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História A Troca - O Acidente


Escrita por: MrsRidgeway

Notas do Autor


Oie gente!

Como sempre, um milhão de desculpas. Trabalho e faculdade me matando. Quero muito que dessa semana em diante as coisas fluam com menos dificuldade. Espero que vocês gostem do capítulo. Comece a segurar esse coraçãozinho...

Agora vamos ao que interessa!

Capítulo 29 - O Acidente


— Isso tá marcado pra quando? – Harry perguntou, enxugando o suor da testa.

— Não sei... – respondi, após beber um gole generoso de água – A Angel me disse que as amostras que a gente tem não servem mais pra fazer análise. Temos que pegar outra.

Harry e eu estávamos apoiados em um dos aparelhos de musculação, aproveitando a pausa dos exercícios.

— E em relação à dificuldade da dissociação?

— Acho que ela consegue se virar... – falei, encarando o teto – Pelo que eu entendi, parece que ela ia dar um jeito de fazer isso lá no laboratório da SeMz, que tem mais equipamento.

— Não seria muito suspeito? – Harry voltou a sentar no banco do supino – Sei lá, a Angelina não trabalha sozinha naquele laboratório. Alguém pode entrar e ver. O plano iria todo por água abaixo...

— É, eu sei... Também pensei nisso. Ainda mais depois que ela me disse pra não contar nada a Ginny.

Harry franziu a sobrancelha, surpreso.

— Por que não? – ele questionou, com um pouco de dificuldade na fala.

— Segundo a Angel, a Ginny é uma quase contratada da empresa – expliquei, repetindo as palavras de Angelina, ao mesmo tempo que o ajudava com o peso – Ela não quer que a minha irmã se envolva e se prejudique. A Ginny leva muito a sério o estágio dela.

— É, ela leva mesmo... – Harry concordou, balançando a cabeça.

Trocamos de lugar.

— Isso foi o que a minha irmã sempre quis fazer na vida. Eu ia me sentir péssimo caso desse alguma merda e ela estivesse no meio.

— Bom, nesse caso, eu acho que é melhor não contar nada a Mione também...

Dessa vez fui eu que franzi o cenho.

— Porque não?

— Pelos mesmos motivos.

— Não sei não, Harry... – retruquei, ofegante, levantando do banco – Esse não é bem o tipo de coisa que eu acho que seja bom de esconder da Mione. Até porque ela também faz parte do projeto.

— Eu sei que não, conheço a Hermione muito bem... – ele argumentou, enquanto nós andávamos em direção ao leg press – Ela vai ficar uma fera quando descobrir que a gente escondeu isso, mas vai ficar pior ainda se for expulsa da universidade.

Eu não tinha pensado nessa possibilidade.

— Se for o Lúcio Malfoy mesmo o envolvido nesse esquema – Harry continuou – Caso ele descubra todo o plano, antes de termos provas conclusivas, ele pode dar um jeito de sumir com a culpa e nos prejudicar.

— Como você sabe disso? – indaguei, curioso.

— Digamos que eu conheça a família – ele deu de ombros – Eu sei do que eles podem ser capazes de fazer.

Consenti, de contragosto. Ainda não estava totalmente à vontade com a ideia de não contar a Hermione sobre a participação de Angel na nossa atividade, muito menos em esconder o que estávamos pretendendo fazer. Alguma coisa me dizia que isso não iria dar certo.

— E aí, gente?

Uma terceira presença, me cumprimentando, me despertou dos meus pensamentos. Olhei para o lado e dei de cara com Neville. Harry soltou uma gargalhada automaticamente, assim que o viu.

— O que aconteceu? – Harry perguntou, ainda rindo – Perdeu o caminho da estufa?

— Vai se foder, Harry – Neville respondeu, divertido, tentando acertar o amigo com um soco.

— Esse é a única explicação pra você tá aqui.

— Você que acha, Potter...

Nós demos risada novamente.

