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História A Troca - A Falha


Escrita por: MrsRidgeway

Notas do Autor


Oie gente!

Cheguei mais cedo, terça-feira não poderei postar por causa da faculdade. Espero que gostem do adiantamento. Como sempre, já peço que segurem o coraçãozinho.

Agora vamos ao que interessa!

Capítulo 30 - A Falha


– Você poderia ficar até amanhã, e aí a gente iria junto pra aula de ética.

Eu estava tentando convencer Ron a ficar na minha casa até o dia seguinte. Nós estávamos abraçados, ele na parte de baixo do degrau, com o capacete preso em uma das mãos e eu estava grudada nele, com os meus braços em volta do seu pescoço.

– Por mim eu ficaria aqui eternamente, amor, mas eu tenho que resolver uns assuntos em casa. E essa semana tem menos trabalho, vai dar pra gente se ver mais.

Ele estava certo, só que eu estava chateada. E, ainda que eu tentasse ao máximo esconder o que eu estava sentindo, a ligação de Angelina não saíra da minha mente durante todo o dia. Poderia ser sem motivos aparentes, mas só o que vinha na minha cabeça era que essa pressa toda dele em ir embora tinha algo a ver com isso. Como uma adolescente instável, acabei deixando escapar a minha insegurança, praticamente o obrigando a jurar que a gente se encontraria ao longo da semana.

– Relaxe, eu não vou fugir de você – Ron me apertou um pouco mais forte entre os seus braços, me confortando.

     Será mesmo?

Mais insegurança. Eu não estava muito boa com a minha autoconfiança naquele domingo.

– Certeza?

O ruivo mordeu o lábio inferior e semicerrou os olhos, como se estivesse se divertindo com a cena, mas não soubesse exatamente o porquê.

– Certeza – ele confirmou, me dando um beijo no maxilar.

Tentei relaxar um pouco com a garantia, porém, por dentro, não sosseguei nem um pouco. Nos beijamos por longos minutos antes que ele se afastasse, subisse na moto e seguisse para casa. Admirei o horizonte por mais alguns segundos, antes de retornar para o interior da minha residência.

Entrei em casa desanimada. Eu só queria tomar um banho, me jogar na cama e dormir até a semana seguinte. Por que raios eu estava daquela forma? Eu nunca havia me sentido daquele jeito quando se tratava de relacionamentos amorosos. Era como se um nó houvesse se formado no meu peito, um nó que se apertava cada vez que eu pensava na possibilidade de perder Ron de alguma forma.

Relutei em deixar que esse sentimento tomasse conta de mim. Fui até a cozinha e bebi um copo de água bem gelada. Arrumei um sanduiche rápido e subi para o meu quarto. Ultimamente, nada tinha maior capacidade de me entreter que a pesquisa de Lupin. A falta de respostas para as questões levantadas sobre a contaminação do rio andava ocupando bastante o pouco tempo que eu tinha livre. Mais uma vez, era nisso que eu iria fixar a minha noite e tirar essas ideias malucas que eu estava fomentando sobre Ronald e Angelina na minha cabeça.

A minha tentativa não deu muito certo. Não que eu não tivesse tirado o foco de antes da minha mente, mas agora eu estava super estressada por não conseguir de forma nenhuma entender o que havia acontecido na catalisação.

     Você mudou a técnica de análise pra nada, Hermione...

De fato. E isso me deixava ainda mais raivosa.  Um ódio mortal crescia dentro de mim todas as vezes que eu não conseguia resolver algum problema ou situação.

– Droga! – joguei os papeis em cima da escrivaninha com certa violência e me recostei na poltrona, jogando a cabeça para trás e encarando o teto. Num ato involuntário, comecei a bater a caneta na lateral da minha coxa, repetitivamente.

“Relaxe, temos tempo”, Ron diria displicentemente se me visse agir daquela forma, mesmo sabendo que faltavam menos de três semanas para a entrega do trabalho de Snape. Sorri por um tempo, me lembrando das suas expressões, mas fechei a cara logo em seguida, levemente irritada.

     Mas que droga, Hermione!

Pensa em outra coisa! Que não seja ruiva, de preferência.

