História ABO Originals - Certeza

take my hand, we'll be fine!

× 

Beijar era tão bom. Tão, tão, tão bom. Principalmente quando se beijava estando apaixonado.

Louis e Harry não se importaram de perderem aulas e acabaram indo para o apartamento do ômega, parando de alguma forma no sofá do mesmo. Harry por cima, Louis por baixo, pernas emboladas e muita saliva trocada, junto à palavras românticas sussurradas e toques firmes.

Namorado era aparentemente a nova palavra preferida de ambos.

Harry não se importava de ser meloso, ele amava aquele ômega com todo seu coração, corpo e alma, só se segurava um pouco nas palavras e atos para não o assustar. Já Louis parecia estar perdido em uma névoa de sentimentos e sensações que o confundiam o suficiente para que ele nem reparasse como se entregava aos poucos à Harry.

E não era apenas uma entrega física, não, aquele tipo de entrega parecia até banal comparada ao que realmente estava acontecendo ali. Ele não estava permitindo apenas que Harry tocasse seu corpo e o beijasse com luxúria, não, ele estava permitindo que o alfa se infiltrasse em sua vida e em suas veias, que consumisse cada pedacinho de si aos poucos, sem ao menos perceber. Ele ansiava pelos toques e pela atenção do alfa como se estivesse em abstinência. E isso era tão mais importante do que apenas a parte carnal que se ele percebesse provavelmente precisaria de um tempo para digerir tudo aquilo.

Louis achava que sabia o quanto tinha sentido falta se Styles, mas só ali, agora, sendo beijado e acariciado delicadamente que percebia o quanto realmente tinha sentido falta daquilo tudo.

Não era apenas um cara tirando proveito de seu corpo, não era apenas mais um alfa agindo por instintos e o desejando porque assim deveria ser. Era seu namorado, o tocando delicadamente e beijando a saudade para fora de si.

Seria muito bobo chorar por isso? Porque Louis se sentia sufocado com tantas sensações boas. E aquilo, todas aquelas coisas boas, era algo com o qual não estava acostumado. Algo que achava não merecer, que já havia se conformado que era ilusão e ele nunca teria. Nada daquilo. Nem metade da metade.

"Eu poderia te beijar o dia inteiro." Harry sussurra próximo à sua orelha. Beijando o maxilar do ômega e seguindo para seu pescoço. Ele queria marcá-lo. Só um chupão de leve no local onde um dia pretendia morder.

Só uma marquinha para lembrar à todos que Louis já tem alguém.

E dessa vez, oficialmente.

Namorados.

"Beija." Louis sussurrou de volta, as pernas inquietas descendo e subindo lentamente pelas coxas do alfa à cima de si. Suas mãos estavam bem posicionadas também, uma delas nas costas larga do maior, a outra em seus cabelos cacheados, afundando nos fios e os puxando quando sentia Harry exagerar nos beijos e torná-los chupões, mas sem reclamações. Ele gostava da sensação.

O sofá poderia ser barato, e na visão de Harry, uma porcaria, mas bem que no momento estava sendo bem útil. Styles tinha um dos braços sob Louis, juntando mais seus corpos e tendo maior sensação de dominância. Ele poderia pegá-lo à vontade, segurá-lo junto à si e nunca mais soltar... Ou quase isso.

"Hunf!" Resmungou contra o pescoço do ômega, o abraçando mais forte e inspirando seu cheiro doce. "Eu não quero, mas tenho coisas para resolver hoje." Sua voz é manhosa e Louis ri.

Os dois tem se beijado por meia hora, ou talvez uma hora inteira. Ou quem sabe, até mais? Eles não sabem dizer. Ficaram muito perdidos neles mesmos para reparar no mundo exterior. Beijaram-se até perder o fôlego, então respiraram e beijaram-se de novo. E de novo, e de novo e de novo. Sem parar.

Mas esses momentos também eram bons. Momentos em que apenas estavam com os corpos colados, sem excitação, apenas um abraço firme e caloroso. Harry parou um pouco com os beijos, apenas resmungando e respirando contra o pescoço de seu ômega. Seu. Louis sorria, soltando alguns barulhinhos adoráveis quando a respiração quente do alfa em seu pescoço lhe causava arrepios. Sua mão acariciava o cabelo cacheado, e seus dedos se enrolavam em alguns cachinhos. Era bom ficar assim, sentir o peso de outro corpo sobre si. O calor, o cheiro e o gosto do beijo.

