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História A vida aos olhos de um filósofo suicida - Doces sonhos


Escrita por: pcydreams

Notas do Autor


Fiz minha beta chorar litros por isso mas ela disse que é a melhor coisa que já escrevi, vai entender :V
Lá vem eu e minhas bad, não sei escrever fluffy desculpa a todos que esperavam algo neném q
Pois bem, se preparem para se sentir muito tristinhos e no final uma mensagem lindinha
Estamos no setembro amarelo, então nada mais justo do que falar sobre esse assunto que causa calafrios
Boa leitura <3

Capítulo 1 - Doces sonhos


Eu sempre odiei doces, nunca gostei de coisas adocicadas, mesmo que não fossem feitas exclusivamente de açúcar, eu nunca vi graça naquele sabor alegrinho que todos gostavam, desde criança eu sempre preferi o chocolate amargo e as balas de hortelã mais fortes, talvez eu estivesse destinado a me tornar uma pessoa amarga desde meu nascimento, a vida realmente nunca foi muito justa comigo nem com as pessoas ao meu redor, talvez eu seja um poço de azar, como um gato preto. Mas teoricamente eu era o gato preto, ou a ovelha negra, enfim, não levando em conta a cor da minha pele, que é também um fator para que eu seja uma espécie de ser à margem da sociedade, não digo marginal pois soa como se eu fosse um bandido ou sei lá o que, mesmo que marginal signifique ser alguém à margem da sociedade, é só uma questão de costumes, pois bem, eu sou péssimo.

Formado em filosofia com mestrado na universidade Kyung Hee, nunca consegui um bom emprego como professor em lugar nenhum por causa do meu histórico de saúde regado a surtos psicológicos e crises de pânico em sala de aula, sendo assim, eu me formei para não fazer nada, nada mesmo, não me contratam nem como professor substituto com a desculpa de que sou incapaz de realizar qualquer atividade como professor. Eu não tenho culpa de ser o que sou, tenho?

Mas não é porque não consigo emprego como professor que eu não tenha um emprego, trabalho em um café que é perto da minha casa, me contrataram não por habilidade nem formação, apenas disseram que eu tinha um rosto bonito e uma voz calma e isso seria o suficiente para atrair clientes, principalmente clientes do sexo feminino, jogada de marketing maravilhosa. Eu trabalho nesse café há dois anos e meio, sou garçom e o gerente se chama KyungSoo, ele é bem legal comigo e deixa que eu falte quando me sinto muito mal, é bem compreensivo, sempre ouve minhas frustrações, eu já cheguei a pensar que ele gostava de mim, mas quem gostaria?

Para falar a verdade, tem alguém que gosta, o nome dele é Minseok e ele trabalha na confeitaria ao lado, eu sempre vou para lá quando me sinto triste ou quando estou em horário de almoço, peço algum doce, por mais que eu odeie doces, e fico por lá só para vê-lo e apreciar aquelas mãos delicadas confeitando aqueles bolos, eu sempre estou fantasiando com aquelas mãozinhas pequenas e habilidosas. Minseok sempre fala comigo e sorri quando eu vou para a confeitaria, ele sempre prepara cannolis para mim, alegando que esse seja meu doce preferido afinal eu sempre o peço quando vou para lá, mas na verdade eu só peço pois sei que é o doce que Minseok mais gosta de preparar, quem diria que um doce italiano simples seria o preferido de um pâtissier bem formado? Aliás, eu sempre almoço na confeitaria, eu gosto de tudo que seja preparado por Minseok.

Hoje eu estava lá também, comendo meu cannoli em silencio, eu esperava Minseok surgir no balcão para organizar os cupcakes em fileiras coloridas, mas ele estava demorando demais para aparecer, eu havia calculado tudo, e ele nunca atrasava, mas aquela não foi a única surpresa do dia.

“Você está bem? Parece frustrado. ”

Me assustei ao escutar a pergunta repentina que vinha do baixinho, que estava com um sorriso alegre, Minseok nunca era previsível, por que agora seria? E aliás, ele estava sentado na cadeira em frente à minha, ele nunca parava o trabalho para conversar comigo, a paixão dele era confeitar, e não conversar. Travei na hora de responder, a voz simplesmente sumiu, então dei de ombros e voltei a comer o doce italiano com gosto, eu tinha aquela dificuldade para falar com os outros desde sempre, não era timidez, era parte do meu problema, por mais que eu amasse Minseok, aquilo ainda insistia em me atormentar.

