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História A Troca - A Mensagem


Escrita por: MrsRidgeway

Notas do Autor


Oie Gente!

Hoje eu cheguei mais cedo, espero que vocês gostem disso.
Deem uma olhadinha nas notas finais, por favor.

Agora vamos ao que interessa!

Capítulo 22 - A Mensagem


— É big! É big! É big! É big! É big!— nós cantávamos em uníssono, na cantina – É hora! É hora! É hora! É hora! É hora!

Ginny sorria alegremente, adorando ser o centro das atenções.

— Rá-Tim-Bum! Ginny! Ginny! Ginny! — as palmas finais foram batidas, juntamente com muitas risadas – Discurso! Discurso! Discurso!

Minha amiga pigarreou, fingindo que estava se preparando para falar.

— Primeiramente eu gostaria de agradecer a todos vocês, meus fãs, por estar aqui me prestigiando em uma das datas mais importantes do mundo. O dia que nasceu uma estrela, o meu aniversário – nós rimos do falso discurso vaidoso dela – Depois, eu gostaria de dizer que... Eu amo todos vocês!

Ginny pulou no pescoço das pessoas que estavam mais perto. No caso Harry, Ron, Luna e Neville. Mesmo sendo menor que eu, por pouco ela não os derrubou. Eles se reestabeleceram, rindo. Nós havíamos comprado uma torta média, dessas de padaria, para não deixar o dia passar em branco. Parvati partiu o primeiro pedaço e entregou a aniversariante, para que ela oferecesse a alguém, como manda o ritual.

— Antes de entregar o primeiro pedaço, eu gostaria de avisar que essa aqui não é a festinha final do meu aniversário – Ginny avisou. Ela apontou na nossa direção, com a mão livre – Sábado à noite, na minha casa, eu vou fazer uma comemoração mais a vontade e todos vocês estão convidados. Quero ver todo mundo lá.

— Pode deixar. Eu não perco cerveja de graça por nada... – Cedrico falou ao meu lado.

— Nem eu! – Angel levantou o dedo, concordando.

Nós rimos da cara de pau dos dois.

— Mas enfim, vamos ao bolo. Eu sei que tá todo mundo aqui achando que eu vou oferecer esse pedaço ao Harry – nós confirmamos veementemente – Entretanto, hoje vocês estão errados. Não que o Harry não mereça, não é isso. Mas hoje o primeiro pedaço vai pra uma pessoa que sempre esteve comigo em todos os momentos e em todas as fases importantes da minha vida. E que voltou de Londres com uma cabeça muito boa pra me dar conselhos e me fazer companhia. O primeiro pedaço vai pra o meu irmão!

Ginny estendeu a fatia de bolo para Ron. Ele olhou para a irmã, completamente vermelho. Ela riu da cara dele e o puxou para um abraço apertado. Ron sussurrou algo no ouvido de Ginny e ela sorriu abertamente. O ruivo pegou a primeira fatia e veio sentar do meu lado. Eu beijei sua bochecha e em retribuição, ele me deu um pedaço de bolo na boca.

A comemoração continuou por mais algum tempo, todos conversando animados, até que a nossa folga do almoço acabou e nós tivemos que seguir para a aula. Chegamos à sala de Snape atrasados, para variar. Para a nossa sorte ele apenas ignorou e continuou a explicar o assunto na louça.

— Já tá sem graça isso da gente vir pra cá pra não fazer nada – Ron comentou na segunda metade da aula, que sempre era destinada ao desenvolvimento da análise – Se é pra dormir eu fico em casa.

— Não durma então – eu repliquei, rolando os olhos.

— Qual a chance de você sair daqui comigo e ir pra algum lugar mais reservado? – ele perguntou, me encarando.

— Nenhuma... – eu respondi, rindo.

— Então eu vou dormir – ele se fez de ofendido – Tchau...

Ron se debruçou sobre a bancada. Não demorou nem cinco minutos para que ele pegasse no sono. Eu balancei a cabeça, divertida, e comecei a pôr as minhas luvas. Harry permanecia alheio ao mundo, mexendo no celular. Imaginei que ele estivesse jogando, mas desconfiei que não fosse isso quando observei melhor as expressões dele.

— Harry...? – indaguei devagar.

Ele permaneceu absorto, olhando para a tela do aparelho e digitando algo rapidamente. Eu o chamei mais uma vez.

— Oi, Mione... – ele despertou no segundo chamado – Precisa de mim pra alguma coisa?

— Não exatamente... – respondi ainda o observando – Harry, tá acontecendo alguma coisa? Você não tá normal desde segunda.