Louis amava essa sensação. Ele nunca teve isso com ninguém, mas mesmo que tivesse duvidava que seria tão bom quanto com Harry.

Se abraçasse e trocasse beijos assim com seus amigos ainda sim pareceria errado. E o motivo disso estava bem claro agora em sua mente: era porquê Harry era seu namorado. E isso o tornava diferente de qualquer outro.

O alfa sorria contra o pescoço do outro e deixava uma de suas mãos escorregar por dentro da camisa do ômega. Sua pele era tão macia e quente. Deliciosa.

E opa, Harry respirava fundo e tentava voltar para os pensamentos decentes. Ao invés de levar suas mãos até os mamilos do outros e roçar os dedos ali enquanto se move de propósito insinuando movimentos de penetração, beijando seu pescoço e o excitando o máximo que pode, Harry se contém e se obriga à apenas traçar padrões imaginários na pele macia sob seus dedos.

Sem pressão, sem forçar. Sem assustar seu namorado no primeiro dia de namoro.

E wow, é o primeiro dia de namoro! Styles levanta o rosto de repente, surpreendendo Louis pela quebra da calma do momento. Ele encara o rosto bonito e os olhos de seu namorado e sorri. "A gente deveria sair hoje... Para jantar e comemorar." Ele oferece e os dedos que roçavam levemente na pele do abdômen do outro agora já se encontram firmemente pousados sobre a lateral de seu corpo, segurando-o com possessividade, mas sem machucar.

Nunca machucando.

"Sair para jantar? Cansou de cozinhar para mim?" Louis provoca puxando alguns cachos. Era uma mania péssima, mas ele adorava puxar os cabelos de Harry, e o alfa não parecia se importar. Na verdade, era algo que o excitava, então...

"Nah... Ainda tem o almoço." Harry se inclina e captura os lábios finos do ômega com os seus. É um beijo suave e ele demora um pouquinho para quebrar o contato, mas eventualmente tem que fazer. Levanta um pouco o corpo e solta uma das mãos que tem sobre Louis para pegar seu celular na mesinha de centro. "Já tá quase na hora, por falar nisso."

"Eu não estou com fome." Louis resmunga e puxa Harry pela camiseta, ele não quer quebrar o momento e se levantar do sofá. Não quer o corpo de seu namorado longe de si.

"Mas tem que comer." Harry fala quase em um tom paterno e Louis ri novamente, puxando-o para mais um beijo. "É sério, Lou. Você não vai me distrair assim." Harry volta a falar, mesmo que ainda tenha a boca praticamente grudada nos lábios do namorado.

"Tá, tá." Tomlinson debocha e Harry arqueia as sobrancelhas. "Me fale sobre nosso jantar, namorado."

Harry sorri mais largamente — se é que isso é possível — e aperta o nariz do ômega, que resmunga. "Você é um namorado muito manipulador." Ele comenta ao reparar que não moveu um músculo para sair de cima do ômega, e nem quer, apesar de que eles realmente tem que almoçar e seguir com o resto de suas obrigações no dia antes de poderem voltar à ficar juntos.

Só os dois...

O mais velho ri. "Talvez... Mas sério, me fala sobre esse jantar. Você não vai me levar naqueles lugares chiques, né?"

"Lugares chiques?" Harry questiona retoricamente. Ele não havia pensado ainda no restaurante que escolheria, mas era mais que óbvio que seria um lugar caro e bom. Como Louis esperava não ser levado à um bom restaurante? Ele merecia o melhor do melhor.

"É... Aqueles restaurantes com dez talheres na mesa e três taças. Não sei usar nada daquilo." Tomlinson resmunga e Harry ri.

"Oras, eu também não." A maioria dos restaurantes que frequentava não requeria tanta etiqueta. Era lugares bons sim, mas sem frescuras. E dez talheres, sério?

"Claro que sabe!" Louis lhe dá um tapa fraco no braço. "Você mesmo disse que já teve aula de etiqueta... E fala sério, para mim um garfo e uma faca já bastam. Se vier tudo picotadinho e naquela quantidade ridícula que os filmes mostram então só o garfo já dá, até a faca é dispensável... E as taças-"

Harry revira os olhos e ri. "Esquece isso." Beija Louis para calá-lo. "Ok, ok..." Ele admite após o beijo rápido. "Eu sei usar todas aquelas coisas, mas não vou te levar num lugar assim."

