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História A (Tragic Movie That Will Break Your Heart) - Um trágico filme que irá quebrar o seu coração.


Escrita por: httpsnct

Notas do Autor


A (Tragic Movie That Will Break Your Heart) faz parte do projeto ABC://NCT Fanfics que está explicado com detalhes no link deixado nas notas finais.

Essa foi a estória mais fácil de escrever em comparação as outras e tem uma razão muito especial por trás disso que contarei nas notas finais. Desde já agradeço por ter escolhido ler essa fanfic.

Boa leitura.

Capítulo 2 - Um trágico filme que irá quebrar o seu coração.


Tudo parecia pesado para Ten.

Andava com os pés se arrastando pela rua, a garrafa na mão, o uísque na língua até derramar a última gota de álcool, até que as luzes nos apartamentos estivessem apagadas, os barulhos fossem extintos e os pés cansados desistissem da caminhada. Andaria até que somente os postes brilhassem nas ruas e o último apagasse a luz. Os carros parassem de circular muito tempo depois de a última pessoa ter passado a pé. Até que tropeçasse de tão bêbado e a rua toda ficasse quieta.

Depois de percorrer quase quatro quilômetros pelo centro da cidade, evitando os olhares experientes de adultos claramente mais habituados a andar bêbados por aí, ele parou para se recuperar apoiado em um muro. Matou metade da garrafa sozinho, sua vigésima oitava descarga de adrenalina. Fechou os olhos por um instante, mas ainda podia ver a expressão do outro: indiferente. Seus olhos sonolentos de quando passava da hora de dormir por causa dos pedidos sem explicações de Ten para ficar um pouco mais na festa, as pálpebras pesadas, e aquele sorriso de lado, está falando de si, e ele parece um ser humano extraordinário. Ele parece feliz. “Ten, você é incrível”, ele diz. “Não vamos complicar as coisas, está bem? Vamos deixar tudo como está”.

Seu estômago revira. Então todo o ressentimento volta à tona.

Ten abre os olhos rapidamente preferindo fitar o nada. Toma goles repetidos da garrafa, tomando coragem para continuar andando, uma escolha inútil. Conclui que pessoas são como gatos: elas só vêm quando você as ignora. Bebeu mais e repetiu seu mantra. Pare de pensar, gole, esvazie a cabeça, gole, esqueça ele, gole, agora, sério, esvazie a cabeça, faça isso agora, gole. Você precisa seguir em frente, você precisa esquecer ele! Gole.

Então volta a cambalear em direção à rua, o movimento parecendo estranho, como se suas pernas estivessem ao contrário. Estava frágil e molengo. Confuso. Então que tal isto? O outro foi um idiota, sim. Não foi justo em nada do que disse. Bem, então foda-se ele, que fez um trabalho bom demais em querer manter a amizade. Na beirada da calçada, ele nem hesitou. E ainda assim, consegue lembrar dos melhores momentos com o melhor amigo, rapidamente, como um flash. Noite passada eles estavam na casa dele, o outro estava deitado na sua cama de lado virado para ele, o cotovelo dobrado sob a cabeça, a outra mão brincando no celular. Ele olha para Ten e sorri, então ri e enterra o rosto no travesseiro. A risada ainda ecoa em sua mente como uma gravura. Deu mais um passo e ficou bem no meio da pista.

Gole.

Como pode a pessoa que parte seu coração ainda poder ter o rosto que você mais ama no mundo mesmo quando te dá as costas? Amor não correspondido é tortura.

Não podia ver nada do carro que se aproximava com os faróis acesos, só que vinha em sua direção. Esperou que um filme de sua vida lhe passasse diante dos olhos, mas tudo o que via era o melhor amigo se inclinando e tocando de leve seu antebraço.

Quando o carro freou houve uma sinfonia de buzinas tão alta que ele quase não conseguiu ouvir o estrondo de vidro indo de encontro ao asfalto e seu corpo sendo impulsionado para o chão. Seu coração estava disparado, mas, por um vago instante, pensou que não havia se ferido. Não sentia a dor que imaginou sentir quando a gravidade o puxou para baixo.

