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História A Última Colheita - Ab initio


Escrita por: Eep

Capítulo 1 - Ab initio


 

Park Jimin:

Como eu adorava meu trabalho. Vocês podem até pensar que passar o dia inteiro em baixo do sol colhendo uvas é algo ruim, mas eu realmente era fascinado por aquela fruta. Ela parecia tão macia ao meu ver, seu cheiro era a minha perdição. Eu não sabia o que fazer quando se tratava delas. Paixão era pouco para definir.

Claro que a colheita não era a única função que me cabia na vinícola do falecido senhor Jeon. Era óbvio que eu sentia falta do velhote e de seus conhecimentos, e embora fosse meu chefe, costumávamos ser tão próximos que ás vezes eu até me sentia parte da família.

Me lembro bem de segurar fortemente a sua mão antes que o último suspiro fosse dado, lembro também de chorar muito e de precisar ser sedado graças ao estresse. Não tive coragem de comparecer ao funeral, mas confesso que sempre visito seu túmulo, sabe? Pra trocar uma ideia, não que ele me responda, até porque eu não sei se gostaria que ele me respondesse... Vocês entenderam.

Não demorou muito para que as coisas ficassem conturbadas, minha melhor amiga e eu fizemos nosso melhor, os boatos eram de que o herdeiro não queria assumir os negócios.

Eu não podia julga-lo, afinal, mesmo para se administrar uma vinícola é preciso paixão, não acho correto se dedicar a algo de maneira forçada.

No entanto, conhecer Jeon Jungkook certamente me balançou em vários sentidos e honestamente... Eu tinha todos os motivos do mundo para odiá-lo, mas a gente não escolhe quem ama e infelizmente o meu hipotálamo resolveu realizar sínteses sentimentais por ele.

 

 

Você já colheu tudo Jimin? — Jae Lee me perguntou e eu acenei de forma positiva. — O chefe quer nos ver.

— E o que ele quer? Ele nunca nos chamou desde que o senhor Jeon morreu ,eu se quer já o vi. — falei. — Além de que eu preciso conferir umas coisas com os outros funcionários.

— Parece que ele quer conhecer nossas funções. Lembra que fomos avisados que o... Como é o nome dele mesmo? — Lee espremeu os olhos na tentativa de lembrar. — Ah, sim! Jungkook, esse é o nome dele. Fomos avisados de que ele assumiria os negócios a partir dessa semana, e você não o viu porque não quis, ele estava no enterro.

— Agora que falou me lembrei, você chegou até a dizer que um de seus amigos de infância tinha esse mesmo nome, e outra coisa, a senhorita sabe muito bem porque eu não fui ao enterro.

— Ai, Chim. Eu sei que é difícil pra você e que só fazem dois meses, mas não fica pra baixo não, tá?

— Tá, mas... Por que ele não olha nos documentos e relatórios da sala 2?

— É provável que ele queira nos conhecer pessoalmente.

Suspirei e olhei em volta.

— Acha que vai ter problema se eu chegar um pouco atrasado? Eu tenho mesmo que ver isso.

— Aish! Eu não sei, mas tente ser rápido, você não vai querer arranjar problemas no primeiro dia dele, certo?

— Não se preocupe, serei tão veloz que você nem terá tempo de sentir minha falta.

— Só você mesmo Jimin. — gargalhou brevemente. — Vai precisar de ajuda?

— Não, não. Pode ir, não quero te prejudicar.

— Tudo bem, vou tentar te cobrir.

Observei minha melhor amiga se distanciar. Eu ainda tinha muita coisa pra fazer, esperava ao menos não arranjar problemas.

Sequei o suor em minha testa e suspirei mais uma vez.

&Time-lapse&

Não vou dizer que foi fácil chegar. Já fazia algum tempo que eu não corria daquele jeito.

Foi tentando normalizar a respiração e secando o suor, que ouvi Jae me contar brevemente sobre o notório mau humor do chefinho e de como ele só piorou ao saber do meu atraso.

Não era bem dessa forma que eu imaginava passar minha primeira impressão, mas eu jamais ignoraria algo como aquilo por um capricho.

Observei alguns outros companheiros entrarem no escritório – que se localizava em um anexo próximo a grande casa da família – enquanto esperávamos no hall, não demorando muito para que Moon Chin-Kyu saísse seguido pelo Jeon.

Moon Chin-Kyu era o host de salas de degustação, seu trabalho era de longe impecável, mas acho que vale ressaltar seu ódio crescente por mim, quero dizer... Ele nunca gostou muito da minha presença, nem do meu trabalho, nem das minhas roupas, nem da minha cara, enfim, de tudo o que me envolvesse.

Eu me sentia desconfortável na frente dele, ou melhor, na frente deles. A cara de meu chefe não parecia das melhores, com certeza mais bonita que a do Moon, mas ainda sim...

Obviamente eu já havia ouvido algumas histórias sobre o primogênito do falecido senhor Jeon. E devo confessar que ele parecia diferente do relatado.

Isso porque os empregados mais antigos o conheceram ainda jovem e as pessoas tendem a mudar com o tempo. Não seria diferente com ele, certo?

Com toda certeza Jeon Jungkook era a "coisa" mais interessante que já conheci.

— Park Jimin! — ele chamou.

— Sim, senhor. — respondi quase como em um sussurro enquanto dava um passo pra frente.

Estava de fato fascinado.

— Está atrasado. — falou ele de forma autoritária.

— Ah... Sobre isso, eu estava resolvendo uns assuntos pendentes em relação á adega de vinhos.

— Não me importa suas desculpas. Da próxima vez apenas chegue no horário.

— Certo.

— Qual a sua posição?

— N-Nós não iremos ao escritório? — engoli em seco olhando em volta.

— Responderá na frente de todos para compensar meu tempo perdido.

— Eu, eu... Eu trabalho como agrônomo e...