"Eu disse..."

"Eu não decidi ainda qual o restaurante, mas até de noite eu decido. Oito e meia é um bom horário?"

"Perfeito!" Louis sorri e cruza as pernas na base da coluna de Harry, prendendo-o à si e o beijando mais uma vez.

O alfa se deixa levar até perceber que Louis está apenas o enrolando para pular o almoço. E bem, fazer o quê se beijos não alimentam, né?

"Hora de comer!" Harry dá um tapa na coxa do ômega e se levanta. O corpo de Louis treme com o impacto repentino e ele se assusta, para depois rir e resmungar. "Foi fraco... Levanta aí, ajudante. Hora de cozinhar."

Contrariado, ele faz o que Harry diz e ambos vão para à cozinha. O alfa começa a mexer nos armários e percebe que as coisas já estão praticamente no final. O que ele havia comprado já havia acabado, e tinha poucas compras que Louis mesmo havia feito. Mas tudo do preço e da quantidade que ele aguentava pagar, o que não era o tipo de ingrediente favorito de Harry.

Eles almoçam macarrão, e mesmo sendo simples Louis elogia.

"A gente tem que fazer compras." Styles comenta e Louis acha engraçado o uso do plural, mas não o corrige. Não é como se ele fosse deixar o namorado lhe bancar, mas Harry provavelmente estava falando apenas de ir junto... Levar as compras no carro e tudo mais.

Bem, não era exatamente isso, mas tudo bem.

"Amanhã?" O ômega sugere e os dois tem sorrisos nos rostos. Recriando uma rotina só deles e fazendo planos, mesmo que seja algo tão doméstico quanto ir ao supermercado.

"Pode ser... Depende. Hoje eu tenho que ir na empresa resolver algumas coisas, e tem os trabalhos da universidade... Só que eu também tenho que fechar a compra do nos-" Harry percebe o que ia dizer e tosse, disfarçando. "Meu... Meu apartamento. E nossa, eu, hm... Fui para Nova York sem resolver nada. Estou meio atolado agora."

Ainda é estranho para Louis escutar Harry falar sobre NY porque o lembra de quão recente tudo é e de como ele realmente achou que o alfa tinha se mudado para lá, mas é bom entrar no tópico porque ele está realmente curioso.

"Por que você demorou tanto em Nova York?" Ele questiona de uma vez.

Harry desvia o olhar para o próprio prato e então para Louis. Ele demora um pouco para responder e suspira. Sem mentiras, né? Os dois decidiram que conversariam sobre as coisas, então mesmo que possa ser um assunto delicado, ele resolve explicar.

"Bem... A gente tinha se desentendido e no começo pensei em ficar longe apenas para pensar..." Harry começa e Louis tem os olhos azuis atentos sobre ele. "Eu não tenho amigos aqui, então acabei indo para NY, falar com um amigo, Nick." Ele cita despreocupadamente e a verdade é que Harry está apenas dando voltas no assunto. Tão enrolado na própria fala que não percebe a mudança no olhar de Louis ao que citou seu amigo.  "E hm... Eu passei uns dias lá, apenas pensando e esperando a hora de voltar... Mas também teve meu rut." Ele finalmente fala e a expressão de Louis muda um pouco.

Harry não sabe bem o que ele esperava, que Louis corasse ou desviasse o olhar pela menção do rut, mas certamente não esperava que ele o encarasse desafiadoramente. Sem vergonha alguma pelo que foi citado, apenas parecendo bravo (?).

"Então você foi para Nova York ter seu rut com esse seu amigo... Nick?" Louis questiona sem pensar, uma sensação estranha o dominando e impedindo que ele controle a própria língua.

Ele não sabe porquê questionou aquilo ou porquê está cobrando coisas de Harry quando estavam brigados, mas ele sente que deve e o faz sem pensar.

Styles o olha incrédulo por alguns segundos e então ri, ou melhor, gargalha. A ideia é tão absurda e Louis fica vermelho porque o alfa está rindo de si e ele se sente patético, mas ao mesmo tempo está extremamente irritado.

"Para de rir!" Ele manda autoritariamente e Harry desce de seu banquinho e vai para frente do namorado, apoiando ambas mãos em suas coxas e tendo o rosto ainda risonho.

