O farfalhado é mais que característico. São passos. A garota está se movendo tranquilamente na floresta enquanto eu e Violet a seguimos. Demoraram no máximo seis horas para encontrá-la e já fazem uns cinco minutos que estamos seguindo-a, idiota. Nem ao menos nos notou. Anda despreocupada, segurando uma lança.
Viro-me para o lado e encontro o olhar de Violet. Os lábios dela se movem sem som: “pegue-a”.
Saio de trás da grossa arvore a qual estava me escondendo e ando silenciosamente atrás da garota. Tenho que tomar o maior cuidado possível, meus passos são pesados. Aproximo-me cada vez mais e ela não me nota, quando já estou perto o bastante prendo seu pescoço numa gravata. A garota se debate, mas não consegue se soltar e nem gritar, eu sou mais forte e meu braço está cortando sua voz. Ouço a risada maldosa de Violet e ela vem até nós.
- Não adianta, garota, ele é forte demais. – ela diz. – Cato, afrouxa um pouco e deixa eu ter uma conversa com ela?
- Como quiser.
Afrouxo o braço ligeiramente, o suficiente para que a garota fale.
- Como me acharam?! – ela se desespera.
Violet e eu rimos.
- Nós somos carreiristas, farejamos perdedores a distancia. – digo.
- Tudo bem, distrito dez, prometo ser rápida. – Violet diz, fria, fazendo a garota se enrijecer.
- Não, por favor...
- Ah, qual é... – Violet imita uma voz indignada. – Nem vai doer.
Ela sorri cruel, tira uma de suas facas e encosta no rosto da garota.
- Gosta dessa aqui? – pergunta. – Bem... Não importa.
Com um só movimento Violet corta o pescoço da garota e sinto o sangue dela escorrer em meu braço. Solto-a na hora e seu corpo cai inerte e sangrando no chão. Violet limpa a faca na blusa, já que não há mais calça, e então a prende novamente nas amarras em sua perna. Espero ver uma expressão vitoriosa em seu rosto, mas me surpreendo quando vejo sua expressão dura, e decepcionada. Me assunto ao perceber que também não me sinto nem uma “maquina de matar”, na verdade, não quero ao menos olhar o corpo da garota morta e pensar que em seu distrito e sua família que agora choram sua perda. O canhão vem e só então Violet me olha.
- Onde acha que eles estão? – ela pergunta.
Encolho os ombros.
- Não sei. Vamos para a Cornucópia. Eles sabem que ela já era, eles vão saber.
Violet assente e então nós andamos em direção a Cornucópia. Não sei quanto tempo leva porque, primeiramente, o pôr-do-sol está realmente bonito e eu perco muito tempo olhando a ele e a Violet mesmo sabendo que posso estar prestes a morrer, segundo, porque o tempo parece ter parado, digo, o sol está se pondo mais parece ter parado num certo ponto. “Então os Idealizadores querem uma final ao pôr-do-sol?” penso, sarcástico.
Quando finalmente chegamos à Cornucópia ela está absolutamente deserta. Não há armas, não há comida, mais nada, tudo foi retirado, talvez por tributos, talvez por aerodeslizadores mesmo. Há uma brisa, leve mas o suficiente para agitar as folhas e fazer Violet pular ao meu lado. Eu solto uma risada.
- Ta muito assustada, Beauregard.
- Cala a boca, Stoll. – ela estreita o olhar para mim.
Minha mão nunca esteve tão apertada à de Violet antes. Meu coração nunca esteve tão acelerado. Eu nunca senti tanto medo. Faltam apenas Ryan e Revlon e eles estão vindo para nós. Tudo bem, eu e Violet os mataremos mas... E depois? Jogos Vorazes. Um ganhador. Eu não irei matar Violet, mas não podemos sair os dois vivos. “Se Katniss e Peeta conseguiram, eu e Violet também podemos conseguir...” penso.
- Não há ninguém aqui. – Violet diz.
- Não... – confirmo. – Talvez eles estejam dentro da floresta. Vamos subir na Cornucópia, quando o primeiro chegar, matamos.
Violet assente e nós dois vamos até o chifre de metal. Ajudo-a a subir e então me lanço para cima. A brisa agora se tornou uma leve ventania e ondula a grama e nossas roupas. O por do sol ainda se sustenta, o céu tingido de laranja, roxo e uma espécie de rosa.
- Será que demora? – Violet pergunta.
- Não sei, baixinha. – digo. – Mas a gente tem que ficar pronto.
Ela balança a cabeça em concordância.
Vários minutos se passam e talvez até mesmo uma hora ou duas – se bem que meu senso de tempo é afetado pelo por do sol “congelado”.
- Cato... – chia Violet se levantando. Nós estávamos sentados. – Eu tenho de ir... Ao banheiro.
- Agora? – me indigno.
- É. Eu já volto.
- Ok, não vá longe.
Ela assente e pula da Cornucópia, vejo-a ir em direção ao lago e entrar em um canto na floresta bem próximo a ele. Não, não posso deixá-la ir sozinha. Eu vou atrás, mas fico somente circundando o lugar onde ela entrou. Me distraio fazendo talhos em um tronco quando ouço o som mais terrível que poderia escutar: Um grito cortante. Violet.
Entro na floresta com tudo, os gritos continuam e minha velocidade aumenta. Não, não agora. Penso repetidamente.
Não, não, não, não.
- Olá, Cato, feliz em me ver? – a voz arrastada faz meus ouvidos doerem.
O sorriso atravessado me enfurece. Ryan.
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