— E por esse motivo se acha no direito de chegar depois dos demais?

Apesar do tom brando claramente em deboche, sua pergunta me deixou estático.

Ouvi algumas vozes atrás de mim e uma risada contida de Kyu.

— Me fará esperar pela sua resposta por mais quanto tempo? — elevou um pouco mais o tom de voz, assustando os poucos presentes.

Minhas bochechas e orelhas queimaram pela vergonha.

— Sabe... Uma vez meu pai me falou sobre você.

Silêncio.

— Ele me disse que seríamos a equipe perfeita no dia que eu assumisse e que eu poderia confiar em você, porque você era da família.

Encarei seus olhos que transpareciam raiva, tristeza e muita mágoa.

— Acho que ele estava enganado sobre você...

As palavras foram cuspidas na minha cara e não vou negar que me senti humilhado.

Ele não precisava ter dito isso na frente de todo mundo.

Uma facada certamente teria doído menos.

— Você não precisa trata-lo desse modo.

Contive minha vontade de chorar e encarei minha amiga já posicionada ao meu lado.

Seu rosto contorcido em desgosto e punhos cerrados assim como o homem em nossa frente, que aos poucos assumia uma expressão surpresa e nostálgica.

— Cerejinha?! — perguntou surpreendendo a todos.

De onde eles se conheciam? A não ser que...

— JuãoKookie é você?! — ela disse rapidamente se aproximando e o abraçando. — Já faz tanto tempo.

— Parece que nos afastamos o suficiente para que não pudéssemos reconhecer um ao outro de cara.

Encararam-se por mais um tempo sem dizer nada.

— Sobre o Jimin... Eu sei que é o chefe agora, mas não o trate dessa maneira.

Jeon me encarou brevemente.

— Apenas saia. — suspirou.

— Disse para trata-lo direito. — Jae insistiu, me segurando para ficar.

— Não quero discutir com você Lee, depois conversarmos melhor em minha sala. Enquanto isso, apenas acate a minha decisão e deixe-o ir.

Senti seu aperto em meu braço diminuir aos poucos até finalmente me soltar.

— Certo, tudo bem. — respondeu por fim, ao mesmo tempo que eu recuava alguns passos me preparando para ir embora.

Mas é claro que o show não podia acabar por isso mesmo, não é?

Chin-Kyu pensou em um final mais elaborado ao me empurrar discretamente – porém com força – contra outro colega que segurava uma bandeja com um único copo de água destinado ao Jeon.

— Olha o que você fez idiota! — gritou assim que sentiu o líquido em sua roupa.

Seu pescoço vermelho e veias saltadas indicavam sua fúria.

— Me desculpe não foi por querer. — falei me recompondo e tentando não encara-lo diretamente.

— Querendo ou não, você me molhou inteiro!

 Praticamente voou em minha direção me segurando de forma agressiva pelo colarinho, nos aproximando até quase colar nossos rostos e me forçar a me apoiar na ponta dos pés. Chegou até mesmo a levantar uma das mãos, os punhos cerrados com força, eu quase podia sentir a dor do soco, mas antes que ele me batesse, Jae Lee segurou seu braço.

— Você enlouqueceu?!

E de repente sua expressão parecia aterrorizada apenas de pensar no que estava prestes a fazer.

— Ele disse que foi acidental e você sabe que é verdade.

— Só saia daqui agora! — gritou me soltando.

Saí correndo de lá com os olhos marejados, ouvindo as risadas baixas dos que ficaram.

Isso certamente não seria esquecido tão rapidamente.

 

 

Daquele dia em diante nossos encontros só pioraram.

Lee tentou me convencer algumas vezes de que apesar daquela casca grossa, aquele garotinho com quem ela brincava e que era emotivo de mais, ainda existia, que ele só precisava de tempo, que ele tinha dificuldade em se expressar e que ele ainda não estava confortável pra ser ele mesmo.

E eu quase acreditei em todas às vezes, mas as coisas que ele me dizia eram difíceis de esquecer.

 

 

Já era cerca de 4:30 da tarde e eu amava ver o pôr do sol no lago que ficava bem ao lado da vinícola.

Ele também era propriedade dos Jeon’s.

Lembro-me que o falecido Jeon comentou certa vez, que costumava vir nadar nos fins de semana com o filho e a esposa há muitos anos atrás.

Talvez tenha sido por esse motivo que ele nunca tenha feito nada com essa parte.

Já fazia tempos que tinha visto um pôr do sol tão belo.

É claro que parei de visitar o lago com certa frequência após a entrada do Jungkook cerca de 3 meses atrás. Sua perseguição comigo era notória e apesar da maioria dos assuntos serem resolvidos entre ele e a Jae, as demandas não paravam de aumentar e o que eram 15 horas de trabalho, passou a serem 17. Antes eu chegava as 6:00 e saia as 21:00, agora eu saio as 23:00.

Eu já tinha feito todas as atividades do dia e esperava ser liberado antes das 6 horas e 70 minutos que me restavam, é claro que não tinha visto o tirano o dia inteiro, e mesmo nossa relação não sendo das melhores é verdade que fiquei sim um pouco preocupado, mas tudo isso passou no momento em que resolvi me aproximar do lago.

— Posso saber o que faz aqui senhor Park?

Seu tom rude me fez arrepiar dos pés à cabeça, me fazendo paralisar mais uma vez.

Ele me assustava.

— Seu expediente ainda não acabou e estou ciente de que sabes bem disso. — parou ao meu lado.

— É que todos os meus afazeres de hoje foram concluídos. Achei que não faria mal ver o pôr do sol.

Nenhuma resposta.

Apenas ficamos encarando por alguns minutos a mudança de cor do céu.

— Acha que me sairei bem?

Sua pergunta me pegou de surpresa e precisei de alguns segundos para digerir.

— Eu acredito que tudo é possível com esforço. — finalmente o encarei e me senti envergonhado ao vê-lo me encarar de volta com tanta intensidade.