Levou um segundo para ele entender que a garrafa de uísque em sua mão se partiu em pedaços, exibindo os cacos de vidro que cintilavam sob a luz da rua, que sua mão não estava tremendo pela adrenalina, e sim por causa do calor do sangue lhe escorrendo por entre os dedos.

✖✖✖

Pela terceira vez naquele dia tudo parecia pesado para Ten. Seus olhos em confusão conseguiam apenas focalizar brilhantes luzes vermelhas. Então uma porta se abriu e dela saiu o motorista com uma das mãos sobre a boca, incrédulo.

— Aí meu Deus! Você está bem?

Ele apenas assentiu cambaleando para trás ao se levantar como se quisesse demonstrar que estava quase inteiramente bem.

— Quase matei você — o outro gaguejou, a mão ainda cobrindo a boca. — Meu Deus! Eu quase matei uma pessoa. Desculpa. Eu sinto muito. Você tem certeza que está tudo bem?

O garoto olhava para ele com os olhos de culpa ainda mais grandes e claros, prendendo a respiração com medo que Ten estivesse prestes a gritar com ele.

— Minha mão está sangrando um pouco — ele admitiu.

— Ai, meu Deus — o outro respondeu com um grito e agarrou o antebraço de Ten para examinar sua mão. Um corte profundo começou a aparecer no meio de todo aquele sangue. — Eu sinto muito.

O estranho correu até o carro e voltou com um punhado de guardanapos com o logotipo de várias redes de lanchonetes. Com um par deles, começou a limpar a mão ferida. Como se a embriaguez o colocasse em um estado de inconsciência, Ten o observava trabalhar com cuidado, como um artista observando uma pintura.

— Não consigo acreditar que quase te atropelei — disse o garoto, a voz trêmula. Se Ten fosse sincero, ele admitiria a culpa por estar no meio da rua. Mas as palavras e a honestidade na voz alheia o faziam estremecer; o desconhecido olhava para suas mãos com uma expressão preocupada que nunca vira antes. — Eu sinto muito, de verdade. — sussurrou.

— Acho que estou bem — disse novamente.

— Você não está bem. Um idiota acabou de bater com o carro em você — respondeu jogando o guardanapo sujo de lado e pressionando outro contra a mão de Ten. — Você poderia estar morto agora mesmo.

— Eu nem sequer senti o impacto. Sério. Quando terminar de limpar vai ver que é apenas alguns cortes.

O motorista ergueu a cabeça e olhou para ele com preocupação, algo que não estava acostumado a receber das pessoas, e depois voltou a limpar cuidadosamente o sangue com os guardanapos.

— Você precisa ir para o hospital.

— Eu vou ficar bem — ele disse. — Só preciso limpar quando chegar em casa e pronto.

Quando o desconhecido estava prestes a continuar insistindo, uma zoada de buzinas soou atrás deles. Carros passavam pelo encostamento e algumas pessoas começavam a gritar para eles saírem do meio da rua.

— Desgraçados — o desconhecido comentou. — Acabou de acontecer um acidente e tudo o que eles pensam é no tempo que estão perdendo em esperar. Onde foi parar a solidariedade nessa droga de mundo?

O estranho franziu a testa e fechou os olhos, em seguida, suspirou profundamente conforme balançava a cabeça. — Mas eles têm razão. Vamos procurar um hospital.

— Vai parar de sangrar daqui a pouco — Ten voltou a dizer, segurando sobre o corte os guardanapos que sobraram. — Só preciso fazer um pouco de pressão e...

— Foi minha culpa — o garoto o interrompeu. — Me deixa te ajudar com o sangramento, pelo menos.

— Não, está tudo bem.