Olhei para uns livros dispostos no canto da mesa, empilhados de maneira organizada. Um pedaço de desenho pintado com giz de cera, dentro da capa de um deles, chamou minha atenção. Puxei o papel e analisei a figura que Teddy havia feito para mim na manhã do dia seguinte que eu havia descoberto a verdade sobre os Potters. O filho de Lupin era um garoto muito educado, extremamente comunicativo, e, inquestionavelmente curioso. Exatamente como me parecera ser sua mãe, Nynfadora Tonks, a mulher do rio.

Sim, eu sabia. Desconfiei no momento que eu a vi, com sua cor de cabelo diferente e seu jeito descontraído de agir. Ron havia a descrito para mim perfeitamente, mesmo sem fazer a mínima ideia de quem ela realmente fosse. A confirmação viera quando o meu namorado citou o seu breve e desastrado encontro com ela e o cara loiro, no corredor da SeMz. As peças se ligaram e coisas ficaram bem óbvias dali em diante.

 

--- x ---

– Olá...

Abri os olhos e dei de cara com um garotinho apoiado na beirada da cama que me fora cedida. Suas mãos pequenas seguravam um recipiente infantil, fosco, cheio de algo que me pareceu ser achocolatado. O menino me olhava com certa curiosidade, um jeito maroto de quem estava prestes a aprontar alguma coisa, ainda que sua postura não desse nenhum indício sobre isto.

– Olá... – respondi, monossilábica, coçando um pouco os meus olhos.

Dei uma olhada ao redor, me situando no ambiente onde eu estava. O dia anterior tinha sido bastante conturbado. As coisas que Harry me dissera ainda ecoavam repetitivamente na minha cabeça. “Eles sabiam muito mais do que demonstravam, Hermione”. Como isso poderia ter alguma lógica? Bom, para ele havia bastante. Não sei por que motivo isso fora o bastante para me convencer também, mas no fundo algo me dizia que a busca do meu amigo não era em vão.

Sacodi a cabeça num gesto dispersor e me sentei na beirada do colchão, apertando levemente as têmporas.

– Você tá bem? – o garotinho me perguntou, me fitando com os seus olhinhos desconfiados. Sua preocupação inocente me fez sorrir anasalada.

– Tô sim, meu bem – respondi, tranquilizando-o – Só estou com um pouco de dor de cabeça...

– Quer que eu peça remédio a mamãe?

– Não precisa. Logo, logo eu fico bem.

Sorri amavelmente e ele correspondeu, se debruçando sobre o espaço ao meu lado.

– Você é amiga do Harry? – ele indagou, interessado.

– Sou – falei, reiterando com a cabeça – E você?

– Ele é meu padrinho! – o menino respondeu feliz, como se estivesse orgulhoso do título – Como é o seu nome?

– Hermione. E o seu?

– Teddy Lupin.

De fato as semelhanças eram indiscutíveis. Exceto por alguns detalhes, agora a luz do dia eu conseguia reparar que Teddy era a cara do pai. Acabava sendo estranho, mas o mesmo tempo engraçado, saber que Remo tinha um filho dessa idade.

– Ei, será que você poderia pegar aquela caixa ali em cima pra mim?

Me preparei para levantar e fazer o que o menino me pedira, mas refreei de súbito.

– Pra que você quer aquela caixa? – questionei, de sobrancelhas levemente suspensas.

As bochechas de Teddy coraram.

– Pra pegar o meu videogame... – ele parecia envergonhado com o motivo.

– Seu pai autorizou? – algo me dizia que a resposta era negativa.

– Não... – a sinceridade infantil às vezes me espantava – Ele disse que eu estou passando muito tempo com os joguinhos...

– Então por que você não tenta fazer outra coisa? – me inclinei um pouco na sua direção.

– Que outra coisa? – Teddy me observava atentamente, esperando uma sugestão interessante.

Boa pergunta. Olhei ao meu redor, procurando algo satisfatório para oferecê-lo. Percebi uma porção de lápis coloridos de diferentes tamanhos, alguns mais gastos do que outros, e alguns papéis em branco, dispostos em cima de uma mesinha, no canto do quarto.

