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História A Troca - A Autorização


Escrita por: MrsRidgeway

Notas do Autor


Olá de novooooo!

Não é outra surpresa, é só um comunicado mesmo :D
Vou mudar (mais uma vez, rs) o dia das postagens, pra ficar mais fácil pra mim cumprir essas duas postagens semanais.
Então hoje tem o quê? Tem Fic sim!
As postagens ficarão fixas na segunda e na quinta, e dessa vez não muda não ;)

Agora vamos ao capítulo !

Capítulo 8 - A Autorização


 — Eu acho que a Hannah deveria fazer um strip-tease para o Neville! – Angelina exclamou. – No meio do bar!

— A Ginny também! – Luna completou. - Só que pra o Harry, claro!

Todas nós rimos com as sugestões.

— Gente, pera aê! – eu pedi, ainda a sorrir. – Vamos levar essa organização a sério, por favor!

— Mas é sério, Mione. – Angel rebateu. – Se vamos organizar um aniversário escondido, a surpresa tem que ser completa!

Voltei a rir. Angelina não tinha jeito mesmo.

— Eu já deixei tudo certo com o Dino lá no pub. – falou Ginny. – Dia 31 nossos lugares já estão reservados. Ainda bem que vai cair em um sábado.

— Como vocês vão fazer para arrastar eles para lá? – eu perguntei, curiosa.

— Eu vou dizer ao Neville que estarei trabalhando na noite da sexta, que é o aniversário dele de fato. – respondeu Hannah. – E aí marcaremos de jantar junto no sábado.

— Farei o mesmo com o Harry. – Ginny concordou. – Geralmente ele só sai comigo mesmo no dia do aniversário dele. Não vai ser tão difícil.

— Ui, requisitada! – brincou Angelina. – Dona da pepeca de ouro!

     Meu Deus, alguém controla essa mulher!

Ginny rolou os olhos para a amiga e todas nós caímos na risada.

— Mas e o bolo? – agora era Luna que fazia perguntas. – Não dá para fazer um bolo que junte os dois cursos no mesmo desenho...

— Até daria. Não são áreas muito distantes. – comentei.

Angel balançou o indicador em negativa.

— Gente, vamo colocar o escudo do Cannons em cima e tá tudo ótimo. – sugeriu.

Era uma boa ideia. O Cannons era o time de futebol dos garotos.

— É uma ideia maravilhosa, Angel! – Hannah bateu palminhas, animada. – Só que eu não conheço ninguém que saiba fazer esses bolos temáticos...

Levantei a mão.

— Eu conheço! – afirmei. – A minha vizinha trabalha com tortas e doces, e são maravilhosos.

— Pronto! – Ginny exclamou, empolgada. – Você pode falar com ela, Mione?

— Posso sim. Encomendo para o dia 31, certo?

— Seria melhor.  – Luna assentiu. – Dessa forma a gente não iria precisar esconder o bolo para eles não verem.

Hannah cruzou os dedos.

— Tomara que tudo isso dê certo. – falou.– É tão difícil para mim esconder as coisas do Nev.

— Então vê se segura essa sua língua, Hanninha. – Angelina ordenou.

— Eu sei... só que é difícil!

— Difícil é o caralho. Ocupa a sua língua e o Neville fazendo outra coisa, mas, não conta. A gente tá tendo um trabalho da porra para organizar tudo.

— Seria foda se eles descobrissem antes da hora. – Ginny completou.

— Eu sei gente! – Hannah se defendeu, a sorrir. – Calma, eu não vou contar nada não, juro!

— Muito bem!

Luna se ajeitou na cadeira, próxima a Ginny. Ela encarou a ruiva.

— Quem nós vamos chamar? – perguntou. — Não seria legal nos excedermos demais.

— Bom, eu só chamei o Miguel e a Katie. – Ginny respondeu. – Pretendo falar com o Cedrico, quando o encontrar.

— Eu chamei o Simas e a Parvati. – Hannah disse. – Fora o Dino já vai estar lá.

Eu me dei conta que elas se esqueceram de contar uma pessoa.

— E... hum... – pigarreei. – Tem o Ronald também.

Luna apontou para mim, assertiva, e Ginny bateu na própria testa.

— Verdade! – a ruiva exclamou. – Eu me esqueci. Põe o Ron na conta.

