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História A Terra do Céu Cinza - A Casa Sem Fim


Escrita por: gabbyxx

Notas do Autor


Gostaria de mais uma vez agradecer a todos que estão acompanhando a fic, aos que estão comentando, favoritando e gostando. Isso é realmente bem gratificante para mim, vocês são incríveis.
Eu não sei quando vou postar o próximo (tenho metade dele já escrito) pois to com alguns problemas na internet e to conseguindo postar agora só porque to conseguindo pegar o wifi do vizinho kk
Bom, agradeço também ao canal AmbuPlay, por trazer até nós uma creepypasta tão foda como essa (pra quem não sabe a Casa Sem Fim é uma creepypasta) que me inspirou demais a escrever esse capitulo.
Deu trabalho pra caramba, mas bem, aqui está e espero que gostem ^^

Capítulo 12 - A Casa Sem Fim


Fanfic / Fanfiction A Terra do Céu Cinza - A Casa Sem Fim

Sua magia, coelho branco,
Deixou sua escrita na parede.
Nós o seguimos, como Alice,
E continuamos a mergulhar no buraco.

Nós estamos caindo e perdendo o controle.
Você está nos puxando, nos arrastando,
Por essa estrada sem saída.

Nós o seguimos como Alice,
E continuamos a mergulhar no buraco
”.

White Rabbit – EGYPT CENTRAL

 

-As damas primeiro. –Rick disse, encorajando-me a abrir a porta.

-E é por isso que você vai primeiro. –Digo, zombando dele, mas ainda assim sorrindo. No entanto, ele não ri, apenas faz uma careta de desgosto.

Estávamos parados exatamente na frente da Casa Sem Fim, mas para uma casa que não terminava nunca... Ela me parecia na verdade bem comum e pequena. Se tratava de uma prédio antigo de muitos andares, mas não era tão alto, eu conseguia ver seu topo que era coberto por chaminés, e a maioria delas saia uma fumaça interminável, que me fazia pensar que a culpa do céu dessa maldita terra ser cinza era inteiramente dessa única casa. O prédio era meio torto e irregular, como se estivesse tombando, quase fazia uma espiral em algumas partes, o que tornava a coisa toda ainda mais bizarra. As paredes eram de tijolos alaranjados e esses dava para ver que eram bem velhos e em alguns trechos estavam até mesmo faltando. Havia incontáveis números de janelas, cada uma de uma cor, cada uma de um formato e estilo diferente, no entanto, todas tinham sua tintura descascada e estavam realmente muito sujas. Havia duas portas: uma era vermelha, bem pintada e enfeitada e ficava logo na frente, já a outra era menor e simples, baixa e estreita, ficava nos fundos da casa e tinha acesso por uma pequena escada de três degraus de madeira que tinha seu corrimão caindo aos pedaços... Mas por alguma razão que eu desconheço, Rick quis entrar por essa e era exatamente ali olhando para a madeira desgastada da porta dos fundos da Casa Sem Fim que nos encontrávamos.

Eu ainda vestia a camisa branca de botão que soube que de fato era dele, mas agora usava meus tênis e minhas calças que ele havia lavado. Me senti desconfortável com essa ideia, mas depois esqueci isso, pois não havia tempo para pensar em bobagens. Eu estava ocupada usando todas as minhas forças para tomar coragem para entrar naquela construção torta que me causava arrepios e que pelo boatos, não tinha fim, o que fazia-me pensar que não sairíamos dela tão cedo.

Rick me contara que foram poucos os que conseguiram sair da Casa Sem Fim pra contar história, mas ele disse que todos aqueles que conseguiram chegar ao ultimo cômodo (no qual está localizada a sala de espelhos e entre eles está o maravilhoso Espelho da Verdade) podem pedir ao Espelho qualquer coisa que desejarem desde que sejam honestos consigo mesmos no seu pedido.

O plano era simples: passar por todos os cômodos e chegar ao espelho e então lá pedir para ele que Nightmare me deixasse em paz para sempre.

Suspiro tomando doses intensas de coragem para girar a maçaneta, troquei um olhar com Rick e soube que ele não abriria, então depois de alguns segundos apenas olhando para a maçaneta semi-quebrada eu a abri e entramos.

 

A primeira coisa que vimos ao entrar na Casa Sem Fim foi uma sala pequena. O cômodo devia ter mais ou menos o tamanho de um quarto de casal, as paredes eram completamente laranjas, meus olhos doíam ao olhar para elas, o lugar era iluminado por uma lâmpada florescente da mesma cor que ficava piscando e alterava a cor de tudo que havia no quarto para tons de laranja, o que tornava a coisa insuportável e me dava dor de cabeça.