— Mas qual foi dessa cara de vocês? – Neville perguntou, apontando de mim para Harry.

— Trabalho de Snape, cara – Harry coçou o queixo, alterando a real explicação do nosso desconforto – A data de entrega tá chegando e nada da gente conseguir resolver.

Neville fez uma cara feia.

— O que tá dificultando – ele indagou, enquanto mexia rapidamente no fone de ouvido.

— Falta de material na universidade – eu disse, me colocando ao seu lado – Não tem equipamento mais completo pra fazer alguns processos químicos.

— É, isso fode. Sei bem como é – Neville concordou, soltando um suspiro breve – Lá no departamento de Biologia é a mesma coisa. Chegaram até uns materiais novos, mas por alguma razão a McGonagall não quer liberar pra uso.

— Que estranho... – Harry comentou – Você tem alguma desconfiança do motivo dela estar fazendo isso?

— Olha, um dia desses aí, eu, sem querer, escutei a Minerva brigando com o Slughorn – Neville contou, falando um pouco mais baixo. Haviam outros alunos da universidade na academia – Ela tava falando alguma coisa sobre os equipamentos não serem dignos de uso.

— Por que não seriam? – questionei, sem entender.

— Não faço a mínima ideia.

     Suspeito...

A mesa flexora vagou e Harry correu para ocupar o espaço, antes que alguém passasse na frente dele, e nos deixou. Neville subiu na esteira e eu o imitei.

— Mas não tem nada que vocês possam fazer pra adiantar a atividade? – ele voltou ao assunto, aumentando a velocidade do aparelho – Nenhum outro processo mais simples?

— A Mione tem feito algumas coisas – eu disse, começando a andar também – Mas não tem ido muito pra frente não...

— Que coisas?

— Ela catalisou na semana passada – respondi – Só houve uma mudança de ph, sem muita explicação.

— Às vezes isso acontece – Neville sacodiu a cabeça levemente, acompanhando o ritmo da corrida – Se fosse uma análise biológica eu até arriscaria um palpite, mas sendo química, não acho que se aplique.

— Que palpite? – não me custava nada perguntar.

— Nada de excepcional – ele puxou o ar antes de continuar – É que em biologia a gente aprende que, às vezes, transformações biológicas são usadas para incitar transformações químicas. Isso pode afetar diretamente o ph da reação.

     Por que isso não parece estranho pra você, Ronald?

Eu me lembrei do relatório que eu havia feito. Alguma coisa despertou na minha mente.

— Que tipo de transformações biológicas? – inquiri, interessado.

— Existem diversas... – seja específico, por favor — Desde o uso de bactérias anaeróbicas até a aplicação de colônias de fungos.

— Esse processo pode ser feito com algas, por exemplo?

— Sim. Algumas bactérias presentes em alguns tipos de algas tem essa capacidade. Por quê?

— Nada não... – dei de ombros, fingindo falta de relevância – Vi alguma coisa do tipo no NatGeo, um dia desses.

Neville riu e voltou a se concentrar na sua corrida. Eu fiz o mesmo, depois de anotar mentalmente a necessidade de reler o relatório assim que eu chegasse em casa.

Na sexta-feira, como o combinado, logo cedo eu já estava no leito do Jabuticaba, coletando as amostras que a Angel havia pedido. Depois de muito convencimento, eu havia dito a Hermione que estaria com o Harry durante o dia e que só poderia encontrar com ela no período da noite. Estacionei a moto próxima a uma das árvores e recolhi alguns tubos de ensaio vazios da minha caixa térmica. Andei até a margem e me abaixei, dando inicio a coleta. Peguei duas amostras do solo, uma amostra mineral e uma da água. Enquanto recolhia essa última, lembrei do que Neville havia me dito e me veio uma ideia a cabeça.

     E se...