Senti que ele ficou desconfortável com o questionamento.

— Nada importante. Só alguns problemas. – ele falou, sorrindo para mim. Algo me dizia que aquilo não era verdade. Harry procurou mudar de assunto – O que você tá fazendo?

— Vou usar esse tempinho pra tentar descobrir qual a substância que tá ocultando o arsênio.

— Eu te ajudo – ele depositou o celular em cima da bancada, ao lado de Ron.

Começamos os processos que nós já estávamos acostumados a executar. Uma hora se passou e a gente não havia chegado a lugar nenhum. Continuávamos sem saber qual era o agente paliativo. Durante esse tempo, percebi que o celular de Harry vibrou constantemente, embora ele se recusasse a dar atenção. A incidência das vibrações era tanta que acabou acordando Ron, que se manifestou levemente irritado.

— Caralho, Harry... Desliga esse celular aí, pelo amor de Deus... – ele pediu fazendo bico e coçando o olho com a mão. Eu sempre achei bonitinho vê-lo dormindo, ainda que a gente estivesse no meio da aula.

— Eu tô com a mão ocupada agora, cara – Harry falou, concentrado no que estava fazendo – Faz isso aí pra mim, por favor?

Ron balançou a cabeça, concordando. Ele deu dois toques na tela, pronto para desligar o aparelho, mas parou de súbito quando viu algo escrito. Discretamente, Ron cutucou Harry e deslizou o celular pela bancada, para que o dono enxergasse o que ele estava mostrando. Ambos trocaram olhares preocupados. Eu fingi que não estava vendo nada daquilo. Harry fez um sinal com a cabeça e Ron finalmente desligou o objeto, jogando-o logo em seguida dentro da mochila do amigo. A aula terminou posteriormente.

O resto da semana correu tranquilamente e no sábado, como o combinado, eu cheguei à casa de Ginny depois do almoço. Havia prometido ajuda-la com a arrumação do aniversário. Foi Ron quem abriu a porta para mim. Nos cumprimentamos com um selinho rápido e eu entrei no apartamento.

— Cadê a sua irmã? – indaguei quando ele me abraçou por trás, me puxando para a sala. Joguei minha mochila em cima do aparador, ao lado da chave da moto dele.

— Tá lá embaixo com a Luna. Já devem estar subindo, pelo tempo que desceram – Ron me respondeu quando sentamos no sofá, ainda abraçados. – Elas foram pedir algumas coisas emprestadas ao Igor.

— Tipo? – perguntei, me ajeitando ao seu lado.

— Tipo um cooler pra colocar ali na sacada quando o pessoal chegar. Aí ninguém vai precisar ficar vindo pegar bebida na cozinha toda hora.

— Nessa festa é a sua vez de encher a cara – eu avisei divertida, olhando para ele – E nem tem desculpas, porque você tá em casa. O pior que pode acontecer é você desmaiar no meio da sala.

— Qual o seu interesse em me ver bêbado, Granger? – ele me olhou de volta, malicioso – Tá pensando em fazer o que comigo alcoolizado?

— A mesma coisa que eu faria com você sóbrio, Weasley... – eu respondi no mesmo tom de provocação e ele sorriu.

Não precisou de muito para que nós começássemos a nos beijar. Os meus lábios estavam sedentos por mais intensidade, se é que isso fosse possível. A língua de Ron percorria toda extensão da minha boca, estendendo-se ao meu pescoço, maxilar, orelhas, clavículas e todos os lugares próximos, sem deixar nenhum milímetro escapar. Nossas mãos começaram a explorar o corpo do outro, apressadas. Estava ficando cada vez mais difícil segurar a minha vontade quando eu estava perto dele. Era como se algo em mim pedisse que eu continuasse com aquilo. Nos nossos últimos encontros, ainda que eu tivesse colocado na minha cabeça que eu queria que as coisas fossem mais devagar, todas as vezes que eu e Ron ficávamos a sós, ainda que por alguns instantes, eu acabava deixando que o ritmo dele comandasse a nossa dança. Como uma adolescente descontrolada, eu estava há dias lamentando que não houvéssemos tido a oportunidade de termos um momentinho só de intimidade desde o episódio na minha casa, na semana retrasada.

— Sem pouca vergonha no meu sofá, por favor – Ginny falou atrás de nós. Estávamos tão entretidos que nem escutamos barulho da fechadura abrindo – Eu deito aí pra assistir as minhas séries.

Nós nos afastamos e eu senti meu rosto esquentar. Ron apenas riu abertamente. Quando o assunto era safadeza ele não ficava nem um pouco envergonhado.

