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História A Troca - O Encontro


Escrita por: MrsRidgeway

Notas do Autor


Oie gente!

Cá estou eu com o último capítulo do ano. Espero que vocês gostem.

Agora vamos ao que interessa!

Capítulo 27 - O Encontro


– Acho que alguém não tá com sorte hoje... – Harry cantarolou ao meu lado, vitorioso.

Rolei os olhos, largando o controle do videogame de lado, em cima do sofá. Nós estávamos no seu apartamento, jogando uma partida de FIFA soccer após desperdiçarmos uma manhã inteira respondendo questionários de bioquímica.

– Eu tô cansado, só isso – me defendi, dando de ombros.

– Ahan, sei... – ele provocou, nada convencido – Assuma logo que você é péssimo e siga com essa certeza.

– Vai se foder, Harry – eu chutei sua perna, mas ele desviou rindo.

Harry se levantou e levou os nossos copos, que antes descansavam em cima da mesinha de centro, para a cozinha. Ouvi o som da torneira ligada, o que indicava que ele entraria na longa jornada de lavar a louça da semana. Se a Ginny visse a quantidade de pratos sujos reunidos em cima daquela pia, com certeza teria um infarto. Sorri comigo mesmo e aproveitei o assento livre para me espalhar no sofá, pondo os pés para cima. Me distraí lendo algumas besteiras no celular por alguns minutos, até que percebi uma presença parada na minha frente. Quase dei um pulo de onde eu estava.

– Oi... – a figura me cumprimentou, curiosa, me olhando de cima a abaixo.

– Oi...? – respondi duvidoso, me perguntando de onde havia aparecido aquela criança – Quem é você?

– O Teddy – ele me respondeu, como se fosse óbvio – E você? Você é amigo do meu padrinho?

Pela conjuntura da situação eu subentendi que ele estivesse falando do Harry.

– Eu me chamo Ron – falei, me apresentando – E sim, eu sou amigo do seu padrinho.

– E você sabe onde ele tá? – Teddy questionou, com o rosto preocupado.

– Na cozinha... – essa criança tem uma aparência semelhante... – Por quê?

– Eu tô com fome. Minha barriguinha tá doendo.

Me identifiquei automaticamente com o sofrimento dele. Teddy se sentou ao meu lado e abraçou uma almofada. Ele não parecia nem um pouco incomodado com a minha presença ali.

– Você é um dos irmãos da Ginny, né? – o menino inquiriu, me observando.

Eu meneei a cabeça em concordância.

– Como você soube? – indaguei, surpreso.

– Ela tem cabelo vermelho que nem você. E essas pintinhas aqui também.

Teddy apontou para o meu rosto, animado. Eu sorri. Ele era um garoto esperto.

– Essas pintinhas se chamam sardas.

– Sarnas? Isso não é aquele negócio de cachorro?

Não pude evitar uma gargalhada.

– Sardas – expliquei, repetindo – Com D de dado.

– Aaahhh – Teddy exclamou como se tivesse feito a maior descoberta da terra – Eu queria ter sardas. A mamãe tem algumas, mas acho que eu puxei ao papai. Ele não tem.

– Como é o nome do seu pai? – perguntei, interessado. Harry nunca havia comentado nada sobre ter um afilhado, muito menos sobre os pais da criança – Eu o conheço?

– Acho que sim. Papai me disse que ele é professor do Harry. O nome dele é Remo Lupin – o menino disse, balançando as perninhas soltas no ar.

     Agora tá explicado a tal da semelhança...

É bem possível que eu tenha arregalado os olhos, pois Teddy fez uma cara engraçada. Aquela era uma notícia totalmente inesperada para mim.

– Ele é um dos meus professores também – eu comentei, fingindo indiferença com a notícia – E meu orientador de projeto.

Teddy franziu o cenho, confuso.

– O que é um orientador de projeto? – ele me fitou, esperando um esclarecimento.

– Bom... – eu cocei o maxilar, pensando na melhor forma de explicar – Digamos que eu, ele e a minha parceira de projeto fazemos uma pesquisa juntos, pra poder entender e tentar resolver um problema que esteja acontecendo na cidade.