Era uma possibilidade. Algo me dizia que aquele era o caminho certo. Dobrei mais um pouco a barra da minha calça jeans e avancei mais alguns metros na água. Vasculhei o local com um pouco mais de zelo e logo encontrei o que eu estava procurando. Um grupo filamentoso de algas azuis-esverdeadas descansava sobre as pedras, como parasitas em um novo habitat. Era o mesmo tipo de alga presente no relatório de custos da SeMz. Lá elas constavam como importação biológica utilitária para tratamento de resíduos. Eu só não imaginava que o tratamento que elas faziam seria esse. Coletei uma amostra do filamento e retornei a motocicleta.

Cheguei à casa de Angel um pouco depois do almoço. Um senhor alto e grisalho, com a pele mais escura que a de Angelina, me recebeu com uma cara não muito amigável. Ele me convidou para entrar e se retirou logo em seguida. Fiquei sozinho na sala, esperando. Angel apareceu alguns minutos depois, de cabelos molhados e com o cheiro de colônia recém-passada. Nos cumprimentamos rapidamente, com dois beijos na bochecha. Ela fez sinal para que eu a acompanhasse até o seu quarto.

— Não tem problema eu entrar aqui? – perguntei, receoso – O seu pai não fez uma cara muito boa quando me recebeu.

— Ele não faz cara boa pra ninguém – ela comentou, suspirando logo em seguida – E de qualquer forma, nós brigamos agora a pouco.

Não quis ser indelicado, mas a minha curiosidade falou mais alto.

— Por quê?

— O de sempre – ela deu de ombros, afofando o travesseiro na cabeceira da cama e se sentando em seguida – Expectativas e prioridades.

Entendi que Angelina estava falando sobre o assunto que nós havíamos conversado na semana anterior. Escolhi não insistir.

— Enfim... – ela se recostou – Coletou as amostras?

— Sim... – respondi, me colocando ao lado dela – Eu queria falar com você sobre uma coisa...

— O quê? – ela me encarou, interessada.

— Algas... – Angel franziu a testa, confusa – Quer dizer, pelo que eu entendi, ciano bactérias unicelulares e filamentosas.

Angelina estendeu as mãos e encolheu os ombros, ainda mais desconcertada. Eu ri.

— Anteontem eu estava conversando com o Neville e ele me disse algo como usar elementos biológicos pra mudar o ph de algo químico – expliquei, e Angel levantou as sobrancelhas, surpresa, e meneou a cabeça confirmando.

Pelo visto eu estava indo pelo caminho certo.

 – Nisso eu fiz algumas pesquisas e reparei que na planilha que Lupin me passou tinha algo muito suspeito e parecido com isso... – continuei, mexendo rapidamente nas minhas coisas – Hoje eu encontrei isso aqui na margem do rio.

Estendi o tubo de ensaio na direção dela. Angel sorriu, divertida.

— Bom, Ron... – ela recolheu a amostra – Muito bom...

— Se você diz... – eu falei, rindo da reação dela.

— Isso é ótimo – Angel confirmou, empolgada – Agora nós temos um ponto de partida. Eu vou te confessar que eu não fazia a mínima ideia de por onde começar.

— Tá, e como vamos começar?

— Eu vou diluir a amostra com ácido e decantar por alguns dias.  Com o resultado da decantação eu vou aplicar algumas substâncias ativadoras e depois a gente aplica um indicador na solução.

— Não entendi porra nenhuma – confessei, perdido.

Angel riu.

— O que você tem que saber é que se tudo der certo, ele vai mostrar se a substância é a mesma das algas.

— Isso sim é ótimo – apontei para ela, divertido – Menina inteligente...

Com tudo praticamente resolvido, me despedi de Angel, que se preparava para ir a SeMz segui para a casa de Hermione. Cheguei à guarita do condomínio e fiz sinal para o segurança, que não demorou em autorizar a minha passagem. Assim que atravessei o portão, um carro preto passou por mim, bem lentamente. Embora eu soubesse que o local possuía limite de velocidade, não pude deixar de estranhar a ação do motorista. Fora que, alguma coisa estava me dizendo que eu já tinha visto aquele automóvel antes, em algum lugar.