"Você está com ciúmes." Ele acusa.

O rosto de Louis se contorce em descrença e ele abre a boca para protestar, mas Harry coloca uma mão em sua nuca e o puxa para um beijo. Ele fica atônito por alguns segundos ao que é pego de surpresa e então protesta, empurrando Harry para longe pelo peitoral.

"Não estou!" Ele quase grita, irritado e com o rosto vermelho. Harry apenas sorri.

"Você não tem ideia do absurdo que sugeriu... Nick é um beta. E ele é só um amigo. Eu jamais teria alguma coisa com ele." Harry explica pacientemente, acariciando as coxas do ômega e sorrindo todo feliz por Louis demonstrar ciúmes.

O ômega engole em seco, sentindo-se constrangido. Ele causou uma cena só por não segurar a própria língua, mas gostou de ganhar uma explicação. Então, mesmo que pense que ele e Harry estavam brigados e não foi exatamente uma traição ele acaba questionado com medo da resposta: "Então quem foi? Que passou o rut com você..." Ele cora e morde o lábio inferior, é estranho falar sobre aquilo e ele diz à si mesmo que tudo bem se Harry passou com outra pessoa pois eles ainda não estavam juntos, mas não se convence.

Ele se sente mal só de pensar em Harry com outro.

O alfa franze o cenho. "Ninguém, Lou..." Explica um pouco sem acreditar que Louis considerava aquela hipótese. "Eu sei que a gente começou a namorar hoje, mas você é a única pessoa que eu penso desde que te vi pela primeira vez."

É como se um peso tivesse sido tirado de cima de Louis, e ele sente aliviado. É muito bom quando Harry transforma seus pensamentos e sentimentos em palavras porque Louis não é muito bom em assumir coisas e tem uma tendência à ver tudo pelo lado negativo, o que faz com que o diálogo e a sinceridade sejam essenciais no relacionamento deles.

E é ótimo ouvir aquelas coisas. O quanto Harry gosta dele. Como ele é único.

Tomlinson esconde o rosto nas mãos e bufa. "Arghhh! Eu sou patético." Retira as mãos de frente dos olhos e encara o namorado de forma envergonhada.

"Não, não é..." Adorável, isso que ele é. "É de se imaginar... Eu fui para longe e era um momento... Hm..." Harry engole em seco pelas lembranças. "Complicado... E em NY tem pessoas que você não conhece, mas nenhuma delas me interessa. Eu só pensei em você." Ele fala com sinceridade, e Louis cora porque é um assunto delicado e quente. E as mãos grandes do alfa descendo e subindo pelas suas coxas também não ajudam. "Pensei o tempo todo... Enquanto estava sozinho." Era inconsciente, mas quando falava sobre aquilo Harry diminuía o tom de voz, indo para um tom mais arrastado e sexy, além de massagear com vontade as pernas do ômega, um pouco perdido em pensamentos e deixando algo escapar para a realidade. "Foi por isso que tive que ficar longe. Não podia falar com você estando daquele jeito."

E isso, com toda certeza, era uma das coisas mais bonitas que alguém já disse para Louis. Não pelas palavras usadas, até porque o movimento da boca de Harry e suas mãos sobre Louis o distraíram um pouco, mas porque ele entendeu o significado daquilo. Harry havia ficado longe para, de certa forma, protegê-lo. Louis sabe como alfas em rut ficam perto de si, e se um alfa original é dez vezes pior então Harry poderia ter ido atrás de si e forçado algo. E não seria tão culpa dele assim porque provavelmente seria dificílimo de controlar. Desejo dez vezes pior. Todo o desespero que aqueles dias traziam. Louis tremeu só em imaginar e Harry ficou apreensivo por pensar que o assustou. Mas não. Ele só assustaria se não tivesse evitado o que tinha previsto, e esse era um ponto em que Louis tinha de admirar Harry, ele sabia que poderia fazer algo errado, mas evitou isso se afastando. Ele se importava o suficiente para pensar primeiro em Louis e no que ele quer ao invés de apenas se satisfazer.

Ao invés de ser como os outros.

"Lou?" Harry chamou, o tirando de seus devaneios, olhos atentos à qualquer mudança de comportamento. Ele tinha falado demais? Assunto pesado demais? Pedia aos céus que não, não queria estragar o bom momento em que estavam. Louis piscou e o encarou por alguns segundos, sorrindo logo em seguida e levando uma de suas mãos para o rosto do alfa. Harry era tão bom, quase não acreditava que ele realmente existia.