— Deixa eles, Ginny – Luna falou, sorridente. Ela apoiou a caixa térmica no chão e se esticou por cima do braço do sofá, me dando um beijo na bochecha – Ai, que lindo... vocês são tão fofinhos juntos!

Eu soltei uma gargalhada e fui acompanhada por Ronald.

— Eu também acho, Lu – ele me apertou entre os braços. Eu apoiei minha cabeça em seu peito. Ron deu um beijinho na ponta do meu nariz.

— Para gente, para! – Luna reclamou, fazendo biquinho – É muita doçura pra o meu coração. E olhe que eu adoro açúcar.

Ela andou até a cozinha e depositou a caixa em cima de uma das cadeiras.

— Cadê o Rolf, Lu? – Ginny perguntou enquanto vasculhava os armários, ao lado dela – Nunca mais ouvi você falar dele.

— Porque não tem o que dizer, né amiga? Desde aquele jantar da família dele que eu não o vejo.

— Ele já decidiu onde vai ficar de vez? – questionei, curiosa. Eu não conhecia o Rolf direito, mas sabia que ele trabalhava com alguma coisa relacionada a finanças, por isso passava maior parte do tempo viajando.

— Provavelmente por lá mesmo – ela respondeu, sentando no braço do sofá – Acho bem difícil ele sair de Ohio tão cedo.

— Por que você não vai pra lá? – Ron indagou. A mão livre apoiando o peso da cabeça, que a observava.

 Luna fez uma careta engraçada. Ela demorou alguns segundo para responder.

— Olha... antes eu até pensava em ir, viu... – ela disse, olhando para o teto – Mas eu acho que hoje em dia não faço mais questão não...

Ginny semicerrou os olhos para a loira. Ela andou até Luna e pôs a mão e seu pescoço, como se conferisse a temperatura. Luna riu.

— O que foi? – ela indagou. Seus grandes olhos azuis encarando a ruiva, alegres.

— Tô vendo se você não tá com febre ou algo do tipo – Ginny respondeu – O que aconteceu com todos aqueles planos de conhecer o mundo e aproveitar o que as culturas diferentes têm pra oferecer de melhor?

— Eu ainda posso fazer isso, Gin. Só não precisa ser com o Rolf – Luna respondeu tranquilamente.

Ela não parecia muito abalada em dizer aquilo, ao contrario de Ginny e eu, que arregalamos os olhos, surpresas. Ron só olhava para nós, divertido, sem entender as nossas reações.

— Alguém pode me explicar o contexto dessa conversa, por favor? – ele pediu – É que eu tô me sentindo meio perdido aqui.

— Pelo que parece a Luna tá dando tchau ao amor da adolescência dela – eu falei olhando para cima, na direção do rosto dele.

Ron abriu a boca como se fosse dizer alguma coisa, confuso, mas fechou logo em seguida. Nós rimos da expressão dele.

— Ele não é bem o meu amor da adolescência, Mione... – eu e ela nos olhamos, cúmplices. Luna se desencostou da mesa – E de qualquer forma, Rolf só pensa em bolsa de valores, cotas, batimentos etc... Ia acabar não me acrescentando em nada na viagem.

— Que mulher fria, credo! – Ginny comentou, voltando a mexer nos armários. Luna apenas deu de ombros.

— Me diga uma coisa... – Ron começou a falar, apontando para a loira – Por que você chama todo mundo pelo apelido, menos eu?

— Porque eu já disse que eu gosto do seu nome, Ronald. Sem discussão – Luna respondeu ele fez cara feia. Ela se aproximou de nós – Agora levanta os dois daí e vem me ajudar aqui com a arrumação dessa sala.

Luna e eu reservamos boa parte da tarde para a limpeza e organização da casa. Ron alternou sua mão-de-obra entre ajudar nós duas e auxiliar Ginny na cozinha, com a preparação de alguns petiscos e drinks para os convidados. Terminamos o nosso trabalho um pouco depois das cinco da tarde. Fizemos um lanche rápido, jogando conversa fora. Logo depois Ron e Luna se levantaram para começar a se arrumar. Um bolo, um pouco menor do que o do aniversário dos meninos, havia sido encomendado na mão de Cari. Ela ligou avisando que já estava pronto, apenas esperando que alguém fosse busca-lo. Como Ron já estava pronto, imediatamente se ofereceu para ir pega-lo e perguntou a Luna se ela não gostaria de ir junto. Os dois seguiram para a casa de Caridade enquanto eu e Ginny terminávamos de arrumar o resto das coisas. Assim que eles saíram, eu me dirigi até a cozinha e resolvi lavar a louça espalhada em cima da pia. Antes que eu terminasse a limpeza, a ruiva entrou no cômodo, animada.