– Desenhar, por exemplo...

Teddy soltou um muxoxo desanimado.

– O que foi? – perguntei, preocupada.

– Eu não sei desenhar... – ele disse, triste.

– Como não? Todo mundo sabe desenhar... – tentei anima-lo.

– Eu não... – Teddy insistiu – O Michael Smith, da turma do lado, vive tirando sarro de mim por isso. Ele disse que eu não sirvo nem pra fazer uma casinha.

Toquei o ombro do garoto, confortando-o.

– O Michael Smith é um bobo. Tenho certeza que os seus desenhos são lindos – Teddy sorriu com a minha frase, tímido – Por que você não me mostra?

– E se não ficar bom? – ele perguntou, duvidoso.

– Não tem problema, eu te ajudo...

Peguei Teddy pela mão e o guiei até a mesinha. Ele se sentou na cadeira e eu me ajoelhei ao seu lado, para ficar na mesma altura. Começamos a desenhar uma paisagem qualquer com os lápis de cera. Teddy ficava cada vez mais animado a cada dica que eu dava sobre as cores e os formatos das coisas. Não percebemos quando a porta atrás de nós se abriu.

– Ah, aqui está você, mocinho! Como você veio pra casa?! – a mulher de cabelo roxo apareceu dentro do quarto, carregando algumas sacolas de plástico nas mãos – Achei que tivesse te perdido dentro do supermercado de novo!

Eu ri, ainda que estivesse preocupada com esse comentário.

– Eu vim andando, mãe... Lá tava chato. E nem é tão longe – o garoto rolou os olhos, divertido.

– Não faça essa cara e nunca mais suma assim, Ted! Eu estava quase voltando lá pra te procurar! Seu pai me mataria caso eu perdesse você de novo! – ela ralhou com o menino, embora não parecesse nem um pouco chateada – Ah, oi... Hermione o seu nome, né? Bom dia.

Meneei a cabeça, confirmando.

– Bom dia... – a cumprimentei de volta, me preparando para levantar – Quer ajuda com as sacolas?

– A polidez diria pra eu negar, mas tem mais coisa no carro e eu não tô afim de carregar sozinha não...

Não pude refrear uma risada com o comentário espontâneo. Deixei Ted terminando o desenho e segui com a mãe dele para fora do quarto. Ela depositou as sacolas rapidamente na cozinha e logo em seguida fez sinal para que eu a acompanhasse até o carro, do lado de fora, na calçada.

– Ah, por sinal, meu nome é Dora – ela falou, quando paramos do lado de fora.

Estendi a mão, mas ela me puxou e me deu um beijo de cada lado da bochecha, virando-se na direção do automóvel logo em seguida.

– Onde está o Harry? – perguntei, pegando uns dois sacos plásticos.

– Saiu com Remo. Foram resolver alguma coisa real e misteriosa por aí – Dora fez uma careta engraçada.

– Sério? – arregalei os olhos, surpresa.

– Não... – a mulher riu da minha cara – Eles foram ao escritório do Remo, lá na mansão, pegar alguns papéis que ficaram faltando ontem. Daqui a pouco estão de volta.

– Ah tá... – eu estava envergonhada demais para falar qualquer outra coisa.

Nós trouxemos todas as compras para dentro rapidamente, em silêncio. Enquanto ela terminava de organizar os produtos, ora na geladeira, ora nos armários, me direcionei novamente a sala, reparando o ambiente. Era uma casa razoavelmente pequena. Não possuía muito móveis, nem tinha o ápice da organização, mas era repleta de memórias, dispostas em vários porta-retratos. Em um lugar como aquele, não tinha como não se sentir confortável, acolhido. Agora eu entendia o motivo do Harry sempre fugir para cá, quando possível.

– Você e o Lupin são casados há muito tempo? – indaguei, interessada, elevando um pouco voz para que a mulher me escutasse.

Dora apareceu à porta da cozinha. Ela parecia muito nova aos meus olhos.

– Não somos casados. Eu nem sequer moro aqui – Dora sorriu de canto e balançou a cabeça, negativamente – Eu sou só a mãe do filho dele.