— Você fala como ele...

Acabei por retribuir com uma expressão de dúvida.

— Meu pai. — disse por fim, direcionando o olhar dessa vez para a vinícola.

— Eu sinto falta dele. — falei de forma sussurrada imitando sua ação ao admirar os cachos de uva quase prontos para a colheita.

— Eu também.

O silêncio retornou mais uma vez, de forma confortável. Ele parecia satisfeito em nos acalentar e aproximar ao menos uma vez.

Discretamente fixei meu olhar no rosto do homem ao meu lado. Ele era ainda mais bonito quando não estava com raiva.

Os olhos fechados, aproveitando a brisa leve que corria pelo seu corpo.

— Bonito... — deixei escapar ganhando rapidamente sua atenção. — Ah... Me desculpe, eu não quis... É só que você... O que eu quero dizer é que...

Esfreguei a nuca envergonhado e desviei o olhar para baixo, preferindo manter a boca fechada.

— Você também é muito belo hyung.

Meu coração disparou com aquela curta frase e eu soube que estava mais do que ferrado.

— A sua mãe...

— Não quero falar sobre isso. — me cortou rapidamente. — Melhor voltarmos ao trabalho.

— Mas...

— Chega!

Seguiu andando em minha frente sem perceber uma vala um pouco funda, cavada poucas semanas atrás.

— Espere! — o puxei com tudo pelo braço, fazendo com que ele tropeçasse numa pedra e caísse dentro do lago.

— Por que fez isso idiota?! — gritou exasperado assim que emergiu da água.

— N-Não foi intencional. — ele flexionou os braços próximo a borda e se impulsionou para cima. — A vala é funda e você se machucaria.

— Não podia simplesmente ter me avisado invés de me jogar contra a água? — passou a mão entre os cabelos. — Eu sou hipotérmico seu imbecil! Tá tentando me matar é isso?

— Me desculpa, eu não sabia disso. — comecei a ficar cada vez mais nervoso ao vê-lo perder a cor aos poucos.

— Não sei como papai podia confiar em você e não acredito que quase fiz o mesmo. Se duvidar, foi bem você que o matou com suas ideias e desculpas idiotas.

Engoli em seco, a dor dilacerando a minha alma e as lágrimas banhando meu rosto.

— Chorar não vai me convencer de que você é uma pessoa boazinha, tá legal? — me empurrou. — Você nem devia estar aqui.

Mas um empurrão.

— Por favor... — sussurrei. — Não me faz cair aqui...

Outro.

— Você deveria ter cuidado dele! — gritou repetindo os atos anteriores fazendo-nos chegar à borda outra vez. — É por isso que não vou me importar de deixar você cair.

Foram suas últimas palavras antes de me jogar em direção ao abismo.

 

Após isso nós mal nos encarávamos, Jae Lee não sabia mais o que fazer e até mesmo o Kyu parecia se sentir desconfortável em nossa presença.

Não posso culpa-lo pela forma que reagiu, ele não sabe nada sobre mim e a frieza que pegou naquele dia foi suficiente para faze-lo parar no hospital e ficar internado por algumas horas.

Naquele dia eu achei que morreria antes de conseguir pensar em sair da água.

Mamãe e papai morreram afogados...

.

.

.

Mas um momento de lucidez foi o suficiente para me fazer chegar ao topo e por mais incrível que pareça, o Moon foi o responsável por me tirar da água e cuidar de mim aquela noite.

Acho que o assustei quando não consegui mais me mexer e desmaiei.

Não adiantaria negar que pensei algumas vezes em pedir demissão, mas eu amava tanto aquele lugar, não sei se um dia conseguiria deixa-lo.

E me amaldiçoo mentalmente por ter percebido, que o Jeon era alguém legal e que apesar das palavras doloridas ele só estava sofrendo. Não se esquecendo de me fazer sofrer também, por desenvolver sentimentos por alguém que me odeia e me machuca.

 

 

— Jae você... — as palavras morreram em minha boca assim que nossos olhos se encontraram. — Desculpe, eu já estou saindo.

— Um momento hyung.

Mais uma vez me peguei com o coração acelerado.

Já faziam três semanas desde o ocorrido, mas ainda doía.

— A Lee me disse que á um tempo atrás tivemos problemas com um dos compressores.

— Foi o... Aquilo que mencionei no dia em que nos conhecemos.

— Ah... Aquele dia.

Silêncio.

Encaramo-nos por mais algum tempo. Ele parecia abatido, bom... Acho que nós dois parecíamos.

Ele estava bastante agasalhado, acredito que devido á temperatura fria que os compressores mantinham na adega e mesmo estando longe, ainda consegui ver o seu nariz vermelhinho.

— Fofo... — mais uma vez minha boca me traía.

— O que disse?

— Preciso ir. — dei as costas começando a refazer o caminho.

— Não encontrei o relatório que você fez.

Paralisei sentindo a voz muito próxima.

— Vou procurar depois e pedirei para que a Jae Lee te entregue.

Tentei inutilmente me retirar mais uma vez, antes dele segurar meu pulso direito suavemente, me mantendo no local.

— Não tenho nada muito urgente agora e eu realmente preciso checar esse relatório. Deixe-me te acompanhar até lá e prometo não tomar muito do seu tempo.

— É que eu preciso falar com a Lee sobre o comprador. — tentei a primeira desculpa que me veio á mente.

Eu precisava sair antes que sufocasse.

— A Lee é sommelier e gerente de cave, você sabe disso. Tenho certeza de que o que quer que seja que você tenha a dizer para ela é algo que pode esperar.

— C-Certo.

Engoli em seco antes de seguir silenciosamente até a área dos funcionários com o Jeon em meu encalço.

Abri meu armário e vasculhei rapidamente uma das pastas.

Não estava lá.