Mas percebeu que nada adiantaria insistir logo que estava sendo conduzido para o carro. Então começou a se concentrar na tentativa de andar em linha reta. Os pés se arrastavam pelo chão, esmagando os cacos de vidro da garrafa.

Eles chegaram ao carro, e o garoto o ajudou a sentar no banco do passageiro.

— Mantenha pressionado — disse ele.

Ten olhou para o desconhecido, notando apenas que seu cabelo era menos curto que o de seu melhor amigo. Se inclinou no banco, usando sua distração como uma oportunidade de estuda-lo. Seu cabelo era castanho escuro, mas não tão escuro quanto o seu. Sob a fraca luz da iluminação, seu rosto parecia muito mais velho do que minutos atrás. As sobrancelhas estavam levemente erguidas, como se ainda não tivesse acreditado no acontecido e sua testa franzida expressava aflição. Estava usando pijamas e uma bota. Parecia que não se importava, o que de alguma forma fez Ten gostar disso. — Meu nome é Ten.

O garoto sorriu.

— Prazer, Ten. O meu é Taeil.

Ele assentiu, apoiou a cabeça no encosto e fechou os olhos. Não fez menção de se mover, o mundo ainda girava, piscando com cores e formas. Ouviu a batida da porta a seu lado e, segundos depois, Taeil ligou o carro.

— Seria bom manter seus olhos abertos — aconselhou ele, afivelando ambos os cintos e engatando a marcha. — Não acho que dormir seja uma boa ideia agora, tudo bem?

— Eu estou bem.

Mentira. Sua cabeça girava agora e a mão latejava. Parecia que seu peso se multiplicava quando fechava os olhos. Definitivamente, não era uma boa ideia dormir, apesar de ser tentador.

— Ótimo, apenas não durma — disse Taeil, e mais carros buzinaram atrás deles, até que Taeil seguiu pela faixa à direta — Preciso de um endereço. Para onde estamos indo?

— Talvez o hospital mais próximo?

— Certo. Hospital mais próximo. Acho que posso pegar um atalho e chegar em uns vinte minutos ou menos.

Taeil acelerou voltando para a faixa da esquerda, e imediatamente Ten sentiu o incômodo do movimento. Virou a cabeça para a janela, buscando ar fresco. Tudo começava a se mover muito rápido de novo, mas estava congelado. O ar frio se tornou mais distante e depois partiu com um leve estalo.

— Ten? Não dorme, está bem?

— Hum — ele gemeu. Precisava da leveza do sono. Precisava esquecer que era seu aniversário e que tinha o pior melhor amigo do mundo, precisava deixar o corpo esquecer o uísque. Tudo pelo que passara naquela noite, queria que desaparecesse. Ele sentia como se estivesse desaparecendo, como se o corpo finalmente tivesse se fartado de toda a merda daquela noite e pressionasse o botão de autodestruição. Como se, a qualquer minuto, fosse simplesmente explodir.

— Desculpa — disse, e não falava apenas para Taeil, mas também para si mesmo.

Em seguida, fechou os olhos e dormiu.

✖✖✖

A primeira coisa que viu ao despertar foi o brilho das luzes da ambulância girando em silêncio. Ele virou a cabeça e viu que ainda estava em movimento, por mais que os borrões estivessem tomando formas de jalecos brancos. Antes de cogitar a hipótese de que estava numa situação pior do que a de alguns pontos na mão, o rosto de Taeil apareceu na janela. Ele tinha estacionado o carro e se preparava para ajudá-lo a descer.

— Chegamos — disse, abrindo a porta.

— Sinto muito por dormir.

— Tudo bem, eu sei que não foi de propósito. — Taeil se debruçou para ajudá-lo a soltar o cinto de segurança. Com a aproximação, Ten podia inalar o perfume de Taeil e sentir o calor em seu rosto. E meu Deus, como o cheiro dele era bom, fazendo Ten sentir vergonha do próprio hálito.