Era uma afirmativa meio estranha diante de tudo o que eu estava vendo desde a noite anterior.

– Como vocês se conheceram? – perguntei, me permitindo ser mais curiosa.

– Faculdade... – ela respondeu, dando de ombros e beliscando um pedaço de queijo da vasilha que segurava – Remo era o meu orientador do trabalho de conclusão.

– Nossa...

– É, eu sei, é assustador pra maioria das pessoas.

Ela riu abertamente, como se estivesse recordando algo engraçado.

– De qualquer forma fui eu que insisti. Uma hora ele acabou cedendo e, por um descuido nosso, o Teddy apareceu. Ele é nosso pequeno acidente.

Dessa vez fui eu que ri. Olhei para uma das muitas fotografias da casa. A imagem de um bebê sorrindo para a câmera, com as mãos gorduchinhas e sujas de algo aparentemente pegajoso se destacou diante dos meus olhos.

– Ele é uma criança adorável – elogiei, me aproximando do retrato – E muito inteligente também.

– Não sei o que seria da minha vida sem ele me fazendo 250 perguntas todos os dias, pela manhã – Dora sorriu, também admirando a foto de longe.

Ela voltou a sumir pela porta da cozinha, me deixando temporariamente sozinha. Continuei olhando displicentemente o cômodo, sem me ater muito a alguma coisa específica. Dei a volta na sala, fazendo um tour, quando os meus olhos se fixaram em um classificador aberto no aparador. Andei até lá, como quem não queria nada, e espiei o conteúdo disposto.

– O diretor da Universidade Federal do Vale, no uso de suas atribuições, tendo em vista a conclusão do curso de Farmácia, em 05 de Dezembro de 2009 – li o início do primeiro documento, um diploma universitário – Confere o título de Bacharel em Farmácia a Nynfadora Black Tonks.

Franzi a testa, intrigada. Dei mais uma olhada no resto. Eram solicitações de exames, cópias de documentos gerais, e, bem lá no fundo, uma segunda via de um contrato recém-outorgado. A empresa contratante não me surpreendeu: Grupo SeMz.

 

--- x ---

 

Despertei das minhas lembranças com o toque do meu celular. Era Ron perguntando se eu já estava com sono. Respondi que não. Alguns segundos depois ele retornou a mensagem, disposto a conversar sobre qualquer coisa. Já era quase um hábito nosso essas conversas noturnas, ainda que durante as últimas semanas esse costume tenha desaparecido um pouco. Deixei as atividades de lado e andei até a beirada da cama, me jogando sobre ela logo depois. Talvez o meu namorado não estivesse tão estranho assim. Minha cabeça deveria estar formulando besteiras à toa.

Boa parte da semana passou como todas as outras, muita atividade e pouco tempo. No final da tarde da quinta-feira tive um horário vago, então resolvi andar até a cantina e comer alguma coisa, enquanto esperava Ginny aparecer da sua aula. Havíamos combinado de sair juntas, mais tarde. Eu estava bebericando o meu suco de laranja, distraída, quando fui surpreendida por Viktor, que voltava de algum lugar importante, pois ostentava um terno muito bem recortado. Ele sorriu ao ver a minha cara de espanto.

– O que foi? – Viktor perguntou, sentando-se na cadeira de frente para mim.

– Nada – respondi – Eu só nunca tinha te visto em um terno tão sofisticado...

– Ah, verdade... – ele olhou para baixo, na direção do seu próprio corpo – Bom, é instrumento de trabalho, né?

– Instrumento de trabalho caro esse... – comentei, ainda observando a peça.

– Na verdade, foi um presente – Viktor deu de ombros, se recostando.

Levantei uma sobrancelha, inquisitiva.

– Nada que o meu esforço não tenha merecido.

– Que bom...

Me limitei a sorrir de canto e voltei as minhas atenções ao resto da minha bebida.

– Posso estranhar o fato de você estar livre uma hora dessas, numa quinta-feira de fim de módulo? – ele perguntou, puxando assunto – Geralmente você pega 20 matérias por semestre.

– As aulas da matéria que eu teria agora já acabou – respondi, mostrando a língua para ele – E eu só pego a quantidade suficiente de matérias por semestre.

