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História A última virgem de Tesoro - Promessas, vômitos e cafés


Escrita por: forbiddenfruit

Capítulo 3 - Promessas, vômitos e cafés


Fanfic / Fanfiction A última virgem de Tesoro - Promessas, vômitos e cafés

  O olhar preocupado de Rafael recaía sobre Isabella, enquanto ela se dirigia ao salão. Os passos trôpegos no passeio de pedras pareciam tremular através dos feixes de luz vindos dos lampiões espalhados pelo caminho.
A brisa deliciosa vinha impregnada do perfume de flores, e os acordes das canções compunham um cenário suave.
  Isabella continuava murmurando frases ininteligíveis. Rafael a seguiu, comprimindo os calçados dela nos bolsos do paletó. Com certeza ela não lhe agradeceria, mas a coisa mais óbvia a fazer naquele momento era colocá-la no carro e levá-la para casa.
Foi quando de súbito, Isabella estacou, virou-se e, antes que Rafael pudesse reagir, bateu no tórax dele.   Cambaleando, ergueu o queixo, encarou-o e pestanejou, como se tentasse focalizá-lo.
   Rafael reconheceu o que sentiu. Era como se a estivesse vendo pela primeira vez. Os olhos azuis sonhadores. A pele parecendo delicada porcelana sob a suavidade da luz. Um vento refrescante soprou do mar e a fitou-lhe os cabelos. Por um breve momento, Rafael quis puxá-la, beijá-la e...
- Tudo culpa sua!
Ele riu. A imagem romântica que construíra acabara de se desfazer.
- Você bebe além da conta e a culpa é minha?
- Não é isso. - Isabella acenou com uma mão, fazendo uma careta. - Você não está prestando atenção.
   Era verdade. Não dera importância às palavras dela. Distraíra-se contemplando aquelas belas curvas.
- Certo, mas agora estou ouvindo.
   Isabella inspirou e em seguida expirou com força, arrepiando um cacho de cabelos que lhe caía sobre a testa. Rafael jamais a vira daquele jeito, tão... solta. No dia-a-dia, era cordial e eficiente, atrás do balcão da padaria. Mas naquela noite se tornara uma revelação em todos os sentidos.
Uma grande frustração se apossou de Isabella. Não que tivesse ficado excitada ao ser beijada por Diego Herrera.
   Para ser franca, o simples fato de se lembrar daquela boca molhada sobre a sua causava-lhe um embrulho no estômago. Mas, afinal de contas, fora o único homem disponível que encontrara.
   Passando a mão pela testa, ajeitou os cabelos e sentiu como se seu cérebro clareasse um pouco.
- Onde é que eu estava com a cabeça?
- Isso eu gostaria de saber, Isabella.
- Está bem... Diego foi um erro.
- Concordo. A pergunta é: porque estava fazendo aquilo?
Isabella respirou fundo antes de responder:
- Bem, eu não... tinha muita escolha, entende?
Rafael fez que não.
- O que será, em nome de Deus, que está tentando dizer?
- É simples: você arruinou o plano.
- Que plano?
- Tudo culpa sua – repetiu. - Provocou toda essa confusão. Portanto, agora está em dívida comigo.
- Eu a livrei de um canalha.
- Isso é verdade. - Isabella estreitou os olhos. - E vê se fica parado!
