ao seu lado, inquieta. Sentia-se como um pequeno animal indo na direção de uma armadilha.

“Fique tranquila, logo chegaremos” Kylo disse, num tom estranhamente calmo, que não combinava em nada com sua aparência sombria.

Mexendo-se desconfortavelmente, Rey esbravejou “E como eu posso ficar tranquila? Nós vamos morrer!” Não obtendo nenhuma reação de Kylo, ela continuou sua reprimenda “Você me perguntou se a nave conseguiria chegar até aquele maldito ponto, eu respondi que não. Não! Qual é o seu problema?”

Kylo continuou impassível quando respondeu “Eu não acredito em você, Catadora.”

“Então por que diabos você quis saber minha opinião?” Rey estava furiosa.

“Fique quieta!” A relativa calmaria de Kylo tinha ido embora. Ele não aguentava aquele falatório.

Então algo aconteceu.

A nave vibrou, fazendo o propulsor soltar um leve zunido.

Kylo e Rey se entreolharam quando um alerta vermelho piscou no computador de bordo. O aviso informava que eles tinham apenas cinco minutos antes que começassem a morrer de frio ou sem ar.

Ou as duas coisas.

Rey não desgrudava sua atenção dos números que diminuíam, numa lenta e penosa contagem regressiva. Ela não acreditava que depois de tudo ela ia morrer por causa de um imbecil cabeça-dura.

Não! Ela não iria tolerar este desaforo. Ela morreria, mas ele morreria antes!

Com o dedo apontando para o contador, Rey lançou, irada “Você sabe o que isso significa, não sabe?”

Kylo Ren parecia não escutá-la. Estava concentrado demais tentando manter a nave no trajeto.

Aproveitando a momentânea distração dele, Rey pegou uma das ferramentas que usou e lançou sobre o Cavaleiro, acertando o capacete num sonoro bonk. Kylo rosnou com o repentino golpe, jogando-a para trás com um soco da Força. Rey voou. Suas costas encontrando a parede. O choque não a deixou inconsciente, mas foi forte o bastante para atordoa-la. Ela foi ao chão com um gemido.

O Cavaleiro voltou-se para o painel antes que ela se levantasse, procurando o planeta mais próximo. Qualquer um. Eladard. Um pequeno planeta satélite entre as Regiões Desconhecidas e a Orla Exterior que quase não foi classificado devido a sua pequena dimensão.

“Que encorajador” ele resmungou, entregando o comando da nave ao modo automático. Kylo girou seu corpo na direção de onde Rey deveria estar, mas já havia sumido “Merda.”

Seguiu ao fundo da nave com o sabre em punho, caso ela o surpreendesse novamente. Não havia tantos lugares que Rey pudesse se esconder.

A nave continuava a voar, apesar do sistema de emergência estar reduzido, deixando o ar cada vez mais rarefeito.

Os passos urgentes de Kylo ecoavam dentro da nave, enquanto gritava e ameaçava “Sucateira, saia de onde estiver se quiser sair daqui com vida! Não me faça ir até aí e usar a violência! Está me ouvindo? Isso é uma ordem!”

Silêncio.

Rey havia se trancado numa espécie de câmara lateral dentro da sala da tripulação, como se aquilo fosse fazer alguma diferença na inevitável morte. Ela já começava a sentir a maneira como seu pulmão zumbia com a privação do ar, lutando para se expandir. As veias latejavam num esforço vão do corpo bombear mais oxigênio para o sangue.

Frio.

O ar se tornou congelante e cada vez mais difícil de respirar, como se no lugar de oxigênio houvessem pequenas agulhas perfurando seus pulmões. As garras da inconsciência formigavam rente sua pele, deixando os lábios dormentes e as mãos trêmulas. Rey não sabia quanto tempo mais resistiria naquelas condições extremas.

Kylo desligou o sabre. Ofegante. Felizmente, sua máscara compensava um pouco a falta de oxigênio, mas o frio já cristalizava ao seu redor fazendo seus músculos doerem com o esforço. Decidiu que não ia mais perder tempo com aquela Catadora selvagem. Se ela preferia morrer sufocada e congelada, então ótimo!

O Cavaleiro retornou à cabine, afivelando o cinto para dar início ao procedimento de pouso.

Era agora ou nunca.

Pelo vidro dianteiro ele viu o planeta se aproximando numa velocidade alarmante. Numa tentativa de nivelar seu trajeto vertical, forçou os controles para baixo, mas ainda assim a shuttle continuava seu mergulho.

A nave estremeceu quando a atmosfera beijou a parte de baixo. Com o calor súbito da transição do hiperespaço a fuselagem crepitou protestando. Kylo desligou os motores para que a nave reduzisse a velocidade, mas a blindagem não aguentou quando atingiu um ponto de turbulência, atravessando o denso planeta numa espiral vertiginosa e descontrolada rumo à superfície.

Uma chuva de faíscas veio de algum ponto atrás dos assentos, causando alguns focos de incêndio que começaram a consumir o ambiente, logo, tudo estava sendo tomado por uma fumaça densa e tóxica.

Com a aerodinâmica condenada, Kylo segurou o manche firmemente, buscando manter alguma estabilidade enquanto tentava se localizar entre a atmosfera nebulosa. Seus olhos varreram a geografia do planeta em busca de algum lugar para pousar, mas não havia literalmente nenhum lugar seguro.

