– Ronald, a gente deveria estar estudando... – Hermione sussurrou de olhos fechados, enquanto eu beijava o sua nuca devagar.
– Mas nós estamos estudando... – eu rebati, ainda entretido com a textura daquela pele macia – Biologia humana. Anatomia, pra ser específico.
Ela riu e se virou de frente para mim. Seus cabelos estavam molhados por causa da água do chuveiro. Mione pôs os braços ao redor do meu pescoço e me encarou, maliciosa. Naquela semana eu tinha visto bastante aquele olhar e não podia negar o quanto isso me agradava. Deslizei minhas mãos lentamente pela linha do quadril dela, apertando-a durante o percurso.
– Ah... – ela colou o corpo no meu e mordeu levemente o meu queixo – Sendo assim eu acho melhor a gente estudar direito. Eu não gosto de acumular matéria.
– Eu estou sempre pronto pra aprender qualquer coisa que você queira ensinar...
A pressionei contra o vidro embaçado do box, ansioso pela aula.
Saímos do banho bem mais tarde do que o planejado. Hermione fez menção de atravessar o quarto até a bolsa em cima da cômoda, mas eu a puxei para a cama pela cintura. Encaixei o meu rosto na curva do pescoço dela e a abracei. Mione afagou meus cabelos, carinhosa.
– A gente vai se atrasar... – ela falou, no entanto não parecia muito interessada em sair da nossa configuração – Já tá quase na hora do almoço.
– Dá tempo de ficar aqui só mais um pouquinho – eu me aconcheguei mais ainda no abraço, enlaçando as nossas pernas – O Lupin espera até mais tarde.
– Ron, eu não quero ficar vacilando com o Remo. Não depois do que aconteceu mês passado...
Mione estava falando da nossa loucura de ir com Harry até a mansão dos pais dele e invadir o escritório de Snape.
– Relaxa, tá? Você disse que ele quase não falou nada! – eu argumentei, a encarando – Exceto a bronca que o Harry recebeu e alguns detalhes a mais sobre o acontecimento dos Potter...
– Eu ainda não consegui assimilar toda essa história direito, sabia? – ela comentou, pensativa – Eu fico imaginando tudo o que Harry passou durante esses anos, solitário. Boa parte do tempo sem saber de nada. Isso é horrível.
– Eu sei. Deve ter sido uma barra enorme pra ele mesmo... – falei, anuindo. Me apoiei em um dos cotovelos para poder encara-la melhor – Eu só queria que ele contasse logo tudo pra Ginny. Ela merece saber o que aconteceu.
– Ele vai contar – Mione sorriu para mim, amável – O Harry só precisa de mais um tempo. Não é algo fácil de dizer, ainda mais quando a pessoa cresce achando que vai viver sozinho pra sempre.
Concordei mais uma vez, balançando a cabeça.
– Eu sei. Mas Ginny não vai gostar nada de saber que nós descobrimos antes dela. Mesmo que não tenha sido nada planejado.
– Por quê? – Hermione indagou, curiosa.
– Ela vai se sentir excluída do assunto – ri só de imaginar a cena que a minha irmã iria fazer – Você deve saber muito bem que a Ginny é extremamente ciumenta.
– Olha quem fala... – Mione levantou as sobrancelhas.
– Acredite. Ela consegue ser bem pior – objetei, me defendendo.
– Numa escala de zero a dez, qual o seu nível de ciúmes, Ronald?
Doze.
– Ah, sei lá. Acho que sete.
– Tem certeza? – Hermione me olhava divertida.
– Oito... – me corrigi, fazendo cara feia – E olha quem fala você. Quem tava aí se descabelando semana passada por causa da nova colega do Greg, lá da cantina? Não fui eu.
– Ei, nada disso! – agora era ela quem se justificava. Mione apontou para mim, incisiva – Eu não me descabelei por causa de ninguém!
Eu soltei uma gargalhada com a intercessão dela.
– Não pareceu muito não, viu? Eu vi a hora de você terminar comigo por causa da garota... – provoquei, segurando sua mão – E olha que eu nem sei o nome dela!
– Eu vou terminar de verdade agora, se você não calar essa boca imediatamente... – Mione ameaçou, semicerrando os olhos.
– Ah é? – contestei, rindo. Eu me coloquei por cima do seu corpo, devagar – É pra eu calar a boca...?
– É sim... – ela insistiu, fazendo um biquinho engraçado.
– Então tudo bem...
Hermione riu antes que eu grudasse os meus lábios nos dela, em um beijo cheio de desejo. Ficamos mais um tempo ali, intercalando entre trocar carícias de leve e jogar conversa fora, até o momento de levantar para nos vestirmos.