- Não estou me movendo.
- Ei, rapaz, isso não é nada bom. Está rindo de mim?
   Rafael ergueu ambas as mãos num gesto de rendição e meneou a cabeça, disfarçando o riso.
- De jeito nenhum.
- Tem de prometer que vai me ajudar.
- De que maneira?
- Vou lhe dizer depois que prometer me ajudar.
- Não faço promessas no escuro.
- Mas está em dívida comigo.
- Deixe de dizer bobagem.
- Então, prometa.
Rafael olhou ao redor. A maioria dos convidados se encontrava no interior do salão, mas não sabia por quanto tempo ainda. Isabella continuava cambaleante, e seus olhos azuis mostravam-se um pouco mais nebulosos devido aos vários copos de margarita que ingerira. Além do mais, parecia que estava disposta a permanecer ali discutindo aquele assunto até o amanhecer. Desse modo, Rafael concluiu que o melhor era prometer, fosse lá o que fosse que ela estivesse querendo. Em seguida, poderia colocá-la no carro e levá-la embora. Talvez, quando ficasse sóbria, não se lembrasse de nada.
- Está bem. Prometo. - Segurando-a por um braço, conduziu-a ao estacionamento.
Isabella se desvencilhou dele.
- Oh! - Piscou e em seguida sorriu. - Bem, assim está melhor. - Tocou-lhe o peito com um dedo. - Você é um príncipe entre as marés... nenhum... príncipe entre... príncipes!
- Sou eu. Príncipe Vitti. (n/a: segura essa referência)
    Tomando-lhe a mão, tentou não pensar na inesperada onda de calor que o atingiu com aquele simples toque. Havia muito não experimentava nada parecido. Na realidade, poderia apostar que seu medidor de luxúria estava quebrado. Mas, ao que tudo indicava, não estava, não.
   Sim, era melhor levá-la para casa. Melhor para ambos. Isabella se achava muito embriagada para que pudesse ter aquele tipo de pensamento em relação a ela.
- Agora, irei levá-la antes que se meta em mais confusão.
- Não me meti em nenhuma confusão, Rafael.
- Não era o que parecia.
- Pensa que foi fácil para mim flertar com todo o mundo no salão? Que foi fácil fingir estar interessada em como Adam Marshal conserta um motor? Ou olhar fascinada enquanto Dave Edwards descrevia suas manobras de jet-sky pela quinta vez? - Respirou fundo – E isso sem contar as inúmeras vezes que tive de ouvir o prefeito praticar seu discurso.
- Parece terrível.
- Você nem ao menos pode imaginar.
- Mas porque precisou fazer tudo isso?
- Porque estou com vinte e oito anos, e a criança que cuidei como babá se casou hoje.
- E isso significa...
- … que, a menos que eu tome alguma atitude, permanecerei solteirona.
- Você está louca? - Rafael fitou-a com dureza.
   Todas as curvas do corpo feminino estavam muito delineadas. Os olhos azuis flamejavam de encontro à luminosidade amarelo-pálida projetada pelos lampiões, e os cabelos cintilavam como fogo.
- Louca? Quem sabe? Mas é muito pior do que isso, Rafael. Sou a última de uma raça agonizante. Um dinossauro... Um... O que mais está extinto?
- Do que você está falando?
- Eu sou virgem!
- Virgem?