“Estou bem. ”

Eu com certeza falei em um tom rude demais, mas o que eu poderia fazer? Minseok entenderia, então não me preocupei, ele sempre me entendia, ele era maravilhoso, era o namorado perfeito.

“Não fale assim, está tudo bem no trabalho? ”

Ele me deu uma tapinha no ombro e voltou sua atenção para o meu prato vazio, ele parecia estar ainda mais feliz ao ver que eu comi tudo sem deixar uma migalha sequer, meu nível de glicose com certeza estava altíssimo de tanto comer doces todos os dias, mas aquilo não importava, eu queria ver o sorriso satisfeito de Minseok, e que se foda a minha saúde.

“Sim, tudo bem. ”

Ele se espreguiçou, parecia estar cansado, dei um jeito em minha postura e o fitei em silêncio, ele parecia estar pensando em algo, ele sempre fazia aquela expressão séria quando pensava.

“Okay, te vejo mais tarde. ”

Então ele voltou para a cozinha, e eu voltei para o café, era sempre assim, nosso relacionamento poderia ser estranho aos olhos dos outros, mas aquilo me fazia feliz, ou era ao menos assim que eu achava que me sentia. Ele não me visitava em casa, mas eu o visitava todos os dias quando ele não estava em casa, eu tinha uma cópia da chave do apartamento dele, então eu entrava quando quisesse. Era um apartamento pequeno como ele, parecia uma casa de bonecas de tão bem arrumado e delicado, ele tinha muitas fotos em molduras, porta retratos e álbuns, então eu sempre pegava uma ou outra emprestado, ele não sentia falta daquelas coisas dispensáveis. Ele gostava de tons claros, por isso as roupas dele eram sempre em tons pastéis ou cores suaves, eu adorava o cheiro de amaciante nas roupas dele, confesso que uma vez peguei uma camisa dele emprestado, era a camisa favorita dele, eu ouvi ele reclamar que não havia achado a tal camisa, talvez eu devesse devolve-la.

Meu quarto, ao contrário do quarto dele, era bagunçado, escuro e empoeirado, eu não tinha tempo para limpar e nunca gostei de claridade, então parecia uma espécie de caverna obscura, eu tinha certeza de que Minseok odiaria aquele quarto, por isso eu nunca o levei para lá. Minha casa era pequena, eu morava com minha mãe, mas ela viajou a muito tempo e ainda não voltou, acho que talvez tenha gostado do lugar e preferiu ficar por mais tempo, eu sentia falta dela, mas ela não sentia a minha com certeza, eu sempre fui uma decepção para mamãe, acho que ela gostaria de mim se conhecesse Minseok, afinal ele é a melhor pessoa de todas e gosta de mim, sendo assim, ela poderia gostar de mim também.

Eu não entendia muito bem qual dos meus defeitos a fez partir, ela sempre disse que eu era um problema, que eu era defeituoso como um brinquedo que veio com problemas de fábrica, eu nunca entendi aquela analogia, mas deve ser porque eu geralmente estou triste e porque tenho crises emocionais, mas se até o KyungSoo gosta de mim sendo eu tão complicado, porque ela não gosta?

Os pensamentos ruins sobre mamãe me deixaram atormentado e eu acabei chorando na dispensa o resto da tarde, Kyung sempre disse para mim que eu deveria chorar escondido quando estivesse no trabalho ou fora de casa, afinal, os clientes iriam ficar assustados e nunca mais voltariam, eu o compreendia, então nunca o contestei, ele é uma pessoa boa, não sentia vergonha de ter um empregado defeituoso, assim como Minseok não sentia vergonha de ter um namorado defeituoso, apesar de que ele nunca me beijou de verdade em público, talvez a vergonha seja de ter um “namorado” e não um namorado problemático.

Depois do trabalho eu fui para casa, estava escura e empoeirada como sempre, a mania de limpeza de Minseok me veio à cabeça e eu decidi limpar aquela baderna, ele adoraria me ver limpando a casa, Minseok tinha TOC, então qualquer poeirinha era um incômodo para si. Tratei de buscar uma vassoura e dei início a uma faxina noturna que durou da noite até a madrugada, pensei em ligar para Minseok, ele adoraria ver tudo limpo, então simplesmente liguei e esperei que ele atendesse com aquela voz calma de sono, eu amava tanto aquela voz.