— Quem é Ronald? – Hannah questionou. – Eu não o conheço.

— É o irmão gostoso da Ginny. – Angelina comentou.

Ela se esticou na direção da loira, a fingir despretensão.

— E põe gostoso nisso, viu? – sussurrou.

Mais uma vez, todas riram. Eu forcei um sorriso. Não gostei nada da forma que Angel falara do ruivo.

     Você não tem que gostar ou desgostar de nada, Hermione.

De fato, mas fora inevitável. Eu só não sabia o porquê.

Ginny olhou para a amiga, divertida.

— Por falar nisso, Angel. – apontou. – Olha ali quem tá vindo ali...

Eu e as meninas viramos o pescoço para enxergar o lugar que a ruiva ela indicara. Meus olhos se fixaram na figura em questão. Ronald caminhava na nossa direção com um sorriso natural no rosto. O vento batia nos seus cabelos vermelhos, deixando-os sedutoramente bagunçados. Pude reparar também que enquanto andava, Ronald deixava algumas admiradoras pelo caminho.

Ele chegou até nós sorridente.

— Todas vocês juntas aqui tá me deixando com medo. – brincou.

Isso provocou inúmeros sorrisos. Até mesmo o meu.

— Senta aqui, Ron. – Ginny o puxou pela mão. – Estamos organizando o aniversário surpresa do Harry e do Neville.

Ronald arrastou uma cadeira e sentou-se entre a irmã e Luna. A loira virou-se para ele com um sorriso nos lábios.

— Oi, Ronald. – o saudou.

— Oi, Lu.

Ele retribuiu o cumprimento com um beijo em sua bochecha.

     Desde quando eles são tão amiguinhos assim?

— Ei, eu também quero beijo!

Angelina se esticou ao lado de Ginny e virou o rosto na direção de Ronald. Ele riu e também deu um beijo na bochecha dela.

     Talvez a Angelina esteja passando dos limites...

Talvez. Que sabe. Eu, por exemplo, estava achando isso.

— Mais alguém? – ele perguntou rindo.

— Eu!

Hannah resolveu entrar na brincadeira e ergueu a mão, divertida.

— Mas eu não te conheço. – a loira salientou. – Pode Ginny?

     Diz que não!

— Pode sim. – Ginny virou-se para o irmão. – Ron, essa é a Hannah. Ela é a namorada do Neville.

Ronald e Hannah trocaram dois beijos na bochecha, em cumprimento. Assim que voltou ao lugar, o ruivo apoiou o braço no encosto da cadeira de Luna.

— E então... – ele encarou o grupo. – Como vocês estão pretendendo fazer esse aniversário?

Mais uma vez, fora Angelina a primeira a falar.

— Sabe aquele pub que eu te cobicei dia que você chegou? – perguntou.

Ele balançou a cabeça, a sorrir.

     Eles já tinham até saído!

 Esse Weasley não se controla mesmo.

  – Levaremos o Harry e o Neville para lá e faremos a comemoração.

— E nada de deixar escapar para o Harry, viu Ronald?! – Ginny avisou com o dedo em riste. – Agora que vocês são melhores amiguinhos e andam para cima e para baixo toda hora.  

— Sim senhora! Não contarei nada, senhora!

Ele prestou continência e arrancou mais alguns sorrisos de nós.

 

 ...

 

— Ficou tão calada de repente, Hermione... – Luna comentou.

As meninas decidiam a questão da decoração há quase uma hora. Eu preferi ficar na minha, calada, apenas a observar um pouco ao meu redor.

— Não é nada. – me apressei em responder. – Só estou um pouco cansada.

— Nem fala, Mione. Eu também estou. – Hannah suspirou, pesarosa. – Vida de residente não é fácil.

Sorri para ela.

— Eu imagino. – disse. – No meu caso são só os resquícios de cansaço da viagem.

— E do Krum idiota.

O comentário impertinente da Ginny me fez olhar de cara feia para ela. Ao lado da irmã, Ronald franziu a testa.

     Eu vou matar a Ginny!

Luna sorriu para mim, condescendente.

— Nós soubemos, Mione. – a frase foi em tom de desculpas.

— Tudo bem. – a tranquilizei. – Não tem problema.

— Como você está?

— Eu tô legal, eu acho.

O pior é que eu estava realmente bem. Quer dizer, eu estava melhor do que eu poderia imaginar que estaria. Só um pouco confusa, talvez.

