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História A Troca - O Telefonema


Escrita por: MrsRidgeway

Notas do Autor


Olha eeeeeu!

Cheguei muito animada de viagem, então resolvi deixar um capítulozinho extra aqui hoje!

Espero que vocês gostem ;D

Capítulo 7 - O Telefonema


— Eu queria tanto ver os meus filhos. – mamãe lamentou. – Vocês bem que poderiam vir aqui.

Sorri ao telefone.

— Esse final de semana não dá, mamãe. – respondi. – A Ginny tá trabalhando no sábado.

— É, eu sei. Sua irmã me contou.

— Preciso arranjar um emprego.

— O dinheiro que seu pai manda não está sendo suficiente? – mamãe perguntou preocupada. – Eu posso falar com ele e damos em jeito de mandar mais.

— Não é isso, mãe. É o suficiente.

Eu me adiantei antes que Molly Weasley começasse a criar várias teorias na cabeça.

 – É que em Londres eu trabalhava. A senhora sabe que eu gosto da minha independência.

— Eu e seu pai não queremos que vocês atrapalhem os estudos.

— Um emprego não me atrapalhar.

— Eu sei, mas, foi você que escolheu sair do emprego e da universidade e voltar pra cá.

     Lá vem ela de novo com esse assunto.

Suspirei. Olhei momentaneamente para cima e vi que o relógio da cozinha já marcava dez da noite. Estava na hora de me despedir.

— Mamãe, eu tenho que ir organizar umas coisas aqui. – avisei. – Eu ligo depois.

— Tudo bem, querido. – ela respondeu. – E Ronald? – chamou.

— Oi.

— Uma hora vamos ter que conversar sobre essa volta repentina.

Mamãe não desistia nunca.

— Ok, mãe. Uma hora a gente conversa sobre isso.

Eu me despedi e encerrei a ligação.

...

 

Harry já estava sentado na sala quando eu cheguei, na segunda feira. Ele  conversava com um homem que parecia ser o professor. Eu me aproximei dos dois e os cumprimentei.

Para a minha surpresa, o homem era o maluco do rio, Remo Lupin.

— Sr. Weasley! – ele abriu um grande sorriso quando me viu. – O senhor é meu aluno, então?!

— Parece que sim. – respondi, com um sorriso em retorno.

Harry nos olhava sem entender nada. Lupin se adiantou.

— Eu o derrubei no rio, semana passada.

— Ah...

Harry prendeu o riso ao se lembrar de mim todo molhado e eu fiz uma cara feia pra ele. Lupin conferiu o relógio e se levantou.

— Acho que está na hora de começar a aula. –falou – Onde está Hermione, Harry? Ela não veio na semana passada também.

— Viajando. Um projeto acadêmico aí. – Harry respondeu. – Semana que vem ela já deve estar de volta, eu acredito.

Remo balançou a cabeça e seguiu em direção à frente da sala.

A aula transcorreu tranquilamente. Lupin era um ótimo professor. Ele falava de uma maneira tão leve que tornava fácil incitar a participação de vários alunos, o que criava inúmeros debates. Em resumo, era uma aula bem animada.

O mesmo não poderia ser dito da aula seguinte. Snape continuava enfadonho e implicante. Contudo, para a nossa sorte, o homem resolveu terminar a aula mais cedo porque precisava resolver alguns problemas na coordenação de Química.

Harry e eu seguíamos juntos para o estacionamento, como já era costume, até que Remo nos interviu, no final do corredor.

— Sr. Weasley, será que eu posso ter uma conversinha em particular com o senhor?

— Claro. – eu respondi.

Harry nos olhou enciumado e Lupin bagunçou os seus cabelos, como se ele fosse uma criança.

— Não precisa se preocupar, Harry. – disse. – Você ainda é o meu sobrinho favorito.

— Claro, eu sou o único!

Harry respondeu, orgulhoso.

— A sua família inteira trabalha nessa universidade? – não consegui refrear a minha curiosidade.

— A única pessoa verdadeiramente da minha família trabalha.

Ele colocou uma mão nos ombros de Lupin. O professor sorriu genuinamente.

    Snape fora completamente esquecido.

Pensei um pouco sobre aquilo. A relação familiar do Harry era estranha. Voltei a realidade quando Remo apontou para mim.