"Você é a melhor pessoa que eu já conheci." Tomlinson murmurou, olhos brilhando e sinceridade transbordando em cada palavra. Harry levou alguns segundos apenas o olhando e digerindo cada palavra. Era óbvio que ele quis dizer exatamente aquilo, e ok, talvez não fosse tão difícil ser “a melhor pessoa” que ele já conheceu considerando o tipo de gente que ele já teve de lidar, mas Louis também tinha seus amigos, e Harry estava sendo colocado como o melhor mesmo eles também sendo legais para Louis. Era uma vitória em sua percepção.

"Idem." Styles responde sorrindo e Louis revira os olhos como se não acreditasse, mas é apenas cena, ele gosta de ouvir coisas positivas sobre si.

Cada vez que Harry o elogia isso o ajuda à esquecer as coisas ruins que foram ditas na briga, e também as coisas negativas que Louis pensa sobre si mesmo. É como se o passado fosse uma realidade muito distante sendo substituída por coisas novas e boas, forçando o esquecimento do que já passou.

Já era, acabou. Nova fase, novo Louis.

Ou talvez apenas a pessoa que ele estava destinado à ser, e acabou se perdendo entre os anos, mas que agora tinha a oportunidade de se mostrar.

No começo, há anos atrás, Louis costumava se perguntar o quão diferente tudo seria se ele simplesmente tivesse uma família. Questionava até a própria personalidade. As coisas poderiam ter tomado outro rumo e por um tempo ele até sonhava com isso. Uma vida diferente e feliz. Porém, era algo irreal e fora de alcance. A realidade era dura e não parecia que iria mudar. Ele já estava fadado à tristeza e ruína e agora, vendo que as coisas podem ser boas mesmo após tanto tormento, ele apenas agradece por ter chegado até ali. Por ter insistido em viver mesmo quando não queria, mesmo quando não via motivos para isso. Agora era um momento bom. Agora não se importava com tudo que poderia ter sido diferente, porque menos não sendo, mesmo tendo sido péssimo, agora tudo aquilo já passou e ele está em uma realidade boa.

Ele já venceu todos seus piores dias. E pode empurrá-los para o fundo de sua mente e apenas focar no dia bom em que está.

E mesmo que as coisas tenham sido ruins, foi esse o jeito de chegar até ali, e ele pôde conhecer Niall, Zayn e Harry. E agradece muito por isso, principalmente pelo último que tem mostrado à ele coisas que o forçam à sair da zona de conforto, que o fazem mudar e melhorar.

Harry também se sente assim, como Louis, sendo do jeitinho que é, lhe mostrou outro Harry, um alfa apaixonado e determinado, que ainda está aprendendo à lidar com o que sente, mas que se esforça muito apenas para fazer bem à outro alguém. Que não é mais tão mesquinho e perdido no próprio mundo perfeito, que vê tudo de ruim que aconteceu com Louis e como ele continua ali, graças à Deus, tentando e vivendo. Superando, mesmo que aos poucos.

Ele é mais forte do que pensa, e Harry quer lhe mostrar isso. Quer protegê-lo, amá-lo e fazê-lo feliz.

E ele pode fazer isso. Agorinha mesmo e em cada momento do futuro, se tudo der certo.

Harry o beija mais uma vez, apenas porque ele pode. Os dois sorriem um contra a boca do outro e é mais um de seus melhores beijos. Porque todos são bons, sim, mas esse, depois de palavras sinceras e bonitas, é carregado de sentimento e é bem mais que só um beijo.

É a forma de compartilharem tudo que sentem. E é tão, tão, tão especial!

"A gente não vai sair daqui hoje..." Louis fala rindo depois de quebrarem o beijo. Suas mãos estão ao redor do pescoço do alfa e o mesmo o segura pela cintura, situando-se entre suas pernas.

"Hunf" Styles resmunga, triste por saber que não é verdade. Ele verifica o horário no celular e olha de volta para Louis com um biquinho nos lábios. "Eu tenho que trabalhar."

"Eu também..." Louis dá de ombros antes de continuar "Mas não posso reclamar. Pelo menos ainda tenho um emprego."