Abri a outra e passei a repetir o mesmo processo.

— Eu analisei de perto á vinícola esses dias. Será daqui uma semana, certo?

Apenas assenti com a cabeça, embora estivesse impressionado com seu conhecimento.

Por um momento me perguntei o que ele havia cursado.

— Você poderia ao menos olhar para mim?

Pausei rapidamente minha pesquisa, finalmente levando o olhar em sua direção.

— É que eu não estou conseguindo encontrar, só me dê mais um minuto, está bem? — nem mesmo esperei sua resposta e voltei á procura.

— Meu pai também era enólogo.

Respirei fundo e continuei.

— Acho que era por isso que ele gostava tanto de você. — suspirou. — Aquela que citei não foi á única vez que ele me falou de você.

— Está melhor?

— Você não é bom mudando de assunto hyung. — mais uma vez. — Mas eu estou sim melhor. E sobre aquela noite...

— Não fala mais. — pedi levantando e empurrando o documento contra seu peito.

Mais uma vez segurou meus pulsos, dessa vez os forçando para baixo e me impedindo de me afastar.

— Não quero brigar com você de novo. Então olha pra mim.

Suas frases sussurradas amolecendo meu corpo.

— Por que quer tanto assim que eu olhe pra você?

Eu estava por um fio.

— Eu gosto dos seus olhos hyung. — sua fala me surpreendendo mais uma vez. — E eu sinto que preciso falar com você te vendo de verdade.

— Você me odeia, é isso? — o encarei com os olhos marejados, capturando sua expressão incrédula.

— O quê? O que você tá dizendo? — me largou recuando alguns passos.

— Não é isso? — minha visão foi gradativamente embaçando mais e mais. — Então o que é?!

— Claro que não, eu só tô tentando conversar contigo numa boa. Não sei onde eu tava com a cabeça quando dei ouvidos a Jae.

— Então você tava aqui por ela?! Por que ela pediu?

— Não é bem assim Park...

— Eu sou a droga de um joguinho pra você?! — gritei a plenos pulmões, pouco me importando se mais alguém ouviria.

— Eu nunca disse isso.

Jungkook parecia tão desesperado quanto eu.

— Uma hora você é legal e se abre comigo, na outra, você só pisa em mim e me machuca.

A essa altura não só as minhas lágrimas, como também as dele, já se faziam presentes.

— Jimin, você precisa entender que eu nunca quis isso...

— Nunca quis? Agora entendo porque o seu pai sempre chorava.

— Jimin, para.

— Acho que ele não suportava a ideia de ter perdido você.

— Para...

— Eu acho que é por isso que ele preferiu a mim. — despejei.

— Ele nunca me trocaria por alguém desprezível como você! — exasperou cobrindo a boca com as mãos logo em seguida.

Era sempre assim... Ele sempre se arrependia depois.

Somente depois...

— É bom finalmente saber o que pensa de mim.

Prensei novamente o papel contra seu tórax, saindo logo em seguida.

 

 

Na nossa última discussão eu finalmente pude perceber que aquela sua forma de agir era só uma maneira de se proteger, ele amava o pai tanto quanto eu e amava aquelas uvas tanto quanto eu, os olhos dele chegavam a brilhar quando visitava a vinícola.

Nós dois estávamos sofrendo.

Nós dois estávamos feridos.

Mas nada jamais apagaria a dor que suas palavras causaram.

Ele nunca me daria abertura e, droga, eu o amava, amava mais do que achei que pudesse. Amava pelas coisas que seu pai e Lee me contavam, amava pelos pequenos momentos amigáveis que tivemos, amava pela forma como me elogiou tão ternamente e pelo jeito fofo de me chamar de hyung, amava pelo fato dele sempre tentar começar de novo e independente de tudo, eu o amava por ser ele.

Depois de finalmente perceber isso, não foi difícil chegar á conclusão de que era a hora de por um fim, ainda que me doesse.

Autora:

Jimin estava fazendo sua última colheita, a semana havia se passado rapidamente e o menor agilmente evitou de todas as maneiras cabíveis o – até então – seu chefe. Não foi fácil, mas o Park agradeceu a tudo o que é mais sagrado por não terem nem mesmo se esbarrado uma única vez.

 Ele já havia resolvido que pediria demissão no fim daquele mesmo dia. Pelo menos assim teria a chance de se despedir de sua amiga, que vale lembrar, nem mesmo sabia sobre essa decisão.

Sentiu a sensação de estar sendo observado e imaginou que talvez fosse o Chin-Kyu, acabaram ficando próximos graças ao evento onde ele bondosamente cuidou do Park e ele era o único que sabia sobre sua saída.

A princípio, o de cabelos negros pensou que ele comemoraria, mas se surpreendeu quando o outro até mesmo tentou convencê-lo a ficar.

A vida era mesmo imprevisível.

De qualquer forma, achou estranho que fosse ele, mesmo que o outro quisesse se despedir, ainda era muito cedo.

Cansado de tentar adivinhar, ele finalmente virou-se dando de cara com Jungkook.

— Preciso falar com você.

— Não posso agora, acabei de começar. — respondeu simples. — Imagino que o senhor não vá querer perder seu tempo com uma pessoa desprezível como eu.

— Eu realmente estou disposto á esperar o tempo que for necessário por alguém importante como você. — o mais novo colocou as mãos no bolso da calça.

— Receio que isso possa demorar. Não vou me perdoar se o fizer perder todo esse tempo comigo. — analisou de perto mais um cacho e o direcionou cuidadosamente ao caixote, forçando as rodinhas sob ele a trabalharem para o próximo ponto.

— A cere... Digo, a Jae me garantiu que daria conta de tudo enquanto tento te convencer a me ouvir. — continuou a segui-lo observando atentamente suas reações.

— Então diga logo homem. Eu estou trabalhando, preciso me concentrar. — bufou audivelmente.

— Hyung, olha pra mim.