— Bom, vamos a minha sala. Lá conversamos melhor.

Nós nos despedimos de Harry e fomos à sala dele. Remo me indicou uma cadeira próxima à mesa dele e eu me sentei.

Ele sentou-se na beirada da mesa, de frente para mim.

— Bom, Ronald, eu serei bem direto. – comunicou.

— Ok. – assenti.

— Você estaria interessado em desenvolver um projeto de pesquisa comigo?

Eu fiquei sem reação.

— Eu dei uma olhada na sua ficha de transferência, com a autorização da Minerva, claro. – Lupin contou. – Pude observar que você já possui experiência na área.

De fato, eu possuía.

— Por que exatamente você me escolheu? – questionei, interessado. – Digo, eu achei que tivesse todo um processo seletivo para isso aqui também e tal...

— E tem. – ele respondeu – Mas a sua sensibilidade na sexta-feira, no rio, chamou minha atenção. Acredito que você seja a pessoa certa para desenvolver isso comigo. Caso o senhor aceite, óbvio.

— Hum... e como seria isso?

— Teríamos reuniões fixas as sextas e algumas outras em outros dias, dependendo de aula de vocês.

     Vocês?

— Ah, e claro, eu pediria a abertura de mais uma bolsa.

     Mais uma bolsa?

— Tem outra pessoa no projeto? – perguntei.

— Sim, a Srta. Granger.

     Essa Hermione estava em todos os lugares.

Não era possível que todo mundo amasse essa garota desse jeito.

— Ah... – me ajeitei no assento. — E sobre o que seria a pesquisa?

— Sobre o rio que você estava analisando.

A falta de detalhes me fez franzir a testa levemente. Lupin me olhava de forma engraçada como sempre, mas dessa vez eu podia senti-lo me avaliando.

Continuei a ponderar os pós e os contras na minha cabeça.

— E então? – Remo indagou, após alguns minutos. – O que o senhor me diz?

Cheguei à conclusão que ganhar dinheiro para analisar o rio Jabuticaba até que não seria uma má ideia. De qualquer forma, aquele lugar havia chamado a minha atenção mesmo.

Assenti com a cabeça.

— Eu topo.

Lupin abriu um grande sorriso.

— Maravilha, Ron. Posso te chamar assim? – eu confirmei com a cabeça e ele sorriu mais uma vez. – Prepararei os documentos e quando a Srta. Granger voltar eu contato vocês.

— Obrigado pela oportunidade. – agradeci com sinceridade.

— Não há de quê. – ele respondeu – Acredito que eu tenha escolhido a pessoa certa.

 

...

 

 

— A Hermione já chegou. – Harry comentou, enquanto comíamos com certa pressa – Se prepare pra morrer...

— Por quê?

— Ela vai nos matar por temos escolhido o tema do trabalho sem ela.

Eu estava cansado. A manhã fora bem exaustiva por causa dos ajustes da minha matrícula definitiva. A última coisa que eu queria era alguém que eu nem conhecia a apertar a minha mente por causa de uma besteira.

Rolei os olhos, impaciente.

— Que besteira. – sinalizei. – É só um trabalho!

— Não para ela. Tudo tem que ser milimetricamente planejado quando se trata de assuntos acadêmicos ou a Mione surta.

Eu ri e voltei a comer.

Por sorte, chegamos à aula de química com alguns minutos de antecedência. Snape estava distraído com alguns materiais da sua maleta, então Harry e eu aproveitamos para escolher a bancada de sempre, nos fundos da sala.

Vi que Harry conversava com alguém no celular. Joguei a minha mochila em uma das cadeiras e saí do laboratório para beber água. Eu me distraí no bebedouro por um tempo, a pensar na vida. Quando eu voltei para a sala alguém estava com a minha mochila na mão. Uma mulher.

Cheguei perto o suficiente para escutá-la falando apressadamente.

— Trocou de mochila, Harry? – perguntou a ele, de costas para mim. – Essas coisas aqui são suas?

Automaticamente eu soube quem era a dona da voz.

     A ladra da farmácia.

Quem diria, Hermione Granger. Você não era tão perfeita assim quanto falavam.

Respondi a pergunta dela.

— São minhas.

Hermione se virou rapidamente. Seu olhar era assustado. Ela havia me reconhecido também.