Não me ative muito ao episódio e me adiantei até o fim do condomínio. Estacionei no mesmo lugar de sempre e desci da moto, apertando a campainha logo em seguida. Mione não se demorou a atender. Quando ela abriu a porta, levou alguns segundos com os olhos focados em mim, mas era como se não estivesse me vendo. A cumprimentei, duvidoso, e Hermione respondeu, sorrindo automática. Trocamos um beijo enquanto eu avançava para o interior da residência.

— Como foi com o Harry? – ela perguntou displicentemente – Tudo certo?

Me joguei no sofá, disfarçando a encenação que eu teria que fazer em seguida.

— Ah... com o Harry...? Sim, foi sim – deixei a mochila de lado – Eu o deixei lá em casa agora, por sinal. Acho que hoje ele enfim conversa com a Ginny.

— Tomara que sim... – ela se sentou ao meu lado – Eles não chegaram a brigar não, né?

Respondi que não, me lembrando da noite anterior e da cara feia do Harry na noite anterior, ao me falar sobre a Ginny estar andando com um tal de Draco, filho do dono da SeMz. Eu puxei Hermione mais para perto e nós trocamos alguns beijos antes de continuar com a conversa. Falamos sobre a nossa semana com mais calma, e, eu aproveitei, para sondar algumas coisas que estavam na minha cabeça.

— Você estava com visita hoje?

Hermione franziu a testa.

— Eu estava com o Neville mais cedo – ela respondeu, olhando para frente, desfocada.

— Tipo um pouco antes de eu chegar? – insisti no questionamento.

— Não... – Mione arregalou um pouco os olhos e se ajeitou ao meu lado – Eu nem estava em casa, na verdade. Tinha acabado de chegar do supermercado.

— Hum...

Preferi não insistir e balancei a cabeça, concordante. Vai ver era alguma ideia maluca da minha cabeça.

— Por falar em mercado, eu comprei alguns ingredientes pra você fazer uma coisinha...

Hermione sorriu pra mim, deixando bem claro que ela queria macarrão. Pouco tempo depois ela se levantou, para tomar banho e eu segui até a cozinha, para preparar o jantar. Passamos uma noite bem agradável e eu resolvi fazer uma coisa que já estava pensando há algumas semanas: a convidei para passar o natal n’A Toca. Não pude deixar de me surpreender quando ela aceitou.

— É sério? – acho que o meu sorriso estava de orelha a orelha com a notícia.

Mione confirmou com a cabeça.

— Sim... – ela ajeitou a gola da minha camisa – Mas só se você jurar que eu não vou atrapalhar nada.

— Você nunca atrapalha, amor...

A minha resposta automática só foi processada depois de proferida. Hermione me olhou, estática. Eu não fazia a mínima ideia do que estava circulando pela cabecinha dela, então passei a mão no rosto, um pouco encabulado. Aos poucos, um sorriso tímido foi surgindo no rosto dela. Mione pediu confirmação do que havia escutado e eu repeti, com o maior gosto do mundo. Ela me puxou para um beijo e eu retribuí tão urgente quanto ela. A debrucei sobre o sofá e me pus por cima, mordendo-a da ponta do seu queixo e descendo pela extensão do pescoço, até chegar ao bico do seu seio, por cima do sutiã.

— Ron... – Mione sussurrou – Nós estamos na sala...

Mordi de leve, mais uma vez, arrancando um gemido dela, enquanto abaixava uma das alças da peça.

— Se eu sair daqui, o máximo que vou conseguir me controlar é até a escada... – falei, retornando a sua boca.

Ela gargalhou antes que nos beijássemos novamente.