– Isso parece coisa de filme de super-herói – ele falou, com os olhinhos brilhando divertidos.

Eu sorri. Era uma forma interessante de se analisar a questão.

– É, parece mesmo – confirmei, tomando a liberdade de bagunçar um pouco os cabelos azulados do garoto, que riu.

Harry adentrou a sala logo depois, enxugando as mãos num pano de prato.

– Ei, garotão – Teddy levantou do sofá rapidamente e pulou no colo de Harry, que o segurou sem dificuldade – Achei que você não ia acordar mais hoje.

– Eu tô com fome – o menino se justificou.

Harry afagou o rosto do garoto amavelmente.

– Eu imaginei. Por isso... – ele colocou Teddy no chão – Tem um sanduíche de queijo com pepperoni e um copo de suco de manga te esperando em cima da mesa da cozinha.

Teddy sorriu abertamente e correu em direção à cozinha, sob o olhar supervisor do padrinho. Era engraçado ver Harry tomando conta de alguém daquela forma, principalmente porque parecia que ele gostava de exercer esse lado paternal. Um barulho de metal se chocando ecoou ao fundo, dispersando a minha observação. Logo em seguida ouvimos um grito, acompanhado de um pedido de desculpas.

– Qual a probabilidade dele destruir a cozinha enquanto come sozinho? – eu perguntei, espirituoso.

– Quase 100% – Harry respondeu, rindo, se jogando no assento onde o afilhado estava. Ele se virou na minha direção – Ah, o Lupin ligou. Ele pediu pra te avisar que hoje não vai ter reunião da pesquisa de vocês, porque ele vai acompanhar o Snape em uma consulta.

– E o Snape tem consciência disso? – eu questionei, curioso.

– Provavelmente não – ele assegurou a minha desconfiança – E se sabe, com certeza não concordou.

– Você foi à mansão depois daquele dia?

Eu estava me referindo ao dia que Harry encontrou Snape caído, desmaiado, no quarto dos pais dele. Desde este episódio nós quase não tínhamos mais aula de química. Uma vez por semana um assistente da coordenação passava na sala para fiscalizar o andamento das nossas atividades e tirar algumas das nossas dúvidas.

– Fui. Não sei porquê, mas eu fui. E ele não quis me receber.

– Você acha que é algo grave?

– Eu não sei. E de qualquer forma, não é da minha conta.

Eu não estava acreditando muito nessa indiferença de Harry em relação ao assunto. As reações dele desde o incidente não condiziam com o seu discurso apático. Entretanto, preferi não insistir na questão. Harry falaria quando estivesse se sentindo a vontade.

– Ah, eu tenho que deixar o Teddy lá no trabalho da mãe dele. Quer ir comigo? – ele mudou de assunto, me convidando para acompanha-lo.

– Pode ser... – eu concordei, dando de ombros.

– Certo... – Harry se levantou rapidamente – Eu só vou dar banho no Teddy e arrumar as coisas dele. Não demoro.

Ele foi atrás do afilhado e eu permaneci sentado, esperando. Menos de uma hora depois nós seguimos em direção ao trabalho da mãe do garoto. Harry estacionou em frente a um prédio executivo de grande porte e logo eu reconheci a empresa. Minha irmã estagiava naquele mesmo lugar. Mais uma vez eu não pude deixar de me pasmar com a imponência da SeMz naquela região. Parei a moto atrás do carro dele e o segui para dentro do prédio. Subimos alguns andares, até uma sala totalmente branca, e sem graça, que mais parecia uma mini recepção de hospital.

– Eu marquei de encontrar a mãe do Teddy na lanchonete – Harry falou, puxando o garoto mais para perto – Você se importa de me esperar por aqui?

– Não cara, pode ir – eu o tranquilizei – Você avisou a Ginny que a gente tá aqui?

– Avisei. Ela disse que vai descer daqui a pouco.

– Tá tranquilo. Eu espero.