Taeil o ajudou a sair do carro. Depois pôs a mão sem ferimentos dele sobre o ombro, passou um braço em torno de sua cintura e disse para ele levantar a mão machucada. Ten notou que eram quase do mesmo tamanho, talvez dois ou três centímetros de diferença. Enquanto atravessavam o estacionamento, se esforçava para não tropeçar nos próprios pés e levar ambos ao chão. Quanto menos a cabeça girava, mais a mão doía.

Por passar das três horas da manhã, o pronto-socorro estava vazio, exceto pelos enfermeiros de plantão e uma recepcionista atrás do balcão da recepção. E depois de mais ou menos dez minutos preenchendo formulários, ele pôde se sentar e esperar pelo médico.

— Como eu faço questão absoluta de saber quem são as pessoas que atropelo, preciso perguntar — Taeil falou. — Qual é a sua história?

Ten escorregou para baixo na dura cadeira, e fechou os olhos. Algo dentro dele doeu, e não tinha nada a ver com a mão ou com o álcool. — Não é uma história interessante o suficiente para fazer alguém rir. — respondeu, evitando encará-lo.

— Tudo bem. É por isso que inventaram o angst, não?

A fala fez Ten abrir os olhos, a preocupação estampada no rosto alheio ao perguntar por que ele estava parado no meio da rua mudou para um humor difícil de acompanhar. Não esteve de bom humor desde que fugira da própria festa. Também não tinha estado tão nervoso sobre alguém desde que se declarara a menos de quatro horas atrás. Na verdade, nem sequer pensou em levar aquela situação na esportiva a menos de um segundo atrás. Mas o sorriso de Taeil era realmente impressionante.

— Você está no hospital com um bêbado pretensiosamente suicida ou, na melhor das hipóteses, apenas inconsequente que não conhece e ainda faz piada? — Diz, sem acreditar.

Taeil ri. Seu sorriso é largo e bonito, apesar de tudo. Ele olha para a calça do seu pijama, em seguida, passa as mãos sobre o cabelo com um leve olhar de diversão em seus olhos. — Eu atropelei você. Eu quase te matei. Sem um pouco de humor, eu teria de lidar com a culpa.

Ten concorda com a cabeça, mas se silencia. Taeil continua sorrindo para ele com um brilho diferente nos olhos. Ao contrário de quando se encontraram no meio da rua, ele parece realmente relaxado agora. Há um longo silêncio, mas não é estranho. Ten decide ceder antes de se tornar desconfortante, assume que devia ao outro pelo menos uma explicação.

— É o meu aniversário. Eu tinha planejado para ser tudo perfeito. Devia ter sido perfeito, no mínimo. Convidei meus amigos da época da escola, conhecidos, e até mesmo quem eu só conversei uma vez em todo o ensino médio.

— Mas ela te dispensou?

Ten virou o rosto para encara-lo, e se deparou com um sorriso triste, podia jurar que aquilo significava compreensão.

— Você com certeza não estaria nesse estado se tivesse tido apenas uma festa de aniversário ruim — Taeil riu e o cutucou de leve com o cotovelo. — Suas preocupações não morrem afogadas no álcool, sr. Jack Daniels. Você tem que colocá-las para fora. Além do mais, sou um ótimo ouvinte. Aproveite.

Ten se ajeita na cadeira, tomando cuidado para não mover muito a mão. A náusea cessara quase que por completo, mas ele ainda podia sentir o álcool lhe correndo pelas veias.

— Não tem nada mais romântico do que alguém que não tem medo de se expor pela pessoa que ama. Ensaiei a cena na minha cabeça e sempre achei que seria romântica, como em um filme: quando chegasse à meia-noite eu me declararia na frente de todas as pessoas que conhecíamos com direito a música, discurso e uma aliança mais cara do que o aluguel da minha casa. Só conseguia imaginar tudo acabando bem.

