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História A última virgem de Tesoro - O casamento


Escrita por: forbiddenfruit

Notas do Autor


Olha a gente aqui outra vez 🙅

Capítulo 1 - O casamento


Fanfic / Fanfiction A última virgem de Tesoro - O casamento

Ser virgem não era algo tão aterrador. Por outro lado, Isabella Ribeiro Santoni estava prestes a mudar aquela situação. Seria mesmo? A questão era: quem poderia ajudá-la a libertar-se de seu cinto de castidade?
Contemplando o movimento em frente a sua panificação, Isabella observou os cidadãos de Tesoro, Califórnia, desfrutando uma bonita manhã de primavera. Com olhar clínico, estudou apenas os homens que caminhavam ao longo da Main Street.
O primeiro foi Dewy Fontaine, noventa anos, que entrava na farmácia, do outro lado da rua. Ele parou para cumprimentar Dixon Hill, pai de seis filhos e vivendo seu terceiro casamento.
Isabella estremeceu.
Trevor Church deslizava em seu skate. Atraente, porém muito criança. Tinha apenas dezoito anos. Harrison DeLong, sessenta anos e pouco ágil, parou para acenar e mandar beijinhos para os bebês nos carrinhos. Tentava se eleger prefeito pela segunda vez... E como confiar em políticos?
Rafael Vitti caminhava rua abaixo em direção à sorveteria. Ao vê-lo, Isabella suspirou. Nem pensar! Por um momento, seu olhar fixou-se no corpo másculo. Alto, usava calça jeans surrada e uma camisa vermelha. As botas desgastadas, os cabelos escuros desalinhados pelo vento. Isabella sabia, sem mesmo ser capaz de vê-los, que os olhos castanhos estavam semicerrados.
Rafael era uma criatura desconfiada. A única pessoa do sexo feminino em quem confiava era a filha de cinco anos de idade, Emily. Naquele instante, a menina correu ao encontro do pai e segurou a mão dele entre as suas, Rafael fitou-a e lhe ofereceu um de seus raros e estonteantes sorrisos.
Pena que ele não estava no páreo.
  Aos dezessete anos, na escola secundária, Isabella tomara a decisão de permanecer virgem até se casar. Imaginou formar-se, para em seguida encontrar um rapaz maravilhoso, e teria muitos filhos. Sonhos antiquados, na atual conjuntura. Mas, na ocasião, lhe parecia a atitude mais sensata a tomar.
  Agora era diferente. Não contara ser a única virgem de vinte e oito anos de idade no país. Por outro lado, nascera e se criara em Tesoro, minúscula cidade costeira da Califórnia, onde as pessoas ainda se davam ao luxo de ter perspectivas simples. Onde os vizinhos todos se conheciam, as portas permaneciam destrancadas e os rapazes solteiros eram raros.
Bem, ali estava ela, onze anos após terminar o segundo grau, tão pura quanto no dia em que nasceu. A história de se manter casta perdera todo o brilho. Isabella insistira nessa idéia por anos, apesar do fato de suas duas irmãs mais jovens já estarem casadas e com filhos. Convencera a si mesma repetidas vezes de que o homem certo ia aparecer. Todavia, para ser franca, começara a duvidar disso nos últimos tempos. Afinal, nunca fora o tipo de mulher desejável.
  Suas irmãs eram pequenas e atraentes. Dulce era alta, muito franca e teimosa. Péssima no flerte, muito honesta para jogar e muito ocupada com seu trabalho para desperdiçar horas preciosas em bates e boates.
Porém, o ímpeto de mudar toda aquela situação se apossara dela na véspera. Bianca Vedovato ia se casar. A menina da qual cuidara como babá viera lhe encomendar um bolo de casamento. Bianca, ou melhor, a mãe dela, não estava poupando despesas. Aos dezenove anos, a jovem já estava em seu segundo compromisso, enquanto Isabella não chegara nem perto do primeiro.
  E foi quando um pensamento singular lhe ocorreu: para quem estava se guardando? Pelo visto, quando morresse seria enterrada intacta e em sua lápide poderia ser lido: “Devolvida, sem abrir”. Isso era deprimente. Por essa razão, se achava tão determinada a mudar o ruma de sua vida.