— Tsc, tsc, tsc. Além de ladra de chocolate você também rouba cadeiras. – sussurrei, irrefreável. – Estou começando a ficar surpreso com as suas habilidades, Granger.

     Que coincidência absurda.

A resposta desaforada veio em seguida.

— Fico feliz em exceder as suas expectativas, Weasley. 

Definitivamente era ela.

 

...

 

— Boa, Ronald! – bradei, sozinho. – Se é pra fazer merda, é com você mesmo...

Desci as escadas revoltado. Eu tinha sido estúpido ao ponto de ser colocado para fora da sala. Minha cabeça começou a doer.

Sentei-me em um dos primeiros degraus da escada e coloquei a minha mochila no colo.

     Você viu a forma como ela te olhou?

Eu tinha visto.

     Hermione deve está te odiando agora, Ronald.

Provavelmente. Mas, por que eu estava me importando com isso mesmo?

Chacoalhei a cabeça. Aqueles pensamentos tinham que morrer. A miss perfeitinha – e irritante – não olharia para mim de outra forma que não fosse com raiva.

Não vi quando uma figura loira e pequena parou a minha frente.

— Olá Ronald!

Tomei um susto.

— Puta que pariu, Luna! – exclamei. – Porra, quer me matar do coração?!

Luna não se abalou com a minha falta de educação.

— A escada não é o lugar apropriado pra se distrair, Ronald. – ela comentou – Pessoas passam por aqui toda hora.

     Luna 1, Ronald 0.

Meu semblante voltou a cair e Luna percebeu. Ela se sentou no degrau ao meu lado e abraçou os próprios joelhos.

— Você é engraçado, Ronald. – comentou, sem me olhar.

— Você pode me chamar de Ron.

— Eu gosto de Ronald. É um bom nome.

Dei de ombros.

— Por que eu sou engraçado? – voltei ao assunto.

— Porque você é transparente.

Eu estreitei meus olhos. Luna era muito direta.

— Sou?

— É. – ela respondeu. – Embora não queira ser. – completou.

— Por que você diz isso?

— Por que você estaria sentado na escada quando deveria estar na aula?

     Essa mulher é uma gênia.

Eu sorri e assenti com a cabeça. Não sabia como respondê-la.

— O que houve? – a loira perguntou.

— Snape. – respondi. – Ele me pôs para fora da sala.

Luna arregalou os olhos, assustada.

— Como ele fez isso?

— Ele disse “Fora da minha sala, Weasley” – o imitei, com o dedo em riste. – Porque eu o chamei de impotente.

— Como você sabe do funcionamento do... Você sabe...  do...

— Não esse tipo de impotência, Luna! Pelo amor de Deus.

Nós rimos por um tempo.

— Snape é um professor difícil. Volta e meia alguém aparece lá no departamento precisando de acompanhamento depois de algumas semanas tendo aula dele.

— Você estagia em qual departamento mesmo? – indaguei, interessado.

— Acompanhamento psicopedagógico. – a loira respondeu.

Fazia sentido.

— Snape sufoca as pessoas. – falei. – Principalmente o Harry. Eu não consegui me controlar e disse algumas coisas a ele por causa disso.

— O Harry não é transparente.

Para Luna, aquela parecia a frase mais normal da face da terra.

— Deve ser por isso que ele ainda está dentro da sala e eu aqui fora. – lamentei.

— Provavelmente. – a loira concordou. – Mas não sei se isso é bom ou não para ele.

— Por que não seria?

— Ele guarda muita coisa dentro de si mesmo, sozinho. E não deixa ninguém participar. Isso provoca sofrimento nele e nas pessoas ao redor, que gostam dele.

Olhei para Luna novamente, incisivo.

— Você está falando da relação dele com a minha irmã?

— Sim. – ela assentiu. – Mas, isso também se aplica na relação dele com o mundo.

— Para mim ele não pareceu ser tão fechado assim.

Luna ergueu uma sobrancelha.

— Não? – indagou curiosa. – Por que você diz isso?

— Não sei. – dei de ombros. – Eu só o conheço há duas semanas.

— No entanto, fez esta afirmação com bastante convicção.

— Talvez eu esteja errado.

— Talvez, mas ainda assim eu quero escutar a sua opinião.

Eu me ajeitei no degrau e puxei o ar com força dos pulmões.