Jimin dessa vez não hesitou em encara-lo. Não importava o que ele diria. Nada o faria voltar atrás.

— Você não é assim.

— Defina assim.

— Você é a pessoa mais eficiente que conheço, você não é assim, você não é lento.

— Eu gosto de me despedir apropriadamente das coisas que amo e cuidado nunca é de mais. Você deveria saber já que é vitivinicultor.

— Como assim se despedir? — Jungkook perguntou ainda que surpreso pelo outro conhecer uma de suas formações. — Eu entendo que na próxima safra não serão as mesmas uvas, mas estas ainda estarão muito bem guardadas na nossa adega em forma de vinho.

— Eu não queria falar sobre isso agora. — Jimin falou virando-se para o Jeon. — Eu achei que poderia estender isso até o fim do dia, mas tô vendo que demorar vai fazer essa situação ser ainda mais difícil.

— Do que você tá falando?

— Já que você está aqui, eu gostaria de pedir formalmente a minha demissão.

— Como assim demissão?! — choque era pouco para definir o que o moreno sentia.

— Demissão, no sentido literal da palavra. Mas não se preocupe, podemos resolver isso no fim do dia, não quero te atrapalhar e eu realmente preciso terminar isso aqui. Então se me der licença...

Tentou seguir para o próximo, mas teve seu braço agarrado firmemente.

— Você não pode me abandonar. Se tiver algo que eu possa fazer para reverter, por favor me diga.

— Realmente quer falar sobre isso aqui? — soltou-se. — Preciso colher toda essa parte antes do horário de pico do sol, e você sabe.

— Dane-se isso! Não pode me largar, não agora...

— Agora ou depois não vai fazer diferença. — suspirou tentando não olha-lo nos olhos.

— Hyung, por favor. Essa vinícola não é nada sem você, você cresceu aqui, quase tudo tem dedo seu. Aqui é sua casa!

— Qual é o seu problema Jungkook? — Jimin sentia a raiva corroer seu corpo. — Eu estou cansado de ser tratado dessa forma, estou cansado de toda vez que me encontro com você escutar uma besteira atrás da outra. Você nem tentou se dar bem comigo e agora vem dizer que aqui é minha casa e que não posso te abandonar? Eu não sou seu brinquedinho!

Jeon se aproximou.

— Eu sei que não fui a melhor das pessoas com você, mas eu não sou o único culpado pelas situações que nos metemos. Você não é e nunca foi um brinquedo pra mim Park.

— Tudo bem, eu vacilei algumas vezes, mas nada justifica as coisas que você me falou. Você não tem o direito de descontar suas frustrações em mim. Eu também estou sofrendo!

Jimin gritava cada vez mais alto ao passo que Jeon se aproximava.

Eles não se importavam com o resto, estavam colocando tudo pra fora e finalmente sendo sinceros um com o outro sobre o que sentiam.

— Então me diz de uma vez o que você quer de mim!

— Você parece ser tão inteligente, não consigo acreditar que até agora não percebeu que te amo. — as lágrimas escorrendo pelo seu rosto junto à sensação de alívio por enfim contar. — Eu não quero mais me magoar, eu não suporto mais entende? E eu tentei, tentei de todas as formas, porque eu amo esse lugar, amo o que eu faço e amo você apesar de todos os motivos que tenho pra te odiar.

O acastanhado precisou assimilar por alguns instantes. Ele o amava?

— Isso é sério? Você me ama de verdade?

Jimin nada disse, não era preciso, até porque ambos sabiam que ele não conseguiria repetir.

Os corações apertados.

Os soluços baixinhos ecoando.

E de repente sentiu-se o arrependimento.

— Por favor Jimin não chore, eu nunca quis te magoar dessa forma.

— Você nu-nunca se importou com as mi-minhas lágrimas antes e eu pre-prefiro que continue assim. — direcionou seu olhar ao caixote a muito abandonado.

— Jimin eu te peço que me perdoe, sei que não deveria ter te tratado dessa forma. Eu realmente nunca quis te magoar, nem levantar a mão pra você como fiz alguns meses atrás, muito menos te atirar dentro da água daquela forma, a Lee me contou sobre os seus pais e droga Jimin, eu fui um monstro, naquele outro dia eu tentei me desculpar e acabei falando absurdos totalmente irreais pra você e, acredite, essas coisas têm me perturbando muito e não me deixam dormir a tempos. Eu apenas tenho dificuldade em demonstrar sentimentos e acabei atingindo quem menos queria. — tentou tocar o outro que recuou e deu-lhe as costas.

— Não sei se consigo perdoar você, pelo menos não agora. Eu acho melhor procurar alguém que termine isso por mim. — o menor respondeu com a voz ainda embargada.

— Você sabe que não precisa ir embora. Não vou dar conta disso sozinho.

— Não vai estar sozinho. Você tem a Jae Lee, ela vai te ajudar no que for preciso. — suspirou passando a mão em seus fios negros tentando se recompor.

— Olha pra mim, por favor, Jimin. Me deixa tentar uma última vez te mostrar o que sinto de verdade. — suplicou desesperado.

Park virou-se e o encarou, ele não podia acreditar que todo esse tempo havia sofrido tanto para que agora a pessoa que ele tanto amava estivesse ali na sua frente pedindo uma chance para se explicar, ele só queria ter tido essa conversa antes.

Jungkook sentia que havia demorado de mais para dizer o que sentia, mas era difícil. Sua timidez não o ajudava.

Seu coração acelerado, suas palmas suadas.

Jimin precisava ouvi-lo ou temia que não tivesse mais chances.

— Me desculpe Jungkook, mas eu acho melhor não. Eu vou ao anexo resolver as coisas no RH. — virou-lhe novamente as costas e quando estava prestes a se retirar sentiu seu braço ser puxado na direção oposta e seus lábios serem tomados.