– Suficiente pra quantos alunos mesmo?

Sorri, divertida.

– Você voltou muito chato, sabia?

– Mais do que eu estava antes de ir?

     Definitivamente não.

Chacoalhei a cabeça instantaneamente, negando.

– Imaginei... – Viktor riu e se apoiou na mesa, me encarando nos olhos – Eu não te disse, mas fico muito feliz que você tenha me perdoado. De verdade.

– Deixa isso pra lá. Todo mundo tem sua fase ruim – eu disse, mirando-o de volta – Não tem porque a gente ficar relembrando isso. A vida segue.

Ele tocou os meus dedos, segurando-os de leve.

– A mesma Hermione de sempre. Bondosa e altruísta... – Viktor afagou o dorso da minha mão, amável – Você é extraordinária, sabia?

Senti meu rosto esquentar com o comentário. Não consegui formular uma resposta imediata.

– O Weasley é mesmo um homem de sorte... – ele soltou a minha mão, devagar, voltando a se recostar na cadeira.

– Você tá me deixando constrangida – brinquei, embora fosse verdade – Eu só tento ser justa, apenas isso.

– É, eu sei – Viktor sorriu de canto. Ele fez uma breve pausa antes de mudar de assunto – Mas então, você ainda vai ter aula hoje?

– Não...

– Então por que não vai pra casa?

– Eu tô esperando a Ginny. Combinamos de sair hoje, mais tarde – expliquei, olhando no relógio – Ela já está atrasada, por sinal. Acho que ela ainda deve estar na aula, com o Neville ou com a Angel.

– Com a Angel? – Viktor coçou o maxilar, confuso – Acho que não, porque eu a vi seguindo pra os fundos do pavilhão de química quando eu cheguei.

– Pra os laboratórios desativados? – indaguei, descrente.

– Não sei, não conheço nada por lá. Mas deve ser algum tipo de aula, porque o Harry e o Weasley também foram pra lá, logo depois.

Dessa vez fui eu que franzi o cenho.

– É, pode ser... – falei, concordando. De fato, acabei me lembrando que os três, e o Neville, pegavam bioquímica juntos – Deve ter sido isso...

Viktor e eu conversamos por mais algum tempo, quando Ginny apareceu, cheia de papeis na mão. Ela olhou para o meu acompanhante com uma cara de emanava um misto de desprezo e incredulidade. Ginny nunca gostou do meu ex-namorado e não fazia a mínima questão de esconder isso dele. Viktor, percebendo a situação, se despediu de nós duas e foi embora. Ginny se sentou no lugar antes ocupado por ele.

– Não sei por que você ainda fala com esse insuportável... – ela fez cara feia, inconformada.

– Ele está mudado, Gin – respondi, me justificando – Mais maduro, eu acho.

– Cuidado, daqui a pouco ele cai no chão, de podre.

Eu sorri com a piadinha.

– Não é só porque tivemos problemas que agora eu vou dar uma de mal educada agora. De uma forma ou de outra, acho que ainda somos amigos.

Ginny colocou o indicador na direção da boca aberta, simulando vômito. Rolei os olhos para ela e sacodi a cabeça.

– Enfim, já podemos ir? – perguntei, interessada em sair dali.

– Quase... antes eu tenho que entregar esses roteiros aqui a Angel, da pesquisa de Snape – ela me respondeu – Mas as minhas mensagens não estão chegando até ela. Parece que onde ela tá não tem sinal. Tem mais de meia hora que eu estou a procurando e não encontro.

– Por que você não liga pra o Harry? Eles pegam aula juntos agora.

– O Harry não tá com ela não, amiga. Eu encontrei com ele não tem nem cinco minutos. Ele tava indo na direção do estacionamento até. Acho que ia pra casa, não sei. Não entendi muito bem a explicação dele.

Meu coração disparou, incontrolável, ao saber que o Ronald e a Angelina estavam sozinhos. Sem pensar muito bem, levantei da mesa e joguei a mochila nas costas, obstinada.

– Eu sei onde eles estão... – falei, saindo da cantina. Ginny seguiu atrás de mim, afoita.