— Para mim ele me pareceu só... o Harry. – disse. – Uma pessoa com problemas como todas as outras.

Luna ponderou algo com a cabeça.

— Você deve gostar muito dele pra tê-lo defendido assim. – afirmou.

     É, eu gosto do folgado.

Fiz uma careta divertida.

— Só nos conhecemos há duas semanas. Não da para gostar ao extremo de alguém nesse tempo.

     Dá sim. Principalmente se a pessoa roubar sua comida.

Lá vai minha mente voltando para Hermione de novo.

— Claro que dá, Ronald! – a loira rebateu, com um sorriso. – A sua cara sonhadora acaba de me confirmar isso.

— Nada a ver. – me defendi – Eu só estava pensando na Hermione.

     Droga, me entreguei.

Luna me olhou interessada. Eu me apressei em corrigir a merda que eu havia dito.

— Digo... hum... – pigarreei. – A Granger é muito amiga do Harry e eles parecem não ter segredos entre si.

Luna permaneceu a me avaliar.

— Sei... – comentou. – Vocês já se conheceram então...

— Já. E ela não é uma flor delicada como vocês falaram que era.

A loira soltou uma risada gostosa ao ouvir o que eu havia dito.

— A Hermione é apenas... geniosa, eu diria.

— Geniosa até demais, você quer dizer. – retruquei com convicção.

— Mas eu acho que você consegue dar conta, não é?

Eu senti pelo tom de Luna que a pergunta era retórica.

     O que ela queria dizer com isso?

Pelo bem da minha sanidade mental, ignorei o questionamento. Luna não insistiu. No entanto, ela me encarou.

— Sabe Ronald, Eu acho que você fez certo. – falou.

— O que exatamente eu fiz certo?

— Enfrentar o Snape. Já estava na hora de alguém fazer isso.

— Só que eu acho que agora ele não vai me deixar em paz.

Luna suspirou.

— Snape não é um monstro. – disse. – Como eu te falei, ele só é difícil. Talvez a sua atitude tenha mostrado para ele quem nem sempre atacar os outros vai torná-lo uma pessoa acima das outras.

Neguei com a cabeça, discordante. Eu não sabia se estava muito convencido sobre essa perspectiva.

Como se lesse a minha mente, Luna sorriu.

— Não saber é quase sempre uma dádiva, Ronald. – comentou.

— Você é louca, mulher.

— Só um pouquinho.

A loira se pôs de pé e colocou as mãos pequenas nos meus ombros. Seus olhos grandes olhavam no fundo dos meus.

— Sabe o que ajuda a curar bad vibes? – ela me perguntou.

— Não.

— Pudim!

Luna parecia uma criança animada.

 – Vamos, na cantina vende pedaços bem generosos.

 

...

 

 

— Quer mais alguma coisa, Ron?

Greg, o atendente da cantina, me perguntou enquanto limpava o balcão. Luna já havia ido embora há muito.

— Me oferecer comida é sacanagem, cara. – eu falei e ele riu. – Eu nunca nego comida.

— O que você vai querer?

Eu parei um pouco para pensar no que eu iria escolher.

— Tem torta de frango? –perguntei esperançoso. – Uma vez eu comi aqui e achei muito boa.

— Pô... – Greg fez uma careta. – A torta só vai daqui à uma hora, mais ou menos. – ele respondeu a coçar a cabeça. – O pessoal gosta bastante, aí acaba rápido.

Eu ponderei um pouco se pedia outra coisa mais rápida.

— Eu vou esperar. – respondi, a me decidir por fim. – Estou aguardando algumas pessoas mesmo. É o tempo que elas aparecem.

O atendente concordou e voltou aos seus afazeres. Fiquei sozinho outra vez. Sem nada para fazer eu instalei no celular o game que eu via Harry jogando toda hora.

      Não é que essa porra é realmente divertida?

Eu me perdi por mais algum tempo no celular, até que vi um bolo de cabelos desgrenhados sair apressado do pavilhão de química. Corri até ele.

 Harry não percebeu minha aproximação até que eu gritasse o seu nome enfaticamente.

— Ei, Potter!

Ele olhou para trás. Assim que me viu, Harry parou de andar.

— Para onde você vai com tanta pressa assim? – perguntei.

— Para casa. – ele respondeu rapidamente.

— E a minha caixa?

— Eita, eu deixei com Hermione, cara.