O nosso momento se estendeu para fora do sofá e nós terminamos suados e exaustos, mas inteiramente satisfeitos. Eu acabei pegando no sono logo depois, ali mesmo, no chão da sala. Em algum momento da noite Mione me cutucou algumas vezes, falando de algum celular que estava vibrando, mas eu estava com tanto sono que não prestei atenção direito. Hermione deve ter atendido, pois alguns minutos depois ela se deitou novamente ao meu lado e se aconchegou em mim, também se deixando embalar pela vontade de dormir.

Na manhã seguinte eu acordei um pouco mais cedo do que de costume. O sol raiava ainda baixo, refletindo sua luminosidade no vidro da janela, por trás da cortina branca. Para a minha surpresa, a minha namorada ainda dormia, encolhida nos meus braços. Me afastei devagar e acariciei o seu rosto, de leve, tomando cuidado para não desperta-la. Ela mexeu o nariz de forma engraçada, mas a sua respiração pesada permaneceu na mesma intensidade. Em um ato automático, peguei o celular em cima da mesinha para conferir as horas e vi que havia uma ligação perdida e uma mensagem não lida. As duas eram da Angel. Me afastei um pouco de Hermione e abri o aplicativo para ler o que ela escrevera.

Procedimento iniciado, lindinho.

Sou muito eficiente.

Espero vocês na quinta-feira , para analisarmos o resultado.

Beijos!

Comemorei mentalmente esse avanço. Eu não via a hora de contar a Mione o que nós estávamos fazendo. Só me restava esperar esse resultado e eu estaria livre desse segredo. Essa noticia me deixara bem feliz. Não só ela, como todo o momento que eu estava vivendo. Eu olhava para trás e era como se tudo aquilo que eu vivi na Inglaterra não passasse apenas de uma lembrança sem peso. Ruim, mas insignificante. Me levantei devagar e me dirigi a cozinha, visando preparar um café da manhã digno de um hotel.

Quando retornei a sala, algum tempo depois, Hermione já estava acordada. Eu me adiantei na sua direção, com a bandeja em minhas mãos e ela sorriu para mim, ainda enrolada nas cobertas.

— Bom dia, dorminhoca – falei, dando um beijo de leve nos seus lábios.

— Bom dia – Mione respondeu, se espreguiçando de leve – Tá acordado há muito tempo?

Pus a bandeja no chão, ao nosso lado.

— Não muito... – respondi – Mas o suficiente pra já ficar com fome.

Ela riu mais uma vez e se esticou para pegar uma torrada. Eu imitei sua ação. Comemos um pouco, em silêncio, embora eu pudesse reparar que Hermione me olhava de canto algumas vezes, com o semblante um pouco apreensivo. Apesar de não entender muito bem o motivo daquela reação, eu tentei quebrar um pouco aquele clima e iniciei uma conversa, sobre um assunto qualquer. Pareceu dar certo, pois ela me pareceu um pouco menos nervosa.

O dia se seguiu nesse mesmo ritmo, com a diferença de que a minha namorada estava um pouco mais agarrada a mim que o normal. Não que eu estivesse reclamando, longe disso, eu adorava essa proximidade, só que acabava não deixando de ser estranho. Era como se ela quisesse me dizer algo, mas não estivesse com coragem suficiente para fazê-lo. Pelo menos era o que eu estava sentindo com aquilo tudo. No fim da tarde, quando eu me despedi, senti a minha desconfiança um pouco mais forte.

— Você tem mesmo que ir agora? – estávamos abraçados à porta da casa dela – Você poderia ficar até amanhã, e aí a gente iria junto pra aula de ética.

— Por mim eu ficaria aqui eternamente, amor, mas eu tenho que resolver uns assuntos em casa – falei, sentindo dó da carinha triste que ela estava fazendo – E essa semana tem menos trabalho, vai dar pra gente se ver mais.

— Jura?

— Juro, Mione... – sorri, a apertando mais entre os meus braços – Relaxe, eu não vou fugir de você.

— Certeza?

A indagação não era retórica. Hermione estava séria, como se precisasse mesmo de uma confirmação.

— Certeza – sustentei minha palavra.