Jimin não sabia o que pensar, ele realmente estava sendo beijado pelo Jungkook?! Empurrou o mais novo em um reflexo. E ambos ficaram se observando.

Aquilo não era real... Não podia ser real.

— Me desculpe por isso, eu não queria te violar de forma nenhuma, mas foi á única maneira que eu encontrei de te mostrar o que eu sinto.

— Você...

— Eu te amo! Amo-te a muito mais tempo do que você imagina e nada disso apaga o quão idiota eu fui, sei disso. Mas eu precisava falar. Prometo melhorar contigo, você não precisa nem olhar na minha cara se quiser, só não vai embora.

— Jeon... Eu não posso. Eu recebi uma proposta e não quero recusar dessa vez. — suspirou sentindo a cabeça doer e o corpo tencionar.

Estava claro para o mais alto que ele não conseguiria convencê-lo.

— Tudo bem, não posso te prender aqui.

O mais baixo seguiu rumo ao RH deixando Jeon para trás, passou alguns poucos minutos lá e após assinar todos os documentos necessários, despediu-se dos ali presentes e foi para a área dos funcionários encontrando o Kyu sentado em um dos bancos amarrando os cadarços.

Nada disse e dirigiu-se ao seu armário, o outro nem mesmo pareceu percebê-lo, ao menos não até começar a retirar suas coisas.

— Jimin? — seu tom denunciava sua curiosidade. — O que faz aqui? Achei que só te veria após o almoço.

— Eu também achei, mas as coisas não saíram como planejado. — parou o que fazia para encarar o novo amigo.

— O que quer dizer? Espera... Você... Fez o que eu tô pensando que fez?

— Fiz, eu oficialmente não faço mais parte da Ad Maneana. Espero que possa confiar em você para manter tudo nos conformes.

— Olha... Sei que nunca fomos próximos, mas eu realmente sinto muito.

Aproximaram-se e se abraçaram, embora o contato ainda parecesse estranho.

— Atrapalho?

Se afastaram em um salto.

— Claro que não senhor Jeon. — Moon vestiu o casaco rapidamente. — Eu já estava mesmo de saída. Boa sorte por lá Jimin. — sussurrou a última parte quando passou pelo outro, saindo logo em seguida.

Jimin voltou a recolher suas coisas, no fim das contas, não havia muito o que retirar.

— Antes de você ir... — esfregou as palmas em um ato nervoso. — Eu... Eu ainda tenho alguma chance?

O outro calmamente empilhou as coisas em seus braços, preparando-se mentalmente para responder.

— Embora eu ame você, acho que não conseguiria te retribuir nem se quisesse. Além de que eu me amo e me preso em primeiro lugar.

O Jeon sentiu-se fazer em migalhas.

— Mas... — os olhos esperançosos do garoto o atingiram em cheio. — Se você tiver paciência e me esperar, eu prometo te dar uma resposta. Eu acho que nós dois precisamos desse tempo.

Observou o moreno assentir e saiu anotando mentalmente que deveria visitar a amiga mais tarde para explicar-lhe tudo.

&11 meses depois&

Passaram-se longos 11 meses, era fevereiro e o verão tinha vindo com tudo. Jungkook não podia negar que os primeiros 4 meses sem Jimin haviam sido dolorosos não só para si como para toda a Ad Maneana, mas graças ao esforço realizado pelo trabalho em equipe do Jeon, da Lee e todos os demais funcionários, as coisas voltaram aos poucos a entrar nos trilhos.

Era de fato difícil suprir a falta de um agrônomo e enólogo como Jimin, mas eles estavam se saindo bem. Na medida do possível, é claro.

Vale mencionar que cerca de 2 meses atrás, eles haviam lançado no mercado o vinho responsável por trazer os maiores lucros a vinícola. Ab Initio, era esse o seu nome.

O Jeon chegou a perguntar a Jae, quem havia desenvolvido a receita, recebendo como resposta, um simples “Minnie...”. Seu coração doeu, ele sentia muita saudade.

Com o Park não era diferente. Ele estava feliz por tentar algo novo, a agricultura de precisão era muito mais interessante do que ele imaginava, também gostava de seus novos colegas de trabalho e vez ou outra ligava para Jae e Moon, eles já tinham até mesmo saído juntos e bebido algumas taças de vinho como os bons enófilos que eram.

Mas ainda se pegava pensando com carinho nas palavras do outro, sempre que podia perguntava aos amigos como ele estava e sentia que o seu hipotálamo insistia em trabalhar cada vez mais para que não deixa-se de ama-lo.

As palavras amargas, tendo cada dia menos importância.

E as cartas que recebia. Ah, as cartas que recebia.

Todas cheias de declarações, onde o moreno exaltava todas as coisas belas existentes no Park, dizendo sentir saudades e implorando para vê-lo, toca-lo, senti-lo.

Faze-lo seu de todas as formas possíveis e imagináveis...

Nunca teve coragem de responder nenhuma delas, mas ainda sim, elas não pararam de chegar, vezes no trabalho, vezes em casa.

Durante 11 meses, Jimin se viu apaixonar de novo e de novo pela mesma pessoa.

E então ele soube que sempre teve a resposta.

Com isso em mente, pediu folga no dia anterior e se preparou psicologicamente antes de dormir, para ir de encontro ao local de seu amado.

Foi uma caminhada relativamente tranquila, era inicio de tarde quando tomou coragem e resolveu sair de casa.

Ensaiava exaustivamente em sua cabeça um discurso meio brega – segundo sua própria opinião – e torcia para que tudo desse certo.

Ao chegar, acabou por encontrar alguns antigos companheiros que lhe saudaram e responderam cordialmente sua pergunta sobre o paradeiro do Jeon, indicando-lhe o anexo.

Seguiu até lá com o coração na mão, o suor sendo produzido em abundância em suas palmas, indicavam sua clara ansiedade, embora ela pudesse ser facilmente notada.