— Não tem problema. – eu o tranquilizei – Onde ela está?

— Ainda está no laboratório, eu acho. – Harry me respondeu. – Pelo menos eu a deixei lá arrumando os materiais. Ela não parecia estar com muita pressa não.

— Quando ela sair eu pego na mão dela então.

— Por que você não vai lá a sala buscar? Seria mais fácil do que ficar esperando aqui.

— Eu não quero correr o risco de me bater com Snape.

Harry me olhou envergonhado.

— Ron, eu gostaria de te pedir desculpas por hoje. – lamentou. – Você foi expulso da sala por causa da implicância de Snape comigo.

— Relaxa, cara. – dei duas batidas no seu ombro. – A culpa não foi sua. A culpa foi daquele professor maluco.

— Eu sei, mas se você não fosse meu amigo ele não faria o que fez.

Sorri.

— Amizade é para essas coisas – eu falei – Mas, da próxima vez a gente coloca a Hermione para ser expulsa.

Harry soltou uma gargalhada.

— Ela enlouqueceria caso fosse expulsa de alguma aula. Isso está fora dos padrões de eficiência e bom comportamento do manual de Hermione.

— Ela tem um manual?

Fui subitamente arrebatado pela possibilidade de lê-lo.

— Deve ter. – Harry respondeu. – Está interessado em aprender o que sobre ela?

     Tudo.

— Nada.

Harry me olhou desconfiado. Eu saí pela tangente.

— Você não estava com pressa?

Harry olhou as horas no celular e sobressaltou-se.

— Porra, eu tenho que ir! – ele falou apressado – Tchau, Ron.

Eu me despedi e ele saiu correndo como se fugisse da forca. Eu olhei no relógio certificando as horas. Talvez Snape não estivesse mais na sala.

     Talvez Hermione estivesse sozinha na sala.

Eu iria apenas pegar a minha caixa de amostras. Só isso. Tanto fazia se ela estivesse sozinha comigo ou não, dentro de um laboratório cheio de mesas e que podia ser trancado por dentro.

Totalmente convencido das minhas boas intenções, eu dei meia volta. Porém, antes mesmo que eu entrasse no pavilhão, pude ver Hermione saindo com minha caixa na mão.

     E ela não estava sozinha.

Um cara abraçava Hermione, conduzindo-a direção à cantina. A conversa dos dois, pelo visto, estava tão animada que ela nem notou a minha presença ali perto. Eles sentaram em uma das mesas mais afastadas e continuaram a gesticular. Algo em mim não gostou nada de ter visto aquilo.

Sentei-me em um dos bancos de concreto e fiquei na espera por um bom tempo. Respirei fundo quando vi que já eram quase seis da noite e nada do bate-papo acabar.

     Vai embora, Ronald.

Resolvi ir para casa. Era só uma caixa de trabalho, outro dia eu pegava de volta. Antes de ir, eu me levantei e andei até a lanchonete. Não me esqueceria do meu pedaço de torta já reservado.

Encostei-me ao balcão e chamei pelo atendente. Greg pôs o rosto para fora da cozinha.

 Ele sorriu quando me viu.

— Ei, você voltou mesmo! – exclamou divertido.

— Eu disse que voltaria. Sou um homem de palavra.

— Percebi.

— E aí, a torta já tá pronta?

— Mais 10 minutinhos e já ela sai. – ele respondeu. – Você deve ter gostado mesmo dessa torta pra esperar esse tempo todo.

     Digamos não era exatamente a torta que eu estava esperando...

Greg e eu permanecemos conversando por alguns minutos até algo ecoou na cozinha. O atendente foi até a cozinha. Quando voltou, trouxe uma fatia de torta de frango para mim, a me parabenizar por conseguir o primeiro pedaço. Eu pedi para ele embrulhar em um saco de papel, pois eu levaria para casa.

Enquanto Greg atendia o meu pedido, eu fui até o caixa. Alguns minutos depois eu já andava determinado, em direção ao estacionamento, como o meu pedaço em uma sacola de papel.

O lugar estava insuportavelmente cheio. Pelo visto, os alunos da noite já haviam chegado. Eu nunca havia ficado até aquele horário na universidade. Andei até a moto, parada nos fundos do estacionamento.