“Q-Quem é? ”

Eu não falei nada, nunca precisei falar, ele sabia que era eu então simplesmente viria.

“Você de novo? Isso é algum trote? Aish, já é tarde da noite! ”

Era tão engraçado ouvi-lo irritar-se, porém eu já não conseguia mais rir, por mais que quisesse, havia um bloqueio em mim para qualquer sentimento alegre.

“Eu vou desligar, se me ligar novamente, eu vou te denunciar. ”

Ele parecia mais irritado que o normal, aquele tom me deixava ainda mais angustiado, ele nunca falava daquele jeito comigo, mesmo quando tínhamos uma briga, ele sempre era gentil e doce, como Minseok poderia falar comigo daquele jeito? Como ele poderia dizer que iria denunciar o próprio namorado sem motivos? Aquilo me entristeceu e eu acabei tendo outra crise. A bagunça voltou, vasos de vidro e porcelana estavam quebrados, havia uma rachadura feia na televisão antiga da sala que eu nunca usei por ter sido proibido quando mamãe ainda vivia aqui, eu me isolei em meu quarto e chorei até a cabeça doer agarrado à uma foto do meu amado, da época em que ele ainda estudava na França, adormeci assim que amanheceu, com aquele pensamento na cabeça, Minseok me magoou pela primeira vez.

Minseok tinha vinte e nove anos de idade, nascido no dia vinte e seis de março em Hwado-eup, Namyangju, Coreia do Sul. Ele era um ótimo aluno durante o ensino fundamental e médio, suas notas eram maravilhosas, principalmente em matemática, seus pais queriam que ele trabalhasse como banqueiro e estudasse economia, mas ele optou por estudar gastronomia, os pais enlouqueceram e depois disso eu não sei de mais detalhes, apenas que ele foi estudar na França alguns anos depois e abriu sua própria confeitaria aqui em Seoul, ele é bem sucedido para alguém que trabalha sozinho, vive confortavelmente, sai com amigos e se diverte, eu queria ser como ele, mas as vezes os opostos se atraem. Minseok era calado, interagia com o mundo silenciosamente e de uma forma simpática, isso fazia com que gostassem mais dele, eu tinha ciúmes disso, ele não deveria ser tão legal com todos, apenas comigo, por isso alguns caras dão em cima dele, eu não suporto ver outros homens olhando para o meu, somente meu Minseok, mas é impossível não resistir a todo aquele charme natural que ele tem, os olhos gatunos, os lábios delicados e infantis, o sorriso um tanto incomum e enorme, daqueles que dá pra ver todos os dentes da boca, e as enormes bochechas fartas, sem contar o corpo bem definido e as coxas que eram de enlouquecer qualquer um, ele era definitivamente perfeito.

Eu o observava toda manhã, acompanhava os passos dele até a confeitaria, ele estava sempre cheio de pastas na cestinha da bicicleta rosa clara que ele costumava usar para se locomover, o baixinho odiava automóveis e os efeitos ruins que eles causavam ao meio ambiente, ele era um ativista da causa ambiental, eu percebi isso quando vi os adesivos e cartazes sobre preservação ambiental e ecologia colados nas paredes da confeitaria, e alguns espalhados pela casa dele, eu achava fofo demais o fato dele se importar tanto com o mundo, afinal eu não vejo esperança nenhuma em tudo isso. Ele gostava muito de plantas também, tinha um jardim enorme na varanda do apartamento, eu costumava regá-las sempre que ia visita-lo lá, as vezes até adicionava um sal especial para as plantas na agua, mas elas acabavam murchando, talvez eu simplesmente liberasse a minha aura ruim nelas e as matasse sem querer, mas quem sabe não era realmente isso que eu queria? Eu nunca gostei de plantas mesmo, e aquelas plantas ganhavam mais amor e atenção do Minseok do que eu, eu as odiava.

Assim que acordei, já era tarde, liguei para KyungSoo e avisei que estava doente e precisava descansar, mas era apenas uma desculpa para ir na casa de Minseok enquanto ele estava na confeitaria, eu sentia falta de estar com ele, e precisava de um esclarecimento sobre o incidente de ontem à noite. Tomei um banho longo e vesti minha calça jeans rasgada e meu moletom azul marinho e sai de casa, acabei comprando um pequeno bonsai Fukinagashii para ele, me apaixonei por aquela planta pela primeira vez que a vi, a forma engraçada na qual ela se inclinava para a direita como se estivesse sendo arrastada pelo vento me chamou a atenção, e de certa forma vi uma semelhança entre ela e Minseok, pois ele estava sempre inclinado para frente, deixando o destino tomar o rumo de sua vida e ele apenas seguia sem contestar, além de ser pequena e fofa, e alias, todos gostam de bonsais, apesar de serem frágeis e difíceis de cuidar, assim como o meu Minseok.