Ela sorriu de canto e balançou a cabeça. Trocamos um beijo demorado antes que eu partisse.

Na quinta-feira, como combinado, eu e Harry seguimos para um dos laboratórios desativados do fundo do pavilhão de química. Entramos na sala com o máximo de discrição possível. Angelina já nos esperava, entretida com um livro qualquer. Ela marcou a página e guardou o exemplar assim que percebeu a nossa presença.

— Vocês demoraram... – Angel reclamou, fazendo cara feia.

— A gente tava entregando os resumos da McGonagall – Harry respondeu, jogando suas coisas em um canto.

— Entreguei todas as minhas atividades na semana passada – Angel deu de ombros.

— Fico orgulhoso com a sua pontualidade – resmunguei, rolando os olhos. Apontei de mim para Harry – Desculpa se nós dois não somos alunos exemplares, como você.

— Um dia vocês conseguem, acredito – Angel rebateu, altiva.

Nós rimos. Ela andou até a última bancada, onde já havia arrumado todos os materiais.

— Sim, o que tem aí pra fazer? – Harry indagou, se aproximando da mesa.

— Bom, o material já decantou – Angelina disse, se apoiando na bancada – Eu roubei uns identificadores químicos, de acordo com o que o Ron me disse sobre as incitações biológicas. Espero que a opinião do Neville esteja correta. Só teremos essa chance.

Eu me pus ao lado dela.

— E se não estiver? – perguntei, um pouco preocupado.

Angel encarou a amostra antes de responder.

— Bom, esse processo é único e irreversível. Se estiver certo, beleza. Dá pra seguir a diante. Se não, a gente perde a amostra e eu não sei o que fazer.

Harry e eu nos olhamos, receosos. Estava claro só teríamos aquela chance. Angel nos observou e soltou uma gargalhada em seguida.

— Por que você tá rindo? – questionei, sem entender.

— Eu não sei – ela falou, tentando se controlar – Eu tenho acesso de risos quando estou nervosa.

— Você é louca, sabia?

Ela confirmou com a cabeça rapidamente.

— Estamos fodidos... – Harry comentou, pensativo.

Eu acabei rindo junto e ele me acompanhou.

Angelina começou a ditar as ordens e nós a acompanhamos, seguindo os passos que nos eram apresentados. Levou mais de uma hora até que toda a solução ficasse pronta, no ponto certo para ser inserido na decantação. O laboratório onde estávamos também não nos ajudava muito na agilização do processo. Os materiais eram velhos e inseguros. A todo tempo tínhamos que tomar cuidado para não por muita força em algum equipamento e quebra-lo, ou acabar derrubando alguma caixa velha das estantes empoeiradas.

— Quanto tempo mais? – perguntei, impaciente.

— Dez minutos – Harry respondeu, lendo algo no caderno.

— Entre quinze e vinte e cinco, para ser mais precisa – Angel interferiu, sentando-se no banco de madeira – Esse bico de Bunsen tá mais lento que o normal. Deve tá enferrujado.

— O que a gente faz nesse meio tempo?

Harry olhava para a chama azul, distraído.

— Nada – Angel disse – Espera apenas.

Eu aproveitei a oportunidade para perguntar algo.

— Quando a gente vai poder falar a verdade pra Mione e pra Ginny?

— Se sair tudo ok, hoje mesmo – ela respondeu, descontraída.

Respirei um pouco mais aliviado. Percebi que Harry também.

— Relações convencionais... – Angel rolou os olhos, fingindo tédio – Sempre cheias de cobranças...

— A culpa não é nossa se você não gosta de namorar – eu falei, me defendendo.

— Muito chato – ela fez cara feia – E complicado.

— Engraçado... – Harry se apoiou nos cotovelos, se virando na direção dela – Quando eu te conheci, você namorava. Como era o nome dele mesmo...?

Eu soltei uma risada alta quando Angel se virou na direção dele, subitamente raivosa.

— Nem me lembra dessa desgraça, Harry... – ela apontou na nossa direção, alarmada.

