História A última promessa - 3-3

- KENJI - gritei correndo em direção ao meu irmão não me importando com as milhares de pessoas a nossa volta, eu e Kenji sempre fomos muito próximos, toda vez que eu aprontava ele me acobertava impedindo que minha mãe brigasse comigo, sempre que eu tinha um problema ele me ajudava, nós fazíamos tudo praticamente juntos, apesar da diferença de dois anos na idade. Seus olhos brilharam assim que me viu correndo em sua direção e um sorriso começou a se formar em seu rosto, aquele sorriso largo e perfeito que só ele tinha
- que saudades do meu bebê - ele diz baixinho comigo já em seus braços, bebê era um apelido por qual ele sempre me chamou, apesar de me fazer parecer uma criança, eu adorava
- Você não sabe o quanto eu esperei por isso - disse ainda o abraçando com o rosto enterrado em seu peito
- claro que sei, você me ama - soltei uma risada e me afastei do seu abraço
- continua com o exagerado amor próprio de sempre, estava com saudades disso também - disse sorrindo
- se eu não me amar quem vai? Além de você é claro - dei um leve soco em seu ombro e mudei de assunto
- cadê nossos avós?
- quando se lembraram que você chegaria hoje correram pro mercado comprar suas coisas favoritas e me mandaram vir te buscar - diz fazendo uma careta, fiz uma cara satisfeita com a recepção de meus avós, estava com saudades do jeito carinhoso dos dois
- Então vamos, eu levo sua mala, a casa não é muito longe caso você não tenha lembranças hahaha
- É claro que eu não tenho lembranças, eu sai daqui com 4 anos de idade! - ele ri de minha resposta e pede que eu o siga, fomos conversando sobre várias coisas até chegarmos ao ponto de ônibus, enquanto ia me mostrando suas lojas favoritas, assim que entramos no ônibus continuamos conversando, ele me falava sobre como era a escola pra qual eu iria de um jeito empolgado, era seu último ano no colégio e Kenji parecia um pouco triste. Finalmente depois de passar dois pontos nós descemos, fui seguindo meu irmão enquanto prestava atenção no caminho pra casa, depois de andarmos por uns 5 minutos em uma rua pequena finalmente chegamos, assim que avistei a casa comecei a ter memórias meio embaçadas da minha infância, era a mesma casa na qual eu vivi por 4 anos, apesar de não lembrar claramente.
Entrei logo atrás de meu irmão
- vovó, vovô, nós chegamos - Kenji diz em um tom mais alto, logo escuto passos vindo da escada, minha vó descia acompanhada de meu avô em passos lentos
- Haru, venha até aqui, deixa eu ver você - escuto minha vó dizer com dificuldade por estar falando em português, vou até ela e me curvo, fazendo o mesmo com meu avô
- Você cresceu e virou uma moça muito linda - diz meu avô com lágrimas nos olhos, eu os abraço e eles retribuem, então explico que ainda sabia falar o japonês, eles parecem aliviados por eu lembrar de nossa língua natal
- Kenji, leve sua irmã até o quarto dela e ajude a desfazer a mala - disse meu avô enquanto segurava minhas mãos e dava tapinhas carinhosos
- sim senhor capitão - disse fazendo continência e todos rimos. O segui até meu quarto, meu berço foi substituído por uma cama de casal bem aconchegante pelo visto, minha penteadeira e a cor rosa se manteram, eu gostava. Kenji me ajudou a desfazer a mala e a guardar as roupas no guarda roupa
- vamos sair hoje á noite?- ele pergunta parecendo animado
- pra onde você quiser - disse animada com a idéia
- Está em época de Sakura, hoje é o último dia do festival, teve sorte de chegar a tempo
- Parece que sim - disse dando um suspiro aliviada, eu era muito apaixonada pela beleza das cerejeiras
- vamos descer pra comer, depois você descansa um pouco e eu te acordo quando for o horário
- vou tomar um banho e já vou
- Então eu vou descendo na frente - ele diz me dando um beijo na testa
- bem vinda de volta - ele diz enquanto sai fechando a porta. Me apresso pra tomar o banho, quando finalmente termino desço as escadas e vou em direção a cozinha,  lá encontro meus avós e Kenji me esperando com uma mesa recheada de comidas típicas do Japão, abri um sorriso e fui logo sentando a mesa.
Enquanto comia conversava com os três sobre como estavam as coisas no Brasil, meus avós se preocupavam com minha mãe, mas eu os assegurei de que ela estava muito bem e que meu pai cuidava direito dela. Após a deliciosa refeição fui em direção ao meu quarto, deitei na minha cama feliz por finalmente poder descansar e logo em seguida adormeci.