– Sabe?! – eu a escutei perguntar, confusa, enquanto tentava acompanhar os meus passos – Amiga, pera, onde você tá indo?

Não respondi, apenas continuei andando. Meus pensamentos estão uma confusão total. Ginny insistiu nas perguntas.

– Mione, espera! Eles quem? Do que você tá falando?

– Da sua amiga... – parei de súbito, raivosa, e me virei para trás. Ela quase se bateu em mim – E do seu irmão.

Ginny arregalou os olh0s amendoados, assustada. Voltei a seguir o meu caminho e ela veio atrás de mim, dessa vez em silêncio. Cortei caminho pela lateral do estacionamento e saí de frente ao velho anexo de química. Empurrei a velha porta de ferro e entrei no corredor empoeirado. A luminosidade estava um pouco difusa e havia infiltrações espalhadas pelas paredes. Subimos o primeiro lance da escada que dava acesso ao andar dos laboratórios. Um leve odor estranho chegou até onde nós estávamos.

– Que cheiro é esse? – perguntei, me sentindo um pouco incomodada.

– Me parece Éter... – Ginny respondeu, com a voz um pouco preocupada – Será que tem algum vazamento? Seria perigoso ficarmos aqui...

Ignorei a minha amiga e continuei andando. Ginny não questionou, apenas permaneceu atrás de mim. Dobramos o corredor e demos de frente a um novo lance de escadas. Estávamos prestes a subir quando escutei vozes conhecidas vindo do lado oposto. Elas pareciam rir, se divertindo. Mudei minha rota e segui até lá, decidida.

– Mione, calma... – Ginny me pediu, a minha escolta – Vai ver não é nada de m...

A frase da minha amiga foi interrompida pela cena que nós presenciamos, ao chegar ao batente da porta, que estava aberta. Ron e Angelina se encaravam, muito próximos, encostados à bancada. Ele estava sem camisa, com algumas partes do corpo avermelhadas, quanto Angel encontrava-se bagunçada, com alguns fios do seu cabelo soltos do rabo de cavalo. Ambos sorriam, um para o outro. Eu não estava acreditando no que eu estava vendo. Cruzei os braços com tanta força que seria capaz de quebrar um osso entre eles.

– Atrapalho?

Perguntei, sem fazer a mínima questão de esconder a minha irritação. Ron e Angelina se afastaram, assustados. Avancei um pouco para dentro do cômodo.

– Talvez eu devesse fechar a porta, quem sabe? Vai ver vocês ficam mais a vontade...

– Mione... – percebi que Ron engolira a seco. – Eu... A Angel...

Ele parecia estar buscando as palavras certas para me dar uma explicação que para mim, já era óbvia. Ronald deu alguns passos para frente.

– Não chega perto de mim... – avisei, raivosa – O que é que você vai me dizer agora? Que não é nada disso que eu estou pensando?

Senti os meus olhos marejarem, aos poucos.

– Mas não é... – Ron estava vermelho. Ele parecia nervoso – Se você me deixar falar com você, eu posso expl...

– Explicar o que, Ronald?! – deixei minha cólera se expandir – Que você mentiu pra mim quando veio com a aquela conversinha de que você e a Angelina eram só amigos e que só tinha acontecido um beijo, uma vez, antes da gente ficar junto? Eu não sou estúpida!

Angel, que até então parecia ter congelado ao lado da estante, repentinamente despertou. Ela me olhou fixamente por alguns segundos. O silêncio reinou nesse meio tempo. Ela juntou os materiais em cima da mesa e passou por mim rapidamente, saindo da sala e arrastando Ginny consigo. A porta foi fechada de maneira brusca. Ficamos apenas Ron e eu no laboratório.

– Você escutou bem o que você disse, Hermione?! – ele me perguntou, vacilante. – Você acha mesmo que eu seria capaz de fazer isso com você?

– Foi isso que eu vi!

– Não foi! Não foi isso que você viu! – Ronald gritou e eu retesei – E pelo que parece você não vai me escutar, porque você só percebe o que você quer!