Assim que cheguei ao prédio no qual ele vivia, fui direto para o elevador, mas algo que eu não esperava aconteceu, e já era a terceira vez que algo imprevisível acontecia comigo. Minseok estava no elevador, virado de costas para a porta, encarando o próprio reflexo no espelho enquanto arrumava alguns fios arroxeados de seu cabelo bagunçado, ele deveria estar no trabalho, o que aquele baixinho infame fazia aqui?

“Você mora aqui? ”

Ele perguntou assim que me viu, em um tom simpático, logo notou a planta em minhas mãos e sorriu radiantemente, os olhinhos se arregalaram e ele pareceu impressionado, e era realmente impressionante me ver com alguma planta.

“Wah! Eu não sabia que você gostava tanto de plantas! É um bonsai Fukinagashii, não é? Eu amo bonsais! ”

Sorri de leve ao ouvir aquelas palavras e corei de leve, acabei por abaixar a cabeça para esconder o rubor, logo estiquei os braços em direção a ele, entregando-lhe o bonsai, ele pareceu muito feliz em receber aquilo, isso me deixou feliz também.

“É para mim? Muito obrigado, saeng! ”

“N-Não foi nada. “

“Olha só, você falou, já estava na hora, sabia? Eu gosto tanto da sua voz... “

Ele passou a falar em um tom mais manhoso, sorrindo de forma devassa enquanto encarava meus lábios, ele não agia assim com frequência, era algo muito raro de se ver, talvez sua libido estivesse lá em cima, ou era apenas carência, eu não sabia, apenas fui agarrado de surpresa e segundos depois já estava beijando Minseok no elevador, aqueles lábios macios tocando os meus, as línguas brigando por espaço nas bocas desejosas, foi tudo muito repentino, quando chegamos ao quarto andar, ele se afastou e segurou minha mão, arrastando-me até o apartamento que eu costumava visitar todos os dias.

“Saeng... Você quer entrar? Eu estou sozinho e desocupado, pode me fazer companhia? “

Dei de ombros em resposta, aquilo foi o suficiente para Minseok sorrir novamente e me arrastar para o quarto dele, onde voltamos a trocar beijos e carícias, minhas roupas já estavam espalhadas pelo chão alguns minutos depois, eu estava deitado na cama dele e ele estava sobre mim, nossas bocas pareciam lutar uma com a outra em um beijo eufórico e cheio de luxuria, eu senti o calor tomar conta do meu corpo, senti a pele macia dele encostar na minha, senti as mãos dele brincarem com meu corpo, fazendo-me descobrir sensações novas, as mãos pequenas estavam em minha virilha, deslizando por aquela região sensível até finalmente tocarem meu membro ereto. Minseok me deixava louco a cada investida, os movimentos de vai e vem que ele realizava com a mão faziam meu corpo estremecer, eu mantinha os olhos fechados, deixando meus outros sentidos ainda mais apurados. O indicador brincava com a glande, provocando-me ainda mais, então finalmente me desfiz, atingindo o tão desejado orgasmo, e quando abri os olhos, ele já não estava mais lá.

Encarei o teto, minha respiração descompassada era a única coisa que produzia som no quarto de Minseok, olhei para o relógio ao lado, já eram seis e meia da noite e ele ainda não havia voltado para o quarto, talvez tivesse voltado para o trabalho, mesmo que o horário do expediente já tenha chegado ao fim. Respirei fundo e recolhi minhas roupas que estavam espalhadas pelo quarto de Minseok, observei a cama suja e bagunçada e decidi trocar os lençóis, afinal Minseok odiava bagunça, assim que deixei tudo organizado, fui embora.

Vi Minseok enquanto caminhava de volta para casa, ele não falou comigo, apenas olhou e acenou, achei aquilo um tanto estranho, afinal, havíamos acabado de transar e ele só acenou, talvez não tivesse sido bom para ele, talvez ele quisesse terminar e o sexo foi só uma forma de me acalmar, talvez ele estivesse cansado demais por causa dos doces para me dar atenção, eu simplesmente não compreendi. Cheguei em casa frustrado, sentei no sofá e suspirei fundo, os pensamentos sobre Minseok simplesmente não saiam da minha mente, ele não saia da minha mente.