Tocava uma música alta, tão alta que eu mal podia ouvir meus pensamentos, era uma mistura de piano agressivo com eletrônico que simplesmente me enlouquecia e que eu não entendia como conseguiam chamar aquilo de música. A sala tinha poucos moveis, mas todos eles eram bizarros. Havia uma estante branca do tamanho de um roupeiro de três portas largo, ela tinha umas quatro prateleiras e a maioria estava com espaços vazios, mas o espaço que era coberto tinha crânios, aboboras e outras decorações típicas do halloween no geral.

Exatamente no mesmo lugar que se encontrava a porta da saída na parede inversa, ou seja, a que dava de frente pra saída, também havia uma porta preta e do lado dela havia uma mesa redonda com quatro cadeiras. Em cima da mesa estava um rádio antigo, ao que podia julgar ser dos anos 60, era vermelho e estava bem cuidado. Estava ligado, mas não parecia ser de lá que vinha a música, porque ela parecia vir de todos os lados.

Mas o problema não era bem o cômodo, mas sim as pessoas que estavam nele. Havia um homem com cabeça de burro sentado na cadeira que estava próxima a da estante, era como aquelas fantasias que costumam usar para encenar Sonho de Uma Noite De Verão, só que mais realista. Em pé rebolando perto dele e fazendo poses provocativas estavam duas gostosas de biquíni, uma era ruiva e tinha o corpo trabalhado, não era gorda, mas também não era magrela como a outra que era loura e tinha os cabelos longos, por um instante pensei que fosse Taylor e senti uma pontada, mas não, era apenas minha mente confusa com as imagens estranhas que eu via.

Sentada bem no canto da sala estava uma drag queen com uma criança de no máximo três anos no colo, ela usava uma peruca de cachinhos rosa claro, uma maquiagem extravagante e uma roupa ainda pior, era tão colorida que era quase como se sugasse toda a luz da sala para si e seu traje cheio de lantejoulas. Jogava xadrez com um cara com fantasia de panda que sentava-se na outra cadeira vaga. A criança no colo da drag queen chorava, era como se não quisesse estar ali, como se fosse obrigada a assistir aquelas atrocidades. E eu a compreendia, pois tinha a mesma vontade.

Mais tarde tentando encontrar sentido na cena (pois no momento era impossível pensar) cheguei a conclusão que ali estava um perfeito reflexo do que tem sido a mídia e a sociedade nos últimos tempos, que expõe todo e qualquer tipo de porcarias inapropriadas as crianças, tirando sua inocência, arrancando dê-las aquilo que muitas vezes os adultos gostariam de ter, pois se o tivessem não enxergariam a podridão do mundo que eles mesmos destruíram.

Estou paralisada, não consigo deixar de olhar o corpo das garotas até que Rick toca meu braço e me puxa dizendo:

-Vamos logo, não aguento ficar mais nenhum segundo aqui.

E eu o entendia, meus pensamentos reflexivos faziam com que eu tivesse vontade de vomitar. Todo aquele sexismo me deixava enjoada, minha cabeça estava explodindo pela música, que era apenas outra distração nesse show de horrores.

A música já não é mais música, pois apenas dizem palavras soltas sem sentido e são poucos os artistas que merecem de fato serem chamados assim. Tudo é vendido, tudo é comprado, tudo é controlado, tudo é admirado e idolatrado, porém nada tem valor, eles falam de coisas vazias, porque eles mesmos estão vazios por perderam a si mesmos sendo tão iguais quando buscavam ser diferentes e inovadores quando são sempre os mesmos. No fim foram apenas mais um influenciando multidões e guiando-as para um penhasco onde afundariam na sua própria loucura, no entanto, quem discorda deles que sempre é chamado de louco.

Faço que sim para Rick. Não aguentava mais aquilo, porém não conseguia me mexer, estava paralisada por meu desgosto. Ele me puxou para a saída, e quando ele tocou a porta e a abriu eu agradeci infinitamente a ele por me tirar daquele projeto de inferninho.

 

Na segunda sala foi estranho, porque não parecia uma sala. Era um cômodo realmente muito grande, tanto que eu não conseguia ver seu fim, seu teto era de vidro e em forma de abobada, e pra onde eu e Rick olhávamos havia muitas árvores. Era como se tivesse uma floresta inteira dentro daquela casinha, embora eu não fizesse ideia de como isso era possível.

-Você está bem? –Rick pergunta.

-Só um pouco enjoada. –Digo. –E você?

-Tô. –Ele diz, não querendo dar detalhes.