Angel bateu palmas.

— Isso mesmo, Mione. Vá afogar suas mágoas em outro peitoral másculo!

— Angelina! – as meninas gritaram ao mesmo tempo.

Elas caíram na risada. Eu também. Pus a mão no rosto em seguida, envergonhada. Pela fresta dos meus dedos, vi que o ruivo me olhava curioso.

Respirei fundo antes de voltar a falar.

— Eu estou bem, gente. De verdade.

Ginny me olhou de soslaio. Acho que ela não acreditava muito nisso.

— Ok, então... – a ruiva falou. – Mas se precisar da gente é só gritar.

— Eu sei. – assenti.

Ela sorriu, amigável, antes de se virar na direção da Angel.

— Angelina, vamos? – perguntou. – O laboratório já deve estar aberto.

Angel fez uma cara feia.

— Vamo né? – respondeu, chorosa. – Do que adianta não ter aula na sexta e ter que vir para faculdade fazer trabalho?

— Pobre garota.

— Você não sabe o quanto.

Ginny rolou os olhos. Angelina sorriu e se levantou. Hannah fez o mesmo.

— Bom, eu tenho que ir para o hospital. – a loira disse. – Meu plantão já vai começar, por sinal.

— Bom trabalho. – desejei.

— Obrigado, Mione. – ela agradeceu. – Beijos, meninas! – se despediu. – E Prazer em conhecê-lo, Ron!

— O prazer é todo meu! – o ruivo respondeu, educado.

     Desde quando ele foi tão polido assim?

Custava ele me tratar da mesma forma?

Hannah se afastou de nós, em direção ao estacionamento. Ginny aproveitou a deixa para encarar o ruivo ao seu lado.

— Irmãozinho, você não tem aula na sexta-feira. – observou.

— Não tenho. – ele confirmou.

— O que você veio fazer aqui, então?

— Resolver uns assuntos importantes.

Ginny semicerrou os olhos para o irmão. Ron apenas abriu um largo sorriso. A ruiva deu um tapa de leve em seu braço e se levantou da cadeira.

— Vamos embora, Angel, antes que eu desista e volte para casa. – falou.

— Seria esse o meu sonho?

Angelina sorriu. Ela pegou as suas coisas em cima da mesa.

— Tchau gente! – se despediu.

As duas seguiram para o pavilhão de química. Ficamos só eu, Ronald e Luna a mesa. Eu me senti desconfortável. Arrumei minha bolsa no ombro e me levantei.

— Eu acho que é melhor eu ir também – falei.

     Não quero atrapalhar vocês dois.

Luna sorriu.

— O Ronald também tem que ir, não é mesmo?

Ela encarou o ruivo. Eu vi que Ron demorou um pouco para processar a afirmação, com a cabeça inclinada para o lado.

— Tenho? – perguntou.

— Tem sim. – a loira repetiu.

Ele ergueu as sobrancelhas e sorriu.

— Ah, verdade! – exclamou. – E tenho mesmo. – confirmou. – Vai para lá, Granger?

Ronald apontou para um dos prédios.

     Não é da sua conta.

Eu imaginei que os dois quisessem ficar sozinhos, mas, pelo visto, eu estava errada.

— Vou. – respondi.

— Então eu vou com você. – ele comunicou. – Tchau, Lu.

O ruivo deu um beijo na testa de Luna antes de se levantar para me acompanhar. Eu me despedi da loira e segui adiantada pelo pátio até entrar no prédio. Percebi que Ronald correra um pouco para me conseguir me alcançar.

Já dentro do pavilhão, ele e tocou o meu braço levemente.

— Para que essa pressa toda? – ele perguntou.

Diminuí os passos.

— Eu não queria atrapalhar vocês dois – eu respondi.

     Maldita boca minha que não consegue ficar calada.

— Digo, você e a Luna, e tal...

O Weasley soltou uma gargalhada automaticamente.

— Sabe Granger, se você não gritasse tanto comigo... – ele se aproximou.– Eu diria que você está com ciúmes.

     Talvez eu esteja.

— Lógico que não, Ronald! – eu neguei rapidamente.

— Sei...

Ronald se aproximou mais ainda.

 – Isso me lembra de uma coisa...

— Que coisa?

— Que você não ganhou beijinho.