Ouvi a campainha tocar, era um entregador da confeitaria dele, era um chinês, todos os funcionários de Minseok eram chineses, o rapaz de olhos fundos me entregou uma caixa de cor rosa com um laço bonito e um adesivo com o nome da confeitaria e se despediu em coreano com sua pronuncia terrível. Eu não havia feito nenhum pedido, estranhei a encomenda e voltei para dentro, abri a caixa e arregalei os olhos ao ver a quantidade absurda de cannolis que tinha dentro da mesma, havia um bilhete dentro da caixa.

 

Senti sua falta hoje!

Coma bem

 

Sorri fraco ao ver o bilhete, era uma das poucas vezes que eu sorria, era um momento realmente raro, senti meu coração bater um pouco mais rápido que o normal, ele sentiu minha falta? Como? Ele estava comigo a poucas horas atrás, pelo menos foi o que eu pensei. Peguei um dos cannolis e comi devagar, fechei os olhos e tentei lembrar do que havia acontecido a pouco tempo atrás, porém não lembrava de nada além do meu corpo sendo tocado, mas não era Minseok que tocava.

Olhei para as minhas mãos sujas de doce e sorri fraco, cheguei à conclusão de que Minseok não gostava de mim, ele me amava, mas não da mesma forma que eu o amava, meu amor era diferente, era complicado, era frio e quente, rarefeito. Eu era completamente obcecado por Kim Minseok, pelo sorriso radiante que ele deixava estampado na face durante o dia, pelos cabelos macios que estavam sempre tingidos de lilás, pelos olhos gatunos sem pálpebra dupla que eram simplesmente a melhor parte dele, pelo rosto infantil e pela baixa estatura dele, pela pessoa maravilhosa que ele era, ou ao menos parecia ser na minha mente.

Comi os doces, deixando apenas um sobrando, eu o guardei para uma ocasião especial, peguei uma folha de papel amarelada e uma caneta tinteiro que era de mamãe e foi esquecida pela mesma, acabei escrevendo um bilhete para o meu amado, um agradecimento pelo doce.

 

Obrigado, hyung,

Estão doces como você, é uma pena que eu não possa retribuir, sinto muito por tudo.

Eu te amo hyung, mas não posso sentir você.

 

Suspirei e liguei para a confeitaria, o mesmo entregador veio à minha casa, entreguei o bilhete a ele e o abracei, ele pareceu assustado com aquela atitude repentina, mas não contestou, o larguei assim que senti minhas pernas doerem e ele se foi, levando uma parte do meu coração para Minseok, eu não sabia se meu amado conseguiria ler o bilhete que havia sido escrito com minha letra feia e levemente borrada porque não esperei a tinta secar, mas se ele recebesse já seria ótimo.

Liguei para KyungSoo logo em seguida, ele não pareceu surpreso, afinal eu sempre ligava para ele quando tinha algo de errado, mas naquele momento eu não sentia que algo estava errado e sim que estava tudo certo, tudo ficaria bem.

— Hyung, eu não posso mais trabalhar a partir de amanhã. – Murmurei enquanto vasculhava a caixa de primeiros socorros que estava na gaveta de pijamas de mamãe, sorrindo aliviado ao encontrar o frasco com remédios que facilitavam o sono. —Eu preciso descansar um pouco mais, está tudo um pouco confuso entre mim e o Minseok.

— JongIn, você sabe que isso não é real, sabe? – Ele disse em um tom de receio, estava claramente com medo de dizer aquilo para mim. — Você precisa vir para o café, venha logo.

— Eu não sei hyung, eu o amo, e ele parece me amar, eu estive com ele no quarto dele hoje.

— Minseok... Aish. – KyungSoo resmungou, ele parecia estar um tanto nervoso. — Não existe Minseok aqui, JongIn, ele existe apenas na sua cabeça, é como um amigo imaginário, entende? Você só está confundindo as coisas.

— Eu o vejo na confeitaria, como Minseok pode não existir? Eu sei onde ele mora, eu sei tudo sobre ele. – Contestei enquanto caminhava de volta para a cozinha. — Ele faz cannolis para mim todos os dias.