Faço que sim, não era um bom momento pra falar. Eu sentia-me de ressaca, como quando tomei um porre pela primeira vez, e agora que havia saído do quarto laranja... Tudo aquilo pareceu muito irreal e as pessoas que havia nele pairavam como fantasmas em minha mente, eram transparentes, não eram solidas. Eram frágeis e rapidamente iriam desaparecer, porque elas davam valor ao momento e não ao eterno.

Continuamos andando pelo que pareceram horas naquela floresta, eu estava cansada e estava praticamente me arrastando, com Rick não era muito diferente, mas ele parecia um pouco mais em forma que eu.

De repente vi um vulto branco se mexer por entre as árvores e gritei:

-Lá! Rick! Tem alguma coisa lá! –Rick me olhou surpreso e voltou novamente seus olhos pra frente, como se tentasse enxergar o que quer que fosse que eu tenha visto. Novamente vi o vulto correndo muito rápido, mas dessa vez ele tomou forma e eu soube o que ele era. –Um coelho! –Exclamei.

-Que tipo de... –Rick começa a falar, mas não termina, nem mesmo ele não sabia o que iria falar, a coisa era sem sentido demais para se tentar explicar, mas eu sabia muito bem o que um coelho branco significava.

-Vamos! –Disse puxando Rick para frente, tentando ser o mais rápida possível, enquanto o coelho ainda estava a nossa vista.

Mas Rick empacou, me encarou com as sobrancelhas franzidas e disse:

-Onde? Alex, o que você está fazendo?

Paro pela pergunta, nem eu sabia muito bem, apenas sabia que tinha que fazer o que estava tentando fazer.

-Vamos! –Digo novamente, soando meio eufórica. –Temos que seguir o coelho branco! –Rick levanta uma sobrancelha, como se dissesse “que drogas você usou?”, então eu apenas reviro os olhos e explico, tentando não parecer uma criança boba: -Temos que seguir o coelho... Vai dizer que não conhece a história de Alice? Ou que nunca viu Matrix?

-É claro que vi. –Ele soa quase ofendido.

-Então. Siga o coelho branco. –Faço uma pausa e olho de canto do olho para o pequeno animalzinho que caminhava descuidadamente há alguns metros de nós. –Eles sempre levam a algum lugar. Eu sei. –Digo, mesmo que não entendesse direito porque tinha tanta certeza daquilo.

Rick suspira e olha para o coelho, então dá de ombros e volta a olhar pra mim.

-Ok. O que temos a perder?

Faço que sim freneticamente e começo a correr na direção do coelho que foge assustado, não espero Rick dar uma partida, e já estou bem na frente quando vejo que ele me segue na corrida. Estou indo tão rápido que as árvores passam por mim com uma velocidade tão grande que parecem apenas alguns borrões, o vento em meus cabelos faz com que eu sorria, estranhamente eu me sentia feliz, estranhamente em muito tempo eu me sentia viva.

Olhava para Rick com essa felicidade ensandecida e isso o fazia me encarar como se eu fosse louca, mas não havia tempo para pensarmos sobre, apenas seguíamos o coelho branco, tentando não perdê-lo de vista. Ele corria de pressa e por um instante eu pude ver o coelho de Alice que corria tão rápido por estar atrasado, mas logo ele sumiu e tudo que eu vi foram aquelas árvores tortas e o pequeno vulto branco e felpudo que seguíamos.

De repente ele sumiu, não consegui ver para onde ele foi, mas eu e Rick também desaparecemos quando chegamos no mesmo ponto que ele chegou. Havia um buraco no chão, provavelmente onde era a sua toca, e ali nós começamos a cair e cair, sem nunca alcançar o fundo.

 

Eu poderia relatar a nossa queda, no entanto seria desperdiçar páginas. Caímos pelo que pareceram horas, se não dias... Estávamos desistindo de sair dali, achávamos que ficaríamos para sempre naquela horrível queda livre sobre a qual fomos submetidos, mas quando menos esperávamos nossos corpos finalmente tocaram o chão, caindo de encontro ao escuro. Literalmente.

Quando conseguimos finalmente nos colocarmos de pé estávamos em um cômodo que não parecia ser muito grande, mas que era muito mal iluminado, eu conseguia ver apenas a silueta de Rick e vários fios para todos os lados pendendo do teto.

A escuridão me deixava apreensiva, mas eu tentava não ter medo. As conversas que tive com Rick durante nossa queda ainda pairavam em minha mente, havíamos falado tanta coisa, refletido sobre tanta coisa... Talvez desse pra escrever um livro com aqueles pensamentos, no entanto, a maioria era coisa do momento. Rick me fazia rir, para que eu ficasse calma e por alguma razão que me é desconhecida, esse fato fazia com que eu me sentisse segura.