Lupin já nos esperava, distraído, quando chegamos a sua sala, um pouco depois do horário marcado. Mione trazia consigo o classificador com a análise do mês de agosto, recheado de observações. Nós tínhamos entrado em um consenso de não contar ao nosso orientador sobre a mulher que havia me ajudado no rio. Eu não estava muito seguro em falar nada, de qualquer forma, contudo, por incrível que pareça, a ideia final de manter o silêncio sobre a questão tinha vindo de Hermione. Lupin nos saudou, sorridente, assim que nós nos aproximamos da sua mesa.
– E então, novidades? – ele perguntou, logo após de nos cumprimentar.
– Não... – Mione suspirou. Ela passara o último mês totalmente decepcionada por não conseguir nenhum resultado substancial – Continuamos na mesma. Eu já fiz tudo que eu pude, Remo, mas sem um espectrômetro de massas não tem como seguir a diante.
– É, eu imaginei... – Lupin falou, coçando levemente a cabeça.
Ah, imaginou...?
– Enfim... – ele continuou, enquanto mexia na pasta de couro que estava em seu colo – Eu já estou providenciando algo para dar um jeito nisso.
– É complicado porque sem esse resultado a gente não pode seguir a diante com as análises – eu disse, me inserindo na conversa – E sem continuar as análises, a pesquisa fica parada.
– Por isso mesmo eu trouxe outra coisa para vocês fazerem... – ele anunciou, calmamente.
Remo segurava um envelope branco e cheio numa mão, e, um tubo de ensaio com uma amostra dentro, na outra. Ele estendeu o papel para mim e o vidro para Hermione. Nós pegamos sem entender.
– O que é isso? – indaguei, curioso.
– Material para estudo – ele apontou na minha direção – Isso é um plano de custos. Eu quero que você dê uma lida e veja se consegue tirar algo de interessante daí.
Adoro essas informações específicas...
Para não dizer o contrário.
– Plano de custos...? – franzi a testa, ainda confuso – De onde?
Se era para eu ler aquela tonelada de papeis, eu tinha que ter pelo menos o direito de saber sobre o que era.
– Da SeMz.
A resposta de Lupin me fez arquear a sobrancelha, um pouco surpreso. Percebi que Hermione não se abalara muito.
– Como você conseguiu isso?
– Isso não vem ao caso, Ron... Estude o documento e me faça um relatório – Lupin me olhou, indicando que não falaria nada além do que o que já me dissera – Em sigilo, não se esqueça.
Meneei a cabeça em concordância.
– E quanto a essa amostra? – Mione questionou, balançando o vidrinho – Você quer que eu a analise?
– Sim, mas não com as mesmas técnicas... – ele explicou – Essa foi uma coleta própria.
– Você que colheu? – ela inquiriu, objetiva.
– Não – a resposta dele foi enfática.
– Que técnica você quer que eu use?
– Não sei. Isso fica ao seu critério.
Diferentemente do que eu imaginei, Hermione não perguntou mais nada. Ela apenas acatou em silêncio e guardou a amostra na bolsa. Observei que Remo também estranhou a atitude da mulher a sua frente, porém, sabiamente, não se manifestou. Ele passou mais alguns avisos sobre as datas de entrega e as próximas reuniões e nos dispensou logo em seguida. Acompanhei a minha namorada até a o pavilhão onde ela teria aula.
– Por que você não vai ficar pra me esperar? – Mione fez manha, abraçada comigo.
– Porque eu tenho um compromisso muito importante – eu alisei o seu rosto com o dorso do indicador – E inadiável.
– Posso saber o que é? – ela indagou, curiosa.
– Você saberá – garanti – Em breve...
– Não adianta insistir, né? Pelo visto você não vai mesmo me dizer...
– Exatamente.
Ela fez um muxoxo inconformado e rolou os 0lhos, me fazendo rir. Nós nos despedimos por mais algum tempo, até que ela entrou na sala e eu parti para o estacionamento. Saí dos limites da universidade e cheguei ao shopping menos de vinte minutos depois. Me direcionei a mesma loja que estive com Harry há pouco mais de um mês atrás e fui recepcionado por uma atendente simpática.
– Boa tarde, em que posso ajuda-lo?
– Eu estou procurando algo para presente de aniversário – eu disse.
– Para esposa? – ela indagou, sorridente.
– Namorada... – respondi, um pouco sem jeito.
– Alguma preferência? Anel, colar, pulseira? – quantas perguntas difíceis – Também temos relógios, se for do interesse do senhor.
– Não sei... – aquela gama de coisas me deixou um pouco atordoado – Eu queria algo expressivo.