— Agora me conta tu-do! – Ginny sentou em uma das cadeiras – A gente não teve oportunidade de conversar direito nessas duas semanas. Quero todos os detalhes!

— Contar o quê? – perguntei terminando de enxugar a pia – O que você quer saber?

— Primeiro como você tá, né? – ela disse, mexendo no pano da mesa. Por cima dos meus ombros eu podia sentir o olhar ansioso da minha amiga.

Me virei na direção dela e me apoiei no lavatório.

— Muito feliz? – não consegui controlar o sorriso bobo nos meus lábios. Ginny abriu um maior ainda, totalmente radiante.

— Ai amiga, eu fico tão contente por vocês dois, de verdade... – ela falou, sincera – Você vai fazer o meu irmão muito feliz, eu sei.

— Calma, tá? É só uma fase de teste... – eu repliquei, rindo – A gente tá se conhecendo, por enquanto.

— Ah, deixe disso, Mione – ela rolou os olhos – Eu sei que vai ser pra sempre. Só aceito você como minha cunhada agora.

A convicção de Ginny me fez pensar na possibilidade de uma vida inteira com Ron e mais uma vez um sorriso arrematou os meus lábios. Tentei dispersar essas ideias da minha mente. Não era muito saudável fazer planos desse tipo com alguém que eu estava junto a menos de um mês.

— Por falar em felicidade, mocinha... – eu comentei, sentando na cadeira perpendicular a ela – Cadê o Harry que não chegou até agora pra fazer a sua?

— Boa pergunta – ela levantou a sobrancelha, categórica – Ele me disse que só poderia chegar aqui mais tarde.

— E a segunda parte da surpresa? Já teve?

— Não. Segundo ele vai ser hoje. O Harry é maluco, amiga. Eu já desisti de entender o que passa na cabeça dele – ela bufou, inconformada – Ele tá todo misterioso esses dias. Essa semana principalmente.

— Concordo... – acabei deixando escapar.

Eu não sabia se estávamos falando sobre o mesmo assunto, mas Ginny me deu uma olhadela desconfiada. Ela pediu que eu a esperasse ali por alguns minutos e partiu para o quarto, apressada. Voltou pouco tempo depois com um envelope pardo nas mãos.

— Mi, você tem que me prometer que não vai contar isso a ninguém... – ela pediu, sentando ao meu lado novamente – Nem mesmo ao Ron. Promete?

— Prometo... – eu concordei, sem entender exatamente o que ela queria me dizer com aquilo.

Ginny estendeu o envelope para mim e eu peguei rapidamente. Abri para ver o que tinha dentro. Um relicário dourado caiu na minha mão. Olhei para Ginny, confusa. Ela me encorajou a abrir para ver qual imagem tinha dentro.

— Gin...? – indaguei assustada com o que eu estava vendo – Essa não é a...

— Sim. É a mãe do Harry. Eu conferi assim que recebi. A foto bate com a mesma mulher dos porta-retratos da casa dele – ela respondeu antes mesmo que eu terminasse a pergunta.

— Onde você achou isso? – voltei a perguntar rapidamente, ainda olhando para a joia em minhas mãos – O Harry te pediu pra guardar?

— Não. Ele nem sabe que eu tenho conhecimento da existência desse colar – ela falou. Ginny soltou um longo suspiro antes de continuar – Snape que me deu.

Se havia alguma coisa na face da terra que eu não imaginaria que aconteceria era Snape dando presente a alguém. Ainda mais um relicário que não parecia ter pertencido a ele. Tinha alguma coisa estranha nessa história e eu iria descobrir o que era.

— Quando foi isso? – questionei ainda boquiaberta.

— Têm uns dois meses.

Ginny me explicou com detalhes as condições que levaram a esse colar aparecer nas mãos dela. Eu escutei atentamente cada coisa que ela falava, ficando cada vez mais espantada. No fim da história, Ginny me disse que estava guardando aquela peça ali, sem saber o que fazer. Ela queria a minha ajuda para ter algum direcionamento.

— Eu acho que você deveria contar a verdade pra ele, Gin – eu aconselhei – O Harry não vai gostar nem um pouco de saber disso.

— A questão não é que eu não sei se eu quero devolver isso aqui, entende? – o rosto de Ginny assumiu um tom quase tão avermelhado quanto os seus cabelos – Pelo menos não agora...