Depois de alguns segundos no escuro, alguns pontinhos brilhantes começaram a surgir, e foram surgindo lentamente até que por fim iluminavam todo o cômodo e só então pude distinguir e dizer o que de fato eles eram. Na ponta dos fios que pendiam do teto havia lâmpadas. Quando entramos na sala elas estavam apagadas, porém, elas acenderam-se por algum motivo e agora iluminavam nosso caminho até uma porta do lado oposto da sala.

O cômodo escuro não tinha moveis, eu apenas conseguia ver que suas paredes, teto e chão eram de cores escuras, não parecia oferecer nenhum perigo e por isso eu e Rick nos entreolhamos sabendo que não poderia ser tão fácil assim. Mas como não havia mais nada a fazer, deixamos a desconfiança de lado e atravessamos o quarto das lâmpadas. Quando chegamos a porta uma das lâmpadas explodiu e o quarto inteiro começou a pegar fogo, conseguíamos ouvir uma gargalhada, mas não ficamos lá para ver a quem ela pertencia, apenas abrimos a porta e a atravessamos, partindo para o próximo cômodo misterioso.

 

Havia um homem sentado no meio do tapete e algumas pessoas de estilo meio hippie sentadas em roda, todos tinham cabelo comprido e se vestiam com roupas confortáveis e coloridas. Este homem que falo estava no meio, tinha cabelos castanhos claros, vestia roupas de tons de azul com estampas em tons de amarelo, algumas eram girassóis, outras eu não saberia definir. Ele usava um óculos roxo e fumava narguilé, a fumaça preenchendo todo o cômodo.

 O lugar não era muito grande,tinha o tamanho de uma sala de estar média, o piso e as paredes eram de madeira cor de caramelo, tudo estava bem forrado com tapetes coloridos. Havia uns poucos moveis marrom escuro e muitas almofadas, incensos, cortinas e bugigangas pendendo do teto por toda a parte. Tenho que admitir que era bonito, mas todos ali pareciam estar chapados e não falavam coisa com coisa, eu podia sentir o cheiro de drogas no lugar e era questão de tempo até todos começarem a tirar a roupa e se pegar.

O homem do meio do circulo nota nossa presença e nos encara, por um instante ele parece tentar focar sua visão (que talvez não fosse muito boa, somando a fumaça as lentes coloridas) e então nos convida para sentarmos com eles no circulo.

Damos de ombro e então é o que fazemos, pensando aquele típico “por que não?”. O homem nos encara com curiosidade, mas quando vê que não iremos falar nada por não sabermos o que dizer, ele diz:

-Meu nome é Blue, Blue Caterpillar, mas pros mais chegados é só Blu... –Ele tem uma voz rouca e fala tudo muito pausado, o que faz com que eu tenha a sensação de que alterei a velocidade do vídeo da vida para uma menor. -Bom, vocês tão bem pertinho de mim aqui, então não tem problema nenhum. –Ele ri, era obvio que ele estava chapado, o que fazia com que ele provavelmente não tivesse muitas coisas que preste para dizer. –Que dá um tapa? –Ele diz oferecendo o narguilé para Rick.

Rick me olha com a testa franzida e então se volta novamente para o homem e diz:

-Desculpa, mas por que eu deveria bater nisso?

O hippie solta uma risada e olha para seus companheiros enquanto diz:

-Esse cara é uma figura! –Ele espreme seus olhos, novamente como se tentasse focar sua visão e diz: -O que me leva ao meu questionamento do dia: Quem são vocês?

Dou um meio sorriso, não costumo gostar de falar de mim, mas no momento pareceu interessante porque prometia ser engraçado.

-Sou Alex Parker. –Digo. –Alguns dizem que sou a esperança dessa terra, outros que eu só vou ferrar com tudo. –Franzo a testa, por alguma razão, pelo menos no momento, eu sentia a necessidade de ser honesta sobre o assunto e dizer tudo que eu gostaria. -Todos dizem que eu sou problema... Mas sinceramente, eu acho que sou só mais uma louca.

O homem ri, viajando e então olha pra plateia, dizendo:

-Gostei dessa garota! Deem as boas vindas a ela.

-Bem vinda Alex. –Todos falam em coro e eu me encolho, um pouco envergonhada.

-E você rapaz, quem é? –Ele diz, questionando Rick.

Rick franze a testa e hesita e foi aí que eu vi o quanto ele estava desconfortável com a situação, e era compreensivo, afinal nós estávamos no meio de um monte de drogados. Porém, era estranho ele parecer não saber responder quando lhe perguntaram quem ele é.

-Esqueceu-se? –Blue provoca.

-Não. –Rick diz, de forma seca. –Meu nome é Rick. E é isso.