Antes que eu raciocinasse, Ron me puxou pelos ombros. Nós dobramos para o outro corredor, mais isolado. O ruivo encostou-se à parede e me puxou pela cintura, firme. Dessa vez não tinha nenhuma caixa no meio do caminho impedindo que nós colássemos os nossos corpos.

Eu pude sentir o coração dele batendo tão rápido quanto o meu.

— Mas antes vamos conversar, Granger – Ronald falou. – Você tem que parar com isso de roubar minha comida toda vez que a gente se encontra a sós.

O rosto dele estava a menos de dez centímetros de distância do meu. Respirei fundo. Eu precisava manter o meu autocontrole.

— Não é minha culpa se você facilita demais, Weasley. – provoquei.

     Se ele sabe brincar, eu também sei.

Ron riu e mordeu o lábio inferior. Eu senti suas mãos descerem um pouco da minha cintura, em direção ao meu quadril.

— Roubar é feio, Granger. – sussurrou. – Os seus pais não te ensinaram isso não?

Ele roçou a barba pelo meu maxilar. Quase estremeci.

— Enquadrar mulheres indefesas no corredor vazio também é. – rebati.

Ele voltou a rir e subiu uma das mãos lentamente pela lateral do meu corpo até o meu cabelo, penteando-o com os dedos para trás.

— Concordo... – falou. – Só que de indefesa você não tem nada, Hermione.

Ergui uma sobrancelha, surpresa com o comentário. Era estranho, mas eu senti como se o ruivo falasse em tom de elogio. Acho que eu estava tão acostumada a ser tratada como um bibelô, frágil, que havia me esquecido de como era ser vista por alguém de outra forma.

A forma que os dedos de Ron tocavam a os meus cabelos era carinhosa. Fechei os meus olhos.

— Isso é mais um motivo pra você não dar vacilo perto de mim, não acha? – comentei.

Pude escutá-lo rir mais uma vez antes.

— Então quer dizer que Hermione Granger também tem seus maus costumes... – falou.

Abri os olhos.

— Todo mundo tem.

Ron parou de acariciar meu cabelo e desceu a mão de volta para o meu quadril. Na verdade ele encaixou as duas mãos nos bolsos dos fundos da minha calça jeans, bem em cima da minha bunda.

Inclusive, ele parecia muito à vontade com a ação.

     Eu também.

O ruivo apoiou a sua testa na minha.

— Estamos sozinhos agora, Hermione? – perguntou. – O que é que você vai roubar de mim?

Estávamos perto demais para que mantivesse qualquer controle sobre os meus atos. Inconscientemente, inclinei a cabeça levemente para o lado. Nossas bocas ficaram na mesma direção.

Ron não dificultou, pelo contrário, ele também vergou o pescoço. Seu hálito quente pareou os meus lábios.

Até que fomos interrompidos.

— Sr. Weasley? Srta. Granger?

Ronald e eu nos separamos com o susto. Remo Lupin estava parado na soleira da porta de uma das salas, a nos observar.

— Vocês não se esqueceram de alguma coisa? – ele nos perguntou.

Eu olhei no relógio. Já haviam se passado mais de vinte minutos do horário marcado para a reunião.

— Lógico que não, professor. – o ruivo respondeu. – Hermione e eu estávamos apenas resolvendo umas divergências pessoais.

Remo arqueou as sobrancelhas.

— Conheço essas... divergências, como vocês preferem chamar..

O ruivo prendeu o riso na garganta.

 – É importante resolve-las, visto que agora além de colegas de curso também somos parceiros de pesquisa. – completou.

     Parceiros de pesquisa?

Franzi o cenho.

— Eu não entendi... – me manifestei pela primeira vez após o susto. – Ronald também faz parte do novo projeto?

— É sobre isso que vamos conversar, Hermione.

Lupin respondeu indicou a sala que estava antes.

 – Venham, entrem logo.

Ronald e eu passamos pelo professor e entramos na sala. Nós nos sentamos nas primeiras cadeiras, mais próximas ao centro. Lupin, como sempre, sentou-se a beirada da mesa.

Ele nos encarou.

— Já que vocês dois já se conhecem, até bem demais... – sinalizou. – Vou dispensar as apresentações.

Eu pude sentir minhas bochechas esquentarem. Olhei para Ron e ele se mantinha falsamente sereno.