Harry franze o cenho preocupado, lembrando-se do episódio do currículo, da mini-discussão, e então suspira. "Tá tudo bem por lá? Você não queria sair?"

"Não sou eu quem quer sair... É o meu patrão que quer me despedir... Eu acho." Louis fala suavemente, sem se importar de contar sobre, até porque ele mesmo que deu brecha para puxar o assunto.

Era na verdade ótimo falar sobre algo que os dois brigaram sobre, pois agora poderiam conversar sobre isso tranquilamente e substituir a antiga lembrança por essa nova conversa.

"Por qual motivo?" Styles questiona sem acreditar muito em uma razão razoável para demitir Louis. Ele era provavelmente um bom funcionário, e seu emprego era bem simples.

"Hunf..." O ômega resmunga imitando o namorado, enquanto se distrai com a blusa do mesmo, focando os olhos na barra do tecido e respondendo despreocupadamente a pergunta. "Teve um dia que uns pestinhas entraram lá e causaram. Derrubaram todos os livros e até uma estante, e eu meio que comecei à arrumar tudo, mas fui embora e esqueci de avisar o Sr. Collins, aí ele teve por lá numa outra manhã e me ligou perguntando... Enfim, depois disso ele ficou todo estranho. Acho que não confia mais em deixar um ômega cuidando da loja."

O alfa não sabia bem o que dizer, sentia raiva dos tais pestinhas e achava aquilo um motivo muito fútil para se demitir alguém.

"Isso não é justificativa para te despedir."

Louis deu de ombros, nem se importava mais com isso, estava feliz demais para se preocupar com o emprego ainda não perdido. Deixa para sofrer quando as coisas acontecerem, antecipação só vai lhe atrapalhar.

"Ele é meu chefe, pode me demitir até sem motivo..." Voltou os olhos azuis para o namorado. "Maaas, não hoje." Louis impulsionou o corpo para frente, Harry deu um passo para trás, mas não soltou sua cintura. "Tá na minha hora... Melhor não chegar atrasado, Sr. Collins tem sido muito legal comigo, então..." Ele tentou andar para pegar suas coisas e se preparar para sair de casa, mas Harry o segurou no lugar.

"Você nem tá ligando muito para isso, né? Já tem outro emprego em vista?"

"Ainda não, mas hoje é um dia muito legal para estragar com preocupação boba." Sorriu.

*

"Eu sabia! Sa-bi-a! Fala sério, eu sou praticamente a voz da razão. Pode me amar." Niall tagarelava alegremente no sebo enquanto andava de um lado para o outro.

Louis havia ligado para o amigo assim que Harry, seu na-mo-ra-do, lhe deixou em seu local de trabalho. E Niall veio o mais rápido possível fazer companhia para o amigo e obrigá-lo à contar tudo. E claro, se vangloriar por toda sua positividade e insistência.

Porque ele tinha certeza que ia dar tudo certo.

"Vocês foram feitos um para o outro!" Horan continuo à tagarelar alegremente, Louis poderia até corar e se retrair em vergonha, mas estava muito feliz para negar como se sentia.

"Eu sei, eu sei. Muito obrigado, Niall. Já pode se candidatar à cupido." Louis debochou e riu da careta que o loiro fez.

"Posso mesmo! Bem mais fácil quem tá de fora sacar o óbvio do que esperar vocês fazerem tudo por conta própria." Resmungou se apoiando no balcão onde Louis consertava um livro.

"Bem, em defesa à mim mesmo, posso dizer que estou bem mais ciente de tudo agora." Encarou o amigo com um sorriso de lado. "Obrigado, Niall... De verdade. É bom ter alguém apoiando."  Declarou sinceramente, parando para pensar um pouco sobre aquilo. Até então Niall lhe parecia a única pessoa de fora à apoia-los.

Louis não contava com o apoio de Zayn e não fazia ideia do que a família de Harry pensava sobre o namoro deles, mas tudo bem, só os dois estarem juntos já bastava.

E poxa, tinha sido até então apenas meio dia de namoro.

"Eu apoio sim..." Horan começou murchando um pouquinho. "Mas, Lou, eu não vou ser o único. Juro. O que vocês estão construindo é ótimo, e eu... Eu acho que o Zayn uma hora vai perceber isso e apoiar também. Qualquer coisa que te faça feliz, huh?" Tentou soar confiante, mas não tinha certeza daquilo.