Eu franzi o cenho sem entender aonde ela queria chegar com aquela declaração.

— Mione, há quase três anos eu conheço o Harry e ele sempre foi fechado quando o assunto é a família dele. E mesmo depois da gente ficar junto, ele nunca, eu repito, nunca me contou nada sobre o que aconteceu. Essa – ela apontou para o colar – É a única oportunidade que apareceu pra eu descobrir o que aconteceu de verdade.

— Isso pode gerar problemas entre vocês, Ginny... – eu falei, receosa. Aquilo estava com cara de que ia virar uma bola de neve – E se ele descobrir isso aqui antes do tempo certo?

— Eu tenho consciência dos riscos, Mione. Pode sim aumentar nossos problemas. Eu sei que pode. Mas se isso for a solução? Se isso ajudar a resolver de vez os problemas? – ela replicou, tentando me convencer – Eu não aguento mais ficar brigando por causa desses segredos, amiga. Eu não gosto de ficar fingindo que não tem uma lacuna enorme entre nós, onde ele se esconde toda vez que se sente ameaçado por não sei o quê.

Eu ponderei o que a ruiva me dissera por alguns instantes. Guardei o colar de volta no envelope e entreguei a ela.

— Se você acha isso, siga em frente então... – acabei dando força a ideia de Ginny. Eu poderia imaginar o quanto isso era importante para ela – Mas com cuidado, Gin. Eu sei que vocês se gostam muito. Não sei se vale a pena você se arriscar ao ponto de prejudicar o relacionamento de vocês dois.

Ginny sorriu, agradecida, e me puxou para um abraço apertado.

— Muito obrigada, Mi – ela agradeceu, com a cabeça no meu ombro – Eu só precisava que alguém consciente me dissesse que eu não tô louca por querer investigar isso.

— Se eu estou concordando com você, talvez eu não seja tão consciente assim não – eu rebati e ela riu novamente – Agora levanta. Vem se arrumar que hoje é sua festa. Você tem que estar mais perfeita do que o normal, pra dar na nossa cara.

Seguimos para o quarto dela, rindo e conversando sobre o que nós iriamos vestir. Eu abri a minha mochila e tirei algumas opções de roupas que eu tinha levado, para ela me ajudar a escolher. Ginny se apaixonou logo de cara por um vestido nude, puxado para o pérola, de mangas curtas, e que me deixava com praticamente todo ombro do lado de fora. O pano era maleável e se ajustava facilmente ao corpo de quem estava vestindo.

— Onde você arranja essas maravilhas? – ela estendeu o vestido na sua frente, para observá-lo melhor – O corte desse vestido é perfeito.

— Às vezes eu passo no shopping e compro, quando eu tô sem nada pra fazer – eu respondi, dando de ombros. Pra ser sincera eu tinha aquele vestido guardado há tanto tempo que nem lembrava mais dos motivos que me levaram a compra – Esse eu acho que nunca usei...

— O que é um desperdício, por sinal – ela reclamou, fazendo cara feia – Ele é lindo.

— Eu não sei... – eu analisei o vestido nas mãos dela – É que ele é meio justo no corpo.

— E daí? – Ginny retrucou – Valoriza as curvas que você já tem.

     Sem exagero, Ginny...

Eu franzi a testa para ela e cerrei os lábios, descrente.

— Ah, Mione. Olha o seu corpo. É lindo! – Ginny apontou para mim – Ele é todo desenhadinho, amiga!

— Ele é comum, Ginny. Meu corpo não é de causar inveja a ninguém. Eu não tenho nada diferente ou que chame atenção nesse quesito. Não como as outras pessoas... – sentei na cama, um pouco frustrada.

— Outras pessoas tipo...? – a ruiva levantou uma sobrancelha, inquisitiva.

     Tipo a Angel.

Balancei a cabeça e os ombros indicando que queria deixar o assunto para lá. Ginny rolou os olhos e andou até onde eu estava. Ela empurrou a peça no meu colo, decidida.

— Você vai usar esse vestido e pronto! – ela ordenou, irredutível – É meu aniversário e eu que mando nessa porra.

Soltei uma gargalhada com a determinação dela.

— Tá bom, eu uso! – levantei as mãos em rendição, ainda dando risada.

— Isso mesmo. Agora já pra o banheiro, Granger! – Ginny apontou para a porta lateral, enérgica – Não me obrigue a te colocar de castigo.