Lupin deu início à explicação.

— Como vocês já foram informados previamente, eu estou interessado em começar uma pesquisa sobre o Rio Jabuticaba, sobre, digamos, a sua trajetória histórica.

Não sei porque, mas o “digamos” no meio da frase dele me deixou com um quê de dúvida sobre a real intenção dessa pesquisa.

— Obviamente, eu preciso de ajuda. Por isso, gostaria muito que vocês se unissem a mim. – Lupin pediu. – Cada um de vocês tem algo diferente a acrescentar. Isso será muito importante para a construção desse projeto.

Ronald e eu balançamos a cabeça, em concordância. Lupin sorriu. Ele mexeu na pasta ao seu lado e pegou dois envelopes pardos.

Ele os entregou, um para cada.

— Eu não posso me estender muito hoje, na próxima sexta eu explico tudo melhor. – avisou. – Mas, hoje eu trouxe os documentos necessários para nós firmarmos esse acordo. Eu quero que vocês levem pra casa e leiam com atenção, e qualquer duvida me sinalizem.

Abri o envelope e puxei os papeis. Eram duas folhas de contrato. Pelo que eu conhecia do trabalho de Remo Lupin, aquele documento não precisaria de correção alguma.

Eu assinei os papéis e estendi a mão para entrega-los de volta. Remo recusou.

— Eu não vou ler, Remo. – falei. – Eu sei que está tudo correto.

— Hermione, seria irresponsável da minha parte deixar você fazer isso – Lupin rebateu.

Ronald, que até então apenas nos observava, resolveu se manifestar.

— Eu também não vou ler. – avisou.

— Ron...

— Lupin, se a Granger tá dizendo que tá certo é porque deve estar. Eu confio em vocês.

Lupin sorriu. Assim que Ron percebeu que o professor havia se dado por vencido, ele assinou os documentos.

Remo aceitou os envelopes.

— Sendo assim, vocês já estão liberados. – disse.

Eu me preparei para levantar. Até que vi Remo fazer sinal para o ruivo ao meu lado.

 – Ah, quase me esqueci! – exclamou. – Ron, eu gostaria que você assinasse isso aqui para mim também.

Remo estendeu outro papel para Ronald e eu me estiquei até a cadeira do ruivo, curiosa. Ron, assim como eu, parecia não saber do que se tratava o novo documento.

Ele franziu a testa quando deu uma lida superficial no papel.

— Isso é o quê? – perguntou. – Uma autorização?

Remo assentiu.

 – Sim. – Lupin respondeu. – Eu estou tornando você o responsável caso eu necessite me ausentar.

Deixei os meus ombros caírem. Eu, que já tinha feito duas pesquisas anteriores com o Lupin, fui totalmente colocada de lado por um estranho recém-chegado na universidade.

Eu não consegui me controlar. Era uma situação difícil de aceitar para mim.

— Remo, eu não acredito que você está colocando ele no comando! – exclamei. – Ele chegou agora!

Lupin se assustou com a minha reação.

— Hermione, não me entenda mal. – ele se explicou. – Eu só acho que neste caso o Ron está mais adequado a chefia.

— Ah, você acha? – fui irônica.  – Ele chegou agora e você já quer passar a ideia de que ele é mais capacitado que eu.

Definitivamente, eu estava magoada pela falta de consideração. Ronald me encarou.

— Hermione, eu não estou entendendo. – ele cruzou os braços. – Por que eu não posso ser mais capacitado que você?

Travei.

— Não é isso... – me defendi. – É que eu est...

— É que você não aceita que ninguém esteja acima de você, não é? – o ruivo me interrompeu.

Seu tom era de acusação.

— Você não aceita menos que o primeiro lugar em tudo. Agora eu entendo porque você não consegue fazer nada em grupo.

Pela primeira vez na minha vida eu não soube o que responder. Ao meu lado, Ronald assinou a autorização, raivoso.

— Má noticia para você, Hermione. Você vai ter que me engolir, querendo ou não. – falou.

Seu tom era frio. Nem mesmo durante o episódio da farmácia eu tinha o visto agir desse jeito.

O ruivo se levantou da cadeira e entregou o papel a Lupin.

— Precisa de mim para mais alguma coisa? – ele perguntou.

— Não, Ron. Você está liberado.

— Até segunda-feira então.