-“Meu nome é Rick e é isso”. –Diz o hippie imitando-o com uma vozinha irritante. Então ele volta a encarar Rick e diz num tom de voz meio perdido, seus olhos com o olhar vago, ele parecia não estar mais tão presente no lugar... Talvez fosse efeito da droga. –Por que você é tão simples?

Rick franze a testa, mas antes que possa responder, Blue continua em seu devaneio, respondendo a si mesmo como se ele fosse outra pessoa, mudando até mesmo seu tom de voz e maneira de falar, soava mais claro, ele não se arrastava em cada palavra como antes:

-Ao contrario, diria que é tudo inverso. –Ele solta uma risadinha. –Ele tem paixão pelo complexo e pelo mal entendido. –Blue sorri, e então novamente muda seu tom de voz para seu jeito arrastado de falar e continua, deixando Rick cada vez mais confuso, para julgar por sua cara, seu cérebro não estava muito longe de explodir. –Não, não. É completamente o contrario! Eu realmente o acho simples, ele é tão comum, se mistura tanto a paisagem! –Nesse momento o rosto de Blue se ilumina, como se ele tivesse percebido algo a mais e por isso acrescenta ainda arrastando as palavras no seu modo de falar: -No entanto, é tão singular e tão único!

Agora ele ri, enquanto eu fico cada vez mais confusa, e com Rick não é diferente e deve ser até mesmo pior, já que é dele que se trata a coisa. Eu tenho vontade de rir e de zoa-lo, porém, nada faço. Apenas ouço Blue trocar novamente o tom de voz e dizer, como se estivesse impressionado com ele mesmo:

-É quase um paradoxo. –Ele então fica um tempo em silencio, pensando, o olhar distante, mas ele logo volta a encarar Rick, e fala: -Porém, devo voltar a perguntar, não para lhe incomodar, mas sim para lhe instigar a buscar uma resposta mais concreta... Por que você é tão simples? –Um milésimo de segundo se passa, até que ele novamente pergunte, agora meio fora de si: -Por que você é tão simples? –Rick sente necessidade de falar, até mesmo abre a boca para responde-lo, mas fica ali hesitando, o que apenas dá a Blue a oportunidade de continuar: -É de se deliciar a sua insegurança tão segura, acha que sabe a resposta, mas não chegara nem perto... Tão triste tal desperdício. –Durante toda a sua fala ele pareceu distante, no entanto, quando soltou a que vem a seguir, os olhos dele tocaram até mesmo a parte mais sombria que havia dentro de Rick, de fato o instigando a buscar uma resposta algum dia. –Por que você é tão simples, jovem velho rapaz?

Rick o encarava, hesitante, parecia não conseguir achar a resposta para a pergunta do homem... E então eu vi a necessidade de tirá-lo dali, de tirá-lo de seu estado de paralisia e levá-lo de volta para vida. Assim como ele fez comigo no cômodo laranja. Foi então que puxei-o pelo braço e disse:

-Vamos Rick. Essa prosa ta ficando sinistra demais pro meu gosto.

Ele assente e apenas nos levantamos, nos encaminhando para a próxima porta.

 

Assim que atravessamos a porta encontramo-nos afundando na lama do que parecia um pântano. Eu queria perguntar a Rick como ele estava, o dialogo com Blue parecia ter mexido bastante com ele, porque ele não parecia nada bem, porém, eu não tive a chance de perguntar-lhe qualquer coisa sobre. Nós nos debatíamos, tentávamos fugir daquela gosma verde que se agarrava a nós, mas não tínhamos sucesso algum. O céu cinza estava coberto de corvos que granavam, o lugar pouco me foi capitado, pois estava mais concentrada em tentar nos libertar, mas eu sabia que se conseguíssemos sair da lama, com certeza não era um lugar em que eu gostaria de ficar por muito tempo. No entanto, não tivemos sucesso e quando eu menos esperava afundamos por completo no lodo.

 

Quando abri os olhos novamente o que vi foi apenas um quarto escuro, que teve suas luzes acessas aos poucos. Havia três lâmpadas que se assemelhavam àquelas que há no palco de shows e cada uma delas focava em uma pessoa.

Estes eram velhos conhecidos meus: Taylor, Max e Rick. Estavam com olhar vago, vestiam-se do que parecia um uniforme de uma clinica psiquiátrica, cada uma estava parado abaixo de um dos feixes de luz que vinham das lâmpadas e que cortavam o denso escuro do quarto.

-O que é que...? –Não consigo terminar minha pergunta, as palavras mal saem de minha boca e uma voz cortante que eu bem conhecia anunciou, pela primeira vez ouvida por mim do exterior, não ecoando apenas em minha cabeça, mas sim de todos os lados do cômodo:

-Como tem passado, minha criança? –Nightmare disse em um sussurro sibilante que arrepiou até a ponta do dedão de meu pé.