Ensaiei pôr o capacete na cabeça, mas percebi que o visor estava podre. Com um suspiro, passei a limpa-lo, desgostoso.

— Weasley!

Olhei para trás e dei de cara com uma Hermione esbaforida. Ela corria com certa graça, e, eu não pude deixar de reparar ela se movimentando naquele jeans apertado. Visualmente, a Hermione da universidade era completamente diferente da Hermione da farmácia. Não que isso me incomodasse.

Minha mente voou para outras direções. Quando eu percebi, a Granger já estava parada na minha frente. E, obviamente, a primeira coisa que ela fez foi se queixar da velocidade dos meus passos. Afinal de contas, reclamar era o seu segundo nome.

Hermione estendeu as mãos com a caixa na minha direção. Não pude reprimir minha língua, mais uma vez.

— Você correu esse caminho todo só para me entregar uma caixa, Granger?

Automaticamente me arrependi da frase. Eu havia me entregado.

     Parcialmente.

Hermione me encarou de forma inquisitória.

— Como você sabe que eu corri esse caminho todo, Ronald?

Na verdade eu não sabia. Eu só a tinha observado na cantina na última hora. Não imaginei que ela teria me visto também, muito menos que ela viria atrás de mim.

Eu prendi o riso e desviei o olhar para o chão. De qualquer forma eu havia gostado de vê-la se esforçar para me alcançar.

Menos de um segundo depois, Hermione empurrou a caixa na minha direção, revoltada.

— Você sabia que eu estava atrás de você e não parou! – bradou.

Observei Hermione. Ela brigava comigo um pouco descabelada e gotículas de suor escorriam pela sua têmpora. Eu me lembrei do episódio de duas semanas atrás.

 – Você me deixou ficar toda suada porque era engraçado para você!

Era a mesma mulher que eu havia conhecido na farmácia: grossa, irritada, impetuosa, mas viva. Totalmente diferente da Hermione que todos falavam, a nerd certinha e organizada. Era dessa Hermione intensa que eu gostava.

Deixei o meu subconsciente tomar conta de mim, e, em um impulso, eu a empurrei levemente, de costas, no carro atrás dela. Nós tão próximos que eu pude sentir sua respiração, ofegante. A caixa, no entanto, permanecia ali no meio, entre nós, a atrapalhar qualquer aproximação a mais que eu quisesse manter.

Eu apoiei minhas mãos na picape, uma de cada lado do corpo de Hermione. Ela não sairia do lugar.  Eu me curvei em sua direção.

A minha vontade era de me perder nos lábios na minha frente, contudo, o pingo de razão ainda existente na minha cabeça tomou o controle da situação.

Ainda assim, levei minha boca em direção ao ouvido de Hermione.

— Acredite que se eu quisesse te deixar toda suada, Hermione, te ver correr não seria a primeira opção.

A pele de Hermione se arrepiou automaticamente ao ouvir a minha voz ali tão perto. O pouco de juízo que ainda me restava foi embora por completo. Não consegui me controlar e deslizei os meus lábios do lóbulo da sua orelha dela os ossos da clavícula, bem devagar.

O cheiro de Hermione era inebriante. Eu ficaria horas ali, mas a realidade me puxou de volta. Eu não o direito de pressiona-la dessa forma. Com muita dificuldade eu me afastei, antes de tomar a caixa de volta.

Eu a agradeci por ter me trazido os compostos.

— Aconteceu mais alguma coisa interessante depois que eu fui convidado a me retirar da aula? – perguntei.

Hermione umidificou a garganta. Seus olhos ainda me encaravam.

— Não na aula. – respondeu. – Mas, no nosso trabalho sim.

Incrivelmente, me preocupei.

— O que teve? – indaguei.

— O composto está alterado.

Isso explicava muita coisa sobre o convite de Lupin.

— Eu já imaginava – assumi.

Ela me olhou visivelmente surpresa. Eu percebi que gostava de surpreendê-la.

— Como?

     Eu não ia te dar a resposta tão fácil assim, Granger...

Ela me analisou por um tempo e logo após se desencostou da picape. Hermione andou lentamente em minha direção. Eu mantive os meus olhos presos no dela, curioso para saber o que iria acontecer.

Hermione chegou perto o suficiente para me prender levemente entre o seu corpo e a motocicleta atrás de mim.

     Não que eu estivesse reclamando, claro.