  Evidente que discutira aquela decisão com sua melhor amiga, Victória, no dia anterior, na hora do almoço, mencionando o encontro com Bianca.
- Bianca Vedovato?! - repetiu Victória, na ocasião. - Lembro-me de quando ela ainda não sabia amarrar o cadarço dos sapatos.
- Pois é. E quanto isso nos faz sentir velhas!
- Deus, que humilhação! - Victória sorveu outro gole da bebida gelada, - Bianca já vai se casar e você aqui sentada, tão pura como um bebê.
- Ora... obrigada. Sinto-me bem melhor agora.
- Oh, querida, não quis ofendê-la!
Os cabelos loiros de Victoria Antunes eram longos e lisos, o que combinava à perfeição com seus olhos escuros. Leal até a morte, era divertida, impaciente e criativa o suficiente para estabelecer sua própria companhia de cartões comemorativos, que administrava em sua casa. Era casada com o xerife, um homem que a adorava, e mãe da menina de seis meses mais linda do mundo.
- Quando será o casamento, Bella?
- Na próxima semana. No sábado.
- Já?
- Sim. E para ser franca, Bianca não me pareceu muito bem.
- Hum... Então talvez haja um motivo para toda essa pressa, não é?
- Não sei. Mas se Bianca estiver grávida, isso a coloca mais ainda a minha frente, não é mesmo?
Victória sorriu e balançou a cabeça.
- Trata-se de uma competição?
- Não. Apenas fui babá dela, e agora a garota já vai ser mãe, enquanto eu...
- Continua assando seus biscoitos maravilhosos.
- Isso mesmo.
- Bem, sabe o quanto gosto de dizer que a avisei – disse Victória. - Mas não vou insistir, desta vez. Tudo o que sei é que não tem feio nada para mudar essa situação, Bella. Sabe muito bem que a maioria dos homens evita as virgens. Eles acham que são muito românticas e que com certeza lhes trarão problemas.
- É verdade.
- Bem, para encontrar seu príncipe encantado, se é que isso existia, teria de perder a virgindade. Sem dúvida uma mulher mais experiente teria mais sorte.
  Nos fundos do bar, uma velha jukebox entoava melodias dos anos sessenta. Ao longo de uma das paredes, via-se uma fileira de mesas com guarda-sóis. Dulce e a amiga sentaram-se num canto afastado.
Alguns fregueses habituais ocupavam os bancos do bar, enquanto casais sentavam-se às mesas. Isabella suspirou, fixando o olhar no casal mais enamorado do grupo, e olhou para Victória com uma expressão séria.
- Bem, o que tenho a fazer é deixar de ser virgem.
- Não venho lhe dizendo isso nos últimos cinco anos?
- Você prometeu não falar mais “eu avisei”.
- Claro! - Victória ergueu uma das mãos, como se prestasse um juramento solene. - Jamais tornarei a dizer que demorou muito para chegar à conclusão de que os homens solteiros, livros e desimpedidos em Tesoro estão quase extintos. De qualquer forma, é melhor continuar procurando aqui. Quem sabe o tipo de pessoa que encontraria em uma cidade grande?
  Isabella não conseguiu conter o riso. Se havia algo no mundo com que podia contar era com a sinceridade de Victória. Mesmo quando não gostava de ouvir certas coisas.
- Sim, já me senti melhor.
- Vai se sentir, querida – prometeu a amiga, sorvendo o último gole de margarita. - Tão logo consiga se livrar desse pequeno obstáculo.
- Pequeno?
- Está bem, não tão pequeno. No entanto, vamos encontrar um parceiro para você. Espere e verá. Quero dizer, não que seja uma solteirona ou algo parecido. Não ainda.
  Isabella se arrepiou. Uma terrível imagem perpassou-lhe a mente. Imaginou-se dali a quarenta anos, morando sozinha, a não ser pela companhia de uma dúzia de gatos rastejando por entre o móveis. Não. Esse não era o destino que queria para si. Desejava construir uma família... Ser amada. E já era hora de correr atrás de seus sonhos.
- Sou capaz de conseguir isso, certo?
- Óbvio!