Abaixo dele o solo inclemente passava como um borrão “Droga! Perto, perto demais!” Agora era uma luta para tirar a nave do ponto morto. Os motores tossiam, chiavam e engasgavam, mas não ligavam. Kylo rosnava tentando recuperar o controle “Merda, merda, merda. Vamos sua nave maldita! Vamos!!!”

Kylo conseguiu impedir a queda fatal planando a shuttle. Antes de acertar centenas de árvores à sua frente, que foram arrastadas, raspando toda a fuselagem já arruinada, seguido de um impacto brusco e estrondoso.

Então tudo se silenciou.

Ao seu redor havia metal retorcido e fogo. Seu corpo ainda estava coberto pelo painel, mas felizmente continuava sentado na cadeira do piloto. A janela frontal estava inteiramente quebrada com um enorme galho transpassado. Seus braços exibiam vários cortes, mas até onde ele pôde perceber não era nada grave.

Um som suave e contínuo chamou a atenção de Kylo que olhou para trás, buscando localizar o barulho, mas o que ele viu não foi muito animador.

Água! Eles tinham caído num lago!

Ainda sofrendo com os ferimentos e com a falta de oxigênio, as mãos de Kylo formigavam, ficando quase impossível desafivelar o cinto. Naquele momento tudo parecia desnecessariamente complicado “Merda, merda, merda!” ele praguejou. A água inundava o ambiente pouco a pouco, mas num ritmo constante. Ele sacou seu sabre, queimando parte da cadeira, livrando-o de suas restrições.

Olhou para o fundo da nave, na esperança de que a Garota aparecesse, mas nenhum sinal. Ele precisava sair dali e rápido, antes que tudo estivesse tomado pela água.

“Rey...”

Ele não podia sair sem ela.

Havia muitas razões para este sentimento que dominava seu coração agora, mas nada que ele pudesse compreender naquele momento. Kylo desandou a correr pela shuttle procurando-a. Sensações começaram a retornar às pontas dos dedos e pés, mas isso não era suficiente para não tornar sua marcha árdua. O som dos splashes da sua bota através da água dificultava ouvir qualquer pedido de ajuda. Ele fechou seus olhos, escaneando a presença dela pelo recinto. Procurava sua Luz inconfundível. Não podia estar longe.

A água estava em seus joelhos quando ele sentiu algo o puxando desesperadamente pelo vínculo, enviando agonia através de sua conexão. A frágil presença vinha de algum lugar dentro da sala da tripulação. Kylo correu com dificuldade através da água, que tornava seus movimentos ainda mais arrastados e pesados, ao passo que o nível subia.

Chegando lá, o compartimento estava quase todo tomado pela água. Alguns assentos flutuavam em meio a restos da nave. Usou a força para arremessar alguns destroços de seu caminho e lá estava ela, inconsciente, mas sua Luz ainda pulsava com vida. A cabeça inclinada para o lado, seu cabelo escondendo parte de seu rosto que submergia.

O Cavaleiro não precisou de muito esforço para tirar Rey dali. Segurando-a com firmeza e aninhando sua cabeça contra seu tórax, os braços dela pendendo para os lados.

Não dava mais para voltar pela mesma passagem. A água já ultrapassava sua cintura. O jeito era improvisar uma saída. Olhou para o teto, buscando qualquer fissura na blindagem.

Ali.

Kylo Ren usou a Força para romper a proteção da nave, que se retorceu para fora, como pétalas de metal. Equilibrou-se sobre os escombros, procurando manter uma estabilidade com todo o peso extra que carregava. Chegando até a saída, ele colocou Rey sob a abertura, apoiando-a na superfície fria do lado de fora. Então ele escorou sobre seus braços, chegando até o exterior.

A estrutura continuava a afundar, ele tinha que encontrar uma maneira de seguir até a borda do lago rapidamente.

Arrastou-se o suficiente para dentro da água, até conseguir pegar Rey em um de seus braços, usando o outro para nadar.

O lago parecia ter sua própria intenção assassina de engoli-lo. Sua roupa parecia pesar uma tonelada dentro da água. Seus músculos travavam num sinal doloroso de fadiga. Sua máscara estava presa, mas não era hermética, permitindo que a água entrasse facilmente, o asfixiando aos poucos.

Kylo nadava furiosamente, procurando manter a cabeça erguida sobre a superfície. Tentando não se afogar naquele mar de desgraça que estava inundando sua vida.

Assim que pisou na margem e largou Rey, Kylo buscou livrar-se de sua máscara por segundos excruciantes, até conseguir destravá-la, arrancando-a de sua cabeça. Caindo em seguida sobre seus joelhos e vomitando toda água que havia engolido, através de tosses espasmódicas e doloridas, de modo que todo oxigênio que ele puxava através do peito se parecesse feito de vidro moído.

Deixou-se cair no chão, respirando profundamente como se ele não tivesse sido capaz de respirar por anos.

Ele estava esgotado.


Notas Finais


Não importa o quanto a galáxia seja distante, homens nunca aceitam nossos conselhos quando estão pilotando. Por que sempre tããão teimosos? :-P

Confesso que quando escrevi esta cena final eu fiquei meio angustiada... ufs. Morro de medo de água! X-(

O planeta Eladard não existe no Universo Star Wars. A inspiração do nome veio do jogo Star Fox! :-)


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