Ela colocou as mãos por cima da minha camisa, em direção as minhas costelas, e começou a arranhar o local lentamente, em uma tortura bem gostosa.

Minha cabeça começou a rodar em várias sentidos.

— Então, Ron... – voltou a indagar. – Você não vai me dizer o que te levou a essa conclusão?

Eu fechei os olhos e respondi que não. Se fosse para ela continuar a me provocar daquele jeito, eu permaneceria na negativa pelo tempo que fosse necessário. Percebi que Hermione ficara nas pontas dos pés porque suas as mãos se prenderam em volta do meu pescoço.

Ela acariciou a minha nuca e eu, inconscientemente me curvei na direção dela, ainda de olhos fechados.

— Não vai mesmo me dizer?

Eu me recusei a falar novamente.

— Então eu acho que vou te deixar com fome, mais uma vez .

     Oi?

Eu a senti se afastar. Quando abri os olhos, Hermione já estava bem mais adiante. A sacola de papel com a minha torta estava na sua mão e ela ria, marota, a se divertir com a situação.

 Eu me movi para ir atrás ela. Com o meu solavanco, a motocicleta se desestabilizou e ameaçou cair. Amparei a moto enquanto via Hermione se afastar mais ainda.

Ela gritou, mais a diante.

— Adoro essa torta de frango!

— Hermione, devolve a minha torta!

Hermione apenas riu da minha cara.

— É a segunda vez que você rouba o que eu pretendia comer! – bradei.

— O mundo é dos espertos, Weasley! – ela zombou. – Mas eu te garanto que essa torta vai ser muito bem aproveitada, assim como o seu chocolate foi!

— Eu te garanto que você vai me pagar! E em dobro! – rebati.

Finalmente consegui estabilizar a moto. Ela correu mais uma vez ao perceber que eu avançava. Retraí meus passos. Não sabia se esse jogo de gato e rato estava a me excitar ou a me deixar irritado.

Abri um amplo sorriso imaginando se eu poderia levar esse joguinho para um lugar mais reservado um dia.

    Como o meu quarto, por exemplo.

Ergui os braços e apontei para ela.

— Pode ficar com a torta, Granger. – sorri. – Você ainda vai implorar para que eu coma, Hermione, mas vai outra coisa!

     Se ela não implorar, eu imploro.

Hermione desviou o olhar, envergonhada. Apesar disto, ela sorriu.

— Boa noite, estranho! – gritou em resposta.

Eu a observei entrar no corredor entre dois prédios, com os cabelos castanhos a balançar sob a força do vento.  

 

...

 

 

Meu celular vibrou insistentemente em cima da mesa. Peguei para olha-lo e vi que haviam algumas notificações pendentes. Ao reparar o remetente, ignorei.  Joguei o aparelho em cima da mesa novamente e retornei ao meu jantar. Alguns segundos depois, o celular tocou insistentemente.

Dessa vez, era a minha irmã.

— Fala Ginny!

— Oi, Ron. Tô ligando para avisar que hoje eu não vou dormir em casa.

— Sério? – perguntei incrédulo. – Tô fazendo o jantar à toa, é isso?

— Tá cozinhando o quê?

— Risoto de queijo.

— Sa- ca- na- gem, Ronald! – ela exclamou revoltada. – Você sabe que eu amo as risoto!

— Você que resolveu não voltar para casa. – falei impiedoso. – Por falar nisso, você vai passar a noite onde?

— Não é da sua conta, Roniquinho.

Cortês como sempre.

— Certo... – dei de ombros. – Se você morrer durante a madrugada e eu não souber onde você está para buscar o corpo, repetirei essa frase para a nossa mãe.

Ela estava longe, mas podia imaginar a Ginny a revirar os olhos.

— Eu estou com o Harry, Ron.

     Por isso que ele estava com pressa.

Ri internamente.

— Beleza. – respondi.

Apesar de a minha voz ter saído sem muita empolgação, eu estava feliz por saber que a minha irmã passaria a noite em um lugar minimamente seguro.

Ginny percebeu o tom da minha voz.

— Algum problema por isso? – ela perguntou, calma. – Achei que vocês já fossem amigos...

— Não, nenhum problema. – a tranquilizei. – Só estou com um pouco de inveja.

Ginny soltou uma gargalhada ao telefone.