Eu levantei da cama, rindo. Dois segundos depois a postura de mãe brava da minha amiga caiu por terra e ela riu também. Ginny e eu nos arrumamos rapidamente, pois ela havia marcado as dezenove, e logo, logo o pessoal estaria chegando. Eu estava terminando de ajeitar o meu cabelo quando a campainha tocou. Ginny, que já estava completamente pronta, saiu do quarto rapidamente para atender. Ela voltou alguns minutos depois, com Miguel colado em sua sombra. Ele veio até onde eu estava para me cumprimentar.

— Boa noite, Mione – Miguel me deu um beijo na bochecha, enquanto eu finalizava a última mecha – Ai como vocês estão poderosas, que inveja!

— Hoje a gente desceu pra dar close, lindo – Ginny respondeu ao fundo.

— A-dooo-ro! – ele balançou as mãos para cima, nos fazendo rir.

Aos poucos os outros convidados foram chegando, um a um. O apartamento ficou apertado para quantidade de gente, devido à popularidade de Ginny. Maior parte das pessoas eu conheciam, eram colegas e amigos meus, da universidade. Outros poucos eu não consegui identificar, provavelmente eram parceiros de trabalho. Formou-se uma roda divertida de conversa, todos falando sobre o excesso de loucuras que Ginny cometia diariamente, tanto na faculdade quanto no estágio. Ela se defendeu fervorosamente durante todo o bate-papo, contudo, para o azar dela, as línguas de Miguel e de Angelina eram bem mais rápidas na hora de entregar tudo todas as besteiras que a nossa amiga fazia.

— Gente, que absurdo! – a ruiva se defendeu, sentada no colo de Harry, que só sabia rir – Isso tudo é calúnia de vocês!

— Calúnia foi o que você fez com o pobre homem do mercado – Miguel se defendeu.

— Vocês acreditam que o teatro dela foi tão bom, mas tão bom, que ela conseguiu levar praticamente todos os produtos de graça! Com a cara mais cínica da face da terra – Angel balançou o copo de cerveja, divertida – Depois quando eu falo que ela é uma bandida, ninguém acredita!

Todos nós rimos da história. O assunto continuou dinâmico por mais algum tempo, até que a conversa se dispersou. Eu olhei no relógio, preocupado. Já eram quase oito da noite e nada de Ron e Luna terem voltado. Procurei por Ginny no apartamento e a encontrei na varanda, conversando empolgada sobre alguma coisa com Harry, Cedrico e Parvati. Eu me aproximei deles devagar, não querendo mostrar a minha apreensão.

— Oi gente... – eu abracei Cedrico e ele me deu um beijo na testa. Eu sorri para ele antes de concentrar as minhas atenções na minha amiga – Gin, e o bolo?

— Luna acabou de me ligar – ela estalou os dedos na minha direção – Parece que aconteceu algum acidente com o meu bolinho e Cari tava tentando ajeitar as pressas.

— Como é que vocês mandam aqueles dois irem buscar um bolo, sozinhos ainda por cima? – Harry comentou de maneira divertida – Vocês queriam que desse merda mesmo.

Eu rolei os olhos para o comentário, embora ele estivesse certo. Tanto Ron quanto Luna não eram muito bons no quesito coordenação motora.

— Não é bonito julgar os amiguinhos desastrados, Potter – Cedrico falou e nós acabamos rindo – Mas eles já estão vindo?

— Estão sim – Ginny respondeu, apoiada no muro da sacada – Daqui a pouco eles chegam.

— Ótimo, porque eu tenho um plano para executar ainda hoje... – Harry olhou para a ruiva e ela corou – Agora me deem licença que eu vou colocar o meu celular pra carregar antes que ele morra.

— Coloca lá no quarto, Harry. As tomadas da sala estão ocupadas – Ginny seguiu junto. Eles sumiram pela porta da sala.

Cedrico e eu ficamos na varanda, sozinhos. Ele sorriu para mim, alegre. Eu franzi o cenho sem entender aquela expressão.

— O que foi? – eu perguntei, confusa.

— É engraçado te ver com essa cara bobinha, de apaixonada – ele respondeu.

Eu me senti quente e pus a mão no rosto. Ele riu mais ainda.

— Para, Ced... – pedi, envergonhada. Dei um tapinha de leve no braço dele – Eu vou ficar constrangida desse jeito...

— Mas é verdade – ele insistiu – A última vez que eu te vi assim foi há quatro anos!

— É, eu sei – sorri para ele. Me lembrei de algo que eu já queria ter perguntado há algum tempo – Você não se importa com isso, né?

— O quê? Com você e o Ron? – Cedrico indagou – Lógico que não. Por que eu me importaria?

— É que Viktor é seu melhor amigo, né? Você pode ter pensado que eu fiz besteira e tal. Ou, não sei, tomar as dores dele.