Me despedi de Teddy e os dois seguiram pelo corredor, até um elevador que ficava mais ao fundo. Eu me sentei em um dos bancos acolchoados e comecei a folhear uma das revistas que estavam ao meu alcance. Li algumas reportagens sem muito interesse, até que joguei o exemplar de volta no mesmo lugar, entediado. Resolvi mandar uma mensagem pra Hermione, visando passar o tempo. Para a minha surpresa, ela me respondeu logo depois, me contando, feliz, sobre a confirmação final que havia recebido da universidade na Austrália, em relação ao curso de verão nas férias.

Mantivemos um diálogo descontraído, até que os meus olhos se fixaram no final do corredor que o Harry havia entrado. Em frente ao elevador, uma figura conhecida conversava, concentrada, com um homem loiro, alto e que aparentava ter mais ou menos a minha idade. A cor do cabelo dela estava diferente, mas de uma coisa eu não tinha dúvida, aquela era a mulher que havia me abordado no Jabuticaba, alguns meses antes.

Pus o meu celular no bolso, de qualquer forma, e comecei a andar na direção dela, apressado. A minha falta de discrição revelou a minha presença. A mulher me olhou, num misto medo e surpresa. Ela segurou o homem, que estava um pouco desconcertado com a situação, e entrou no elevador, apertando o botão logo em seguida, enquanto eu avançava. Não consegui alcança-los a tempo. Quase esmurrei a parede, frustrado.

Respirei fundo, tentando imaginar para qual andar ela teria ido, porém fui interrompido por uma mão no meu ombro. Me sobressaltei, me virando rapidamente. Angelina deu alguns passos para trás, receosa. Relaxei meu semblante.

– Ah, oi Angel... – eu falei, engolindo a seco.

– Oi, Ron... – ela me cumprimentou de volta – Tá tudo bem?

– Tá sim.

– Então porque você tá parado na frente do elevador do administrativo com essa cara de assustado?

     Droga.

– Na verdade eu tava procurando o banheiro – me adiantei em responder, tentando disfarçar o meu nervosismo.

Angelina me analisou da cabeça aos pés. Ela não parecia muito convencida com a minha desculpa.

– O banheiro fica pra lá – Angel apontou na direção oposta – Vem, eu te acompanho.

Ela me guiou pelo corredor, em silêncio. Entrei no banheiro e demorei um tempo, para disfarçar. Quando saí, Angelina não estava mais sozinha. Ginny e Miguel a acompanhava. Ambos sorriram pra mim assim que me viram. Nós seguimos de volta para recepção, conversando animados.

– Nada disso, lindo. Você vem com a gente sim! – Miguel insistiu, me segurando pelo braço, ao mesmo tempo em que seguíamos para a área dos laboratórios – Nunca que eu iria deixar você sair daqui sem conhecer melhor a nossa empresa...

– Por que esse interesse todo no passeio pela SeMz com o Ron, Miguel? – Ginny indagou, divertida.

– Vai que ele se apaixona pela empresa e resolve ficar? – ele disse, convencido da sua teoria – Sem a Mione por perto fica mais fácil um retorno ao meu investimento pesado.

Todo mundo riu da brincadeira, enquanto as alas mais frequentadas por eles me eram apresentadas. Algum tempo depois, Harry se juntou a nós, sozinho. Assim que o tour pela SeMz terminou, Angel e Miguel se adiantaram, pois eles tinham algumas atividades para resolver na universidade. Eu fui convidado pela minha irmã e pelo meu amigo para almoçar em um restaurante pequeno, que ficava ali por perto.

– Ih, nem vai dar – eu neguei o convite – Eu marquei de me encontrar com a Mione daqui a pouco.

– Chama ela pra almoçar com a gente – Harry falou, resolvendo a questão.

– É mesmo! – Ginny exclamou, animada – Nunca mais nós quatro saímos pra nos divertir um pouco.

– Eu sei, Gin. E até chamaria, se a gente não tivesse combinado de se vê lá na faculdade – a minha irmã fez um muxoxo, descontente – O Lupin não vai tá presente hoje, mas eu queria que Hermione desse uma olhada no meu relatório do mês. Tem umas coisas meio estranhas que eu acho importante a gente analisar com mais cuidado.