— Aquele rapaz se chama Li XiuMin, ele é chinês e nem sequer fala nossa língua direito, você inventou o Minseok, é só uma versão idealizada por você do XiuMin, por favor JongIn, venha para cá.

— Não, você está mentindo, hyung, você e todos os outros, todos são mentirosos. – Gritei frustrado, não iria admitir que falassem daquele jeito sobre o Minseok, meu Minseok. —Apenas o Minseok me entende, ele é tão doce e gentil, vou ficar com ele para sempre, você não se importa de verdade comigo, hyung, ninguém se importa, só o Minseok.

— JongIn, eu só quero o seu bem...

— Tchau hyung, não vou te atormentar mais.

Desliguei, me sentindo péssimo por ter agido daquela forma com o Kyung, afinal ele cuidava tanto de mim e sempre me ajudava com meus problemas, mas ele havia falado que meu Minseok não existia, aquilo era absurdo, não pude perdoá-lo, infelizmente não pude.

Coloquei alguns comprimidos dentro do cannoli, talvez fizesse o gosto deles ficar mais suave e menos enjoativo, eu não queria passar mal quando encontrasse o Minseok, doces faziam com que eu me sentisse enjoado, talvez aqueles remédios bloqueassem qualquer dor e fizessem com que eu ficasse mais calmo. Comi o cannoli inteiro, era bem grande, então eu não senti fome, sai de casa e segui para o apartamento de Minseok, mas ao longo do caminho comecei a me sentir tonto, era um sinal de que estava dando certo.

Respirei fundo, tentei me manter de pé, eu não poderia parar no meio do caminho, eu precisava vê-lo antes que os remédios fizessem efeito de verdade, mas parecia tarde demais, eu já estava caído no chão, encolhido por conta da dor e da tontura, eu estava com sono também.

Respirar tornou-se cada vez mais difícil, eu estava tão ofegante quanto no momento em que estive na casa de Minseok, ou ao menos imaginei que fosse ele, será que era mesmo?

Antes que meus olhos se fechassem, eu lembrei de Minseok, lembrei do sorriso dele, da voz doce e suave, da gentileza que era uma das maiores características dele, daquela letra meio garranchosa e das vezes em que ele errava algumas palavras simples, eu não sabia como alguém tão inteligente poderia errar palavras tão simples, talvez ele tivesse problemas de dicção. Meus olhos marejaram por conta da dor, chorei baixinho como uma criança sem teto que sentia frio e não tinha como se aquecer, gemi como um animal ferido que implorava por cuidados, sorri por um amor que não foi completamente alcançado, mas foi o suficiente para me deixar feliz pela terceira vez na minha vida.

A primeira foi aos seis anos quando mamãe me deu meu primeiro presente de natal, era um esquilo de pelúcia que mantenho comigo até hoje, lhe dei o nome de MinMin por acaso, eu era apenas uma criança que não tinha lá essas criatividades para nomear coisas.

A segunda foi em minha formatura da faculdade, eu estava animado ao lado dos amigos que tinha feito, sorriamos, segurando nossos diplomas enquanto posávamos para a foto com largos sorrisos e abraços apertados, todos cheios de sonhos e expectativas. E por incrível que pareça, eu fui o orador da turma por possuir as melhores notas, como diz Aristóteles, “Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura. ”

Ninguém se sente feliz quando está perdendo a vida, ou no meu caso, se livrando dela, mas a questão é, todos nós nos livramos de nossas dores, todos estamos nos libertando do sofrimento do mundo, mas mesmo assim, não vale tanto a pena, a vida é repleta de dores e alegrias, é algo natural, é algo belo, mas alguns de nós não consegue suportar, não estamos errados nem certos, não somos pecadores que irão diretamente para o inferno nem santos que serão levados aos céus, somos humanos, sorrimos, sofremos, colecionamos dores e alegrias.

E minha última maior alegria, se chama Li XiuMin, ou como eu costumava pensar, Kim Minseok, o confeiteiro mais doce e gentil de toda Ásia, o único que conseguiu adocicar meu coração amargo. Ele é o protagonista da minha vida, eu fui apenas um co-protagonista, aquele que nunca fica com a garota, aquele que no final acaba aprendendo com os próprios erros.

Eu nunca pensei que amar fosse doer tanto, e isso me deixou ainda mais louco.


Notas Finais


Beeeeem, choraram muito? Pois é, até eu chorei q
Mandem a conta dos lenços de papel pra mim que eu pago -nnn
Beijos <3 obrigadx por terem lido!


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