                              ♡

Bem, agora enfim conseguira chamar sua atenção. Rafael deu um passo instintivo para trás, como se tentasse manter uma distância segura entre os dois.
- Fale um pouco mais alto. Não acredito que as pessoas no salão tenham conseguido escutar. - Ela riu, estudando a expressão dele. - Veja só esse pavor todo. Os homens, sem exceção, reagem a uma virgem como um vampiro à luz do sol.
   Dando meia volta, Isabella começou a caminhar para fora do estacionamento, resmungando a cada passo.
- Os homens são todos iguais. Diga a palavra “virgem” e eles pulam fora como se fossem atingidos por uma bala no meio do coração.
- Eu não pulei fora.
- Ah!
  Rafael a seguiu e, quando a alcançou, segurou-a pelo braço, virando-a para que o encarasse. Em seguida, passou a mão pelos cabelos e tentou se concentrar. Mas não era fácil. Jamais imaginou que existisse uma virgem de vinte e oito anos de idade.
- Você me pegou de surpresa, Isabella.
- Lógico – ironizou e mostrou-lhe a língua. - É uma boa desculpa. - Inspirando o ar perfumado de jasmim, prosseguiu: - De qualquer maneira, a questão é que eu estava tentando achar alguém para me ajudar a sair dessa... situação.
- Diego? - Arregalou os olhos, surpreso. - Alfonso foi o sujeito que você escolheu?!
Em vez de responder, Isabella fez outra pergunta:
- Sou uma mulher bonita, não acha?
Os olhos azuis contemplaram-na da cabeça aos pés.
- Sem dúvida.
- Sou até um pouco inteligente.
- Eu pensava assim, até alguns minutos atrás.
Ela esboçou um sorriso.
- Então, creio que solucionar meu problema... não seja nenhum sacrifício, certo?
   Rafael não tinha certeza. Falando por experiência própria, jamais tivera um relacionamento com uma virgem. Para Isabella, sexo deveria ter outro significado, envolvendo jantares em família, bebês e...
   Afastou aquelas imagens. De maneira alguma iria se envolver nisso. Isabella era uma moça atraente, e suas curvas preenchiam um sexy vestido preto como jamais vira antes, mas não era o homem ideal para ela. Nem para nenhuma outra.
- Isabella...
- Você disse que me ajudaria.
Rafael começava a entrar em pânico.
- Eu prometi ajudar... Não... - Parou de falar e a estudou durante um longo minuto.
   Porém, Isabella não o ouviu. Aproximou-se, fechou ambas as mãos nas lapelas do paletó dele e se pôs na ponta dos pés até encostar o nariz no dele.
- Não quero seu uma velha solteirona. Não terminarei a vida criando gatos. Adoro gatos, posso até ter alguns, mas há de ser só isso. Preciso de filhos... uma família. Eu...
   Mesmo na penumbra, Rafael notou que ela empalideceu.
- Você está bem?
- Oh, Céus! - Isabella tapou a boca. - Estou longe de estar bem!
   Seu estômago revirou, e ela engoliu em seco, lutando para manter o controle. “Respire fundo”, disse a si mesma, tentando colocar aquele pensamento em ação. Mas não parecia estar dando resultado. A cabeça flutuava, e as entranhas se contraíam como se fossem um barco minúsculo no meio a um mar tempestuoso.
- Talvez seja melhor levá-la para casa, Isabella.
- Sim. Tem toda a razão.
   Com os dedos fortes e mornos de Rafael segurando-a pelo cotovelo, concentrou-se no calor da pele dele para lutar contra os arrepios que a percorriam. Curvando a cabeça para trás, respirou fundo várias vezes e repetiu para si mesma que aquela náusea ia passar.
   A náusea ia passar... ia passar...
   Com um gesto rápido Isabella se afastou, apoiando-se nos arbustos, e pôs para fora tudo o que bebera. A mente girava com grande velocidade, lembrando-a de todas as humilhações por que passara naquela gloriosa noite.
    Flertara sem constrangimento... e mal. Permitira que Diego Herrera, entre todos os rapazes presentes, a beijasse. E, para encerrar com chave de ouro, vomitara na frente de Rafael Vitti. Sim, isso era demais. Bem, já podia começar a procurar pelo primeiro gato.
Sua grande noite de sedução tinha se transformado em um pesadelo.
   Quando os espasmos pouco a pouco foram passando, Isabella se deu conta de uma mão fresca e seca em sua testa e do som dos sussurros suaves e calmantes de Rafael. Embora se sentisse envergonhada, estava feliz por tê-lo a seu lado. Pior do que vomitar na frente de alguém era vomitar sozinha.
   Erguendo-se, respirou bem fundo e notou que a neblina que envolvia seu cérebro se dissipara. Fora substituída por um som de batidas secas de tambor, mas pelo menos conseguia raciocinar e enxergar direito outra vez.
   Rafael ofereceu-lhe um lenço. Ao aceitá-lo, ela sorriu.
- Obrigada. Pensei que ninguém mais usasse isto.
Ele deu de ombros.
- Só um sujeito antiquado, como eu.
E, ao que parecia, cavalheiro o bastante para evitar mencionar mais aquele recente vexame.
- Ainda quer aquela carona para casa?
- Sem dúvida. Obrigada.
Durante o curto trajeto, Rafael permaneceu calado, estudando-a.