— Não sabia que você tinha mudado suas preferências, Roniquinho. – ela falou entre risos. – Mas não tem problema. Amanhã o Harry estará inteirinho, de volta para você.

A acompanhei na gargalhada.

— Não é isso, sua retardada! – respondi. – É que você está aí aproveitando a noite e eu estou aqui, cozinhando sozinho.

— Arranja alguém para você, ué.

— Ah, claro! É fácil assim!

— Lógico que é! – minha irmã confirmou. – Como a Angelina disse, a genética Weasley é maravilhosa.

Ri outra vez.

— Tá bom, polegar. Vá aproveitar sua noite que eu vou terminar de fazer a minha comida.

Ginny se despediu e desligou o telefone. Eu terminei de cozinhar e voltei para varanda, se era para jantar sozinho eu ia fazer isso onde fosse mais agradável para mim.

Um tempo depois voltei para a cozinha e arrumei a bagunça que eu tinha feito. Quando eu terminei a organização já passava das dez. Como eu havia acordado muito cedo, o sono não demorou a aparecer. Entrei no meu quarto e segui direto para o banheiro.  Assim que terminei a minha higiene, me joguei na cama e apaguei. Acordei assustado quando o celular voltou a tocar.

Irritado, atendi sem  nem olhar o nome na tela.

— Ginny, não é só porque você está se divertindo que tem que esfregar isso na minha cara. – resmunguei sonolento.

— Estava com saudade da sua voz, Ron.

Quem falava do outro lado não era a minha irmã. Meu sono foi embora em um passe de mágica.

Apoiei as minhas costas na cabeceira da cama.

— O que você quer? – perguntei grosseiramente.

— Falar com você – a voz respondeu.

— Eu não tenho nada pra falar com você.

— Mas eu tenho, Ron. – ela era insistente. – Você não pode passar a vida toda fugindo de mim.

Segurei a minha raiva.

— Eu não estou fugindo de você. Nós só não temos mais nenhum assunto para tratar.

— Claro que temos. Você me deixou aqui em Londres sozinha! Foi embora como se não tivesse culpa do que aconteceu também!

— Eu não tive culpa! – bradei. – Você mentiu para mim!

— Eu não menti. – a voz se defendeu. – Eu apenas omiti.

— Deu no mesmo.

Ela suspirou.

— Eu preciso da sua ajuda, Ron. – ela falou. – Eu preciso que você me ajude a resolver isso.

— Se vira. Não é mais comigo. Na verdade nunca foi.

A voz se alterou. Parecia estar chorando.

— Falar isso agora é fácil, Ronald. – ela gritou. – Mas quando você chegou aqui fui eu que não te deixei cair.

— Muito obrigado pela sua ajuda. – eu falei ironicamente. – Muito obrigado pela sua rasteira também.

— Ron, por favor, não faz isso. – ela pediu, ainda chorosa. – Eu sei... Eu sei que eu errei, mas você fugir não vai apagar o que aconteceu. E principalmente, não vai apagar a gente!

— Eu não fugi. Só não tinha mais nada o que viver aí.

Retruquei exasperado.

— E além do mais, nunca existiu um nós! Só tive eu e a minha burrice!

A voz se desesperou.

— Tais-toi, Ron! – ela pediu, desesperada. – Não fale assim! Por favor, Ron, não fale assim...!

— E você quer que eu fale como?

Ela não me respondeu. Eu só conseguia escutar sua respiração rápida, do outro lado da linha.

— Que porra é que você quer que eu fale?! – perguntei outra vez. – Me diz!

A voz permaneceu calada do outro lado da linha.

— Nem você tem uma resposta, não é?

— Ron...

Eu a interrompi. Não estava disposto a ouvir mais nada.

— Não pense que eu voltei por sua causa, que eu voltei para não ter que te ver mais. – cuspi as palavras. –Eu sofri mais pelo que você provocou do que pela sua ausência.

Ela soluçou.

— Eu sinto a sua falta, Ron.

— Que pena... Eu não sinto mais a sua.

Desliguei o celular.


Notas Finais


Eu adooooro esse pov do Ron, rio muito com ele ;)
Mas e essa conversa aí do final, hein? Meia tensa, não é?
Com quem será que ele estava falando?

Deixem suas lindas opiniões aqui em baixo pra eu saber!

Beijos :*


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