Bem, pelo menos agora que Harry havia voltado, e estava oficialmente namorando com Louis, Zayn talvez percebesse que é sério. Que o alfa original não vai abandonar Louis, nem desistir como se não se importasse. Talvez visse que errou nas coisas que disse.

Entretanto, Zayn Malik passar à gostar de Styles seria algo difícil.

"Talvez a gente devesse ligar para ele, né?" Louis questionou Niall, já pegando o celular.

"A gente?" O irlandês se opôs rapidamente. "Ele nem tá falando com a gente, porque nos atenderia?"

Tomlinson deu de ombros. "Alguém tem que dar o primeiro passo... Não me importo de fazer isso. Só quero que a gente fique de boa... Se ele não atender, tanto faz. A gente tenta outro dia."

Niall mordeu o lábio inferior em apreensão e observou atentamente Louis fazer a ligação, cada barulhinho de chamada o fazia ansiar pelo “alô” do beta. Seu coração batia num ritmo diferente e era estranho, pois nem havia motivo. Era apenas uma ligação. Uma ligação para seu amigo que está o ignorando e com o qual brigou, mas ainda sim um amigo conhecido o suficiente para não lhe causar ansiedade apenas por conversar.

“Hm, oi, Lou...” Foi o que Zayn disse depois de finalmente atender, ele quase deixou cair na caixa postal e Niall só conseguia imaginar que ele apenas atendeu por achar que era só Louis.

"Oi, Zee... Hm... Eu e Niall estamos aqui no meu trabalho, e bem, Niall foi comprar uns cupcakes, e sei lá, se você quiser vir aqui... A gente podia lanchar e conversar." Louis também parecia um pouco nervoso e Niall suspirou em alívio por não ser o único.

Tomlinson tinha colocado no viva-voz, assim os dois poderiam ouvir Zayn responder. O que demorou um pouco, o beta parecia ponderar a proposta e só sua respiração pesada era ouvida pelo celular.

"Eu não sei... Eu-" Malik começou a enrolar, mas foi cortado.

"Zayn, a gente tá tentando fazer as pazes." Louis disse firmemente. Niall apenas observava tudo.

Um suspiro foi ouvido e Louis revirou os olhos para Niall, que não conseguiu nem rir por tamanha tensão.

"Tudo bem... Eu passo aí."

"Ótimo. Estamos te esperando, vê se traz uns cafés. Tchau, amo você." Louis falou rapidamente, rindo no final da frase e desligando antes de receber uma resposta.

"Pronto. Mais um problema resolvido no dia de hoje. Eu que sou demais, Niall." Tomlinson se vangloriou rindo, feliz demais por tudo para se importar em discutir com Zayn ou quem quer que fosse. Estava apenas relevando tudo e sorrindo.

"Como você faz essas coisas?" Niall riu também, admirando toda a aura positiva que envolvia Louis naquele dia. Bendito Harry Styles.

"Tsc... Já disse, eu sou demais." Revirou os olhos azuis. "Agora é melhor você se apressar para ir comprar os tais cupcakes." Niall entreabriu a boca, pronto para protestar. "Vai logo, Ni, estou com fome. E vê se me traz um de morango." Louis empurrou o amigo até a porta.

*

"Eu ainda não entendi toda essa sua felicidade repentina, muito menos aonde você está me levando." Anne cerrou os olhos para o filho que dirigia todo sorridente.

"Só estou feliz, dona Anne. Sou um rapaz comprometido agora. Oficialmente." Harry sorriu para a mãe, que só não lhe deu um tapa por estar dirigindo.

"Harry Edward! Porquê não me contou antes? Está me levando para conhecer seu ômega? Quer dizer, conhecer de verdade, já que na primeira vez que o vi foi tão rapidinho..." Anne começou a frase gritando, mas depois se acalmou, devaneando sobre o dia em que viu Louis e o ômega não acreditou quando ela disse que o filho tinha viajado.

Jeitinho estranho de conhecer o genro.

"Não, ainda não, mãe... Primeiro dia de namoro e tal... Muito cedo." Harry deu de ombros, pensando em quando deveria convidar novamente Louis para jantar com sua família. Dessa vez ele provavelmente aceitaria, afinal namorados são apresentados à família, né? Pena que Louis não tenha uma. Harry não tem ninguém para conhecer além de Niall — que é legal — e Zayn — que é irritante.