Sem dizer mais nada, Ronald saiu adiantado. A porta foi fechada sem muita delicadeza. Eu permaneci estática, em silêncio. Eu precisava digerir o que havia acabado de acontecer.

Remo respirou fundo e me encarou.

— O que foi isso, Hermione?

— Eu... – suspirei. – Eu não sei, professor...

A vergonha tomou conta de mim.

 – Me desculpe.

Lupin se levantou da ponta da mesa.  Ele sentou-se ao meu lado.

— Não é a mim que você deve desculpas. – disse, sério. – É ao Ron.

Eu sabia que eu estava errada.

— É que nós trabalhamos juntos há tanto tempo, Remo... – falei, a procurar alguma defesa.

     Se é que ela existia.

Abaixei a cabeça.

— Quando você entregou aquela autorização ao Ronald foi como se ele estivesse, sei lá...

— Tomando o seu lugar?

Assenti, muda. Lupin colocou minha mão entre as suas e sorriu amavelmente.

 – O Ron não fez isso, Hermione. E eu nem acho que pretenda fazer.

— Então por que você o escolheu como líder?

— Eu conheci o Ron numa situação curiosa... – Remo explicou. – Ele demonstrou ter uma sensibilidade incomum. Isso chamou a minha atenção.

Franzi a testa. Eu não tinha entendido a correlação da o episódio com a escolha do homem ao meu lado.

Lupin sorriu outra vez.

— Mione, é que você é uma das pessoas mais inteligentes que eu já tive a felicidade de conhecer. Só que, às vezes, você deixa sua racionalidade tomar conta de você. Eu optei pelo Ron porque nem todas as decisões devem ser tomadas com a cabeça.

— Então você o escolheu porque o Ron é o inverso de mim?

— Não, Mione, eu o escolhi porque a personalidade dele completa a sua.

 

...

 

Toquei a campainha da casa dos meus pais.

— Mione!

Papai ergueu os braços para mim, animado.

 – Eu e sua mãe não estávamos te esperando tão cedo!

Sorri quando papai me puxou para um abraço sufocante. Ele me arrastou para a sala.

— Mônica! – papai gritou para a minha mãe. – Veja quem já chegou!

Mamãe desceu as escadas rapidamente.

— Mione!

Ela me desvencilhou do abraço de meu pai somente para me dar outro, tão sufocante quanto o dele.

— Adiantada como sempre! Não são nem 09h00 da manhã!

     Eu não queria ficar em casa sozinha com os meus pensamentos, mãe.

Apenas sorri, outra vez. Eles me arrastaram até a cozinha para tomar café-da-manhã. Estar com os meus pais de deixava mais calma. Era como se a presença deles me fizesse esquecer um pouco das coisas ruins que aconteciam ao meu redor.

Quase na hora do almoço, eu subi para o meu quarto. Troquei de roupa e liberei Bichento da gaiola. O meu gato se espreguiçou, agradecido, e logo depois se roçou pelas minhas pernas, a pedir carinho. Eu me abaixei e passei a mão pelo seu pelo caramelado, devagar. O escutei ronronar, manhoso, e sorri.

Voltei à cozinha alguns minutos depois. Papai e mamãe conversavam na configuração de sempre, com ela a finalizar a refeição e ele a esticar a mão para provar.

Eu me ofereci para arrumar a mesa e pouco tempo depois nós três nos sentamos para almoçar.

— Meu amor, por que Viktor não veio com você dessa vez? – Mamãe me perguntou.

     Eu sabia que essa hora ia chegar.

— Nós terminamos. – respondi.

Mamãe parou de mexer na salada por um instante.

— Por quê? – indagou. – Vocês namoravam a tanto tempo!

Dei de ombros, indiferente.

— Não estava dando certo. Foi melhor assim.

Papai assentiu com a cabeça.

— Concordo, querida. – ele disse. – Você sabe bem que eu nunca fui muito com a cara daquele garoto.

— Wendel! – mamãe ralhou.

Eu ri com gosto. O meu pai nunca escondera a sua opinião sobre Viktor.

— Mas é verdade, querida! – ele se defendeu. – Nunca senti confiança nesse Krum!

— Nele ou em nenhum namorado que eu te apresente, não é pai? – salientei.

— É.

Papai assentiu, orgulhoso.

 

...