– Quanto tempo juntos?
Com ou sem contar a parte toda do doce que Hermione fez?
– Um pouco menos de dois meses – escolhi a opção tradicional de resposta.
Aquela que se ela ouvisse não me mataria depois.
A atendente sorriu e me guiou até uma das vitrines. Ela atravessou o balcão e tirou um estojo vermelho de dentro. Várias correntinhas reluziram na minha frente.
– Bom, Sr...? – a mulher me olhou, inquisitiva.
– Ronald Weasley – me apressei em responder – Me chame de Ron.
– Bom, Ron... – ela sorriu – Temos essa nova coleção. Chegou essa semana e tem vários itens, desde anéis de anéis de falange até gargantilhas.
Ela apontou para os outros cases, com o resto das joias que ainda estava dentro da vitrine. Direcionei meu olhar para o local e no mesmo momento me encantei com uma das pulseirinhas que eu vi. Era uma peça dourada e simples, bem delicada e que eu achei que combinaria muito com Hermione. Além do pingente único que adornava a corrente, o que mais chamou minha atenção na verdade, por ser bastante significativo para mim. Naquele momento eu já sabia o que iria levar. Pedi a pulseira à atendente.
O sábado passou tão rápido que quando eu dei por mim, já estava quase na hora de buscar Mione em casa. O aniversário dela era no domingo, entretanto, nós havíamos marcado de jantar com os nossos amigos em um restaurante especializado em comida italiana, do qual eu soube que ela gostava muito. Me arrumei com um pouco mais de zelo do que o comum, peguei o presente que eu havia comprado e desci para o estacionamento. A Ginny iria direto com o Harry, da casa dele, então ficou combinado que eu usaria com o carro dela naquela noite. Quando eu cheguei à casa de Hermione, ela já estava totalmente pronta, e, perfeita como sempre.
– Nossa... você marcou esse jantar tão cedo... – Mione disse, divertida, assim que abriu a porta do carro – Tô achando que você quer se livrar logo de mim.
– Aí que você se engana, minha cara... – eu repliquei, sorrindo. Nós trocamos um selinho demorado – A nossa noite só tá começando...
Quando chegamos ao restaurante, a Luna e o Neville já nos esperavam. Eles conversavam tranquilamente sobre algo que deveria ser engraçado, pois ambos estavam rindo, bem empolgados. Assim que os dois nos viram, cessaram o assunto disfarçadamente. Hermione e eu os cumprimentamos e sentamos a mesa. Falamos um pouco sobre algumas coisas triviais, até o momento que Harry e Ginny chegaram, acompanhados por Cedrico.
– Neville, cadê a Hannah? – Ginny indagou, assim que se ajeitou na cadeira.
– Trabalhando... – percebi que ele suspirou, enquanto brincava com um talher solto em cima da mesa – Plantão de 36h. Ela mandou lembranças a todos.
– É uma pena que ela não esteja aqui – Mione comentou, solícita – Deve tá sendo barra pra ela esse fim de residência.
– Não só para ela... – Neville resmungou baixinho do meu lado.
Embora eu acredite que não tenha sido essa a intenção, Hermione ouviu e franziu a testa, encarando o amigo. Ele desviou o olhar e sorriu para Luna, que mexia na alça da bolsa, distraída. No mesmo momento ela retribuiu, amável. Não fui capaz de conter a minha curiosidade e me estiquei até o ouvido da minha namorada, passando o braço pelo encosto da cadeira dela.
– Tá acontecendo alguma coisa aqui que eu não sei? – questionei, interessado.
Mione riu discretamente, escondendo a boca com a mão.
– Eu não faço a mínima ideia, acredite... – ela mexeu os ombros e negou com a cabeça.
Olhamos mais uma vez para o casal ao nosso lado. Neville explicava a loira, pacientemente, alguma coisa sobre o próprio chaveiro que recebera dela. Luna prestava atenção, concentrada, em cada palavra que ele dizia. Aquele era um mundo só deles, sem intromissões. Voltei a encarar Hermione. Ela sorriu de canto, travessa.
É, tá acontecendo sim...
O jantar foi muito divertido e durou muito mais tempo do que esperávamos. Logo que cada um pagou a sua conta, nós nos despedimos do pessoal e partimos direto para a casa de Hermione. Conversamos tranquilamente durante todo o trajeto e quando estacionei em frente da casa dela, fui convidado a acompanha-la até o interior da residência. Mesmo relutante, Mione já tinha adquirido o meu hábito de não entrar calçada em casa, então assim que atravessamos o hall, a primeira coisa que ela fez foi jogar os saltos de lado, juntos ao meu sapato. Eu sorri de canto e a puxei para um beijo bem menos discreto que os do restaurante.