— Olá Jimin! Não esperava vê-lo por aqui. — Areum, secretária pessoal do Jeon, comentou sorridente.

— Oi. — acenou de forma nervosa retribuindo o sorriso. — O Jeon está ocupado? Preciso falar com ele.

— A verdade é que um homem entrou a pouco, o chefinho não parecia nem um pouco contente em vê-lo e ele se recusou a sair sem conversarem, desde então o telefone não funciona, acho que ele tirou do gancho.

— Entendo. — suspirou sentando-se no banquinho.

— Desculpe Jimin, eu realmente gostaria de ajudar.

— Tudo bem, Areum. Se importa se eu esperar aqui?

— Claro que não, fique a vontade e qualquer coisa me fale.

Jimin assentiu e permaneceu sentado, preocupado com as informações anteriores.

Alguns longos minutos finalmente se passaram e a porta do escritório foi aberta rudemente por um jovem rapaz que parecia um pouco exaltado.

— Você não vai se livrar de mim tão facilmente! — apontou na direção do que Jimin supôs ser Jungkook. — Eu vou voltar Jeon.

O garoto fechou a porta com a mesma força que abriu, só então direcionando o olhar para os outros dois presentes, que estavam de boca aberta.

Jogou os cabelos um pouco compridos para trás, e como se nada tivesse acontecido, saiu elegantemente, deixando Jimin e Areum paralisados ouvindo apenas um pouco distante o choque do solado contra o piso do hall.

Despertaram somente com o toque do telefone na mesa da loirinha que prontamente atendeu, direcionando o olhar um pouco desanimado para o Park.

— Desculpe, oppa. O Jeon acabou de dizer que não vai receber mais ninguém hoje, nem mesmo a Lee noona. — falou assim que a ligação se encerrou.

— Não pode dizer que sou eu? Tenho certeza de que ele vai permitir. — juntou as mãos fazendo um biquinho.

A mais nova levou o telefone ao ouvido.

— Mudo. — decretou.

— Certo, vamos combinar o seguinte: Você fecha os olhos enquanto eu entro e se ele perguntar eu digo que você foi procurar ajuda porque eu fingi passar mal. — levou o mindinho próximo a garota.

— Certo. — repetiu o ato entrelaçando os dedos.

Um pouco receoso, Jimin abriu a porta lentamente, agradecendo a Deus por ela não estar trancada e ouvindo um fungar baixo que logo cessou.

— Kang Areum, acabei de dizer que não quero receber ninguém. — não foi grosso, embora seu tom tenha sido firme.

 O agora ruivo, observou o outro manter-se de cabeça baixa e sua postura tensa.

— Nem mesmo a mim? — perguntou calmamente, recebendo de imediato a atenção do moreno.

— J-Jimin? — tentou secar os olhos rapidamente. — O que faz aqui? Eu não esperava que viesse, você podia ter me avisado. Poderia ter respondido minhas cartas também.

— O que houve? O que aquele homem disse que te deixou assim?

— Não foi nada. Como você está? Eu senti tanto sua falta. — levantou-se se preparando para ir até o outro.

— Quem era ele?

O primogênito dos Jeon travou.

— Podemos não falar sobre isso? — suplicou em voz baixa.

— Não. Eu sei que você não tá bem e ás vezes é bom compartilhar. — Jungkook sentou-se novamente. — Me conta, por favor. Eu quero te ouvir.

Um longo suspiro foi ouvido.

Jimin fechou a porta atrás de si e acomodou-se em frente ao mais alto.

— Quando minha mãe morreu eu tinha 13 anos. — as lágrimas já abandonavam seus olhos, apenas por menciona-la. — Ela foi assassinada por um agiota que a confundiu com outra pessoa enquanto voltava da casa da vovó. Pa-Papai e eu ficamos sozinhos. Acho que o assustei com a minha quietude, eu costumava ser agitado, mas foi difícil pra mim. — inspirou profundamente antes de continuar. — Um tempo depois ele me mandou para Itália. Eu não queria sair daqui, tinha medo de esquecer tudo que envolvesse minha mãe, mas ele disse ser melhor pra mim. Nos três primeiros anos eu não conseguia nem olhar na cara dele, quando me visitava mal nos falávamos, mas com o tempo eu entendi que ele tinha razão. — secou as lágrimas brevemente. — Assim que terminei o ensino médio eu iniciei a faculdade de administração, como eu passei no vestibular, acabei não utilizando o dinheiro que meu pai guardou para isso. Assim que terminei, achei que seria legal investir em um negócio só meu, eu não queria depender do meu pai pra sempre. Graças a isso eu tenho alguns hotéis com o nome de minha mãe espalhados pela Europa. Óbvio que o coroa ficou decepcionado, ele sempre me imaginou assumindo isso aqui. Eu relutei por um tempo, mas acabei me rendendo e comecei um outro curso, o de viticultor, foi nessa época em que conheci Jeong Do-Yun, o garoto que passou por vocês mais cedo. É difícil encontrar coreanos por lá, então foi rápido para nos aproximarmos. Alguns meses depois e eu já estava caidinho. Eu me declarei e ele disse sentir o mesmo por mim. — as lágrimas saindo com cada vez mais força. — Eu fazia tudo o que ele queria Jimin, comprava tudo por ele, gastava rios de dinheiro, mas ele estava feliz e era isso o que importava pra mim...

— Jungkook, você não precisa continuar se não quiser.

Jimin se sentiu arrependido por insistir. Aquela história parecia fazer o outro sofrer imensuravelmente e não era isso o que queria.