  

— Esse restaurante é maravilhoso, mãe!

Eram onze da noite. Meus pais e eu tínhamos acabado de chegar do jantar.

— Eu te disse que era bom! – mamãe comentou. – Você precisa vir aqui mais vezes, meu bem.

— Eu sei...

Eu segurei as suas mãos, carinhosa.

— Eu vou arranjar mais tempo para visitar vocês. – prometi.

— Não se preocupe com isso. – ela falou. – Eu sei que você tem os seus afazeres da universidade. Eu e o seu pai entendemos.

— Eu posso dar um jeito.

Mamãe sorriu e acariciou a minha bochecha. Papai entrou na sala e soltou um longo bocejo.

— Acho que eu estou com sono. – comentou.

— Acha? – minha mãe ironizou, divertida. – Vamos subir.

— Eu também vou me deitar.  – eu disse.

Nós subimos as escadas. Meus pais me desejaram boa noite e entraram no quarto. O meu era logo em seguida. Assim que adentrei o cômodo, segui para o banheiro. Tirei a roupa e entrei debaixo do chuveiro.

A solidão aflorou minha mente para os acontecimentos da semana. Pensei no quase beijo entre eu e Ron, no dia anterior. A minha reflexão se estendeu até a minha crise de puro egoísmo, que veio logo depois.

Fora isso, existiam outras coisas que não saiam da cabeça, como a crise de ciúmes de Viktor, na cantina. Eu não sabia muito bem o que achar daquilo.

     Minha cabeça vai explodir com tanta coisa!

Saí do banho e enxuguei os meus cabelos na toalha, com calma. Um dos meus pijamas adolescentes estava em cima da cama. O vesti antes de me aninhar entre os cobertores.

Não consegui dormir. Pelo visto eu passaria a noite em claro. Depois das duas da manhã e várias tentativas de pegar no sono, resolvi descer e beber um pouco d’água.

A casa estava escura. Abri a porta da geladeira e a luz do refrigerador ofuscou os meus olhos. Peguei a garrafa de água na porta e despejei o conteúdo no copo. Enquanto bebericava o líquido, andei até a varanda dos fundos.

Contei quantas vezes passei a noite por ali. Eu gostava de ver o mar quando estava sem vontade de dormir. Para a minha surpresa, minha mãe estava na varanda, sentada em sua cadeira de balanço. Ela lia um dos seus romances antigos.

Diferente de mim, mamãe não se assustou quando percebeu a presença de alguém próximo a ela.

— Eu estava te esperando. – ela disse, a analisar o litoral.

Ergui a sobrancelha.

— Estava?

— Sim.

Mamãe me indicou a outra cadeira e eu me sentei.

— Eu me lembro de quando você era criança e não conseguia dormir. Você vinha devagarzinho pela casa, na ponta dos pés, e sentava aqui no chão com o seu livrinho.

Sorri de canto ao relembrar a minha infância. Minha mãe fechou o livro e me encarou.

— O que aconteceu, Mione? – perguntou.

— Nada mamãe. – eu respondi. – Eu estou bem.

— Certeza?

Ela me olhou por cima dos óculos. Eu queria ter sido convincente, mas, mamãe me conhecia muito bem para eu sequer cogitar prolongar a mentira por muito tempo.

Neguei com a cabeça.

— Não. – respondi.

Mamãe se inclinou para frente.

— É por causa do Viktor? – indagou.

     Não exatamente.

— Não sei... – respondi. – Quer dizer, acho que é.

Não era totalmente falsa a minha resposta.

— Por que vocês terminaram, Mi?

— Viktor que terminou, mãe. Dois dias antes da minha viagem. Ele me disse que ele precisava de espaço para curtir a juventude dele.

— Que desgraçado!

O xingamento da minha mãe me fez rir. Ela continuou o interrogatório.

— Ele só te disse isso?

Balancei a cabeça em negativa outra vez.

— Ele me disse que pensa em voltar para mim um dia.

— E você? Pensa também?

     Essa é uma boa pergunta, mamãe...

Dei e ombros.

— Mione... – mamãe insistiu.

— Eu não sei, mãe. – fui sincera. – Eu realmente não sei.

Mamãe me analisou por algum tempo. Fitei o oceano, tentando fugir do seu olhar.

— Pela naturalidade que você me contou essa história, eu diria que não é isso que está te deixando triste. – ela concluiu.