– Então tudo bem. A gente marca alguma coisa pra o fim de semana – Harry disse, puxando Ginny pela mão.

Nós nos despedimos logo depois. Eu subi na moto e eles entraram no carro. Partimos para rumos opostos. Quando eu cheguei à universidade, Mione já me esperava. Trocamos um selinho demorado antes de seguirmos até uma das salas vazias.

– Eu passei no chinês antes de vir pra cá – ela levantou a sacola plástica. Um cheiro bom emanou pelo cômodo quando ela abriu um dos recipientes, cuidadosa, e o empurrou levemente na minha direção – Aqui, pra você. Com uma porção extra de rolinhos-primavera.

– Eu já disse que você é maravilhosa? – falei, segurando-a pela cintura e aproximando-a ao meu corpo.

– Já... – Hermione colocou os braços ao redor do meu pescoço – Mas pode continuar falando. Eu não me canso de ouvir.

Almoçamos sem pressa, conversando sobre algumas trivialidades. Assim que terminamos, Mione reuniu tudo o que havíamos sujado, para jogar no lixo, e eu puxei a minha mochila da cadeira ao lado, retirando de dentro o plano de custos, que eu havia recebido há pouco mais de um mês, e o relatório que eu tinha feito a partir das informações do documento que Lupin me dera. No momento que ela sentou do meu lado, limpando as mãos no guardanapo, eu entreguei o classificador com o meu trabalho dentro. Mione leu por vários minutos, concentrada em algumas partes específicas.

– O que você achou de tudo isso? – ela me perguntou, apoiando os papeis no colo.

– Você quer a versão educada ou a versão realista? – rebati, sorrindo de canto, desanimado.

Ela rolou os olhos, divertida.

– Eu quero a sua versão.

– Eu acho que a gente tá se fodendo legal e a toa. Não tem nada que nos interesse nesse documento. Perdi dois finais de semana sem motivo.

– O pior é que eu acho que eu também – Hermione lamentou, se acomodando no encosto da cadeira – As amostras não deram em nada.

– Mas você conseguiu dissociar? – indaguei, confuso.

Até onde eu tinha conhecimento, as primeiras análises estavam paradas por falta de mecanismos.  

– Eu mudei a técnica da análise. Conversei com a sua irmã e ela me mostrou um caminho mais fácil. E o melhor, sem precisar do uso do espectrômetro de massas – Mione se adiantou, entendendo o meu questionamento interno – E de qualquer modo, parece que a universidade recebeu equipamentos novos esse mês. Eu implorei a Minerva semana retrasada e ela liberou meu acesso a um catalisador.

– E ainda sim nada?

– Nada além de uma mudança no ph. A questão é que eu não sei se isso chega a ser uma informação relevante, sabe? Eu até levantei uma pesquisa sobre, mas as opções são muito estranhas pra eu leva-las a em consideração.

– Resumindo: permanecemos na mesma – bufei, frustrado.

– Sim... – ela concordou, pondo o classificador em cima da mesa e se aproximando de mim – E o pior é que já estamos na metade de outubro. O prazo de seis meses tá acabando.

– Fora que precisamos dos resultados pra usar no trabalho de Snape... – comentei pensativo, passando o braço por trás do pescoço dela.

– Ai meu Deus! – Hermione pôs a mão no rosto, apreensiva – Eu estava quase me esquecendo disso!

Eu entendia a preocupação dela. Agora exatamente um mês para a apresentação de química e nós não tínhamos nem metade do estudo dirigido pronto, por causa dessa pausa na pesquisa.

– Por falar em Snape, alguma notícia? – Mione perguntou, olhando na minha direção.

– Olha, só perguntando ao Lupin, porque o Harry disse que não sabe de mais nada.

– Eu também não acho que o Remo vá nos dizer alguma coisa. Essa família é toda complicada. Parece que falar não é bem o forte de ninguém, né?

Eu sorri anasalado.

– O Harry diz que não se importa, mas eu sei que ele tá preocupado – brinquei com uma mecha de cabelo dela enquanto falava – Dá pra ver nos olhos dele.