— Mas eu quero, eu quero contar Jimin, eu preciso contar isso pra você. — respirou fundo mais uma vez. — Um amigo me disse que ele estava me traindo e eu não quis acreditar. Eu tinha certeza de que ele seria incapaz de fazer isso comigo. Depois de um tempo ele me proibiu de sair com meus amigos se eu não estivesse com ele, então eu passava a maior parte do meu tempo indo de casa para o trabalho, ou para o curso. Papai passou a me ligar com maior frequência, ele comentou raras vezes sobre você antes, mas após isso nossos assuntos eram sempre sobre você e eu te achava incrível, te admirava e almejava te conhecer um dia.

O ruivinho sorriu brandamente.

— Por outro lado, meu relacionamento com o Yun estava indo por água a baixo. Um ano após eu me formar, meu amigo voltou a puxar minha orelha dizendo que meu namorado me traía e que ele só estava comigo pelo meu nome e meu dinheiro. Eu não queria acreditar, mas eu estava farto hyung. — suspirou esfregando as palmas no rosto. — Eu pensei que se ele estivesse realmente me traindo eu não conseguiria flagra-lo, eu não teria coragem de vê-lo com outra pessoa. Então decidi contar pra ele que a vinícola tinha quebrado, que perdemos todo nosso dinheiro e que eu precisava voltar para cuidar de meu pai. Ele surtou e quebrou toda a minha casa, disse que jamais ficaria com um fracassado pobretão como eu, que me traía á um ano e meio, com uma velha rica que proporcionava a ele tudo o que ele tinha direito e que sentia nojo de mim. Eu achei que ele me amava hyung, mas na verdade ele não me conhecia o suficiente pra saber que eu não precisava do dinheiro do meu pai e que eu me belisco quando minto. Eu sofri por algum tempo e eu desejei não ter o desprazer de vê-lo outra vez. Papai continuava me ligando, mas ele não me visitava mais, quando eu perguntava, ele me dizia que estava muito ocupado, mas que tinha orgulho de mim. E era sempre falando sobre você que eu me sentia bem, eu me sentia familiarizado ainda que nunca tivéssemos nos encontrado, eu acho que foi ali que me apaixonei por você, eu não percebi, mas eu sentia. Até que no ano seguinte, o médico da família me liga dizendo que meu pai faleceu, meu pai tinha morrido Jimin e eu nem mesmo consegui me despedir dele, ele não queria que eu o visse morrer, mas ele me matou com isso. Eu não queria assumir o lugar dele, eu não conseguiria, papai cuidou de tudo tão bem durante anos, eu jamais conseguiria substituí-lo. Mas eu tive que fazer, não só por mim, mas por meu pai, minha mãe e todas as pessoas que dedicam á vida trabalhando nesse lugar. Então veio você, eu nunca quis Jimin hyung, eu juro. Eu estava de cabeça quente aquele dia e da outra vez você começou a me pressionar e tinha o meu pai, eu ainda tava sofrendo muito. A Lee conversou comigo e eu me senti culpado porque eu sabia que você não merecia, tentei falar contigo naquele dia, mas acabei piorando tudo. Não queria mais te incomodar, só que enquanto eu vasculhava as gavetas eu encontrei uma carta que meu pai escreveu para mim, ela também falava de você, ele disse saber que eu estava me sentindo revoltado, mas que era preciso paciência, que sabia também da minha enorme queda por você mesmo que eu ainda não tivesse percebido e adoraria que ficássemos juntos e que eu te trouxesse para a família, mas que acima de tudo, tínhamos que estar juntos pra cuidar disso aqui e que não importava se seria como amantes, amigos ou irmãos, mas que devíamos cuidar do que ele sabia que amávamos. Ele disse pra não te machucar Jimin, mas eu já tinha feito isso, várias vezes, uma atrás da outra. Eu precisava me corrigir porque ele tinha razão, eu já te amava e só depois de você ir embora foi que eu entendi o que ele quis dizer com “aquilo que amávamos”, ele não falava somente da vinícola, ele falava sobre nós, ele sempre soube de tudo Jimin. E eu esperei por você, todo esse tempo eu esperei pela sua resposta e esperaria muito mais se preciso fosse, eu só não esperava a visita de meu ex dizendo me amar e estar arrependido, exigindo uma segunda chance. Eu não quero voltar pra ele hyung. — seu choro tornou-se convulsionado. — E-Eu quero fi-ficar com você, não vou con-conseguir sem vo-você. Por favor não me deixa de novo.

Sem aguentar ouvir mais uma palavra, Jimin levantou-se e deu a volta na mesa abraçando o Jeon, acariciando seus cabelos enquanto o outro apertava os braços entorno de sua cintura o trazendo cada vez mais pra perto.

Ignorando a vergonha, o Park posicionou uma perna em cada lado da cadeira que o outro ocupava, sentando-se sobre Jungkook e permitindo que este chorasse agarrado a si, enquanto escondia a cabeça no vão de seu pescoço.

— Tá tudo bem agora príncipe. Eu tô aqui, não vou deixar ninguém te fazer mal. — continuou a afagar os cabelos alheios. — Prometo não te deixar de novo, se você prometer que vai me amar pra sempre.

Passou-se um tempo até que o mais alto finalmente se acalmou enfim fitando os olhos do mais velho.

— Eu vou te amar até quando nosso pra sempre durar, e eu vou desejar que ele seja infinito se você quiser ser meu pelo infinito.

— Eu vim aqui hoje, justamente te dizer que eu estou disposto a te amar até os últimos dias de minha vida.

— Isso é sério?

Jimin admirou o primeiro sorriso do outro para si, reparando em seus charmosos dentes de coelho.

— Sim. — respondeu simplista acompanhando o sorriso do mais novo.

— E será que agora eu posso finalmente tomar seus lábios pra mim outra vez?

O ruivo não perdeu tempo com respostas, atacando os lábios de Jungkook avidamente, como tantas vezes se imaginou fazendo, aproveitando o sabor do que agora seria seu por toda vida.


Notas Finais


Finalmente tomei coragem pra reescrever essa one-shot, não sei se vai agradar vocês, mas eu me esforcei bastante. É isso.


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