Porém, antes que Isabella pudesse relaxar um pouco, Victória perguntou:
- Qual o prazo que estabeleceremos?
- Prazo?
Victória assentiu.
- Eu a conheço muito bem. Se tiver uma chance minúscula, vai desistir. Se não estabelecermos um prazo, voltará a se acomodar e esperar pelo príncipe encantado até o fim de seus dias.
- Acredita em príncipe encantado? - perguntou num tom tranquilo.
  Isabella sempre crea que todas as pessoas possuíam caras-metades. Todavia, com o passar dos anos essa teoria vinha se desvanecendo.
- Sim, Isabella, acredito.
  O sorriso suave no rosto de Victoria despertou-lhe um sentimento, não de ciúme, pois jamais invejaria a felicidade que sua melhor amiga encontrara ao lado de Jeff, mas talvez uma certa vontade de ter a mesma sorte.
- Como é esse seu príncipe?
Victória sorriu mais largo.
- Maravilhoso. Está cuidando do bebê no escritório. - Dizendo isso, consultou o relógio. - E é melhor me apressar para substituí-lo, para que Jeff possa voltar ao serviço. Mas antes de ir... Qual o prazo?
- Como posso saber quanto tempo levarei?
- O que acha de três meses?
  Isabella refletiu sobre o assunto. Seria mesmo capaz de conseguir tal façanha? Colocar a si mesma como isca para algum sujeito que quisesse ajudá-la a libertar-se do que julgava ser o principal entrave à suprema alegria? E se não fosse? O que faria? Começaria a procurar gatos órfãos? Oh, não!
- Combinado. Três meses.
- Muito bem, garota! - Victória deu-lhe um soquinho carinhoso no braço. - Antes que se dê conta, estará vivendo feliz para sempre. Espere e verá.
  Um cronômetro disparou, interrompendo as lembranças de Isabella sobre a conversa que tivera com Victória, na véspera.
  Caminhou apressada em direção à porta da cozinha e retirou do forno um tabuleiro de pães doces. Sorrindo, satisfeita, colocou-os sobre uma bandeja e, em seguida, com um movimento rápido, deslizou outro tabuleiro no forno.
  Enquanto o aroma de nozes e canela tomava conta do ambiente, Isabella recostou-se na pia e deu uma olhada ao redor.
  Pequena mas eficiente, sua cozinha era equipada com os melhores aparelhos existentes no mercado. Conseguira uma boa reputação em Tesoro. Sua padaria estava ficando tão popular que já tinha fregueses até mesmo de Carmel e Monterey. O negócio prosperava. Isabella possuía uma casa a apenas um quarteirão dali, e perto da residência dos pais e das duas irmãs, a quem tanto amava. No entanto, tudo o que faltava era construir sua própria família. E isso a incomodava sobremaneira.
  Sempre imaginou que haveria tempo suficiente. Durante a faculdade, concentrara-se tão-só nos estudos. Após a formatura, matriculou-se em uma escola para chefes de cozinha e arte culinária. Em seguida, passou a se concentrar apenas em abrir seu próprio negócio. E, uma vez que a panificação foi inaugurada, dedicara todos os esforços para fazê-la prosperar.
  Havia pouco que se dera conta de que estava renunciando a uma vida pessoal. Os anos se passaram tão depressa que não notara que a maioria das suas amigas de infância estava casada e com filhos. Seu relógio biológico... Deus, como odiava aquele termo... corria num ritmo acelerado, e seu tempo estava se esgotando. Não queria dar à luz seu primeiro bebê quando tivesse quarenta anos.          Acontece com muitas mulheres, mas não era o que queria e esperava para si.
  Embora adorasse ser a tia Bella de suas sobrinhas, isso não bastava. E, se pretendia mudar aquela situação, teria de tomar uma atitude de imediato.
No entanto, havia uma luz no fim do túnel. Num raio de vinte quilômetros, todas as pessoas seriam convidadas para o casamento de Bianca Vedovato. Por certo seria capaz de encontrar pelo menos um ser humano do sexo oposto solteiro e disponível.



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