Por um instante, imaginou um futuro com ele. Poderiam casar, ter um apartamento, tomariam café às cinco da tarde, não arrumariam a cama diariamente, a geladeira seria repleta de congelados. Adiariam o despertador umas trinta vezes apenas para continuarem agarrados no conforto da cama, sentariam na sala de pijama e pantufas, se beijariam no meio de alguma frase, pegariam no sono escutando a respiração um do outro.

Piscou percebendo que tinha se calado no meio da conversa. E assim que imaginou que Taeil não estava mais prestando atenção ao seu diálogo monótono e sem final feliz, se deparou com o próprio par de olhos presos em seus movimentos. Não estava acostumado a ser o foco de uma conversa, sempre se distraia no meio da fala ou gaguejava. No entanto, dessa vez não sentia o conhecido desconforto, a recepcionista saíra dali e eram só ele, Taeil e as luzes fluorescentes da sala de espera. Então continuou:

— Eu aposto que não há ninguém nesse mundo que o conheça tão bem quanto eu. Ninguém. Ele era a pessoa que todos admiravam. Bonito, engraçado, inteligente e encantador. Mas o mundo aparentemente perfeito para mim desmoronou quando ele disse “não quero perder o que temos”. Da para acreditar? Eu sou apaixonado por ele desde o ensino fundamental. Mas nunca fomos nada mais do que amigos. E faz quatro horas que percebi que nunca seremos.

Ten foi interrompido por uma enfermeira chamando seu nome. Foi conduzido por um corredor até um pequeno consultório deixando Taeil para trás. O médico dentro do cômodo limpou seu corte, removeu os cacos de vidro e deu os pontos necessários, tudo sem dizer uma única palavra. Ten tentava não se encolher de dor, mas não devia estar sendo bem-sucedido, porque, depois de um tempo, imaginou como seria se Taeil estivesse ali com o seu humor para horas erradas.

Assim que saiu do consultório, Taeil pulou para o seu lado e caminharam juntos até a recepção. Ele fez um gesto com a mão, como se tentasse tirar do ar a palavra seguinte e disse: — Tenho que perguntar.

— Vá em frente.

— O que aconteceu com a aliança? — disse. Então tirou uma embalagem de chiclete do bolso e ofereceu a Ten.

Ele aceitou e enfiou dois chicletes na boca.

— Troquei por uma garrafa de uísque.

✖✖✖

Taeil não deixou Ten desanimar nem por um momento. Ele agarrou o braço dele e o conduziu diretamente para a saída.

— Para onde agora?

— Minha casa seria uma boa ideia. Então eu hibernaria até o próximo verão na minha cama — disse Ten.

Não havia nada que desejasse mais do que arrancar a roupa suja, se jogar na cama e dormir. Não queria falar sobre o que aconteceria agora que a adrenalina diminuiu, não queria que Taeil sentisse pena dele, não queria ceder à pressão crescente das lágrimas. O céu começava a clarear em tons mais suaves de azul, as nuvens que haviam estado ali a noite toda começavam a desaparecer.

Taeil ligou o som e deu partida, Ten fechou os olhos, se concentrando no vento contra sua pele. Ele podia sentir o coração começar a bater mais rápido com a sensação familiar de adrenalina e movimento. Era como se ele não estivesse apenas bombeando sangue para o corpo, mas a monotonia para fora de seu organismo conforme a música estourava para fora do alto-falante.

— Michael Jackson?

Taeil riu. A risada tinha um som maravilhoso que ecoou pelo carro e fez Ten desejar que Taeil estivesse por perto há muito tempo.

— Ele não deixa eu me sentir sozinho na estrada — explicou Taeil. Ten olhou para ele.

— Como assim, na estrada?

— Meus pais são divorciados desde os meus nove anos e tiveram a brilhante ideia de cada um morar numa ponta da Ásia. Meu pai se mudou para cá enquanto minha mãe continuou em Seul. De qualquer forma, meu pai sempre reclama que não visito ele o suficiente e eu sempre respondo que não tenho dinheiro o suficiente — Taeil riu outra vez, cutucando Ten de leve com o cotovelo pela segunda vez na noite, parecia ser uma mania. — Estou tentando ganhar o título de filho exemplar e visita-lo pelo menos quatro vezes no ano. Mas parece que a separação virou algum tipo de competição onde quem recebe mais a minha atenção acumula pontos.