Por falar em Niall, Harry ainda não acredita que ele e Louis dormiram juntos. Era algo que ele continuava dizendo à si mesmo que Louis tinha dito apenas para irritá-lo.

Ômega com ômega era algo... Diferente.

E bem, esse não era o problema, o ciúmes e a possessividade de Harry que era.

Respirou fundo e jogou esses pensamentos para escanteio, voltado sua atenção à sua mãe.

"Para onde estamos indo, então?"

"É uma surpresa." Ele sorriu sapeca, enquanto o prédio de seu novo apartamento se aproximava.

Anne tinha dito que gostaria de visitar o local antes da compra, então ali estava Harry, cumprindo o combinado mesmo que já estivesse decidido sobre a compra.

Louis tinha adorado o lugar e isso era tudo que lhe importava.

Anne nem imaginava para onde estava sendo levada, se soubesse já estaria toda chorosa.

Quando finalmente chegaram, Anne olhou para o prédio e então para o filho, repetindo duas vezes, ligando os pontos em sua cabeça.

"Não acredito!" Exclamou em indignação. Tristeza lhe invadindo por observar a animação do filho ao olhar o prédio bonito.

"É bem localizado, né? Vamos, mãe. Paul já está nos esperando." Harry foi à frente, animado para mostrar o apartamento.

Poderia ser apenas um imóvel, mas representava tanta coisa em sua mente que era impossível não sorrir. Pretendia tornar aquele apartamento um lar para ele e Louis.

Quando finalmente chegaram ao andar correto e foram atendidos pelo corretor, Paul, a admiração no rosto de Anne era evidente.

Mesmo um pouco desgostosa por isso significar que seu filho está crescendo e deixando o ninho, Anne tinha de admitir que o lugar era espetacular. Harry tinha bom gosto e percebeu de imediato a aprovação nos olhos de sua mãe.

Paul estava todo sorridente, louco para fechar negócio logo e temendo que a demora de Harry — semanas se passaram com ele segurando o imóvel — se desse por incerteza. Afinal, agora ele havia trazido outra pessoa para avaliar o imóvel, e Paul fez seu melhor para tentar mostrar à Anne todas as vantagens de seu filho adquirir o apartamento.

Dadas às circunstâncias, Anne não pôde fazer nenhum comentário negativo, nem reclamar para Harry que era muito cedo para morar sozinho. Ela apenas sorriu educadamente para o corretor e concordou com tudo que ele disse, fazendo Harry sorrir mais largamente e impossibilitando-a de dizer qualquer coisa que pudesse quebrar a felicidade do filho.

Depois do negócio fechado — finalmente — Harry passou mais um tempo com a mãe. Ele sabia que ela estava carente, e queria deixá-la ser mais participativa nessa nova fase se sua vida.

E foi por isso que eles acabaram passando em lojas de decoração e terminaram em uma joalheria.

"O que está aprontando, Harry?" A ômega perguntou com desconfiança ao entrarem na loja de jóias.

"Gostou de algo?" Harry perguntou inocentemente, enquanto olhava ao redor, perdido em tantas peças.

"Está tentando me comprar? Sabe que uma jóia não substitui meu filho morando comigo." Anne ralhou.

Harry voltou sua atenção à mãe e riu.

"Eu não estou fazendo isso." Defendeu-se. "Só estou dizendo que se gostar de algo pode levar... Mas a verdade é que te trouxe aqui para me ajudar."

Uma funcionária da loja se aproximou, esperando o momento certo para oferecer ajuda sem atrapalhar os clientes.

"Ajuda em quê, Harry?" Anne estreitou os olhos, a mente correndo, mas não sendo tão rápida quanto a resposta do filho caçula.

"Em achar um anel. Vou levar Louis para jantar hoje à noite e como é nosso primeiro jantar oficial como namorados, nada melhor do que levar alianças, certo?" Harry rebateu sorridente. Feliz demais para que pudesse Anne responder qualquer coisa que quebrasse o encanto.

"Anel de compromisso? Já?" Anne perguntou retoricamente, tentando se segurar para não parecer chata, mas nossa, já??

"Oi, com licença." A funcionária se aproximou. "Nós temos alguns modelos lindos de anéis de compromisso."

E pronto, lá se foi toda a atenção de Harry para a atendente, sem tirar o sorriso do rosto.