– Eu tenho uma coisa pra você... – falei assim que nos afastamos um pouco. Ela me analisou, surpresa.
Retirei o mini estojo do bolso de trás da minha calça e estendi para ela. Hermione o pegou da minha mão, intrigada.
– Ron, não precisava ter se preocupado com isso... – ela hesitou, antes de abrir.
– Claro que precisava – eu retruquei, alisando a sua bochecha – Vai, abre...
Eu a encorajei, me apoiando no aparador. Mione concordou, com a cabeça, e puxou o lacinho de cetim do embrulho. Ela abriu o estojo e logo depois eu recebi um sorriso lindo em troca. Pelo visto eu havia acertado na escolha do presente.
– Ron, ela é tão linda... – Hermione pôs a pulseira na palma da mão esquerda, delicadamente – Eu nem sei o que te dizer... Obrigada, eu amei muito.
– Que bom que eu consegui te agradar – brinquei, fazendo pose de vitorioso – Não é um trabalho muito fácil, sabe?
Ela sorriu mais uma vez, radiante. Eu estava realmente feliz por vê-la satisfeita com o presente que eu tinha dado. Havia algum tempo que eu não me sentia envolvido com alguém daquela forma. Mione voltou a colar os lábios nos meus por alguns segundos e logo depois retornou a sua atenção para a peça em sua mão.
– Pode ficar tranquilo em relação a isso. Você tem se virado bem, Weasley – ela piscou um dos olhos, divertida – Coloca pra mim?
Eu atendi ao pedido, encaixando a pulseira em seu braço. Perguntei se estava apertado e Mione me disse que não.
– Que coisa mais fofa esse pingente de barrinha de chocolate mordida – ela passou a ponta do indicador lentamente pelo pingente dourado, encantada – Agora vou olhar todos os dias para ela e lembrar o quanto foi fácil irritar o estranho daquela noite.
– Na verdade ela também pode te recordar de como foi maravilhoso me conhecer naquela farmácia – falei, convencido. Hermione rolou os olhos castanhos, divertida. Eu a trouxe para um abraço – E de como você é uma ladra especializada.
– Isso agora nem vale mais. Você também roubou algo meu... – ela deu de ombros, se aconchegando mais ainda no meu peito – E eu não quero que você devolva.
Eu podia sentir o sangue fluir mais rápido nas minhas artérias quando Mione fazia algum tipo de declaração para mim, por mais simples que esta fosse.
– Não devolverei... – garanti, sorridente – Mas só se você prometer que o meu também não vai ser despachado...
– Vai confiar mesmo, Weasley? – ela me provocou, olhando na direção do meu rosto – Eu posso sumir com ele, e aí?
– Contanto que permaneça intacto com você, eu não me importo – e encarei de volta, decidido, apertando o nosso abraço – E de qualquer forma, se você fugir, eu te acho. Eu sempre vou atrás de você, Granger...
Eu subi uma das mãos até o cabelo de Hermione, segurando-os com delicadeza. Ela cedeu ao toque, fechando os olhos e inclinando a cabeça para o lado, manhosa. Suas mãos subiram pelo meu peito, por cima da minha camisa, alcançando a minha nuca. Alcancei a boca de Hermione, mordiscando aos poucos seu lábio inferior, provocativo. Ela retribuiu a brincadeira por algum tempo, até que eu enfim perdi a serenidade inicial e finalizei de uma vez o espaço entre nossas bocas, ávido. Fui retribuído na mesma energia. Enquanto nossos movimentos se intensificavam, uma ideia interessante passou pela minha mente. Abri os meus olhos e tirei minha mão esquerda da cintura de Mione, conferindo as horas no relógio por trás da sua cabeça.
– Isso me lembra de outra coisa – eu disse, ainda com a boca muito próxima da dela. Empurrei Mione lentamente até a escada – Que já passou da meia noite e eu ainda não te dei o seu outro presente...
– E o que seria esse outro presente? – ela perguntou, sagaz, enquanto subíamos um degrau de cada vez, sem pressa.
– Você vai saber assim que nós entrarmos no seu quarto... – eu a virei de costas para mim, sem afasta-la do meu corpo, assim que chegamos ao corredor do piso superior. Mordi de leve o lóbulo da sua orelha antes de sussurrar o resto da frase – Feliz aniversário, Mione.
Senti a pele dela se arrepiar quando chegamos até a porta. Hermione girou a maçaneta sem fazer nenhuma questão de cogitar alguma outra possibilidade de descobrir o que eu estava planejando.
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