— Então, essa é a sua história? Aqui. Movimento. A estrada?

Taeil se virou para encará-lo, os olhos castanhos tão cheios de vida que Ten quase invejou o que podiam ter visto.

— Não é ruim, sabe. Tenho a vantagem de saber tailandês muito bem.

Deixando um piscar de olhos encerrar a conversa, Taeil aumentou o volume e seguiu em frente, rindo animado e batucando os dedos no volante. No refrão ele cantou junto, gritando as palavras como se o mundo tivesse que as ouvir.

Em volta, o mundo tinha exatamente três cores para Ten: o amarelo de um clima sem chuva e com o sol surgindo, o azul do céu para onde eles pareciam subir e o vermelho dos lábios de Taeil ao sorrir.

✖✖✖

— Por que a gente não liga para ele? — Disse Taeil assim que eles passaram por uma placa indicando que faltavam oitenta quilômetros até o bairro de Ten.

— Muito bem observado, Sherlock — Ten respondeu com certo carisma irônico que havia adquirido depois que conhecera o outro. — Então o que eu diria? “Olha, sei que me rejeitou na minha festa de aniversário e na frente de todas aquelas pessoas, mas não quer tentar de novo? Vamos, pense com mais calma, talvez você só estivesse cego por causa das luzes de neon”.

Ten se pegou articulando a frase com um humor sarcástico, algo que achou que depois daquele dia não teria mais. Mas como sempre acontecia nos momentos mais tranquilos, lembranças do outro surgiram. Ten fechou os olhos e pensou na chance de o amigo atender o telefone e admitir que estava arrependido. Se declarar fora um erro. A festa, um erro ainda maior.

— É o aniversário do meu melhor amigo e ele acabou de se declarar para mim — Taeil refletiu. — Se fosse eu, provavelmente estaria pensativo.

— Ou então com pena.

Não disseram nada o restante do trajeto. Como quase tudo de onde estavam, a casa de Ten ficava a uma distância longa de carro. Ten mal teve tempo de identificar o que estava sentindo: um misto de tristeza e desespero, a exaustão e o restante da adrenalina da noite, a ausência de certa pessoa e a intensidade do desejo de estar com Taeil, alguém que o fazia se distrair mesmo quando o álcool não conseguia proporcionar o mesmo.

Ele podia sentir o olhar do outro.

— Por favor, não pergunte se estou bem.

— Sei que não está.

Então depois de meia hora, Taeil dobrou a esquina rumo a um pequeno parque. Ten piscou, confuso com a mudança de direção.

— Vamos parar por um momento.

Eles caminharam até os balanços vazios, olhando para as nuvens que se tingiam lentamente de rosa e laranja. As correntes do balanço rangeram com o peso de ambos. Ten recordou que sempre se sentava com o outro no parque, naqueles mesmos balanços, matando o tempo de tardes vazias. Aquilo o fazia sentir como se eles vivessem em um mundo feito só para eles dois. Que de todos os lugares que poderiam estar naquele momento, ali era onde queriam estar.

— O que deveria acontecer no seu filme agora? — Perguntou Taeil pegando um graveto no chão perto de seus pés e cutucando a terra.

Ten suspirou, esperando que o outro não tentasse manter viva sua esperança. Ele virou para olhar para Taeil, surpreso com a ideia de que só o conhecia havia algumas horas. Parecia muito mais do que isso. Havia alguma coisa em Taeil que fazia com que ele se sentisse muito à vontade. Ele era mais divertido que seu melhor amigo e, a contragosto, admitiu que era muito possível que se sentisse mais relaxado na presença de Taeil porque ele não lembrava nem um pouco a pessoa que estava tentando esquecer, ao contrário do restante de sua vida que girava em torno de alguém que o abandou com uma garrafa de uísque.

