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História Abismo - Capítulo único


Escrita por: MidoriShinji

Capítulo 1 - Capítulo único


Akira Mado era feita de gelo, mas Takizawa jamais notara o quão quente era sua pele.

Após a metamorfose em ghoul, suas memórias ficaram confusas e borradas, mas algumas delas ainda permaneciam intactas, talvez até mais nítidas do que antes. Uma delas era do primeiro dia na academia, o dia em que conhecera Akira Mado. Sua reputação era impressionante: filha de Kureo Mado e Kasuka Mado, dois grandes investigadores da CCG, ela não desapontava em qualquer aspecto. Seja nas lições práticas, nas tarefas, nas aulas, ela estava sempre acima de tudo e de todos, e agia com tanta naturalidade sobre isso que parecia nem mesmo se importar. Será que ela não tinha sangue correndo por suas veias?

Era o primeiro dia. Akira estava sentada, almoçando sozinha numa das mesas do refeitório. Ao se aproximar, pôde sentir de longe o cheiro de pimenta em excesso naquele prato de curry. Ainda havia mesas vazias, e não tinha nenhuma razão específica para se sentar ali, além de mera curiosidade e fascínio. Primeiro dia e ela não precisava nem mesmo suar para derrubar um instrutor de luta corporal do chão? Talento nato. Talvez sentar perto fizesse essa habilidade impregnar em si também, foi o que ele pensou. Passou pela mesa, parando por alguns segundos, sem dizer uma palavra sequer. De repente, sentiu aqueles olhos sobre si.

Eram absurdamente violetas, de um tom que jamais havia visto, mas que escondiam alguma coisa mais ali que não podia exatamente apontar. O ambiente parecia ter esfriado mais de vinte graus naquela fração de segundo em que Akira o encarou de maneira muito insistente, como se esperasse que ele dissesse algo. Seidou não sabia, mas ela realmente esperava que ele tomasse um pouco de coragem. Percebendo que faltava-lhe essa braveza, resolveu dar um empurrão: — Precisa de alguma coisa, Takizawa-san?

— N-não, só passando. — murmurou em resposta, de um jeito atrapalhado. Ao se afastar, quase tropeçou nos próprios pés, sentindo-se patético como nunca.

Almoçaram os dois sozinhos, cada um ocupando uma mesa que caberia pelo menos quinze outras pessoas, sem dizerem uma palavra... Pelo resto dos anos da academia.

A cada dia que passava, Seidou sentia alguma coisa em si ferver ao vê-la; por mais que se esforçasse, jamais conseguia ultrapassá-la e conquistar o primeiro lugar, estava sempre fadado à segunda posição. Por mais que estudasse, nunca conseguiria superar as notas que ela tirava sem esforço; por mais que praticasse lutas, Akira sempre o derrubava sem deixar que um fio de seu cabelo platinado saísse do lugar. E ser o segundo da classe não bastava, não quando ela era a primeira e, do alto de sua frieza ártica, jamais notara seus esforços. A medalha de prata tem o gosto amargo do fel, que ainda podia sentir na boca.

A primeira da classe escapou de uma das batalhas mais sangrentas da história da CCG e subiu cada vez mais de ranking. Takizawa foi declarado morto, e transformado em um monstro, em um ghoul, na criatura tão desprezível contra a qual dedicara sua vida a combater. O abismo entre eles era muito maior que o ponto existente entre o noventa e nove e o perfeito cem, muito maior do que sempre fora.

— Por que você não se rende? — Seidou insistiu. Era tão, tão fácil suspendê-la pela garganta assim, tão mais fácil do que jamais fora nos anos de academia, e mesmo assim, sentia-se contrariado, como se estivesse infringindo as regras do jogo e roubando.

— Eu posso morrer, mas morro lutando. — ela respondeu.

Sua força de vontade era mesmo incrível. Mesmo com tanta pressão em sua garganta, que fazia respirar um sacrifício gigantesco, mesmo estando rodeada pelos corpos de seus colegas e amigos, mesmo estando agora desarmada, ainda sim, Akira Mado permanecia impassível. Seus olhos ardiam como se alguém tivesse jogado pimenta neles, e nem assim uma lágrima escorria deles, o que deixava Seidou ainda mais furioso. Acima de tudo, ela não desistia, jamais.

— Se você desistir é mais fácil.

— Não.

A mão apertou sua garganta ainda mais. Tinha a impressão que Takizawa não dera tudo de si nessa luta: enquanto massacrava todos os investigadores dos mais altos rankings, para ele parecia tudo imensamente fácil, mas quando chegou a hora de um combate um contra um, tudo mudou. Quando eram apenas os dois lutando, era como nos velhos tempos, na academia. Akira sabia de todos os seus pontos fracos, e sabia como tirar vantagem disso, mesmo ele sendo um ghoul. Não sabia se ele havia realmente se esforçado, ou se estivera guardando suas forças, o fato era que essa não fora a luta que esperara.

— Por que você precisa ser sempre tão fria? Por que, por que, por quê? — seu tom de voz estava alterado, e ao contrário de antes, estava gritando. Por um momento, ela pôde ver lágrimas nos olhos de seu antigo colega, talvez um reflexo do antigo Takizawa, atormentado pelas mesmas memórias e pelas mesmas angústias de sua vida humana. A mão que comprimia seu pescoço estava ficando cada vez mais apertada, quase esmagando-o — Você jamais chorou por mim quando eu morri.

Era impossível para ela responder, mas tentou a todo custo falar que não era verdade. Seu túmulo sempre tinha incenso, como de seu pai, de sua mãe e de Amon. Sempre tinha flores, lírios brancos. Sempre tinha, acima de tudo, carinho no cuidado e nas orações, que fazia de todo o coração. Takizawa jamais viu o desfecho da operação de supressão à Anteiku, nem como a rainha do gelo desfez-se em lágrimas por Amon, mas também por ele.


Notas Finais


"Mimimi Akira está sendo hipócrita se aceitar o Amon e o Haise e não o Takizawa" o Takizawa literalmente matou um esquadrão inteiro. Gente, ele é instável, não um bichinho de estimação, sejam racionais. Ela se defendeu, só. Apesar disso, acho que existe muito mais coisa nisso tudo, que espero desvendar logo.


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