   Agora que Isabella não se achava mais sob o efeito do álcool, podia apostar que estava começando a lamentar o fato de lhe confidenciar aquela história toda de ser virgem. E, lógico, ele ficaria feliz em esquecer tudo aquilo. Na realidade, depois que vira Isabella sem a habitual calça jeans, não conseguia parar de imaginar como seria despi-la.
“Droga” Rafael apertou o volante com força e aconselhou-se a manter a atenção na estrada, e parar de querer olhar para aqueles seios volumosos sob o decote. E, para se sentir mais seguro, tentaria esquecer a curva daqueles quadris e o brilho suave dos cabelos de Isabella e...
    Entrando na rua em que ela morava, contemplou as casas bem-cuidadas e repletas de flores. Estacionou próximo à calçada, desligou o motor e voltou-se para encará-la.
   Até mesmo escondida pela penumbra Isabella o excitava.
- Obrigada mais uma vez, Rafael.
- Quer que eu providencie para que tragam seu automóvel ainda hoje?
- Não. - Abriu a porta e foi saindo. - Posso andar até a padaria amanhã, e depois eu o apanho.
    Rafael saiu do veículo e a seguiu, apenas um passo ou dois atrás dela.
     Isabella deixara a lâmpada da varanda acesa, o que realçava com suavidade as cores do pequeno ambiente decorado com vasos de plantas variadas e uma cadeira de balanço repleta de almofadas.
    Rafael teve curiosidade de saber como seria a casinha dela por dentro. Mas não se permitiria tal atitude. Isabella poderia não querer pensar sobre o que dissera, enquanto estava sob o efeito das margaritas, mas ele se lembrava de tudo.
   Isabella queria ser amada, ter uma família, filhos. E isso era o suficiente para convencê-lo a manter-se afastado.
    Ela abriu a porta da frente, acendeu o interruptor, e mais luz inundou o recinto, como se lhe desse as boas vindas. Aquilo poderia levá-lo a sérias dificuldades.
- Vou fazer um café bem forte Vitti. Aceita uma xícara?
“Diga que não!” Rafael precisava sufocar seu desejo antes que fosse tarde demais. Mas por algum motivo desconhecido, não recusou.
- Claro! - Ele entrou, e ela fechou a porta atrás dos dois.
   Isabella caminhou em direção a um pequeno corredor. Rafael foi junto, e quanto ela acendeu a lâmpada, as paredes amarelas da cozinha ficaram visíveis. Uma mesa de pedestal branca rodeada por quatro cadeiras ficava em frente a uma janela. Plantas revestiam os batentes, e a bancada ostentava um sortimento dos mais modernos eletrodomésticos.
    Isabella se movia com familiaridade. Rafael a observava. Todos os movimentos eram precisos. Aquela era uma mulher acostumada a despender boa parte de seu tempo na cozinha. Parecia muito mais ambientada ali do que naquela festa.
     Pelo menos tinham algo em comum.
    Quando, por fim, Isabella terminou de colocar o pó de café na cafereita, virou-se para fitá-lo.
- Irei trocar de roupa. Sente-se, estarei de volta em um minuto.
     Quando ela se afastou, Rafael estudou a mesa e as cadeiras e contemplou a escuridão do exterior, através dos vidros da janela.
     Casinha confortável, pensou, aconselhando a si mesmo a partir. Mesmo porque Emily estava em casa com uma babá e o dia seguinte seria atarefado. Mas, por algum motivo, não tinha vontade de ir.
- Sinto muito por tê-lo tirado da festa. -Isabella gritava lá do quarto.
- Sem problemas. Não sou muito afeito a essas comemorações.
- Está bem...
Ele sorriu e sentou-se.
    Alguns minutos depois, Isabella retornou à cozinha. Vestia short de brim e uma camiseta azul muito justa, revelando a curva dos seios sob o tecido. As pernas bem torneadas e bronzeadas estavam à mostra. Os pés, nus, adornados com um dos dedos do pé esquerdo, e esmalte rosa-pálido nas unhas. Rafael compreendeu que permaneceria ali mais tempo do que deveria.
    Ao ouvir o chiado da cafeteira, Isabella pegou duas xícaras no armário.
- Toma café puro, não é?
Ele arqueou uma sobrancelha.
- Como sabe?
  Isabella sorriu, sentou-se diante dele e passou a mão pelos cabelos, que agora pareciam macios e indômitos.
- Uma boa mulher de negócios lembra-se de como seus fregueses costumam tomar o café. - Dizendo isso, bebeu um gole e cerrou as pálpebras. - Vejamos. Você prefere os pães de canela, e Emily ama meus biscoitos de chocolate. E costumam ir todas as tardes de quarta-feira à padaria depois que a pega na escola.
   Rafael não sabia se ficava impressionado ou irritado, por saber que se tornara uma criatura de hábitos tão previsíveis que a dona da panificação poderia acertar seu relógio por ele. Quando é que isso ocorrera? Bem, mas se Isabella estava dizendo...
- Sem dúvida me viu em uma das minhas piores noites – disse ela, interrompendo-lhe as conjecturas.
- Isabella, porque não esquecemos tudo o que aconteceu e...
- De jeito nenhum!
- O quê?
- Ouviu muito bem, Rafael. - Ela se recostou no espaldar e sorriu de um modo que o deixou atordoado. - Prometeu me auxiliar, e estou contando com você para isso.



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