– Eu nunca vou entender a relação deles dois. Eu daria meu dedinho mindinho pra descobrir porque o eles se tratam dessa forma – ela cruzou as pernas, se aconchegando no meu ombro – E não me diga que é por causa do problema com os pais do Harry.

– Eu também acho que não – concordei, – Pelo que eu entendi da história, Snape sabia o mesmo tanto que o Lupin sobre acontecimento.

– Pois é... – Hermione afirmou outra vez, convicta – Harry perdoou o Remo numa boa, mas trata o Snape com desprezo. Tá vendo que isso não tem lógica nenhuma.

Uma coisa estalou na minha mente.

– Quer saber de outra coisa que não tem lógica? – eu perguntei, de súbito.

Hermione franziu a testa, sem entender.

– Sabe aquela mulher que me ajudou no rio? – ela confirmou com cabeça – Eu a vi, hoje, no trabalho da Ginny.

Mione abriu a boca lentamente, um pouco pasmada.

– O que ela estava fazendo lá?

– Não sei. Não consegui falar com ela.

– Você tem certeza que era a mesma pessoa?

– Bom, tinha uma cor de cabelo diferente, meio arroxeado, mas era ela sim – insisti, veemente – Ela estava conversando com um cara loiro, de terno. Parecia um executivo ou advogado, não sei.

– Cara loiro?

– Sim...

– Como ele era?

– Mais ou menos da minha altura, mesmo porte, rosto magro. Não dava pra ver com muito detalhe, eu estava um pouco longe.

– Hm... e ele te viu?

– Sim. Os dois me viram.

Nesse momento, Hermione se afastou de mim sem jeito, como se tivesse levado um choque. Eu a encarei, um pouco assustado.

– O que foi? – um lampejo de desconfiança acendeu na minha cabeça.

Ela ajeitou a blusa no corpo, recuperando a altivez.

– Nada, ué – Mione respondeu rapidamente, voltando a se recostar no meu ombro.

– Nada?! – franzi o cenho, cético – Você praticamente pula da cadeira e não foi nada?

 – É que por um momento eu achei que conhecia a pessoa da sua descrição – a elucidação saiu calma, nada concordante com a primeira reação dela – Mas não pode ser, tem quase dois anos que eu não o vejo por aqui.

– Tem certeza que é só isso? – reiterei, ainda intrigado.

– Claro que sim, Ronald – Mione entesou na resposta, visivelmente ofendida com a minha insistência – Eu nasci aqui. Conheço muito mais gente nessa cidade que você.

Aproveitei o momento, e a declaração, para tirar outras dúvidas.

– E você, por acaso, sabia que o Lupin tem um filho? – cruzei os braços, inquisitivo.

– Sim... – arqueei a sobrancelha, sustentando a minha postura. Ela me fitou, na defensiva – Mas não me olha de cara feia. Eu descobri isso no dia daquela confusão lá na mansão.

– Pra quem não gosta de segredos, você não acha que tá escondendo muita coisa não?

– Que muita coisa, Ron?! Larga de besteira! Não é como se fosse o maior mistério do mundo o fato do Remo ter um filho...

– E esse seu amiguinho loiro aí? Pra quem tá sumido há dois anos, você se lembrou dele muito rápido. Vai ver ele nem era só amiguinho, né?

Ela jogou a cabeça para trás e riu com vontade.

– Ei, larga de ser bobo... – Mione levantou da cadeira onde estava e sentou no meu colo – Ele nem mesmo meu amigo era, de fato.

– Não parece... – continuei de cara fechada.

     Você é um imbecil ciumento, Ronald.

– Não tem nem um pingo de sentido nesse sua insegurança... – ela puxou a minha mão, entanto descruzar os meus braços – Caso você tenha esquecido, antes da gente ficar junto, eu namorei durante quatro anos. E eu não tenho o costume de trair as pessoas com quem namoro, se isso te deixa mais tranquilo.

– Bastante – assumi, sem nenhuma vergonha.

Hermione beijou o meu pescoço, provocativa.