     Isso se houveram dores verdadeiras.

Cedrico soltou um longo suspiro. Ele me segurou pelos ombros, de frente para mim, e se abaixou para ficar na minha altura.

— Você também é minha amiga, Mione. Eu quero a sua felicidade, tanto quanto eu quero a dele – seu olhar convicto não me deixou hesitar sobre a veracidade do que ele dissera – E se isso implica na separação de vocês dois, que assim seja. Não muda nada na minha cabeça.

Não controlei o meu ímpeto em abraça-lo. Cedrico retribuiu, afagando os meus cabelos. Logo em seguida uma voz que eu reconhecia bem me chamou ao fundo. Viktor estava parado a soleira da porta da varanda, nos observando. Ginny tinha me avisado que o convidara na manhã da quarta-feira, quando o pessoal da empresa se reuniu para comemorar o aniversário dela. Eu só não esperava que ele viesse falar comigo depois de tudo o que havia feito no nosso último encontro.

— Vou deixar vocês dois conversarem... – Cedrico se afastou de mim, indo em direção à sala. Ele deu murro no peito de Viktor, de brincadeira, antes de dirigir a palavra a ele – Não faça merda, cara.

Viktor balançou a cabeça, em concordância, sorrindo de canto. Eu me apoiei no muro e encarei o horizonte, deixando a brisa da noite perpassar os meus pensamentos. Ficamos alguns minutos sem dizer nada até que ele se aproximou.

— Oi... – Viktor me cumprimentou, contido. Ele se apoiou ao meu lado, também fitando a paisagem a nossa frente.

— Oi... – respondi, tentando não assumir um tom defensivo logo de cara – Tudo bom?

— Tudo sim... – ele confirmou.

Viktor esfregou uma mão na outra, repetitivamente. Ele sempre fazia aquilo quando estava nervoso. Mais alguns minutos se passaram, com silêncio constrangedor entre nós. Novamente Viktor quebrou a barreira da comunicação.

— Você tá muito linda hoje... – ele me elogiou, dessa vez me encarando.

— Obrigada... – eu olhei para ele de volta – Mas acho que você não veio até aqui pra elogiar meu conjunto de roupa, não é?

Viktor sorriu anasalado.

— Não, não vim – ele confirmou – Eu estou aqui pra te pedir desculpas, Mione.

Eu levantei as sobrancelhas, surpresa. Não sabia muito bem o que respondê-lo.

— Eu sei que eu fui um imbecil nesses últimos meses – ele continuou, aproveitando a minha mudez temporária – Eu que terminei com você, Mione. Eu que dei espaço pra que você se apaixonasse por outra pessoa. Eu não tinha direito nenhum de te dizer o que eu disse ou de fazer o que eu fiz. Eu sei que nada que eu te fale agora vai mudar o que aconteceu no aniversário do Harry, mas eu estou arrependido.

— Por que eu deveria acreditar em você, Viktor? – meu questionamento saiu recheado de mágoa – Você me pediu desculpas quando me chamou de vagabunda, lá em casa. Eu te desculpei. O que foi que aconteceu logo em seguida? Você repetiu o mesmo erro.

— Eu vim nessa festa hoje só pra isso, pra falar com você. Amanhã eu tô viajando, pela SeMz – Viktor passou a mãos pelos cabelos negros antes de continuar a falar – Vou passar dois meses na Bulgária. Malfoy tem interesse em abrir uma filial por lá, já que a economia da região tá crescendo, e mesmo eu sendo estagiário ainda, ele me indicou. Isso vai ser bom pra minha carreira.

— E eu fico muito feliz pelas suas conquistas. De verdade – eu estava sendo sincera – Mas o fato de você estar indo embora não te exime da culpa. Nem te torna um santo.

— Não torna, longe disso. Eu só não queria viajar sem resolver esse assunto com você. Eu quero que seja um reinicio pra nós dois, Mione. Ainda que dessa vez cada um esteja seguindo por um caminho diferente – Viktor segurou as minhas mãos. Eu não o afastei – Eu... eu preciso que você me perdoe.

Analisei as expressões do homem a minha frente. As mãos geladas de Viktor seguravam as minha, apreensivas. Ele ansiava por uma resposta, disso não me restava dúvidas. Eu pensei em tudo o que eu vivi nessas últimas semanas. Eu estava buscando a minha felicidade e de alguma forma eu poderia até me ousar a afirmar que já havia a encontrado. Eu não podia eximi-lo do mesmo direito. Se era do meu perdão que Viktor precisava para seguir a diante, eu não iria negar isso a ele.