Assenti.

— Não é só isso. – assumi.

Mamãe sorriu. Ela inclinou a cabeça na minha direção.

— Tem outro alguém, não é?

— Tem... – soltei um longo suspiro. – Só que não do jeito que você está pensando.

— E de que jeito é?

— Também não sei.

A frustação era latente no meu desabafo. Minha mãe riu com gosto dessa vez. A encarei sem entender o motivo de tanta felicidade.

— Por que você está rindo? – indaguei.

— Essa pessoa deve mexer mesmo com você, minha filha. – ela comentou. – Porque eu não vejo você sem palavras desse modo desde quando você tinha dez anos de idade, e ganhou uma das edições de colecionador da Agatha Christie.

— Você acha mesmo?

— Acho.

Um tiquinho de esperança se acendeu em mim.

— Eu magoei alguém, mamãe. Agora eu estou arrependida pelo que eu disse.

Mamãe se inclinou na minha direção.

— Meu bem, seja o que for que tenha te balançado dessa forma, eu sugiro que você sente e converse com a pessoa.

— Mas e se ele não me perdoar?

     Por que isso está fazendo tanta diferença para você, Hermione?

Mamãe me fitou, marota.

— Ele? – perguntou, a sorrir.

Eu tinha me entregado. Balancei os ombros, com um sorriso no rosto. Ela descobriria de qualquer forma.

— É, ele. – confirmei.

— E quem é ele?

— Alguém.

— Vou conhecê-lo um dia?

— Quem sabe.

Eu, por exemplo, não sabia. Minha mãe sorriu.

— Bom, eu te conheço. Não acredito que você tenha feito algo imperdoável. – ela me tranquilizou. – E se ele se importar com você o quanto você está se importando com ele, creio que irá te desculpar.

Mamãe estava certa. Eu me levantei e te dei um abraço apertado.

— Obrigada. – agradeci.

— Eu estou aqui para isso, minha menina.

Sorri. Eu me despedi da minha mãe e subi novamente para o quarto. Quando deitei na cama, o sono tomou conta de mim.

 

...

 

 Parada na porta, eu vi o carro dos meus pais cruzar o horizonte. Meu coração já apertou de saudade. Eles haviam me trazido em casa logo após o almoço do domingo.

Atravessei o batente quando não vi mais rastros do automóvel e me joguei de qualquer forma no sofá. Fiquei um tempo ali, parada e sozinha. Cansada do silêncio, liguei a televisão. Não encontrei nada interessante para assistir.

Desliguei a TV, dada por vencida.  Olhei para a mochila que ainda descansava ao meu lado e meu senso de organização despertou, a sinalizar que ali não era o lugar dela. Eu me levantei do sofá e levei a mochila para o quarto. Como era pouca coisa em dez minutos a roupa suja já estava no cesto da lavanderia e os meus produtos no banheiro.

Conferi no relógio do celular e percebi que não havia dado nem cinco horas da tarde.

Eu não iria suportar ficar em casa sem fazer nada até a hora de ir dormir.  Resolvi sair para comprar os presentes do Neville e do Harry. Eu me arrumei, chamei um táxi e saí.

O shopping estava lotado, como em todos os domingos. Com calma, dei uma olhada nas primeiras lojas. Nada chamou a minha atenção. Imaginei que no segundo piso houvesse algo que eu achasse satisfatório para os dois.

Eu estava completamente errada. Meia hora depois eu cheguei à conclusão de que não era ali que eu encontraria o que eu estava a procurar. O presente do Neville, por exemplo, seria mais fácil de comprar pela internet, em casa. Até já tinha em mente o que iria agrada-lo.

Com uma parte decidida, eu precisava procurar apenas o presente do Harry. Vaguei por mais algum tempo, sem sucesso. Minha paciência estava perto de se esvair por completo quando parei em frente à vitrine de uma loja de relógios.

Dei uma olhada superficial, sem muita animação. Um cheiro conhecido invadiu as minhas narinas.

Meu coração começou se acelerou quando escutei a voz grave.

— Boa noite, Granger.

Ronald Weasley estava parado ao meu lado, a encarar o mesmo mostruário que eu olhava antes.

 


Notas Finais


Como será esse encontro dos dois no shopping?

Comentem aqui pra mim o que vocês acham ;)
Beijos! :*


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