– Então... – ela continuou a trilha de beijos até o lóbulo da minha orelha – Deixa isso pra lá. Foram só algumas lembranças nada importantes.

– Só isso? – desci minhas mãos até o seu quadril, apertando-os de leve.

– Só isso – Mione formou um x com os dedos indicadores e beijou de cada lado, jurando – Mais nada.

Não pude deixar de sorrir com a promessa. Ela balançou a cabeça, brincalhona, e puxou meu rosto para um beijo bem disposto.

No final da tarde eu acompanhei Hermione até a aula dela, como já era de costume, e trilhei o meu caminho em direção ao estacionamento dos fundos, distraído. Cruzei o corredor principal do prédio de biologia e segui em direção à entrada entre os pavilhões, atrás da cantina. Assim que eu cheguei ao pátio, encontrei Angelina parada no balcão da lanchonete, conversando alguma coisa com Greg. Acenei para ela e mantive os meus passos, até que ela fez sinal com a mão, pedindo que eu a esperasse. Recostei-me a uma arvore, aguardando Angel vir até onde eu estava.

– Hey, Weasley! – ela me saudou, sorrindo.

– Hey, Johnson! – eu repliquei a forma de cumprimento.

Angelina me abraçou e eu dei um beijo na bochecha dela.

– Indo pra casa? – perguntei, enquanto andávamos até a moto – Quer carona?

– Na verdade eu não parei você por causa disso, embora eu esteja interessada na carona – ela falou e eu franzi a testa, curioso.

Angel encostou-se ao assento da motocicleta, virada para mim, e colocou o capacete que normalmente era usado por Hermione no colo. Ela mexeu no visor displicentemente, ao mesmo tempo em que eu a observava, esperando que ela dissesse o real motivo de ter me abordado.

– Eu sei quem é a mulher que você foi atrás hoje, um pouco antes d’eu te encontrar, na SeMz – Angelina me fitou, colocando o capacete de lado e cruzando as pernas.

– Mulher? – me fiz de desentendido – Que mulher?

Ela levantou uma das sobrancelhas, descrente.

– Não queira enganar a enganadora, Ron. Se existe uma coisa que eu sei fazer bem é ser dissimulada. Vivemos em uma cidade de lobos. Saber fingir aqui é uma questão de defesa pessoal – Angel virou a cabeça para o lado, sorrindo de canto – Eu vi quando você correu na direção dela e ela fugiu, entrando no elevador. Acho que ela não gostou muito de ter te visto, sabe?

Ela não parecia chateada com a minha enrolação, pelo contrário, estava bem animada.

– Bom, o ponto é que... – Angelina apontou para mim, balançando o indicador de um lado para o outro insistentemente – Toda essa reação, a sua e a dela, me deixou bem intrigada.

– Digamos que eu tenha algumas questões pra resolver com ela sim. Há uns meses atrás nós nos encontramos e ela me ajudou com uns probleminhas na minha pesquisa – afirmei, abandonando de vez o teatro mal feito. Encaixei as minhas mãos nos bolsos da calça, na defensiva – O que eu não estou entendendo, Angel, é onde você se encaixaria nisso tudo.

– E se eu te dissesse que a winx de cabelo roxo é a minha supervisora? E se, além disso, eu também te contasse que desde que ela entrou no meu departamento, algumas coisas estranhas vem acontecendo e ninguém... – o olhar maroto que eu recebi indicava que Angel estava se divertindo com a situação – Exatamente ninguém, leva a sério os meus questionamentos sobre isso?

– E você, lógico, quer descobrir o que tá acontecendo... – comentei e ela sorriu, concordando.

Pelo visto nós tínhamos o mesmo pensamento.

 – Essa informação muda a sua perspectiva?

     Bastante.

– Talvez...

Tentei manter a minha compostura, mas por dentro eu estava pura agitação.

– Pois bem, como eu imaginei... – Angel abriu um sorriso empolgado e bateu algumas palminhas – Sendo assim, melhor irmos andando. Temos muito o que discutir...