— Sinta-se desculpado.

As feições de Viktor se abrandaram. Ele fechou os olhos e esvaziou o peito.

— Obrigado... – ele agradeceu aliviado e eu sorri com a ação – Posso te pedir mais uma coisa?

— Pode... – concordei, receosa.

— Me dá um abraço?

Resolvi não negar o pedido. Assenti com a cabeça e ele se aproximou. Trocamos um abraço apertado. Era realmente um adeus a tudo que vivemos. Viktor beijou o dorso da minha mão se despediu de mim. Fiquei mais algum tempo na sacada, pensando sobre o que acontecera. Quando eu voltei para sala percebi que ele já havia partido.

Em compensação, Ron chegara com Luna e com o bolo, que por sinal estava inteiro e belíssimo. Eu me aproximei do ruivo, empolgada, mas ele não pareceu muito à vontade ao meu toque. Ron me deu um “oi” não muito educado e se afastou se logo em seguida para conversar com os rapazes, no canto da sala. Eu permaneci em pé, estática, sem entender o que tinha acontecido.

Depois de alguns segundos de reestruturação interna, eu me pus a verificar o ambiente ao meu redor. O lugar estava mais cheio do que antes. Todo mundo ali, absorto em alguma atividade: bebendo, conversando, brincando, servindo... Era um espaço de completa distração. Isso atentou a minha mente para algo importante. Olhei para o ângulo onde os garotos discutiam sobre algo que me pareceu ser futebol e conferi que Harry estava animado o suficiente para não prestar atenção em nada que não estivesse a sua volta.

     E que o celular dele estava no quarto de Ginny, carregando...

Eu havia advertido a minha amiga sobre o que ela estava pensando em fazer em relação ao colar. Eu poderia até estar sendo hipócrita no momento, mas a questão é que a minha curiosidade era tão grande quanto à dela. Eu desejava saber a razão da postura estranha de Harry no decorrer da semana. Minha atenção cresceu ainda mais depois de perceber, durante a aula de química, que Ron provavelmente sabia quais eram esses motivos. A resposta para o que eu queria estava naquele aparelho. Disfarçadamente, entrei no quarto de Ginny e fechei a porta. O celular de Harry estava carregando em cima da penteadeira. Andei até ele sem muita cerimônia.

— Agora vamos descobrir o que o senhor andou aprontando, Harry Potter... – falei comigo mesmo enquanto desbloqueava o aparelho. O que não foi muito difícil, por sinal.

Vasculhei o aplicativo de mensagens rapidamente, sem saber necessariamente o que eu estava procurando. Não identifiquei nada de anormal por ali, boa parte das conversas era sobre coisas sem muita importância. Pus o celular de volta na superfície de madeira, desapontada. Comecei a me distanciar novamente do aparelho, até que ele vibrou insistentemente, acendendo a luzinha de notificação. Voltei lá e peguei o celular mais uma vez. Harry havia recebido uma mensagem de um tal de Mad. Totalmente indiscreta, abri a tela da conversa.

Terça, 22 horas.

Rua Lírio do Vale, casa 212.

Leve o dinheiro.

E vá sozinho.

Li a mensagem e não pude deixar de ficar assustada.

     No que você andou se metendo, Harry?!

Eu andei até a escrivaninha de Ginny, com o celular na mão. Peguei uma caneta e anotei o horário e o endereço da mensagem em um post-it. Guardei o papel dentro da minha mochila, que ainda descansava em cima da cama. Sem muita demora, pus o aparelho novamente no carregador e saí do quarto com a cara mais lavada da face da terra.

Eu sabia que Harry compareceria pontualmente a esse encontro.

O que ele não fazia a mínima ideia é de que não iria sozinho.


Notas Finais


Então, meus amores. O que vocês acharam do capítulo?
Deixem aqui embaixo os lindos comentários de vocês!

Pra quem quiser acompanhar o outro lado da história, esse capítulo faz ligação com dois outros lá d'A Escolha. Então:
==> Se vocês desejam saber como Snape conseguiu esse colar, é só dar uma olhadinha no capítulo 07 - "O Visitante"
==> Se vocês desejam saber como o relicário foi parar nas mãos da Ginny, é só dar uma olhadinha no capítulo 08 - "A Semelhança"
==> Se vocês querem saber sobres essas mensagens misteriosas no celular do Harry, é só dar uma lida no capítulo 22 - "O Retorno".

~~ https://fanfiction.com.br/historia/711508/A_Escolha/ ~~

Beijos, até sexta que vem!


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