-O que você quer, demônio? –Digo para ela de forma ríspida.

-Sua alma. –Ela responde quase de imediato e posso ver seu largo sorriso. Porém, não tenho tempo de mandá-la voltar para o inferno, pois ela continua: -Mas sei que não vou a ter... Não agora pelo menos. –Ela ri e a medida que seus risos aumentam eu apenas me sinto mais enjoada e a vontade de vomitar retorna.

-Não tenho tempo para brincadeiras! Me diga como saio daqui. –Disse, sem nenhuma paciência, estou gritando, com raiva demais dela para raciocinar. A coisa chega ser insana, mas não consigo pensar direito o erro que estava cometendo: minha ira apenas a deixava mais forte.

Eu posso sentir seu sorriso, era estranho a maneira que ela estava conectada a mim. Era como um parasita, um tumor cancerígeno. O odiamos, aos poucos ele está nos destruindo, nos matando e nos consumindo por dentro, apodrecendo nossas entranhas, no entanto, não conseguimos nos livrar por completo dele porque ele faz parte do nosso organismo. Assim me sentia em relação a Nightmare, ela era meu câncer, aquilo que deixava doente e que aos poucos estava me matando.

-Uma pena. –Ela diz e por um segundo eu quase acredito que ela está de fato magoada comigo, mas então lembro que ela é um demônio e que não tem sentimentos. –Porque brincar é exatamente o que eu quero. –Sinto uma pontada, mas continuo atenta a suas palavras que a seguir soam mais como instruções. –Apenas quero jogar com você um pequeno jogo. Temos três amigos seus e três objetos: batom, arma e brinquedo.

Os objetos estavam em cima de uma mesa que eu ainda não havia notado ou que antes não estava ali, ela também estava iluminada por uma lâmpada semelhante a que iluminava meus amigos, então eu podia ver com clareza aquelas coisas pequeninas: o batom era vermelho e estava sem tampa, sua embalagem tinha detalhes em dourado, parecia caro, a arma era uma pistola antiga como as que Shaun usava, parecia ser da década de 20, mas estava novíssima em folha e o brinquedo era dois bonecos em temática X-man abraçados, estavam colodos um no outro e se assemelhavam àqueles brindes que ganhamos no Mc Donald de plástico duro e sem articulações.

-O jogo é bem simples: havia três coisas que você deveria fazer com relação a esses três objetos e seus amigos. Eles já sabem o que são essas três coisas e cada uma delas você deveria fazer com um deles em especifico, mas quem escolheu qual coisa você faria foram eles mesmos. –Ela faz uma pausa e eu assinto, tentando gravar todas as instruções, pois sabia que era a única maneira de sair dali. –Você tem apenas uma chance para acertar qual objeto deve usar com cada um e se errar... Ficará presa aqui para sempre. Se hesitar em fazer aquilo que eles lhe pedirem para fazer, a mesma coisa. –Nightmare diz então com hipocrisia: -Boa sorte, Alex. Você tem uma hora. –E eu apenas assinto, não poderia ser assim tão ruim.

Noto que havia um relógio na parede, era exatamente 3h03min da manhã, o relógio parecia estar congelado naquela hora, mas assim que olhei para ele, ele voltara a funcionar.

Engulo seco. Nada vindo de um demônio se pode esperar menos que o pior e isso fazia com que eu temesse, mas apenas caminho até a mesa e encaro os objetos, a primeira pessoa a quem deveria me encaminhar era Taylor. Por obviedade então escolhi o batom vermelho, pois lembrava-me que muitas vezes ela usara um semelhante.

Me dirijo até ela. Taylor estava acabada, seus cabelos estavam meio úmidos, sua maquiagem dos olhos estava borrada, ela estava extremamente pálida e eu via em seus olhos que ela odiava estar ali. Quando estou em frente a ela, a garota loura de cabelos quase brancos fica me encarando, o mesmo olhar perdido e ensandecido que eu havia visto em suas faces no labirinto, porém, agora estava ainda pior, eu sentia como se a vida houvesse sido sugada dela e o que restasse ali fosse apenas uma casca.

Ela mal nota minha presença e quando nota pronuncia meu nome de forma confusa, então arregala os olhos e arranca o batom de minha mão. Pelo visto eu havia acertado, no entanto, gostaria de não o ter feito. A coisa que veio a acontecer a seguir até hoje não me é bem compreendida, apenas sei que aquela louca sem nenhum traço de sanidade arrancou o batom vermelho de minhas mãos, passou-o de qualquer jeito em sua boca e a seguir me segurou com força, pressionando seus lábios contra os meus enquanto eu a empurrava tentando me libertar.