— Lembra sim! – eu disse, animado – Porque agora eu quero saber!

Harry começou a contar algumas histórias do passado de Angelina e eu escutei, interessado, somente para irritá-la. Angel desmentia metade das coisas que ele falava, o que gerava diversos risos entre nós. O tempo acabou passando rápido. Quando eu olhei para a bancada, o liquido no béquer apresentava coloração arroxeada.

— Angel... – chamei, olhando-a de canto, sem perder o interesse principal na amostra – Você disse que se o procedimento for verdadeiro, a composição iria ficar de que cor mesmo?

— Do roxo ao azul – ele respondeu, ainda entretida na sua discussão com Harry.

Eu encarei os dois, de sobrancelhas suspensas. Eles pararam de falar imediatamente e se voltaram para a mesa dos fundos. Harry arregalou os olhos e Angel prendeu a respiração momentaneamente. Num impulso, nós três levantamos rapidamente e corremos até lá. Angel usou a baqueta para misturar a solução. Ela fez um biquinho, nos deixando mais tensos.

— E então? – Harry perguntou, ansioso.

— Mais gostosa impossível... – Angel brincou, ainda misturando a solução – Tá perfeito isso aqui.

Passei a mão na cabeça, aliviado.

— Já podemos usar? – também mitigado.

— Até agora, se você quiser.

Angel desencaixou a solução do tripé, visando dividi-la nos tubos de ensaio. Durante o percurso, ela escorregou em um dos jornais velhos jogados no chão e perdeu o equilíbrio. Para evitar que ela e o béquer fossem ao chão, eu me precipitei entre o espaço mínimo que havia entre a bancada e a estante, visando apoia-la. Por sorte, consegui evitar a tragédia de perder a amostra, puxando-a para trás. A força que eu imprimi contra o móvel foi grande ao ponto de derrubar em cima de mim a caixa que estava em cima da estante, dessa vez me desequilibrando.

Um líquido avermelhado se espalhou pela minha pele, fluindo pela minha calça e minha camisa. Um cheiro forte se espalhou pelo laboratório e meus olhos arderam logo em seguida. Angel largou a amostra em cima da bancada e se abaixou na minha direção, preocupada. Percebi que Harry fizera o mesmo logo em seguida, mas ela o rechaçou, alarmada.

— Vai até lá! – a ouvi estalar os dedos, com urgência – Cobre o rosto com alguma coisa e abre essa porta, pelo amor de Deus!

Harry não contestou, apenas obedeceu rapidamente.

— Olha pra mim, Ron – ela ordenou, me segurando pelos ombros – Olha pra mim!

— Não consigo... – eu disse, lacrimejando – Isso arde.

Alguns segundos depois, Harry retornou até onde eu estava. Ele entregou algo a Angelina. Senti um pano úmido sob a pele do meu rosto. Deixei que ela limpasse o estrago. Aos poucos, a ardência foi diminuindo e eu pude abrir os olhos, contudo, agora eu me sentia estranhamente sonolento.

— Melhor ele tirar a camisa, não? – Harry indagou, solícito.

Angel meneou a cabeça, positiva. Eu puxei a camisa com um pouco de dificuldade, até retira-la por completo.

— Eu quero dormir... – falei, bocejando.

— É por causa do Éter – Angelina estendeu a toalha manchada de vermelho – Ele pode ser usado como anestésico algumas vezes.

— Isso explica muita coisa – eu disse, querendo fechar os olhos.

Eles riram.

— Não durma – ela ordenou, terminando o trabalho e se afastando – Daqui a pouco passa. Pra sua sorte, éter não é tóxico.

— Não diria que a sua camisa teve a mesma sorte – Harry comentou, analisando o pano e sorrindo de canto.

— Como eu vou pra casa? – eu perguntei, após outro bocejo – Não posso sair daqui com essa camisa desse jeito. Vai ficar muito na cara que a gente tava fazendo alguma coisa errada.