— Um meteoro cair bem onde estou sentado.

Taeil riu, uma risada doce que, estranhamente, fez Ten desejar que fossem amigos, não só conhecidos e unidos por circunstâncias bizarras.

Ten estava se balançando suavemente, os pés dando impulso no chão sem nunca se afastar dele quando foi pego de surpresa por aqueles olhos impressionantes, como se fosse a primeira vez que realmente os via, olhando em sua direção. Pés foram plantados com firmeza no solo para fazer o balanço parar e então Taeil se inclinou e o beijou.

De primeira, ficou tão confuso que começou a pensar em milhares de possibilidades de aquilo não ser real. A boca de Taeil estava sobre a dele, suave, morna, com traços ainda de um sorriso. Ele o estava beijando e a glória daquele fato o invadiu. Estava sendo beijado pela única pessoa que poderia realmente chegar perto de entender como se sentia mesmo nunca tendo se conhecido antes. Por um instante aquilo fazia parte de seu filme. E queria que fizesse parte tanto quanto desejou que seus sentimentos fossem correspondidos. Então ele se juntou a Taeil, fechando os olhos e beijando de volta, ouvindo em sua cabeça a música que o outro viera cantando no caminho até o parque.

We'll make a wish, and then we'll kiss.

E havia algo de honesto em tudo isso. Ten não conseguia imaginar nenhuma outra pessoa, mesmo seu melhor amigo por quem fora a vida toda apaixonado, naquele parque vazio com ele, às seis e meia da manhã, no meio do inverno, depois de terem enfrentado o inferno e conseguido passar por ele apenas com alguns pontos na mão.

Quando Taeil se afastou, um sorriso esticou seus lábios, e Ten seria capaz de jurar que viu o mundo começar a se transformar. Era um sorriso tão cheio de afeto que sentiu inveja dos amigos de Taeil, quem quer que eles fossem.

— Só porque as coisas aconteceram de outro jeito, não significa que você nunca vai conhecer um amor de cinema. — disse Taeil. — Se a sua vida não estiver sendo como nos filmes, talvez o problema esteja nos personagens.

Ten passou a língua sobre os lábios, o sabor e a sensação da boca de Taeil ainda presentes na dele e, finalmente, se deu conta de como a noite podia ter acabado de maneira diferente se o carro de Taeil não tivesse aparecido na sua frente. As palavras se moveram dentro dele, desenharam um sorriso em seu rosto e a distância entre eles desapareceu novamente.


Notas Finais


Se você conseguiu chegar até aqui: MUITO OBRIGADA!

Espero que por aí exista vários amantes de Tenil como eu e que adoram surtar nos comentários das fanfics (estou contando com isso). Eu sinceramente gostei desse Taeil bem-humorado, eu não queria criar um personagem tímido como todos pensam que o moontae é, ainda mais por conta das circunstâncias da fanfic, eu queria criar uma história leve e, infelizmente para alguns e não para outros, o fluffy pegou carona no final.

Sobre a música do MJ que o Taeil cantou na cena do carro é Loving You, é, pois é, amo esse cara.

Essa fanfic foi baseada em um fato real, exceto pela festa e a declaração em público (e não preciso nem dizer que o personagem do Taeil também, né?). Eu queria que pelo menos ficticiamente a história dessa pessoa terminasse bem, com o final feliz que todos nós, amantes de clichês ou não, queremos. É uma droga quando você destrói o muro da amizade só para declarar seus sentimentos.

E esse galera é o recado para quem está de coração partido. Por mais que vocês dois não tenham sido o final feliz um do outro isso não significa que o seu final feliz não está por aí esperando por você. Apenas tome cuidado na hora de atravessar a rua :D

Leiam o jornal explicando sobre o projeto ABC://NCT Fanfics!! http://socialspir.it/7027413


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