-Você está maluca?! –Grito quando ela finalmente me solta.

Ela sorri insanamente, batom vermelho completamente borrando, cobria-lhe até mesmo os dentes e se projetava em sua face formando um sorriso bizarro que a deixava ainda mais com aparência de doente mental. Aqueles olhos... Eles penetravam minha alma, eu podia ver a loucura expressa nele, ficaram gravados na minha mente, eu ainda os via mesmo depois de Taylor desaparecer bem da minha frente.

Olho pro relógio, haviam se passado 15 minutos. Deus, o tempo estava voando! Para uma terra em que o tempo estava congelado, ele estava indo rápido até demais. Conclui mais tarde que a Casa Sem Fim não era uma casa, mas sim o lugar onde todas as dimensões se encontravam e se ligavam através de portas de algum jeito louco que me era desconhecido. Faria todo o sentido, e por isso mesmo estando em uma terra com o tempo parado, o tempo insistia em correr o mais depressa que ele já correu desde que veio a existir. E por isso que cada cômodo parecia tão deslocado com todo o resto.

Corri para mesa, encarei Max buscando uma pista, esse eu realmente não sabia: arma ou brinquedo? É quando me lembro do apelido que Sever havia lhe dado que descubro a resposta. É claro! Professor Xavier Junior!

Peguei o brinquedo e corri até Max, lhe entreguei e ele não disse nada, apenas me abraçou bem forte e sussurrou em meu ouvido:

-Dê o fora daqui enquanto pode Alex! Dê o fora daqui! –Ele estava igualmente pálido como Taylor e também tinha olheiras profundas nos olhos e assim como ela quando me soltou veio a desaparecer.

Olho pelo relógio, tenho mais meia hora. Corro até a mesa, no entanto, ao ver aquela arma eu paraliso e ali fico, a encarando durante um tempo incontável que dura apenas 15 minutos, mas que parecera ter durado e poderia ter durado muito mais de fato. O objeto que sobrara era uma arma e eu sabia que coisa boa não seria a minha tarefa. Porém, eu não podia perder tempo e por isso corri na direção de Rick, parando na frente dele, sua expressão me cortava o coração. Era como a visão que havia tido dele na noite em que acordei depois de levar um tiro na testa disparado pelas mãos de Andy no simulador... Agora aquela cena finalmente fazia sentido, mas não tinha tempo para pensar nela. Estava preocupada demais com o Rick completamente abatido e insano que estava na minha frente.

Ele me encarou, os olhos de louco estalados e pronunciou as palavras em um berro que não parecia sua voz:

-Você tem que me matar Alex! Eu sou um monstro! –Arregalo os olhos, mas ele continua gritando, às vezes sussurra, outras vezes fala tão alto que tenho vontade de tapar os ouvidos, mas sempre é a mesma frase “você tem que me matar”.

Pego-o pelos ombros e encaro seus olhos desprovidos de razão.

-Escute. –Digo com toda a convicção que tenho. –Eu não vou lhe matar.

-Vai sim! –Ele grita. –Me solta! –Então ele me empurra e eu caio no chão, mas ele continua gritando, mas agora diz: -Você vai me matar! Você vai me matar! Se você quer sair daqui você vai me matar! –Ele faz uma pausa e desaba em choro, nunca o vi chorar, a cena me deixava sem reação. –Escolhi que me matasse porque eu sabia que os outros precisavam viver, que eles tinham uma vida que valia a pena viver! Mas eu, Alex, eu sou um monstro! Um monstro! –Ele então leva suas mãos a cabeça, o desespero lhe tomando conta. –Você não faz ideia das coisas que eu já fiz... Você tem que me matar!

Mas eu não consigo fazer nada, apenas fico ali, assistindo-o gritar e ser tomado por sua dor, a ideia me apavora, eu não posso matar meu melhor amigo. Não sei quanto tempo se passa, mas sei que meu tempo acabou, pois o relógio na parede se estilhaça em mil pedaços e Rick me encara, olhos demoníacos, sorri completamente insano e quando ele fala a voz que profere tais palavras não lhe pertence:

-Seu tempo acabou!

-Mas... –Começo, mas não tenho tempo de dizer mais nada, Rick ergue a mão em que eu segurava a pistola e a encosta na sua cabeça, a seguir ele puxa o gatilho e a bala entra na sua cabeça, então tudo explode em escuridão.

 

Abro os olhos e mal tenho tempo de registrar o lugar em que acordo. Há pessoas que não identifico sentadas ao redor de uma mesa, elas passam uma arma de mão em mão e a testam em suas próprias cabeças. Estão brincando de roleta russa, mas parecem animadas, não consigo entender o que elas falam, mas sei que estão contando. É então que a arma chega até mim, é minha vez, encosto o cano gelado na minha cabeça e ouço o disparo. Tudo novamente some e eu me afogo na escuridão.