– Não se faça de vítima! Eu chego aqui e encontro você grudado com a Angel, sem camisa, sozinhos. Ela descabelada e sorridente. Você quer que eu pense o que? Que vocês dois estavam fazendo trabalho?!

– Nós estávamos fazendo trabalho!

– Desde quando?! Desde o dia que você voltou de Londres?! – as lágrimas agora caiam pelo meu rosto – Eu vi, Ron. Eu vi quando ela te ligou de madrugada! Eu sei que vocês andam se encontrando por aí, às escondidas! Você não teve um pingo coragem de me falar sobre o jantar que você teve com ela, na sexta que você foi embora daqui me dizendo que iria direto pra casa!

O semblante de Ron caiu. Ele passou a mão pelos cabelos e apertou os olhos. Eu pus a mão na boca, tentando conter os soluços.

– Mione... – ele avançou na minha direção, cauteloso – Quem te contou isso?

– Do que importa?! – rebati, tempestuosa – É verdade, não é?!

– Quem te contou isso? – Ron repetiu, agora a menos de um metro de distância.

– O Viktor... – respondi, o encarando.

Um sorriso de deboche surgiu no rosto dele.

– Ah, o Viktor...! – ele me deu as costas, se afastando novamente – O maldito Viktor Krum!

Ron chutou a cadeira que estava próxima a ele. O barulho ecoou no espaço pouco ocupado. Eu me sobressaltei, um pouco assustada.

– Ele voltou... claro que ele iria voltar! – o ruivo assumira uma postura um tanto perturbada – Claro que esse filho da puta do Krum iria voltar!

Ele apontou na minha direção.

– Me responde, desde quando você tá se encontrando com ele?

– Eu não estou me encontrando com ninguém... – me defendi.

– Ah não... – Ron ainda sorria, meio louco – Não está...? Então como ele disse que me viu? Telepatia?

– Não seja estúpido, Ronald...!

– Você tava mesmo sozinha naquela sexta, Hermione?! Esse desgraçado foi a sua casa, não foi?!

– Ele só me deu uma carona! – voltei na defensiva, elevando minha postura – E você não me viu escondida com ninguém! Eu te vi! Se alguém tem que dar explicações aqui, esse alguém é você! Você, que estava aqui dentro dessa sala, provavelmente se agarrando com a vaca da Angelina!

Ronald subitamente fechou a cara. Sua expressão passou de raivosa para, ao que me pareceu, triste. Quando ele abriu a boca, sua voz não soou agressiva, muito pelo contrário.

– Quer saber, Hermione? Eu estava mesmo.

Se houvesse um buraco no chão, ali, naquele momento, eu teria me atirado dentro. Embora, na minha cabeça, eu já tivesse a ideia do que tinha acontecido, ouvi-la foi muito pior do que eu imaginei.

– Não é isso que você queria escutar?! – ele questionou grosseiramente – Tá satisfeita?!

– Mais? Impossível... – respondi, deixando o orgulho falar mais alto. A verdade é que por dentro eu estava em cacos.

Ronald pegou sua mochila de cima da bancada, juntamente com sua caixa térmica.

– Então agora você corre pra o Vitinho e conta tudo! Quem sabe vocês não voltam a namorar e revivem tudo de bom que passou entre vocês dois, nos últimos quatro anos.

O ruivo passou por mim como um foguete e saiu da sala, sem se dar o trabalho de fechar a porta. Assim que ele sumiu da minha vista, eu me deixei escorregar pela parede mais próxima e sentar no chão sujo. O gosto na minha boca era amargo e minha garganta ardia, queimava como se eu tivesse bebido alguma coisa muito ácida. De modo automático, fitei a pulseira que Ron havia me dado de presente de aniversario no meu braço. Era uma das lembranças mais bonitas que eu tinha de nós dois, que pelo visto seria apagada por tudo que eu escutara ali, dentro daquele laboratório velho.

 Novamente as lágrimas caiam dos meus olhos, dessa vez sem nenhum controle. 


Notas Finais


Então, meus amores. O que vocês acharam do capítulo?
Deixem aqui embaixo os lindos comentários de vocês !

Beijos, nos vemos no dia 23! Eu sei que é longe, mas é culpa das adversidades, mil desculpas!


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