Ela descruzou as pernas, erguendo o corpo esguio, e abriu espaço, indicando que eu subisse na moto. Não pude deixar de rir da desenvoltura da mulher. Ali, na minha frente, eu tinha a cena mais viva da Angel sendo ela mesma. Subi na moto e Angelina fez o mesmo, logo atrás de mim. Eu segui com ela até um restaurante que ela indicara, o mesmo que eu costumava jantar com o Harry e Hermione quando saímos tarde demais da faculdade.

Eu estacionei e desci da motocicleta, logo depois da Angel. Ela estava se preparando para pôr o capacete quando me pus ao seu lado, e virei o pescoço para encara-la, interrogativo.

– Tem certeza que você quer mesmo se envolver nessa história? – perguntei, curioso, enquanto ela guardava o objeto no case – Porque até eu já tô arrependido de ter arranjado esse problema pra mim. Não sei se seria uma boa ideia você fazer o mesmo.

– Não é bem a questão de entrar nesse problema ou não...

– Então o que é?

Angelina suspirou, umedecendo os lábios logo em seguida.

– Eu odeio aquele lugar... – sua resposta saiu um pouco tímida. Acho que pela primeira vez eu a via constrangida com alguma coisa – Odeio aquela empresa, aquelas pessoas estranhas, aquele ambiente. Eu odeio isso aqui também, pra ser sincera...

Ela ergueu os braços, indicando que estava falando da cidade. Angel continuou sua fala. Suas palavras soavam ao meu ouvido como se fosse um desabafo.

– Eu faço tudo isso e sigo em frente porque preciso. Porque o meu pai se sente orgulhoso com essa conquista. Eu perdi minha mãe muito cedo, Ron. Eu sou a única referencia que ele tem em casa e longe de mim querer decepciona-lo. E eu me dedico à universidade e ao estágio porque se eu me propus a levar a diante, eu quero que seja tudo muito bem feito. Só que no fundo não era nada disso o que eu realmente queria pra mim.

– E o que você queria pra você?

– De verdade? – ela balançou os ombros, sorrindo sonhadora, enquanto mirava o céu – Eu queria uma vida longe de tudo isso aqui, essas grades invisíveis de obrigações. Eu queria liberdade, poder lidar com o público. É disso que eu realmente gosto, desse contato humano, desse calor. Se você soubesse o quanto eu odeio ficar confinada dentro de um laboratório...

– Eu sei. Eu também não suporto. Esse foi um dos motivos d’eu ter demorado a escolher uma área para seguir – eu assenti, compreensivo. Passei a mão pelos ombros dela, indulgente – Eu acho que independentemente do que o seu pai te diga, ou qualquer outra pessoa, você deveria fazer o que o seu coração mandar. Seu pai é a sua família e com toda certeza ele te ama. A sua escolha será a escolha dele. O que importa aqui é você fazer o que acha certo.

– Eu tô tentando, né? Por isso que eu te procurei... – Angel deu de ombros. Trocamos um olhar, cúmplices – Talvez ter a certeza da existência de um podre bem feio na SeMz faça o papai enxergar que nem sempre essas grandes corporações famosas sejam o melhor caminho certo pra se escolher.

Meneei a cabeça, concordando. Dei um beijo condescendente em sua testa e ela sorriu.

– Bom, agora é melhor a gente entrar logo nesse restaurante – eu falei, me afastando. Angelina acompanhou os meus passos – Eu quero mesmo saber se essas suas informações são realmente importantes ou se você me arrastou até aqui só pra ganhar um jantar de graça.

– Ah, querido... – empurrei a porta de vidro e Angel passou por mim, entrando no estabelecimento – Em relação a isso você pode ficar tranquilo. Você sabe muito bem que eu não costumo decepcionar ninguém.

Não refreei uma gargalhada com a afirmação de duplo sentido. Eu esperava mesmo que toda essa confiança me fosse útil para descobrir a verdade sobre aquele maldito rio.

Era desse tipo de certeza que eu estava precisando.


Notas Finais


Então, meus amores. O que vocês acharam do capítulo?
Deixem aqui embaixo os lindos comentários de vocês !

Beijos, até ano que vem, haha. Nos vemos dia 14!


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