— Eu tenho outra no carro. Acho que dá em você – Harry me tranquilizou.

— Certo, então vai buscar logo, Potter – Angel ordenou, enquanto fazia algumas anotações – Eu não aguento mais ficar dentro desse laboratório horroroso.

Ele concordou e saiu da sala, levando minha camisa suja. O silencio reinou por alguns minutos, que parecera uma eternidade para mim. Minha vontade era deitar naquele chão e dormir até o dia seguinte.

— Mantenha a cabeça para cima, Weasley. Se você desmaiar, não vai ter ninguém grande o suficiente para te carregar daqui.

— Eu quero dormir...

— Você já disse isso – ela rebateu a minha justificativa – Vem cá que eu vou te entreter...

Angel fechou o caderno e se levantou da cadeira, me puxando para que eu me sentasse no banco de madeira, ao seu lado.

— Eu tenho medo quando você fala essas coisas – comentei, desconfiado.

— Não é todo dia que a gente encontra um ruivo musculoso e sem camisa, dentro de um laboratório abafado e escondido de todos – ela piscou um dos olhos, cutucando o meu peito despido.

Franzi a testa, assustado. Ela riu.

— Fique tranquilo, eu não vou te agarrar – ela se afastou em direção a pia dos fundos da sala – Existem outras formas de entretenimento.

— Tipo? – questionei, curioso.

— Tipo eu te dizer que o seu supercílio está sangrando, por causa do recipiente de vidro que quebrou em cima de você – ela respondeu, se aproximando novamente.

Angel apertou o pano molhado no lugar, sem muita delicadeza. Fiz uma careta de dor.

— Você seria uma péssima enfermeira, sabia? – provoquei.

— Por isso que eu faço Engenharia Química, não Enfermagem – ela replicou, fazendo bico – E cale a boca, antes que eu arranque o seu olho.

— Não tá mais aqui quem falou.

Ela rolou os olhos e voltou ao que estava fazendo.

— Ei, Angel...

— O que é Ron?

— Sua blusa também tá suja.

— Onde? – Angelina vasculhou a roupa – Não tô vendo.

— Aqui... – apontei na direção da gola da peça.

Ela abaixou o olhar para onde eu indicara.

— Haha, te peguei – falei, levantando o indicador pelo rosto dela.

Eu adorava enganar as pessoas com essa brincadeira, quando criança.

— Idiota! – ela me bateu com o pano molhado, num misto de irritação e divertimento – Ah, então você já tá bem?! Eu vou deixar você se virar sozinho!

Soltei uma gargalhada, deixando-a ainda mais encolerizada. Ela voltou a golpear com a toalha.

— Ai, isso dói, caralho! – reclamei, rindo, tentando segurar a sua mão.

— Você é muito imbecil! – para o meu azar ela era mais rápida.

— Você que é lerda – repliquei, o que só piorou minha situação.

Angelina agora ria como eu. Ela me empurrou de propósito e por defesa, eu me levante e a pressionei de leve contra a bancada, finalmente conseguindo contê-la. Acabamos ficando inconvenientemente próximos. Nosso riso foi cessado por uma voz decidida as nossas costas. Angel e eu nos afastamos, como se houvéssemos recebido uma descarga elétrica instantânea.

— Atrapalho?

Mione estava parada no batente da porta, nos olhando, de braços cruzados e sobrancelhas suspensas. Percebi que Ginny se encontrava atrás dela, visivelmente assustada. De todas as perguntas que pairavam na minha cabeça, a mais urgente era como elas tinham ido parar ali. Encarei Hermione e seu semblante indicava que algo não muito bom estava por vir. Meu coração começou a bater mais acelerado. Definitivamente, o anestésico do éter não estava mais fazendo efeito.


Notas Finais


Então, meus amores. O que vocês acharam do capítulo?
Deixem aqui embaixo os lindos comentários que eu amo muito ler!
Beijos, nos vemos na terça-feira!


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