 

-Rick! –Grito quando o vejo novamente.

Corro em sua direção e o abraço, ele estava bem melhor do que antes, parecia são, parecia saudável e apesar de saber que ainda não havíamos saído daquele inferno, eu não podia deixar de ficar feliz em vê-lo.

-Acabou. –Ele disse e eu o encarei confusa, era tão bom ver o rosto dele com cor, sua pele morena quase da cor da minha era realmente muito bonita. –Chegamos Alex, o ultimo cômodo, a sala de espelhos.

Só então olhei a nossa volta e notei que para todos os lados que olhávamos havia espelhos, as paredes eram feitas de espelhos, do teto pendiam inúmeros espelhos que chegavam a quase ser incontáveis, tinham os mais variados tamanhos e formatos. O teto era feito de espelhos e o chão igualmente. A coisa me deixava tonta, parecia um lupe infinito: um espelho refletia o outro que refletia outro e assim se seguia infinitamente.

-Não devia ter vindo, Alex! –Nightmare disse com sua voz cortante, e então levei um susto, lá estava ela, em todos os espelhos, a garota que se parecia comigo que tinha cabelos de penas de corvos e corpo de porcelana quebrada, a garota que era meu pesadelo e a causa de minhas enxaquecas. –Você nunca vai me separar de você! Sua alma pertence a mim!

Ela parece furiosa, seu rosto, meu rosto, se contorce em uma careta de raiva, vejo-o no espelho e ele me causa medo, meus olhos estão brancos e flamejantes. Rick dá um passo para trás, assustado com minha forma.

-Rick... –Digo, sufocada, uma imensa dor invadia meu corpo e roubava-me o ar dos pulmões. –Rick... –Continuo a chamá-lo desesperadamente, mas ele não podia me ajudar, o único quem podia eu havia virado as costas quando tentei me livrar de meus demônios sozinha e não procurei sua ajuda, e por isso agora eles me consumiam.

Cai no chão me contorcendo, a dor cada vez maior, minhas veias queimando, novamente eu estava em chamas e quando finalmente consegui me levantar quem controlava meu corpo já não era eu, mas sim meu demônio interno. Nightmare empurrou Rick com uma força sobre-humana em um dos espelhos grandes que se partiu, imediatamente ele ficou inconsciente, os cacos de espelho se espalhando para todos os lados.

Então Nightmare caminhou até o único espelho negro que havia na sala, ele estava pendurado pelo teto bem no meio da sala. O espelho de obsidiana, o único que mostrava a verdade, o único que poderia realizar um desejo do homem que não fosse egoísta o suficiente para pedir-lhe algo pelo bem do seu próprio reflexo.

O demônio pegou o espelho e ia o jogar no chão para que ele se quebrasse para sempre, tirando-me qualquer chance de me livrar dela, no entanto, por alguma razão ao tocar nele, as chamas e a dor novamente começaram a tomar conta do meu corpo e por fim eu recuperei o controle dele enquanto Nightmare em minha mente gritava desesperadamente.

Não! Não! Não! Ela dizia. Você vai pertencer a mim!

Então segurei o espelho com toda a força que tinha, e disse mentalmente a Deus “se Tu ainda não me abandonastes, por favor, que isso funcione!”. Fechei os olhos e fiz meu pedido, na hora não conseguira pensar direito, tudo que eu queria era apenas sair com Rick dali, queria que tudo aquilo desaparecesse para sempre, queria sumir, tudo que importava era sair dali viva junto a Rick.

Esperei e esperei, durante alguns segundos, mas novamente vim a perder o controle de meu corpo. Dor, chamas... Nightmare novamente estava com o volante na mão e ria, ria insanamente porque eu não conseguira, ela venceu, o espelho não havia funcionado.

O demônio tocou o espelho de obsidiana no chão e este veio a se partir em mil pedaços, mas para a surpresa dela (e minha também), aquele não foi o único espelho a se quebrar e quando eu consegui recuperar o controle de meu corpo novamente tudo que eu conseguia ver eram cacos de espelhos para todos os lados. A sala de espelhos havia explodido, era como se todos os espelhos tivessem estourado ao mesmo tempo e se partido em partículas pequeninas e incontáveis que preenchiam o ar. Já não havia mais chão, tudo estava se dissolvendo, tudo estava desaparecendo. A ultima coisa que vejo antes de apagar e desaparecer por completo é aquele sorriso insano do demônio em meu reflexo e seus olhos brancos astutos me observando.



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