Acordei com a voz de Kenji
- bebê, acorda, tá na hora
- só mais 5 minutos - reclamei sonolenta
- não tem 5 minutos, vai se aprontar sua chorona - ele fala enquanto tira o cobertor de mim, me sento na cama esperando o sono ir embora
- estou te esperando lá em baixo - disse Kenji saindo. Tomei um banho rápido e vesti uma roupa bem quente, afinal diferente do Brasil fazia muito frio no Japão. Desci as escadas e me deparei com meu irmão me esperando no sofá enquanto olhava o celular, pigarreei o fazendo olhar pra mim, ele deu um assobio
- nada mal - sorri e devolvi o elogio
- vamos? - disse e saímos de casa. Fomos caminhando até o local do festival, enquanto conversávamos nem percebi o tempo passar, ele me guiou pelos lugares sempre segurando em minha mão para que eu não me perdesse no meio da multidão,  comemos muitas coisas e nos divertimos bastante enquanto apreciavamos as sakuras
- suas aulas começam segunda feira, então vamos aproveitar o máximo amanhã, vou te levar pra muitos lugares - meu irmão sorria com a idéia, eu apenas assenti animada. Depois de nos divertir bastante voltamos pra casa, já estava ficando tarde e a gente precisava descansar pro dia de amanhã, chegamos em casa e eu estava completamente esgotada, segui em direção ao meu quarto e com a roupa que estava no corpo mesmo capotei.
Acordei de manhã bem cedo, não estava tendo problemas com o fuso - horário já que no Brasil eu trocava o dia pela noite. Fiz minha higiene matinal, me troquei e fui tomar café, falei com meus avós e meu irmão, logo depois de terminar o café eu e Kenji saímos, ele me levou a vários lugares divertidos, foi um dia bem produtivo,  na volta pra casa já anoitecendo ele me mostrou onde ficava a escola que eu ia estudar, ela era realmente grande. Quando cheguei em casa tomei um banho e ajudei minha vó a preparar o jantar, depois que comemos subi pro meu quarto, e vi que em cima da cama estava meu uniforme e meus materiais separados, agradeci minha vó mentalmente,  pendurei o uniforme no guarda roupa, guardei os materiais dentro da mochila e me deitei, fiquei pensando por um tempo se eu iria me adaptar na escola, logo depois adormeci.
Quando acordei a primeira coisa que fiz foi tomar um banho, vesti o uniforme peguei meus materiais e desci em direção a cozinha, vi Kenji e minha avó preparando a refeição, meu avô ainda dormia, depois de um café da manhã tranquilo dou um beijo no rosto da minha vó e sigo pra escola com Kenji, ele pareceu perceber que eu estava preocupada
- Vai ficar tudo bem bebê, você vai se dar bem - sorri aliviada com a tentativa do meu irmão de me animar. Quando chegamos na escola meu irmão me apresentou aos amigos deles, eles incrivelmente eram super extrovertidos e eu logo fiz amizade, depois de me explicar onde ficava minha classe eu e Kenji seguimos em caminhos diferentes, estava tentando achar minha classe, acho que tinha me perdido, vou andando tentando encontrar minha sala sem prestar muita atenção quando esbarro em alguém
- me desculpe - falo sem graça
- Está tudo bem, você parece ser nova, precisa de ajuda?
- graças aos céus, na verdade estou perdida, você sabe onde fica a sala 1-c ? - ela dá uma risada fraca
- sim, sou dessa classe, meu nome é Aya, espero nos darmos bem - sorri, a moça a minha frente era tão gentil
- sou a Haru, também espero nos darmos bem - disse sorrindo e a segui para a classe. Quando entrei o professor pediu que eu me apresentasse, os alunos pareceram impressionados por eu ter vindo de tão longe. Durante o horário do almoço muitas pessoas vieram falar comigo, inclusive Aya,  era todo mundo muito simpático, e comecei a me enturmar...

Dois meses haviam se passado desde que cheguei no Japão, tinha feito muitos amigos e logo Aya se tornou minha melhor amiga, conversava todos os dias com meus amigos do Brasil também, estava com saudades de todos.
Naquele dia eu e meus amigos combinamos de ir a uma cafeteria nova depois da escola, as aulas passaram e nos encontramos no portão, seguimos até a cafeteria conversando sobre diversos assuntos e brincando durante o caminho, Kenji não tinha vindo, ele tinha assuntos pra tratar, então fui sem ele.
Quando chegamos a cafeteria ficamos realmente impressionados, ela era realmente grande, e bem limpa, e por ser nova estava um tanto quanto cheia.
Fomos fazer o pedido então eu toquei o sino para que a garçonete viesse até nós
- Bom dia, oque desejam? - ela disse com uma voz doce, estava olhando o cardápio então me virei para ela,  mas quando eu virei me faltaram palavras, a minha voz falhou e eu só conseguia pensar em uma coisa, eu não estava enganada,  eu reconheceria aqueles cabelos ruivos em qualquer lugar
- tia Raquel - Eu disse um tanto quando eufórica com lágrimas prontas para rolar, ela pareceu me reconhecer, pois imediatamente se sentou ao meu lado e me abraçou
- Haru, quanto tempo! - era ela, agora eu tinha certeza, a mãe de Ren estava ali ao meu lado naquele momento.